15 – Teoria Comportamental – Deci e Ryan

INTRODUÇÃO:

As organizações com mentalidade atualizada, que adotam um ENFOQUE COMPORTAMENTAL, veem e entendem suas estruturas como um SISTEMA SOCIAL. Ele é constituído por pessoas que possuem necessidades, sentimentos e atitudes bem variadas, além do seu comportamento individual e MOTIVAÇÃO. Todos estes fatores estão presentes no AMBIENTE LABORAL.

A partir destes conceitos é válido afirmar que, em qualquer tipo de organização, os seus resultados sofrem muito mais influências do SISTEMA SOCIAL em comparação com aspectos relacionados à tecnologia, equipamentos, máquinas, fórmulas, regulamentos, métodos de trabalho e manuais com a prescrição de normas e procedimentos.

O ENFOQUE COMPORTAMENTAL deu origem ao estudo mais apurado do fator humano, às ideias relativas ao bem-estar dos trabalhadores, à psicologia industrial, ao estudo da DINÂMICA DE GRUPO e ao estudo da importância da liderança. Portanto, o ENFOQUE COMPORTAMENTAL não se volta para os modelos técnicos e coloca o SER HUMANO como o item preponderante para qualquer processo administrativo em uso nas empresas.

Na opinião de vários estudiosos, o conhecimento sobre o comportamento dos colaboradores, como indivíduos e participantes de grupos, oferece ferramentas preciosas para a administração. As características principais da TEORIA COMPORTAMENTAL são:

● A ênfase nas pessoas para entendê-las como indivíduos com suas características singulares.

● Entender as pessoas e a influência da sua singularidade sobre o desempenho da empresa.

● A grande preocupação com o estudo do COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL e da MOTIVAÇÃO.

● O entendimento do SISTEMA SOCIAL (a ORGANIZAÇÃO INFORMAL) presente na empresa.

EDWARD L. DECI e RICHARD M. RYAN

EDWARD L. DECI (1942)  

Obteve o seu Doutorado na CARNEGIE-MELLON UNIVERSITY (1970), é professor de psicologia, professor de Ciências Sociais e diretor do programa de motivação humana na UNIVERSIDADE DE ROCHESTER. O professor DECI realiza pesquisas sobre a MOTIVAÇÃO humana desde a década de 70 e é bem conhecido na área da PSICOLOGIA por suas teorias sobre MOTIVAÇÃO INTRÍNSECA, MOTIVAÇÃOEXTRÍNSECA e necessidades psicológicas básicas.

EDWARD DECI é cofundador da TEORIA DA AUTODETERMINAÇÃO (SDT – Self-determination theory) em conjunto com o professor RICHARD M. RYAN.

A SDT é uma teoria motivacional importante, ainda reconhecidamente contemporânea, que prevê o comportamento e informa a mudança de comportamento em diversos cenários: educação, saúde, família, esportes e negócios. DECI também é Diretor do Museu MONHEGAN nos EUA.

DECI, E. L. Intrinsic motivation. Plenum Publishing Co New York:, USA (1975). (Motivação intrínseca).

DECI, E. L. The psychology of self-determination.  Lexington Books – Lanham, USA (1980). (A psicologia da autodeterminação). 

DECI, E. L.; FLASTE, R. Why we do what we do. Publishing Penguin – New York: USA. (1996). (Por que fazemos o que fazemos: Compreendendo a automotivação).

RICHARD M. RYAN (1953)

O professor RYAN é psicólogo clínico e psicoterapeuta. Possui formação em Filosofia pela UNIVERSIDADE DE CONNECTICUT (1976) e obteve o Doutorado em Psicologia Clínica pela UNIVERSIDADE DE ROCHESTER (1981).

