A História do Marketing 2

INTRODUÇÃO:

Os especialistas afirmam que o propósito do MARKETING é o estabelecimento de estratégias específicas visando a obtenção de resultados favoráveis. Mas, para que isso ocorra, há alguns aspectos importantes a serem considerados: conhecer o público-alvo, seus desejos e necessidades, ter produtos compatíveis, atender corretamente, criar diferenciais, conquistar e manter clientes, ter distribuição física efetiva, ter tecnologia e implementar a ESTRATÉGIA mais adequada.

A ideia é exata e contemporânea, porém, se voltarmos até a ANTIGUIDADE vamos encontrar um exemplo interessante com o qual podemos traçar um paralelo: os FENÍCIOS, notáveis ​​comerciantes e homens de negócio, desenvolveram o que podemos comparar com um “MARKETING” de pensamento estratégico.

A ORIGEM DOS FENÍCIOS

Entre 4.000 e 3.000 a.C., levas de povos semitas descendentes de CAM,vieram do litoral norte do MAR VERMELHO e do GOLFO PÉRSICO para se fixar onde atualmente é o norte de ISRAEL, LÍBANO e parte da SÍRIA. A área litorânea ocupada foi uma faixa de terra estreita, de aproximadamente 200 quilômetros espremida a leste pelas íngremes montanhas do LÍBANO (que dificultavam a penetração para o continente) e o MAR MEDITERRÂNEO a oeste.

Ao longo do litoral foram fundadas as CIDADES-ESTADO: SIDON, DOR, AKKO, ARVADE, TIROBEIRUTUS, TRÍPOLI, SAREPTA, UGARIT, BIBLOS e BAALBEK. Da mesma maneira que os gregos, elas eram independentes e com governo próprio.

Com frequência, lutavam entre si pelo poder, umas sobre as outras. Ou, por vezes se uniam em alianças e em formas de cooperação. E esta falta de unidade política e de estabilidade foi um problema grave que os FENÍCIOS nunca resolveram. A princípio, além da agricultura, pesca e artesanato, os FENÍCIOS também se dedicaram ao cultivo de cereais, videiras e oliveiras.

O “MARKETING” FENÍCIO

1 – “PONTOS FRACOS”: o solo da região eraacidentado, sem recursos naturais, de pouca fertilidade e inadequado para a agricultura (exceto as partes mais profundas dos vales). As planícies, quentes e áridas, não eram viáveis para o gado. Diante deste quadro negativo seria preciso criar uma “ESTRATÉGIA” possibilitando uma alternativa de sobrevivência e de prosperidade.

2 – “PONTOS FORTES”: a região dispunha de excelentes portos naturais e as montanhas, ricas em madeira de CEDRO, forneciam um material excepcional para a construção naval. O MAR MEDITERRÂNEO disponível e as trocas agrícolas com o EGITO deram condições para o comércio marítimo que, com o passar do tempo, se tornou a atividade mais importante.

Assim, por volta de 3.000 a.C., a cidade de BIBLOS foi estabelecendo gradativamente contatos comerciais com o EGITO – uma “OPORTUNIDADE DE MERCADO” e uma opção interessante.

As trocas agrícolas com os egípcios ainda eram insuficientes para um desenvolvimento mais consistente. Os FENÍCIOS passaram a aproveitar o talento para o artesanato e desenvolveram outros produtos (“PD&I: PESQUISA, DESENVOLVIMENTO E INOVAÇÃO”)procurando novos produtos para comercializar.  

Para não depender apenas de um “CLIENTE” (o EGITO), os FENÍCIOS estenderam os contatos para a ilha de CHIPRE e na faixa costeira da ANATÓLIA (atual TURQUIA – mas sem fundar colônias estáveis naquela área). Mais para o sul, aos poucos criaram colônias comerciais permanentes(“FILIAIS”) com novos “CLIENTES” na PALESTINA e no delta do RIO NILO (mantendo o EGITO como “CLENTE TRADICIONAL”).

Contudo, a expansão do comércio dependia de um transporte marítimo seguro. Aproveitando o CEDRO DO LÍBANO, CIPRESTE e PINHO, a partir de 1.200 a.C. os FENÍCIOS desenvolveram “TECNOLOGIAS” de construção naval mais avançadas que seus contemporâneos e novas técnicas de navegação. Com a ASTRONOMIA orientavam suas viagens verificando a posição das estrelas e observavam os marcos na costa, as migrações das aves, correntes marítimas, a direção dos ventos e a experiência do capitão.  

