Contabilidade – Aziendalismo  

INTRODUÇÃO:

O AZIENDALISMO, é entendido como um processo natural da evolução da CONTABILIDADE italiana que, conforme apontam os estudiosos, teve o seu começo com LEONARDO FIBONACCI. A proposta da ESCOLA AZIENDAL é voltada para o resultado, o indicador mais importante da empresa. A escola pode ser dividida em dois grandes segmentos: 1 – Integrar em uma só disciplina os conhecimentos da ECONOMIA EMPRESARIAL e 2 – Criar uma teoria para a CONTABILIDADE a partir dos RESULTADOS.

Seguindo na ideia central da escola, a CONTABILIDADE é considerada a ciência da ADMINISTRAÇÃO ECONÔMICA das empresas e visa estudar a doutrina da GESTÃO, a doutrina da ORGANIZAÇÃO e a CONTABILIDADE. O AZIENDALISMO fez a transição do SISTEMA PATRIMONIAL, que tinha por objetivo demonstrar o PATRIMÔNIO da empresa, para o sistema de RESULTADO, fracionado em vários períodos apontando que, todas as operações da empresa são relacionadas e interdependentes.

Portanto, não é possível apurar o RESULTADO de uma operação ou um conjunto de operações de maneira isolada. Para se determiná-lo o patrimônio da empresa deverá estar completamente controlado e conhecido. Então, o RESULTADO pode ser definido como aumento ou redução do capital em determinado período tendo em consideração as TOMADAS DE DECISÕES dos GESTORES.  

Após a I GUERRA MUNDIAL (1914 – 1918) a situação da ITÁLIA era muito desfavorável. Mesmo estando entre as nações vencedoras, os desgastes, o custo e as perdas causadas pelo conflito foram enormes. Além do mais, os italianos se sentiram traídos pelos ALIADOS com o conteúdo das cláusulas estabelecidas pelo TRATADO DE VERSALHES. Foi uma grande frustração. As expectativas sobre a parcela cabível aos italianos quanto aos despojos do IMPÉRIO AUSTRO-HÚNGARO e às reparações exigidas da ALEMANHA eram muito maiores. 

Em 1918, o caos reinante abriu caminho para BENITO MUSSOLINI e o FACISMO chegarem ao poder. Indiferente aos problemas na EUROPA e na ITÁLIA, os contabilistas italianos a desenvolver novas teorias.

De acordo com Sérgio Iudícibus e José C.  Marion, “O grau de desenvolvimento das teorias contábeis e de suas práticas está diretamente associado, na maioria das vezes, ao grau de desenvolvimento comercial, social e institucional das sociedades, cidades ou nações…”  IUDÍCIBUS, Sérgio de; MARION, José Carlos. Introdução à teoria da contabilidade, para o nível de graduação. São Paulo: Atlas, 2006 (p. 35-36)

Podemos avaliar que, desde 1840, quando FRANCESCO VILLA iniciou a CONTABILIDADE científica, as teorias que foram acumuladas criaram uma das ferramentas mais valiosas para a GESTÃO, pública ou privada. A geração de conhecimento fez da CONTABILIDADE um ramo de caráter científico. 

FRANCESCO VILLA ampliou os conceitos tradicionais da CONTABILIDADE, pelos quais a escrituração e o guarda livros poderiam ser feitas por qualquer indivíduo inteligente. De acordo com VILLA, a CONTABILIDADE pressupunha conhecer a natureza, os detalhes, as normas, as leis e as práticas que regem o PATRIMÔNIO.

AZIENDALISMO OU MODERNA ESCOLA ITALIANA 

Os primeiros anos do Século XX trouxeram um grande desenvolvimento para a CONTABILIDADE trazendo propostas diferentes. A CONTABILIDADE não deveria ser uma tarefa limitada, destinada somente ao registro da riqueza, mas também como uma a gestora e controladora desta mesma riqueza. Estas propostas diferentes estavam sendo criadas na FRANÇA e na ALEMANHA, mas, foi na ITÁLIA que que o seu desenvolvimento foi mais intenso em razão de um clima político e social (conturbado) mais favorável ao seu desenvolvimento. Ao mesmo tempo, nos EUA, o ritmo do TAYLORIMO e do FORDISMO solicitaram uma CONTABILIDADE mais dinâmica, com novos conhecimentos e ideias. 

