Contabilidade – 4 – História e Evolução

INTRODUÇÃO:

A CONTABILIDADE, na visão de muitos estudiosos, atingiu o seu auge na ANTIGUIDADE durante o IMPÉRIO ROMANO. Apesar de ter a mesma finalidade para mensurar bens, direitos, obrigações e propriedades, como faziam os demais povos da época, os romanos primaram pelos seus registos precisos, analíticos e minuciosos sobre receitas de caixa, classificação em rendas e lucros e despesas sobre salários, perdas etc. Porém…

A ALTA IDADE MÉDIA

… a partir do final do Século IV e início no Século V da ERA CRISTÃ,a decadência do IMPÉRIO ROMANO DO OCIDENTE já era muito acentuada:

● O ciclo de guerras de conquista se encerrou no Século II. Esta expansão territorial, ao mesmo tempo, era uma enorme fonte de prisioneiros, a mão de obra para uma economia movida pelo trabalho escravo (rural ou urbano). A população cativa diminuiu, houve queda na produção e crise econômica.

● Aos poucos o comércio perdeu espaço para atividades agrárias.

● Os imperadores eram fracos e, na prática, o poder era exercido por generais.

A luta pelo poder e as graves crises políticas desencadearam revoltas internas, guerras civis, altos níveis de corrupção e administração pública ineficiente.

Esta decadência e a fraqueza do IMPÉRIO facilitaram as invasões dos bárbaros germânicos.

A dificuldade para administrar a grande extensão do IMPERIO fez com que os romanos procurassem reformá-lo. BIZÂNCIO, uma cidade grega conquistada em 196 d.C. e de localização estratégica na entrada do MAR NEGRO, foi escolhida pelo imperador CONSTANTINO em 330 d.C. para ser a capital do IMPERIO ROMANO DO ORIENTE (denominada NOVA ROMA e CONSTANTINOPLA após a morte de CONSTANTINO em 337 d.C.).

Por fim, em 476 d.C. os HÉRULOS invadiram ROMA, saquearam a cidade e destronaram o último imperador. Os historiadores convencionaram este evento como o fim da ANTIGUIDADE e o princípio da ALTA IDADE MÉDIA (a fase inicial da era MEDIEVAL) até meados do Século X.

O antigo território romano do ocidente foi fracionado em reinos bárbaros independentes: os VÂNDALOS no norte da África, os OSTROGODOS e os LOMBARDOS  e os HÉRULOS na Itália, os VISIGODOS e SUEVOS na península Ibérica, os ANGLO-SAXÕES na Inglaterra, os ALAMANOS em parte da Alsácia ,  Germânia e Suíça, os BORGÚNDIOS no Sudeste da França e os FRANCOS na França, Bélgica e parte da Alemanha e Suíça.

Na ALTA IDADE MÉDIA os FRANCOS formaram um reino dominante e de maior longevidade na Europa. O seu governante de maior relevância foi CARLOS MAGNO, da dinastia Carolíngia, coroado imperador pelo Papa Leão III no natal do ano 800.

A EUROPA OCIDENTAL

A total desorganização decorrente do fim do IMPÉRIO ROMANO DO OCIDENTE trouxe mudanças drásticas. O estabelecimento dos reinos bárbaros lentamente combinou características latinas e germânicas para criar uma forma diferenciada de organização social, política e econômica baseada na posse da terra:

1 – O Declínio demográfico: foi em função da violência das invasões bárbaras, da fome e das doenças. A população começou a se recuperar apenas no Século VIII.

2 – O Esvaziamento urbano e Ruralização: por falta de melhores condições de sobrevivência, boa parte da população abandonou as cidades, o principal alvo por parte dos bárbaros para efetuar saques e violências. Assim, a população optou por se transferir para as áreas rurais nas grandes propriedades em busca de trabalho, alimento e proteção. Entre os Séculos V e X estas grandes propriedades formaram os FEUDOS.