As frágeis embarcações foram substituídas por navios mais seguros, de maior capacidade de carga e maior alcance para estabelecer rotas marítimas. As naus comerciais, construídas com casco arredondado, aproveitavam o espaço interno e permitiam maior volume de carga. As BIRREMES eram utilizadas no combate aos piratas e, posteriormente, foram copiadas pelos gregos e adaptadas pelos romanos.

A mentalidade “EMPREENDEDORA”, o senso prático, a expertise em construção naval e navegação possibilitaram contatos com povos diferentes, troca de conhecimentos e a capacidade de adaptar experiências e aperfeiçoar obras e “IDEIAS” alheias.

Os FENÍCIOS não saíam a esmo pelo mar: “PESQUISARAM”, observaram (“BENCHMARKING”) e conheceram com precisão os “DESEJOS”, as “NECESSIDADES” e os produtos apreciados pelos seus diversos “PÚBLICOS” (o “PERFIL DE CONSUMO”). Atuando desta maneira se tornaram grandes comerciantes com a oferta certa para atrair e “FIDELIZAR” os “CONSUMIDORES”.

Eles sabiam o que os “CLIENTES” desejavam, onde e como produzir os bens ou obter materiais raros e caros: vidros, garrafas joias, vinhos, azeite, cerâmica decorada, tecidos, lãs finas, linho, armas, artesanato em metalurgia, pratos e tigelas de ouro, prata, bronze e ferro, objetos de marfim, perfumes, unguentos, (A) PÚRPURA além do cedro, estanho, sal, especiarias, (B) ESCRAVOS etc.

O transporte marítimo era a garantia de que muitos produtos circulassem em mão dupla, entre o Oriente e o Ocidente, graças “LOGÍSTICA” e a “DISTRIBUÇÃO FÍSCA” bem executadas.

(A)  Púrpura: a PÚRPURA TÍRIA ou PÚRPURA DE TIRO foi criada por volta de1200 a.C. e muito utilizada na ANTIGUIDADE para colorir vestes e como símbolo e STATUS.

A PÚRPURA TÍRIA era um corante natural vermelho forte e de alto de valor por não desbotar. Sua produção era complexa, mas se tornou um produto muito lucrativo (“PRODUTO NÚCLEO”) e um segredo mantido pelos FENÍCIOS. Foi usado pela elite da GRÉCIA, de ROMA e pelos BIZANTINOS até 1453 d.C. com a queda de CONSTANTINOPLA.A tinta era extraída do molusco MUREX BRANDARIS, comum no MEDITERRÂNEO ORIENTAL. A palavra FENÍCIO vem do grego antigo PHOÍNIOS, que significa “PÚRPURA”.

(B) Escravos: foi uma atividade extremamente lucrativa e muitos eram trazidos até FENÍCIA nas oficinas de artesanato.

Ou seja, os FENÍCIOS criaram “DIFERENCIAIS” frente aos concorrentes, somaram a capacidade de produção e qualidade oferecendo uma “LINHA DE PRODUTOS” diversificada aos “CLIENTES”. O comércio possibilitou o desenvolvimento da MATEMÁTICA pela necessidade de “ADMINISTRAR” e preservar cuidadosamente os registros das suas transações: “CONTROLES”, “DADOS”, “INFORMAÇÕES”, “ESTATÍSTICAS”, “INVENTÁRIOS”, “DOCUMENTOS e “CONTABILIDADE”.

Um avanço relevante foi o alfabeto FENÍCIO. Para cada som do idioma, os escribas criaram, em meados do século XV a.C., símbolos formando uma escrita bem mais inteligente e simples sem o complexo conjunto de 26 hieróglifos egípcios.

Criaram 22 letras, da direita para a esquerda, com a representação fonética de qualquer palavra. O alfabeto foi difundido e, no Século VIII a.C., foi modificado e adotado na GRÉCIA originando posteriormente o alfabeto latino com os romanos.

No Século XIII a.C., aproveitando a decadência de CRETA e o enfraquecimento do EGITO, a cidade de TIRO assumiu a hegemonia na região e inicia a “EXPANSÃO” marítima na busca de novas rotas (“NOVAS OPORTUNIDADES” de negócios) criando uma extensa rede comercial nunca igualada na ANTIGUIDADE.