O AZIENDALISMO muitas vezes é chamado por ECONOMIA DAS EMPRESAS, ECONOMIA AZIENDAL e CIÊNCIAS GERENCIAIS. Foi um conceito criado lentamente ao longo de muitos anos, graças a contribuição dada por inúmeros estudiosos do assunto. Então, o AZIENDALISMO não foi um processo repentino segundo a proposta de um único estudioso. Foi um desenvolvimento paulatino de vários teóricos de diversos países.

De acordo com ANTÔNIO LOPES DE SÁ, “O AZIENDALISMO, a economia das empresas, a economia AZIENDAL, as ciências gerenciais, seja que denominação se pretenda dar a esse conjunto de disciplinas que estudam os fenômenos ocorridos nas células sociais, foi uma concepção que se formou ao longo de muitos anos, consolidando-se lentamente, através da contribuição de diversos estudiosos, cada um somando-se a esse complexo”. SÁ, ANTÔNIO LOPES DE. História Geral e das Doutrinas da Contabilidade. Editora Atlas. São Paulo, 1997 (p. 98).

PENSADORES DO AZIENDALISMO   

JEAN GUSTAVE COURCELLE-SENEUIL foi professor de economia política, economista e advogado francês. Como consultor atuou em 1851 para o governo do chileno, no MINISTÉRIO DAS FINANÇAS, foi professor de filosofia e humanidades na UNIVERSIDADE DO CHILE onde exerceu forte influência nas políticas econômicas do país. 

Após retornar a FRANÇA em 1863, foi eleito conselheiro de Estado em 1879 e eleito membro da ACADEMIA DE CIÊNCIAS MORAIS E POLÍTICAS em 1882. SENEUIL, também foi redator especializado em notas sobre negócios na revista LE JOURNAL DES ÉCONOMISTES. Em 1857, em TRAITÉ THÉORIQUE ET PRATIQUE DES ENTREPRISES INDUSTRIELLES, COMMERCIAL (Tratado Teórico e Prático de Sociedades Industriais, Comerciais) analisou a economia nos 70 anos de REVOLUÇÃO INDUSTRIAL em um testemunho excepcional do pensamento gerencial do Século XIX.

Mesmo não sendo contemporâneo de ZAPPA, SENEUIL já mostrava preocupação com a CONTABILIDADE na empresa. O negócio (AZIENDA) é chamado, no sentido mais amplo da palavra, qualquer aplicação da atividade humana que combina e usa várias forças para atingir determinado objetivo. Assim, há tantos tipos de empreendimentos quanto as formas de aplicação da atividade humana

“Para saber exatamente o que estamos gastando e o que que se ganha, é preciso um BOM SENSO, uma VONTADE FRIA e CONTABILIDADE FIRME E REGULAR, … A arte de empregar bem o capital na indústria é, de certa forma, a arte da própria indústria,.. COURCELLE-SENEUIL em TRAITÉ THÉORIQUE… 1857 (p. 40-41).

Para SENEUIL, o entendimento de toda a empresa é objeto comum científico. O capital não se confunde com o patrimônio líquido, nem o capital social. Afirmou que uma coisa é o capital que uma pessoa coloca na empresa e outra é o capital da própria empresa e que soma todos os recursos na consecução de seus fins ou para o suprimento de suas necessidades.

ALBERTO CECCHERELLI, um dos primeiros a abordar o AZIENDALISMO, foi grande estudioso, intelectual, cientista historiador e aluno de FÁBIO BESTA. Também foi escritor e estabeleceu as bases do AZIENDALISMO na ITÁLIA com sua obra “L’INDIRIZZO TEÓRICO DEGLI STUDI DI RAGIONERIA” (Direção teórica nos estudos de Contabilidade)” abrindo o caminho para as propostas de GINO ZAPPA.

Apesar de ter sido aluno de FÁBIO BESTA e ter sido seu adepto inicialmente, CECCHERELLI foi abandonando as propostas do seu mestre e desenvolveu o seu próprio pensamento.

GINO ZAPPA, foi economista, professor e grande estudioso sobre CONTABILIDADE, economia e suas manifestações no âmbito empresarial.   