3 – Organização Social: a sociedade na ALTA IDADE MÉDIA se constituiu em dois grupos sociais com a posição do indivíduo determinada pelo seu nascimento – SENHORES (os nobres) e SERVOS (os camponeses).

O trabalho foi baseado na servidão, em um novo modelo de atividade agrícola e mão de obra servil. 

A nobreza cedia terras e ferramentas aos SERVOS para que eles tirassem o seu sustento usando técnicas de cultivo ultrapassadas e de baixa produtividade.

Os SERVOS obtinham apenas uma pequena parte da sua produção para a sobrevivência da família. A maior parte ia para os SENHORES.

Os SERVOS viviam presos a terra e submissos às obrigações, aos impostos e serviços (OBRIGAÇÕES FEUDAIS ou TRIBUTOS FEUDAIS: TALHA CORVÉIA, BANALIDADES etc.).  No início da ALTA IDADE MÉDIA as obrigações eram pagas com gêneros e, posteriormente, com o desenvolvimento da produção e do comércio, passaram a ser pagas em dinheiro. A circulação de moedas só voltaria a recuperar a importância no Século XI.

4 – Comércio: após a queda do IMPÉRIO ROMANO e a desagregação decorrente, o comércio praticamente desapareceu e desabasteceu as cidades.

A Europa, agora fracionada em FEUDOS, possuía apenas a economia agrária e autossuficiente, trocas naturais em uma sociedade estática com o poder político descentralizado nas mãos da NOBREZA.

Outro agravante para o enfraquecimento do comércio foi a grande limitação de tráfego (transporte e estradas cortando as comunicações entre as áreas rurais e urbanas). Caso um FEUDO tivesse a necessidade de determinado alimento, ele poderia obter por meio de trocas com os excedentes de outros FEUDOS vizinhos.  

5 – Artesanato: ficou reduzido pela falta de mão de obra, pelo declínio das cidades e pelo pequeno número de consumidores. Os SERVOS também podiam atuar na limpeza dos fossos, das trilhas e caminhos, a manutenção das instalações do castelo e artesanato (ferreiros, armeiros, sapateiros, pedreiros, alfaiates e outros pequenos serviços).

6 – A IGREJA: durante a ALTA IDADE MÉDIA a IGREJA CATÓLICA se consolidou e se transformou em uma poderosa instituição, com força política e econômica e parte fundamental da vida da época. Esta transformação foi o resultado de um processo que já vinha evoluindo durante o período romano:

Em 312 d.C. CONSTANTINO se tornou o primeiro imperador romano a professar o cristianismo e concedeu a liberdade religiosa pelo ÉDITO DE MILÃO que marcou o início da expansão da Igreja (313 d.C.).

Em 380 d.C. TEODÓSIO I estabeleceu o catolicismo como religião oficial do IMPÉRIO ROMANO através do ÉDITO DE TESSALÔNICA.

A IGREJA estabeleceu a vida monástica, criou as ordens religiosas, combateu as heresias e trabalhou em missões de evangelização para cristianizar pagãos. Nos mosteiros, entre os séculos V a XV, os  monges copistas se dedicavam à trabalhosa e demorada tarefa de copiar livros à mão, em pergaminhos, usando penas de ganso e tinturas. Os livros eram decorados com pinturas detalhadas e feitos com extremo zelo.

Portanto, estes religiosos tinham um excelente nível cultural e pertenciam a uma ínfima parcela de pessoas que sabiam ler e escrever.

Para se fortalecer, construir uma relação duradoura e obter posses e riquezas a IGREJA foi hábil ao se aproximar dos SENHORES FEUDAIS e dos MONARCAS dos novos reinos .

7 – As Invasões: até o Século IX a EUROPA continuou a ser assolada por invasões agravando ainda mais uma situação que garantiu a sustentação das estruturas do FEUDALISMO:

– Os Árabes: haviam obtido sua unidade religiosa com MAOMÉ (571-632) e os seus sucessores, comprometidos na propagação do ISLAMISMO, partiram da Península Arábica e iniciaram seu vigoroso processo de expansão a partir de 634.

