Contabilidade – 6 – História e Evolução

INTRODUÇÃO:

Durante o Século X e o Século XI a EUROPA começa a ser transformar. O SISTEMA FEUDAL lentamente começou a dar mostras de decadência e um novo contexto foi se formando pelo resultado do renascimento das cidades, aumento da população, maior produção agrícola, comércio, feiras anuais, troca de produtos, uso da moeda, propriedades, novas relações de trabalho, acumulação de capital e o surgimento da BURGUESIA comercial. 

Ao mesmo tempo, o desenvolvimento de novas técnicas no trabalho artesanal gerou crescimento nas atividades produtivas e comerciais. Os artesãos (alfaiates, carpinteiros, sapateiros, padeiros, ferreiros, construtores) e comerciantes se organizaram em CORPORAÇÕES DE OFÍCIO, grupos sociais onde havia vários interesses econômicos, político e sociais em comum.

As CORPORAÇÕES, que apareceram na ITÁLIA no século X, atuavam em cooperação mútua, faziam intercâmbio de conhecimentos, definiam padrões de qualidade, determinavam regras para mercado e quem poderia ser participante.

O APERFEIÇOAMENTO DA CONTABILIDADE

Todas as mudanças e o conceito de CAPITAL no fim do Século XIII exigiram o aperfeiçoamento da CONTABILIDADE. Mesmo com a introdução dos algarismos arábicos na Europa em 1202, por LEONARDO FIBONACCI (1170 – 1250), ainda havia a necessidade de aprimoramento de registros (cada vez mais complexos) e técnicas de controle e apuração de bens.

O SÉCULO XIV – 1301-1400

Nesta época já existiam registros evidentes sobre custos comerciais e industriais separadamente nas suas diversas fases: custo de aquisição, matérias-primas, fabricação, beneficiamento, mão-de-obra, transporte, tributos, juros sobre CAPITAL (com relação ao período transcorrido), armazenagem, tingimento, etc.

Apesar das graves crises que aconteceram na EUROPA, na ITÁLIA a CONTABILIDADE evoluiu com os primeiros registros de custos comerciais e industriais nas várias fases de desenvolvimento. VENEZA (posteriormente seguida pelas demais REPÚBLICAS MARÍTIMAS) se tornou o principal centro do comércio das ESPECIARIAS levando ao aparecimento dos primeiros LIVROS CAIXA registrando recebimentos, pagamentos e, de forma rudimentar as noções de DÉBITO e CRÉDITO.

AS CRISES DO SÉCULO XIV

● GUERRA DOS 100 ANOS (entre FRANÇA e INGLATERRA – 1337 a 1453).

Conflitosentre senhores feudais pela conquista de terras e riquezas.

Fome e revoltas camponesas.

● Péssimas condições de higiene que contribuíram para a disseminação da peste.

● Peste Negra (1346 a 1352) originária da CHINA e da ÍNDIA.A peste se espalhou a partir dos portos de VENEZA e GÊNOVA e eliminou 1/3 da população europeia. Além das mercadorias, os navios trouxeram ratos infestados de pulgas com a bactéria YERSINIA PESTIS.

O SÉCULO XV – 1401-1500

RENASCIMENTO: ou RENASCENTISMO ou RENASCENÇA – refere-se ao período histórico iniciado na ITÁLIA (e posteriormente por toda a EUROPA) entre o século XIV e final do século XVI. Marcou o fim do FEUDALISMO e trouxe grandes mudanças na cultura, artes, religião, filosofia, ciências, economia e política. A denominação RENASCIMENTO se deve à retomada de valores na ANTIGUIDADE CLÁSSICA na valorização da racionalidade, da ciência e da natureza.

Na RENASCENÇA o homem é colocado como sendo a figura central (ANTROPOCENTRISMO) em contraposição à visão TEOCÊNTRICA (Deus como centro do universo). Foi uma época de importantes transformações na mentalidade humana e no modo de ver o mundo ao abandonar o pensamento medieval.

O SÉCULO XV – 1401-1500

● Em 1415 inicia a sua expansão marítima com a conquista de CEUTA.

GUTENBERG criou um sistema de tipos móveis (imprensa) em 1430.

● Fim da GUERRA DOS CEM ANOS em 1453 com a vitória francesa.

● Em 1453 os turcos tomaram CONSTANTINOPLA pondo fim ao IMPÉRIO ROMANO DO ORIENTE (o IMPÉRIO BIZANTINO). Para a maioria dos historiadores do século XIX o evento marca o fim da IDADE MÉDIA e início da IDADE MODERNA. Este fato também trouxe outras consequências:

Os turcos criaram restrições no comércio de especiarias do Oriente. Assim, os europeus tiveram a necessidade de procurar por uma nova rota comercial, o que resultou nas grandes navegações.