É visto como o personagem mais importante da ESCOLA AZIENDALISTA (ou MODERNA ESCOLA ITALIANA). Em 1922 propôs a ECONOMIA AZIENDAL com o conteúdo ADMINISTRAÇÃO, ORGANIZAÇÃO e CONTROLE e CONTABILIDADE. ZAPPA se notabilizou pela forma diferente e mais inteligente de pensar a CONTABILIDADE, pois, não se ateve só aos aspectos jurídicos (como o assunto era abordado em sua época).  

Através desta proposição, a CONTABILIDADE foi entendida como ciência da ADMINISTRAÇÃO ECONÔMICA das entidades (AZIENDAS) ao estudar não só os resultados da GESTÃO, mas os seus princípios e constituição harmônica das pessoas pertencentes aquela organização. As AZIENDAS, definidas como um complexo de bens, direitos e obrigações que compõem um PATRIMÔNIO cujos elementos constitutivos são pessoas e bens. Este foi o conceito teórico mais relevante proposto pelo AZIENDALISMO.

Ao contrário de outras correntes contábeis, o AZIENDALISMO não teve uma exagerada preocupação quanto a classificação das contas e deu grande contribuição no desenvolvimento das ciências administrativas. Assim, este pensamento contábil entendeu as AZIENDAS com base em dois elementos principais: o elemento humano (as PESSOAS) e o PATRIMÔNIO (a riqueza). Classificação das VARIAÇÕES PATRIMONIAIS:

1 – Variações permutativas: são FATOS CONTÁBEIS que modificam qualitativamente o PATRIMÔNIO da empresa sem alterar o valor de SITUAÇÃO LÍQUIDA.

2 – Variações modificativas: são FATOS CONTÁBEIS que modificam o PATRIMÔNIO em quantidade aumentando ou diminuindo a SITUAÇÃO LÍQUIDA.

3 – Variações mistas: fatos contábeis que alteram o PATRIMÔNIO tanto na qualidade de seus bens quanto na alteração da situação líquida. É a mistura das duas Variações anteriores.

GINO ZAPPA foi um dos melhores alunos de FÁBIO BESTA e, a princípio partidário das suas ideias. Mas, da mesma forma que ALBERTO CECCHERELLI, aos poucos foi modificando sua forma de pensar e se distanciou do mestre para criar sua própria maneira de conceituar a CONTABILIDADE.

ZAPPA concordava com a maior parte dos teóricos de sua época, que tomavam por base a proposta de que a principal função de uma indústria era ter o maior lucro possível. Assim, criou teorias elaboradas voltadas para o aspecto econômico-financeiro e na GESTÃO das entidades (AZEINDAS).

GINO ZAPPA efetuou a abordagem e a análise sobre questões não resolvidas por GIUSEPPE CERBONI e FÁBIO BESTA. Sua preocupação maior foi quanto aos conceitos de valor, a natureza do resultado e sua ligação com a riqueza em uma posição centrada na GESTÃO.

Neste sentido, ZAPPA tornou a CONTABILIDADE mais ampla com a preocupação nos fenômenos econômico-administrativos estabelecendo a GESTÃO, a ORGANIZAÇÃO e a CONTABILIDADE em um mesmo patamar de todos os fenômenos AZIENDAIS.  Uma de suas ideias mais interessantes foi a afirmação de que a CONTABILIDADE tinha como função a demonstração dos fatos da GESTÃO e não se prender a uma simples atividade para o registro – o resultado é mais importante fenômeno da empresa (AZIENDA).

ZAPPA colocou as empresas no centro do sistema econômico enquadrando fenômenos corporativos, de toda ordem e grau, no ambiente social em que ocorrem, uma vez que tais fenômenos e o ambiente da sociedade estão ligados por relações estreitas e de interdependência.

TENDENZE NUOVE NEGLI STUDI DI RAGIONERIA (Novas Tendências nos Estudos de Contabilidade) publicada em 1927 é considerado o início oficial do ensino moderno da ECONOMIA AZIENDALE. A obra é vista como o início da formação de uma ciência unificada, de vasto conteúdo para compor um TODO, abordando a economia da empresa em suas múltiplas e complexas manifestações.