Dominaram todo o Oriente Médio, a Anatólia (atual Turquia e ameaçaram o IMPÉRIO BIZANTINO), todo o norte da África, as ilhas do Mar Mediterrâneo ( Córsega, Sardenha e Sicília) e em 711 invadiram e subjugaram a Península Ibérica e alcançaram o sudeste da França. No Mar Mediterrâneo praticavam a pirataria contra os navios cristãos e isolaram a EUROPA. O comércio quase desapareceu e as cidades ficaram prejudicadas.

– Os Vikings: por volta do século VIII até o Século XI este povo vindo da NORUEGA, SUÉCIA e DINAMARCA, atacou com frequência o norte da EUROPA – pirataria, saques, pilhagens  em vilas, mosteiros e igrejas, roubando gado e escravizando cristãos.

Dominaram as ilhas do MAR DO NORTE e os seus ataques iam desde o MAR BÁLTICO, RÚSSIA, IRLANDA, INGATERRA, FRANÇA, PORTUGAL, ESPANHA e ITÁLIA. Entretanto, também fundaram povoados e fizeram comércio. De acordo com vários especialistas, os Vikings estiveram na AMÉRICA muito antes de CRISTÓVÃO COLOMBO.

– Os Hunos: povo formado por várias tribos nômades vindas da Ásia Central, formaram um vasto território no Século IV e V. O seu processo de expansão, com pilhagens e violência, foi ocupando boa parte da ÍNDIA, IRÃ, CÁUCASO, ARMÊNIA, TURCOMENISTÃO e RÚSSIA. Em 370 os HUNOS chegaram à região central e oriental da EUROPA, às margens do RIO DANÚBIO na atual HUNGRIA.  Com a morte de ÁTILA, em 453, o IMPÉRIO HUNO entra em decadência por rivalidades internas no processo sucessório e se encerrou em 469.

– Os Magiares: este povo, vindo dos MONTES URAIS, atacou várias partes da Europa a partir de 896, da DINAMARCA à PENÍNSULA IBÉRICA, até serem derrotados em 955 e se estabelecerem na atual HUNGRIA.

Os Eslavos: ainda no século IX, os Eslavos vindos das estepes da RÚSSIA dominaram a DALMÁCIA e os BÁLCÃS.

A CONTABILIDADE NA ALTA IDADE MÉDIA

Diante do que foi acima exposto sobre a situação da EUROPA OCIDENTAL, após o fim do IMPERIO ROMANO DO OCIDENTE, é claro que ocorreu um grande declínio do conhecimento CONTÁBIL:

Os bárbaros eram extremamente atrasados em relação aos romanos nos aspectos institucional e cultural, E, mesmo após a formação dos novos reinos bárbaros, a administração pública não teve o mesmo rigor como no passado e nenhum dos tipos de organização como havia em ROMA.

O trabalho CONTÁBIL, baseado no controle do patrimônio, e movimentações comerciais, perdeu o sentido de ser. O declínio da riqueza tornou a CONTABILIDADE uma tarefa incipiente.

Os SENHORES FEUDAIS atribuíam aos MINITERIAIS ( ou SINISCALCO na ITÁLIA, SENESCAL  e BAILIO na FRANÇA e TRUCHSESS no SACRO IMPÉRIO ROMANO-GERMÂNICO) a tarefa de manter a ordem em seus domínios, aplicar a justiça, controlar a administração e cobrar as obrigações junto aos SERVOS.     

Se no ocidente o IMPÉRIO ROMANO desapareceu, em CONSTANTINOPLA, no IMPÉRIO ROMANO DO ORIENTE (que os historiadores convencionaram denominar como IMPÉRIO BIZANTINO), a evolução das técnicas CONTÁBEIS continuou, mesmo de forma mais lenta. O IMPÉRIO BIZANTINO herdou as tradições de ROMA e só foi destruído pelos TURCOS em 1453.

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