Contabilidade – Controlismo

INTRODUÇÃO:

Com a II REVOLUÇÃO INDUSTRIAL a partir de 1860, o grande avanço ocorrido nas ciências e na indústriatambém requereu a criação de novas formas de acompanhamento na prestação de contas e na apuração dos resultados.

Assim, estas transformações fizeram com que a CONTABILIDADE passasse por um processo de evolução, com maior rigor, para se moldar ao novo cenário. E surgiram outros pensamentos contábeis, cada um com suas peculiaridades. No final do Século XIX, surgiu o CONTROLISMO, criado por FÁBIO BESTA, um pensamento contábil conhecido também por ESCOLA VENEZIANA (ou ESCOLA CONTROLISTA).   

FÁBIO BESTA 

Foi um contabilista italiano graduado pelo Instituto Técnico Comercial de SONDRIO. De 1872 a 1919 lecionou em VENEZA nos cursos de Contabilidade, Contabilidade Geral e Contabilidade do Estado na Escola Superior de Comércio. Por alguns anos lecionou no curso de Prática Comercial (ou banco modelo) e atuou como o quarto diretor da mesma Escola, de 1914 a 1917.

Mas, sua notoriedade se deveu à considerável amplitude de habilidades e a profundidade de pensamento. Estas qualidades criaram a base da sua valiosa contribuição à história da CONTABILIDADE na criação do CONTROLISMO.

Sua obra de 1880 em três volumes, LA RAGIONERIA, defendia que a CONTABILIDADE tinha por objetivo principal o controle dos fatos econômicos das entidades.

FÁBIO BESTA foi um seguidor de FRANCESCO VILLA e visto como um inovador por sua grande influência. Ainda hoje é considerado o “Pai” e o responsável pela formação da contabilidade contemporânea e, ao lado de PACIOLI, é o maior vulto da CONTABILIDADE.

A ESCOLA VENEZIANA teve outros renomados participantes como VITTORIO ALFIERI, CARLO GHIDIGLIA, PIETRO RIGOBON e PIETRO D’ALVISE.

FÁBIO BESTA foi o primeiro a introduzir os conceitos específicos para a definição de empresa, que ainda não eram utilizados. De acordo com suas ideias, a empresa é entendida como uma entidade dinâmica, cujos elementos constitutivos formam um complexo sistema. O enobrecimento da disciplina da CONTABILIDADE como uma CIÊNCIA, cujo caráter científico ainda que em um contexto da economia empresarial mais amplo, ainda hoje é utilizado. FÁBIO BESTA teve influência sobre os estudiosos do Século XX. Também designou as finalidades da MISSÃO CONTÁBIL como:

▪ O estabelecimento de um ponto de partida para que fosse possível uma análise imediata dos resultados.

▪ O acompanhamento da GESTÃO, mostrando todos os fatos ocorridos nas entidades, que permitissem a avaliação do trabalho administrativo (a GESTÃO envolve todas as atividades fundamentais para a tarefa da ADMINISTRAÇÃO tais como a aquisição de bens, sua transformação ou o seu emprego para a execução dos fins da entidade).

▪ A demonstração dos RESULTADOS definitivos da ADMINISTRAÇÃO ECONÔMICA para fins de aprovação ou rejeição da atuação da GESTÃO.

CONTROLISMO

Este pensamento contábil propõe uma forma de controlar algum bem, direito ou obrigações de uma empresa – a finalidade da CONTABILIDADE seria o CONTROLE das empresas (as AZIENDAS). Com as proposições do CONTROLISMO nota-se que muitos fatos, por sua natureza técnica, escapam da vigilância contábil. Por outro lado, o CONTROLE econômico pode ser considerado como uma das finalidades dos sistemas de escrituração.

Os fenômenos relacionados a formação dos custos com a realização da receita, com equilíbrio financeiro e outros, que provocam variações patrimoniais, são o objeto de operações de CONTROLE. Mas, a CONTABILIDADE não seria restrita somente a esses aspectos. O seu conceito é muito mais abrangente: é a ciência que estuda o PATRIMÔNIO das entidades.

O CONTROLISMO fez a distinção entre a CONTABILIDADE GERAL (para as entidades privadas) e a CONTABILIDADE APLICADA (para as entidades públicas), a criação jurídica dos LIVROS FISCAIS e a personificação do PATRIMÔNIO LÍQUIDO.

A visão de BESTA era voltada para o usuário interno da INFORMAÇÃO CONTÁBIL ao diferenciar a ADMINISTRAÇÃO GERAL (voltada para a ação de administrativa) e a ADMINISTRAÇÃO ECONÔMICA (a importância do PATRIMÔNIO da entidade bem como sua utilização na geração de riquezas através da gestão, direção e controle).  

A abordagem econômica: no CONTROLISMO a CONTABILIDADE passou a ser entendida através da abordagem econômica, ou seja, analisando a riqueza de uma entidade e a variação dessa riqueza. A base de conhecimento está voltada para a ADMINISTRAÇÃO ECONÔMICA das entidades e a CONTABILIDADE considerada como a ciência do controle econômico.