Nesta mesma instituição atuou como Pesquisador Associado em MOTIVAÇÃO INTRÍNSECA e AUTODETERMINAÇÃO no Departamento de Psicologia. Foi Professor Assistente de Psicologia Clínica (1985-1986), Professor Associado de  Psicologia (1989-1995) e Professor de Psicologia (2004-2014).

Como Professor Visitante, RYAN esteve em Berlim no INSTITUTO MAX PLANCK (1999 – 2000), no Instituto Nacional de Educação (Cingapura – 2008) e no Departamento de Saúde na Universidade de BATH (Reino Unido – 2012). A partir de 2014, tornou-se professor do Instituto de Psicologia Positiva e Educação da UNIVERSIDADE CATÓLICA AUSTRALIANA (Sidney) e Professor Pesquisador do Departamento de Ciências Clínicas e Sociais em Psicologia da UNIVERSIDADE DE ROCHESTER.

RICHARD M. RYAN é um pesquisador e teórico reverenciado, amplamente conhecido e mencionado entre os autores da psicologia e ciências sociais. Também é considerado um dos psicólogos mais influentes do período pós Guerra e tem inúmeros materiais publicados (mais de 450 artigos, capítulos e livros) abordando MOTIVAÇÃO, personalidade e bem-estar psicológico. Também é cofundador da Immersyve Inc. e da MotivationWorks.com. e nos EUA profere palestras frequentes sobre fatores que promovem a MOTIVAÇÃO, funcionamento psicológico e comportamental saudável.

Em conjunto com EDWARD L. DECI desenvolveu e apresentou a TEORIA DA AUTODETERMINAÇÃO (internacionalmente reconhecida) no livro “Motivação intrínseca e autodeterminação no comportamento humano” (1985). A teoria aborda a MOTIVAÇÃO INTRÍNSECA, desenvolvimento social e bem-estar.

DECI, EDWARD L.; RYAN, RICHARD M. INTRINSIC MOTIVATION AND SELF-DETERMINATION IN HUMAN BEHAVIOR. Publisher‎ Plenum Press (1985).

Em 2017 DECI e RYAN examinaram e  reavaliaram exaustivamente os 40 anos de suas pesquisas sobre MOTIVAÇÃO na TEORIA DA AUTODETERMINAÇÃO, necessidades psicológicas básicas, desenvolvimento e bem-estar no livro “Teoria da autodeterminação: necessidades psicológicas básicas na motivação, desenvolvimento e bem-estar”.

DECI, EDWARD L.; RYAN, RICHARD M. Self-Determination Theory. Basic Psychological Needs in Motivation, Development and Wellness. GUILFORD PUBLISHING – NEW YORK, USA (2017).

TEORIA DA AUTODETERMINAÇÃO (SELF-DETERMINATION THEORY – SDT)

A SDT foi criada por DECI e RYAN em 1975, continua sendo desenvolvida e até hoje é debatida em diversos estudos que abrangem o campo da MOTIVAÇÃO. A Teoria e os seus pressupostos apontam que a MOTIVAÇÃO não é algo objetivo, mas ela é condicionada e direcionada em função de diversos fatores (INTERNOS e EXTERNOS) que exercem influência e causam diferentes efeitos sobre o comportamento dos indivíduos. 

A SDT é derivada da MOTIVAÇÃO humana e da personalidade diante de contextos sociais que diferencia a MOTIVAÇÃO em relação a ser AUTÔNOMO e ser CONTROLADO. O trabalho teve início em experiências para analisar os efeitos das RECOMPENSAS EXTRÍNSECAS na MOTIVAÇÃO INTRÍNSECA. Por muitos anos, a partir da década de 70, os estudos iniciais criaram 5 mini teorias abrangendo questões diferentes relacionadas entre si:

● Os efeitos dos ambientes sociais na MOTIVAÇÃO INTRÍNSECA.

● O desenvolvimento de MOTIVAÇÃO EXTRÍNSECA autônoma e autorregulação por meio de internalização e integração.

● Diferenças individuais nas orientações motivacionais gerais.