LEO GOMBERG nasceu na RÚSSIA e viveu na SUÍÇA. Estudou e pesquisou sobre as atividades econômicas na CONTABILIDADE e é considerado um dos precursores doutrinários da ESCOLA ALEMÃ. Suas ideias e estudos ajudaram também no desenvolvimento da ESCOLA ALEMÃ e na evolução do AZIENDALISMO na Itália. Na opinião de diversos pesquisadores, GOMBERG teve grande influência sobre GINO ZAPPA por abordar o estudo em três momentos diferentes da ADMINISTRAÇÃO:

Momento Subjetivo – é o momento da ORGANIZAÇÃO.

Momento Objetivo – é o momento da GESTÃO.

Momento Cognitivo – é o momento da revelação contábil.

GOMBERG foi um dos primeiros a atentar para a ECONOMIA AZIENDAL que posteriormente seria desenvolvida com maior profundidade. Em sua opinião, a CONTABILIDADE deveria estudar todos os fatos da GESTÃO PATRIMONIAL. Trouxe também os conceitos de CAUSA e EFEITO dentro das relações patrimoniais: DÉBITO era o efeito e EFEITO e o CRÉDITO era a CAUSA. Da mesma maneira o ATIVO era o efeito do PASSIVO. Alguns outros pensadores, não tão expressivos, mas, que também deram sua parcela de contribuição no desenvolvimento do AZIENDALISMO.

PIETRO ONIDA obteve sua graduação em ciências econômicas e comerciais, com a tese sobre a AVALIAÇÃO DO CAPITAL EMPRESARIAL sob orientação de GINO ZAPPA, e de início aos seus trabalhos na área acadêmica.

Em 1933 obteve o cargo de professor livre e dois anos depois no concurso para a cadeira de contabilidade geral e aplicada na UNIVERSIDADE DE TORINO. Nos anos posteriores a II GUERRA MUNDIAL participou do conselho de administração de muitas organizações e empresas, foi consultor em importantes assuntos relativos a empresas italianas, membro de várias comissões ministeriais e interministeriais e membro do Conselho Superior de Instrução Pública. 

A atividade profissional de ONIDA sempre foi qualificada. Os seus estudos sobre ADMINISTRAÇÃO iniciaram justamente no período em que o seu professor, GINO ZAPPA fazia uma profunda revisão da CONTABILIDADE. Esta proximidade fez com que a atividade científica ONIDA participasse ativamente no processo de formação da ECONOMIA EMPRESARIAL

Da mesma forma que ZAPPA, defendeu que o objeto típico da contabilidade (o estudo dos métodos de detecção dos fatos societários) fosse, necessariamente, acompanhado do estudo da realidade econômica que está por trás desses fatos e das estreitas conexões que os unem possibilitando a correta interpretação dos resumos contábeis e os números que os expressam. 

Obras na fase inicial de sua carreira: em 1927: “ELEMENTI DI RAGIONERIA COMMERCIALE SVOLTI NEL SISTEMA DELL’ECONOMIA AZIENDALE” (Elementos de contabilidade comercial realizados no sistema de economia empresarial) e em 1928, “COSTI COMUNI NELLE IMPRESE INDUSTRIALI. I COSTI MEDI E I COSTI SUPPLEMENTARI” (Custos comuns nas empresas industriais. Custos médios e custos adicionais).

RUDOLF DIETRICH (1914 – 2004) para muitos estudiosos pertenceu à ESCOLA ALEMÃ e na opinião de outros é um dos adeptos do AZIENDALISMO. Dúvidas à parte, DIETRCH se notabilizou por suas ideias do AZIENDALISMO SOCIALISTA, em uma visão diferente da dinâmica patrimonial.

A AZIENDA deveria estar ao serviço da sociedade, contribuindo para o fortalecimento do ESTADO. Entendia que fatores como HOMEM, NATUREZA e TRABALHO só poderiam se organizar com a função voltada para o SOCIAL   Pela sua visão idealista, a especulação com o lucro abusivo e egoísta, deveria ser eliminada. Entretanto, seus conceitos de lucro não pregavam pela sua eliminação da função social, mas pela sua justa consideração (DISTRIBUIÇÃO), sem exageros. Para DIETRICH o lucro deveria ser considerado como um FATOR PATOLÓGICO (uma condição que origina uma determinada doença. Ou seja, um FATOR PATOLÓGICO não menciona a origem da doença, mas sim o processo que faz com que ela se origine). Nota: estranhamente, com estas propostas tão diferentes, o material e imagem sobre RUDOLF DIETRICH é muito pobre.

Deixe um comentário