Temendo a conversão ao Islã, forçada pelos turcos, os gregos, povos balcânicos e vários sábios bizantinos fugiram para EUROPA (principalmente para ITÁLIA). Atravessando o MAR ADRIÁTICO eles trouxeram obras de arte, manuscritos e estudos, importantes para o desenvolvimento da CULTURA CLÁSSICA presente no RENASCIMENTO.  

● Em 1492 chega ao fim ocupação muçulmana da Península Ibérica.

● Os espanhóis chegam à AMÉRICA em 1492 com a expedição liderada por CRISTÓVÃO COLOMBO.

PEDRO ÁLVARES CABRAL chega ao BRASIL em 1500. 

VASCO DA GAMA chega ao porto de CALECUTE,na ÍNDIA (em1498) após circundar a ÁFRICA pelo Cabo da Boa Esperança.

● Em 1517, as95 teses de MARTINHO LUTERO dá início a um movimento reformista contra as práticas em uso na Igreja Católica.

● A expedição de FERNÃO DE MAGALHÃES realiza a primeira viagem de Circum-navegação provando que a Terra é redonda  (de 1519 a 1522).

FREI LUCA PACIOLI (1445-1517)

Há divergências entre os especialistas. Para uma parte deles, PACIOLI é considerado o pai da CONTABILIDADE MODERNA, outros afirmam que ele é o criador da CONTABILIDADE e das PARTIDAS DOBRADAS (o método já era conhecido e utilizado na ITÁLIA desde o Século XIV, embora não haja como precisar corretamente em que região).

LUCA BARTOLOMEO DE PACIOLI foi matemático, teólogo e contabilista que deu início a fase moderna da CONTABILIDADE.

Deixou muitas obras, sendo que a de maior importância, que aborda a CONTABILIDADE e ESCRITURAÇÃO, foi “SUMMA DE ARITMÉTICA, GEOMETRIA, PROPORTIONI ET PROPORCIONALITÁ”. No capítulo “TRATACTUS DE COMPUTIS ET SCRIPTURIS” PACIOLI descreveu o MÉTODO DAS PARTIDAS DOBRADAS com ênfase que a teoria contábil do DÉBITO e CRÉDITO corresponde à teoria dos números positivos e números negativos.

A obra deu destaque ao que tinha importância, de fato, para um bom comerciante:

● O conceito sobre o INVENTÁRIO.

● Livros mercantis: memorial, diário e razão, autenticação.

● Registros de operações: aquisições, permutas, sociedades, etc.

CONTAS em geral: como abrir e como encerrar, contas de armazenamento e lucros e perdas que naquela época eram denominadas “PRO” e “DANO”.

● Correções de erros.

● Arquivamento de contas e documentos, etc.

Sobre PARTIDAS DOBRADAS, PACIOLI trouxe a terminologia:

“Per” – pelo qual se reconhece o DEVEDOR.

“A” pelo qual se reconhece o CREDOR.

O método teve rápida aceitação por sistematizar e popularizar a CONTABILIDADE. Até hoje é utilizado: em primeiro lugar deve vir o DEVEDOR e depois o CREDOR.

A DUALIDADE DÉBITO/CRÉDITO

Em cada lançamento efetuado, o valor total lançado nas contas a DÉBITO deve ser sempre igual ao total do valor lançado nas contas a CRÉDITO. Portanto, não há DEVEDOR sem um CREDOR correspondente e a todo DÉBITO corresponde, necessariamente, um CRÉDITO de valor idêntico (e vice-versa). Se houver um acréscimo de um lado, deverá haver, obrigatoriamente, no outro também.

CONTABILIDADE SE TRANSFORMOU EM CIÊNCIA

Pela obra de LUCA DE PACIOLI, os comerciantes puderam ter a exatidão sobre suas finanças, criar sociedades e apurar lucros, acompanhar o valor das obrigações e dos direitos e fechar balanços (no fim de seus empreendimentos e em períodos correspondentes a um ano). Assim, PACIOLI sistematizou a CONTABILIDADE e possibilitou o surgimento de novas obras sobre o tema.

Desta maneira, a CONTABILIDADE se transformou em uma CIÊNCIA e em uma base elementar para o estabelecimento do CAPITALISMO, em uma técnica de administração de negócios para uma época em que as GRANDES NAVEGAÇÕES iriam ampliar o mundo (o controle das riquezas obtidas iria favorecer ainda mais a importância da CONTABILIDADE).

A contribuição de comerciantes italianos desde o Século XIII foi de grande valor. Todo este processo sobre a formalização da CONTABILIDADE ocorreu na ITÁLIA em um período em que houve acentuada atividade comercial nas REPÚBLICAS MARÍTIMAS.

A todo DÉBITO corresponde, necessariamente, um CRÉDITO de valor idêntico (e vice-versa). Se houver um acréscimo de um lado, deverá haver, obrigatoriamente, no outro também.

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