Analisando o Job Hopping 

INTRODUÇÃO:

A literatura sobre JOB HOPPING mostra o fenômeno como uma particularidade do Século XXI, em especial dos nativos da GERAÇÃO Z e que se intensificou com a PANDEMIA COVID 19.  Contudo, não podemos apenas acreditar que as causas do JOB HOPPING sejam somente uma peculiaridade das gerações que ingressaram recentemente no MERCADO DE TRABALHO.  Contudo, é possível analisarmos os antecedentes sobre o tema com outra visão, de acordo com a geração e com o período histórico.

GERAÇÃO BABY BOOMERS

O termo vem do inglês e representa o número expressivo de nascimentos, ocorridos após a II GUERRA MUNDIAL – os nascidos entre 1946 e 1964. Estas pessoas foram para o mercado de trabalho a partir de 1960, um período caracterizado por um ambiente economicamente calmo e estável (ainda na fase de reconstrução do pós-guerra apesar dos temores causados pela GUERRA FRIA).  

Os BABY BOOMERS não tinham, em sua grande maioria, acesso ao ensino médio ou superior e, mesmo assim, o ensino primário permitia o acesso ao MERCADO DE TRABALHO sem grandes problemas. Outros atributos importantes de boa parte dos indivíduos desta geração: foram criados de maneira rígida, eram obedientes, disciplinados, estáveis, tinham empenho no trabalho, não davam muita importância para questões políticas, seu objetivo era ter melhores condições de vida, bem-estar, não eram muito afeitos às mudanças e os seus relacionamentos eram estáveis.

As empresas, por sua vez, cresciam com oportunidades promissoras de encarreiramento baseado na MERITOCRACIA.

Casos de profissionais que ingressavam em cargos modestos e se aposentavam em posições mais elevadas na mesma empresa eram comuns.

Estabilidade laboral: salvo algo fora do normal, era difícil alguém trocar de emprego com frequência – um fato muito malvisto na época pelos responsáveis por recrutamento e seleção.

Na metade dos anos 60, esta geração presenciou várias mudanças: o aumento da participação feminina no mercado de trabalho, a chegada do homem à LUA, novos movimentos artísticos, o crescimento da contracultura, os HIPPIES, as drogas, o surgimento de novos padrões na música, na moda, nos costumes e a transformação da sociedade.   

E muitos jovens desta geração passaram a participar ativamente da política e das ondas de protestos por vários países (principalmente em 1968). 

Na mesma época, os valores e o padrão de vida “planejado” também passam a ser questionados. Apesar da efervescência, a situação no Brasil se manteve razoavelmente estável aproveitando o crescimento econômico acelerado criado pelo MILAGRE BRASILEIRO (1968-1973). Mas, houve uma mudança drástica no cenário com as crises econômicas iniciadas com o primeiro CHOQUE DO PETRÓLEO.

A VIDA MUDOU MUITO  

▪ Muitas empresas faliram, foram absorvidas ou se associaram. E estes processos, em geral, eliminavam muitos postos de trabalho.

▪ As taxas de inflação e a dívida externa cresceram rapidamente fazendo com que esta nova realidade gerasse altos índices de desemprego, achatamento salarial e agravasse ainda mais a distribuição de renda.

▪ Apesar da dureza do REGIME MILITAR, ocorriam agitações e a formação de movimentos mais atuantes no operariado brasileiro.

Assim, o panorama do trabalho passou por grandes mudanças. Em pouco tempo, o ideal de emprego para sempre e a carreira em uma só empresa ficaram no passado. A instabilidade da economia provocou a insegurança – por maior que fosse o comprometimento e a seriedade das pessoas, não havia mais nenhuma garantia quanto a manutenção do emprego.

▪ Aqui podemos identificar o aparecimento do JOB HOPPING, mesmo que de forma involuntária. A situação presente fazia com que o trabalhador repentinamente fosse demitido, mesmo contra a sua vontade e colocado em disponibilidade em um mercado em crise.  

▪ Para agravar o quadro, o tempo para a recolocação ficou cada vez maior (entre 6 e 12 meses – ou até mais).  Desta forma, muitos pelo desapontamento e pela dificuldade para encontrar um outro emprego, foram se aventurar no trabalho informal (EMPREENDEDORISMO).

▪ Apesar da situação desfavorável, até fim dos anos 80 a GESTÃO DE PESSOAS via a instabilidade do CURRÍCULO como aspecto negativo do profissional (uma carreira sem solidez) e não como o resultado de anos seguidos de crise econômica.

COMO FALAR EM MOTIVAÇÃO E ENGAJAMENTO?

Na metade da década de 70 e início dos anos 80muitos começaram a questionar: ao menor sinal de dificuldade, as empresas não se constrangiam em demitir os funcionário para enxugar custos, os baixos salários não compensavam o tempo, o investimento e o sacrifício para uma boa formação profissional, os requisitos para os cargos disponíveis muitas vezes eram inatingíveis, os BENEFÍCIOS nem sempre eram atraentes, as oportunidades de crescimento eram poucas (IMOBILISMO PROFISSIONAL), as avaliações de desempenho nem sempre eram justas, a quebra do CONTRATO PSICOLÓGICO era um fato comum etc.