Outro aspecto que justificou uma parte considerável do sucesso dos FENÍCIOS está relacionado à “HABILIDADE POLÍTICA” de seus reis. Ao longo da sua história, a região esteve dominada pelos egípcios, assírios, caldeus e persas. Porém, o talento e a política de boa vizinhança dos reis aceitavam o pagamento de pesados tributos e a prestação de vassalagem aos dominadores barganhando a manutenção do comércio. Os reis das cidades FENÍCIAS também permitiam a presença de estrangeiros (comerciantes gregos, egípcios e assírios) com o pleno direito de abrir qualquer negócio – mais um “DIFERENCIAL”).   

A princípio os FENÍCIOS buscaram a “EXPANSÃO” no litoral do Norte da ÁFRICA evitando a “CONCORRÊNCIA” dos gregos (que consideravam os FENÍCIOS desonestos e enganadores).

Fazendo a navegação de CABOTAGEM, em algumas regiões desembarcavam negociando por alguns dias e pariam. Em outras áreas distantes (onde ninguém tinha interesse) conseguiram fundar pequenas fortificações que, mais tarde cresceram, se transformando em colônias permanentes que os gregos chamavam de EMPORIA. Com o suporte da sua frota, as colônias (“FILIAIS” – pontos de venda)atuavam como entrepostos de comércio, abastecimento e troca de mercadorias em pontos estratégicos (“LOGÍSTICA” e “DISTRIBUIÇÃO FÍSICA).

Com a navegação avançada e “OUSADIA” os FENÍCIOS foramalém do MAR EGEU. Fundaram colônias no litoral do Norteda ÁFRICA (TRÍPOLI e CARTAGO econtrolaram todas as rotas comerciais para o interior), MALTA, CÓRSEGA, SARDENHA, SICÍLIA¸sul da ITÁLIA,ESPANHA (CÁDIZ),cruzaram o ESTREITO DE GIBRALTAR até a costa atlântica da ESPANHA e de PORTUGAL indo obter estanho na BRETANHA. Também chegaram na costa ocidental da ÁFRICA em MARROCOS até alcançar o GOLFO DA GUINÉ.

Há divergências entre os historiadores quanto ao fato que os FENÍCIOS teriam feito a circunavegação da ÁFRICA a serviço do faraó NECAO II (660 a.C. – 593 a.C.) por volta de 600 a.C.: teriam partido do MAR VERMELHO seguindo pelo OCEANO ÍNDICO na costa leste da ÁFRICA e, navegando pelo OCEANO ATLÂNTICO, retornaram ao MEDITERRÂNEO. Também há afirmações que os FENÍCIOS teriam alcançado a Ilha da Madeira, as Ilhas Canárias e o Arquipélago dos Açores. Mas, não há evidências arqueológicas e nem sinais de colonização.

3 – “PONTOS FRACOS”: apesar do esplendor e sucesso, os FENÍCIOS nunca deram atenção à área militar (“SEGURANÇA”). Em períodos críticos, a necessidade eventual de um exército ou marinha era resolvida através de MERCENÁRIOS. A marinha era competente contra os piratas do MAR EGEU e do MAR MEDITERRÂNEO, mas, não havia nem um exército ou uma força permanente e engajada como os assírios, caldeus ou a falange macedôniae as legiões romanas. Em geral os MERCENÁRIOS estrangeiros não tinham lealdade e disciplina (“MÃO DE OBRA” de má qualidade) e, com frequência, se revoltavam em função dos atrasos dos soldos.

Em 332 a.C., a FENÍCIA foi tomada por ALEXANDRE, O GRANDE. Acidade de TIRO resistiu por 7 meses até ser derrotada e os30.000 residentes e estrangeiros sobreviventes foram vendidos como escravos.Em 64 a.C. os romanos dominaram a região e a incorporaram como sendo parte da província da SÍRIA.

Após a queda de TIRO e o fim das cidades FENÍCIAS, CARTAGO, fundada em 814 a.C., havia se tornado a maior colônia e o mais importante entreposto comercial (a “MATRIZ” que “CENTRALIZOU” atividades e deu sequência aos negócios).    

Os cartagineses mantinham colônias na CÓRSEGA, SARDENHA e oeste da SICÍLIA (áreas de grande produção de cereais), na região sul da ESPANHA (exploração mineral) e em todo o litoral do norte da ÁFRICA. Quando ROMA pretendeu ampliar seu domínio econômico, político e militar na SICÍLIA e no MEDITERRÂNEO ocidental, ocorreram as 3 GUERRAS PÚNICAS (264 a.C. a 241 a.C. – 218 a.C. a 202 a.C. e 149 a.C. a 146 a.C.). CARTAGO foi cercada e incendiada em 146 a.C. e os sobreviventes foram vendidos como escravos.

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