FÁBIO BESTA também realizou a divisão da ADMINISTRAÇÃO ECONÔMICA em três partes:

▪ A GESTÃO propriamente dita.

▪ A DIREÇÃO.

▪ A VERIFICAÇÃO e CONTROLE.

O CONTROLISMO criou o período do exercício administrativo – o ANO CIVIL, tendo a preocupação com a continuidade da GESTÃO entendendo o lucro ou a perda na comparação de dois estados, da mesma riqueza, em determinado espaço de tempo.

A ideia do PATRIMÔNIO com o resultado da soma dos valores positivos (o ATIVO – representado por bens e direitos), dos valores negativos (o PASSIVO – representado por dívidas) e não só das OBRIGAÇÕES e DIREITOS como afirmava GIUSEPPE CERBONI (da ESCOLA PERSONALISTA). As contas foram classificadas em dois grupos:

A. principais – dos bens patrimoniais.

B. derivados – dos itens patrimoniais e suas variações.

O Processo de CONTROLE: o CONTROLISMO trouxe a ideia de que é pelo CONTROLE que tudo se torna relevante, se combate desperdício e que o estudo das causas e dos efeitos são básicos. O processo é realizado de maneira integrada, durante todas as etapas da geração de riqueza, por meio das FUNÇÕES DO CONTROLE ECONÔMICO:

1 – Controle Antecedente: que poderia ser anterior ao fato econômico. É determinado antecipadamente utilizando contratos, inventários etc.

2 – Controle Concomitante: que é realizado quando se controla quem exerce o comando, como consulta a documentos, fichas etc. (por exemplo, a vigilância sobre os empregados).

3 – Controle Subsequente: feito após os fatos ocorridos com o uso de relatórios, balanços e demonstrações contábeis.

A Natureza do CONTROLE: o Controle Ordinário que faz parte da rotina de trabalho da empresa e o Controle Extraordinário, feito de forma excepcional.

O CONTROLE DA RIQUEZA AZIENDAL

FÁBIO BESTA propôs que “a riqueza pertinente a uma azienda forma a substância ou patrimônio àquela legado e todo azienda possui substância, seja pequena ou grande”.

Com esta afirmação quis dizer que a dinâmica da riqueza traz a satisfação das necessidades e, através dela, ocorrem vários fenômenos. Portanto, é necessária uma ciência específica para estudá-los.

AZIENDA é uma palavra de origem italiana que significa empresa. O termo é utilizado no estudo da história da CONTABILIDADE e na definição do principal objeto desta que é o patrimônio.

FÁBIO BESTA entendia que os bens são as forças verdadeiras e próprias das AZIENDAS e as contas não se abrem para pessoas, mas para valores. Também considerou o PATRIMÔNIO como um agregado de valores de grandeza comensurável:

“O valor de uma coisa se refere a disponibilidade e ao seu livre uso, em suma a sua posse e, esta, jamais será plena se não lhe é assegurado isto no presente e no futuro, sem limite de tempo, ou seja, enquanto durar.”

O balanço, as demonstrações dos resultados, orçamentos etc. na visão dos CONTROLISTAS, se constituíam em uma forma de CONTROLE das empresas.

A CONTRIBUIÇÃO DO CONTROLISMO

▪ – O CONTROLE como sendo a melhor forma de se estudar as operações de uma entidade para verificar se as atividades seguiam critérios estabelecidos.

▪ – As informações da CONTABILIDADE como a ferramenta de análise do trabalho da GESTÃO e como fonte de INFORMAÇÕES para ações futuras.

▪ – A criação de princípios com dados sobre o PATRIMÔNIO das entidades abrangendo os INVENTÁRIOS, avaliações de BENS, ORÇAMENTOS e DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS.

▪ – A criação do ANO CIVIL para o período do exercício administrativo.

▪ – A preocupação com a continuidade da GESTÃO.

▪ – A criação dos livros específicos para efetuar a correta escrituração.

▪ – Separação entre a CONTABILIDADE GERAL e a CONTABILIDADE ESPECÍFICA.

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Sugestão de Leitura

JOCHEM, LAUDELINO. Contabilidade – Uma Visão Crítica da Evolução Histórica. Editora Juruá. Edição 1ª. Curitiba, 2009.

SCHMIDT, PAULO; SANTOS, JOSÉ LUIZ DOS. História do Pensamento Contábil. Editora Atlas. São Paulo, 2006.

IUDICIBUS, SERGIO DE; MARION, JOSÉ CARLOS; FARIA, ANA CRISTINA DE. Introdução à Teoria da CONTABILIDADE. Editora Atlas. Edição 6ª. São Paulo, 2017.

HOOG, WILSON ALBERTO ZAPPA. Contabilidade – Um Instrumento de Gestão Com uma Abordagem Transdisciplinar. Editora Juruá. Edição 2ª. Curitiba, 2011.

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