Assim, com o desencanto e o inconformismo pela falta de perspectivas favoráveis em relação ao emprego (uma situação oposta das décadas precedentes) a solução mais viável foi se arriscar na busca de outra colocação. Ou seja, PULAR DE EMPREGO para outro com melhores condições.   Se, por um lado estes profissionais tiveram uma carreira instável, por outo lado acumularam experiências variadas em outras áreas, mercados, ambientes, culturas e realidades diferentes.

GERAÇÃO X

São os indivíduos nascidos após 1960 e vieram para o mercado de trabalho a partir do final da década de 70 e início dos anos 80. Presenciaram as inovações tecnológicas e, assim, sua adaptação não foi difícil.

Mas, encontraram um mundo de crises econômicas seguidas e o mercado com oportunidades de trabalho reduzidas em comparação com décadas passadas.  

Esta geração trouxe um perfil bem diferente. Eram questionadores, mais impacientes, carregavam boa dose da rebeldia dos anos 60, não aceitaram as ideias BABY BOOMERS que mostravam o caminho certo: ter um bom emprego construindo uma carreira sólida até atingir cargos mais elevados (pela situação do emprego na década de 80, isto se tornou inviável), ter um automóvel, ter um imóvel próprio, constituir uma família etc.

A vida havia mudado (e muito!). Os conflitos entre as gerações se acentuaram, a GERAÇÃO X não deu crédito às ideias sobre modo de vida e as estruturas da geração anterior. Além do mais, os novos costumes e a maior liberdade trouxeram hábitos diferentes, relações de curta duração, o vírus HIV

▪ As mudanças comportamentais e inversão de valores se refletiram na dinâmica do trabalho. Aconteciam desgastes os com GESTORES da velha guarda por suas visões, ideias e formação diferentes. “O CHEFE TEM SEMPRE RAZÃO” ficou na época dos BABY BOOMERS.

▪ A instabilidade econômica extinguiu o emprego seguro: por melhor que fosse o nível de formação, o empenho e o interesse do empregado, não havia muita MOTIVAÇÃO

…pela quebra de CONTRATO PSICOLÓGICO.

…pelo ambiente de trabalho hostil.

…pela baixa capacidade de COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL.

…pela falta de perspectivas e de segurança que criaram uma forte competição interna.

…pelos salários que rapidamente perdiam o poder de compra.

A partir do momento que a empresa é instável, insegura e sem perspectivas os indivíduos perderam a identificação e a fidelidade: é melhor mudar de emprego ou buscar outra atividade na vida. Para os que possuíam condições e maior poder aquisitivo era possível se deligar da empresa e investir tempo na formação e na busca por outra colocação. Para os que dependiam do emprego por uma questão de sobrevivência, restou ter PACIÊNCIA e resignação para permanecer. Até que fossem demitidos…

Portanto, não podemos estabelecer com 100% de certeza que o processo do JOB HOPPING é uma exclusividade das gerações X, Y e Z. Apesar de circunstâncias e épocas diferentes, o fenômeno não é desconhecido. As crises econômicas e a mudança de perfil já vêm tendo influências no tempo médio de emprego dos brasileiros. Em relação aos investimentos em TREINAMENTO, muitas ORGANIZAÇÕES sempre consideram este assunto como um custo a mais e de retorno duvidoso. É o grande receio de formar mão de obra qualificada e experiente para depois perdê-la para a concorrência ou ter que demiti-la.

“Só há algo pior do que formar os seus empregados e deixá-los ir. Não os formar e deixá-los ficar”. HENRY FORD (1863-1947).

Com o passar do tempo, os conceitos também mudaram. Na década de 70, 80 e 90 os profissionais responsáveis pelos processos seletivos não viam com bons olhos os candidatos com carreira instável (vistos como problemáticos, pouco empenhados). A partir dos anos 2000 um indivíduo com muito tempo na mesma empresa e na mesma função passou a ser considerado como um profissional acomodado na ZONA DE CONFORTO.

Podemos entender que o JOB HOPPING não deveria ser considerado um fato surpreendente. As gerações mudaram e trouxeram seus hábitos comportamentais diversos, mas, muitas empresas não adequaram a CULTURA ORGANIZACIONAL aos novos padrões. Agem como se estivessem lidando com a mão de obra modelo BABY BOOMER.

SERÁ?

Então… será que…

…foi só com a GERAÇÃO Z que surgiu o JOB HOPPING?

…as pessoas mudam de emprego constantemente apenas por conta própria?

…a raiz do problema não estaria na forma como as empresas tratam a mão de obra?

…o sonho do EMPREENDEDORISMO só cresceu a partir dos anos 2000?

…a GESTÃO DE PESSOAS nunca teve a percepção de analisar com profundidade as causas do TURN OVER, da falta de identificação, da falta de ENGAJAMENTO e da perda de talentos?

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