● O funcionamento de necessidades psicológicas universais fundamentais. Elas são essenciais para o crescimento, para a integridade e para o bem-estar do indivíduo.

● Os efeitos de diferentes conteúdos de objetivos no bem-estar e no desempenho.

NECESSIDADES PSICOLÓGICAS BÁSICAS

A SDT propõe que a promoção do bem-estar e da saúde tem por base a satisfação de três necessidades psicológicas básicas que, se forem satisfeitas, permitirão a função e o crescimento ideais:

Contudo, algumas dessas necessidades podem ser mais evidentes do que outras em determinados momentos e ser expressas de forma diferente com base no tempo, cultura ou experiência.

AUTONOMIA

É definida como o desejo dos indivíduos se tornarem agentes causais da sua própria vida e agir em harmonia com o seu “SENSO DE EU” e de acordo com seus valores pessoais. Entretanto, isso não significa que eles se tornem independentes de outras PESSOAS, mas constitui um sentimento de liberdade psicológica geral e liberdade da vontade interna (INTRÍNSICA). Quando um indivíduo é motivado de forma autônoma, seu desempenho, bem-estar e engajamento se elevam (é o oposto do processo conhecido como MOTIVAÇÃO CONTROLADA – quando se diz às PESSOAS o que elas devem fazer).

EDWARD DECI demonstrou que oferecer às pessoas as RECOMPENSAS EXTRÍNSECAS por comportamento motivado INTRINSECAMENTE prejudicava a MOTIVAÇÃO INTRÍNSECA à medida que elas se interessavam menos pelas RECOMPENSAS EXTRÍNSECAS. O comportamento motivado, inicialmente, de forma intrínseca, passa a ser controlado por recompensas externas e, portanto enfraquecem a AUTONOMIA

Situações em que há maior AUTONOMIA também apresentam vínculo com a MOTIVAÇÃO: a oportunidade de escolhas e opções aumenta a MOTIVAÇÃO INTRÍNSECA de um indivíduo. Pesquisas posteriores de outros estudiosos demonstraram que há outros fatores EXTRÍNSECOS (externos) que também têm potencial para diminuir a MOTIVAÇÃO INTRÍNSECA: pressões, prazos e controles  nos processos.

COMPETÊNCIA

Tem relação com a adaptação ao ambiente e se refere à aprendizagem (de um modo geral) e também ao desenvolvimento cognitivo. Essa NECESSIDADE PSICOLÓGICA vai desde a procura da sobrevivência, a execução de atividades, a exploração do ambiente até a competência em uma participação social efetiva.

EDWARD DECI demonstrou que dar às pessoas um FEEDBACK positivo e inesperado em relação a uma tarefa eleva a MOTIVAÇÃO INTRÍNSECA. Então o FEEDBACK satisfaz as necessidades de COMPETÊNCIA e tem influência a criação de meios, bem-estar e a descoberta de valor dentro do crescimento interno e na  MOTIVAÇÃO. Por outro lado, o FEEDBACK negativo diminui a MOTIVAÇÃO INTRÍNSECA das pessoas. 

RELACIONAMENTOS

É o desejo do indivíduo (ou a necessidade) de interagir, estar ligado e se relacionar com outros participantes. É a criação de vínculo social, a procura por relacionamentos com outras pessoas, grupos ou comunidades.

Essa NECESSIDADE PSICOLÓGICA também tem relação com a preocupação, a  responsabilidade, a sensibilidade e o apoio em relacionamentos afetivos. Ela tem grande importância para a aquisição dos regulamentos sociais (normas, regras e valores), pois é pelos vínculos com os outros que se dá a aprendizagem.

Na SDT, o processo de SOCIALIZAÇÃO (vínculos) tem um peso fundamental e acontece desde o processo de INTERNALIZAÇÃO. A SOCIALIZAÇÃO é um processo amplo em que os regulamentos externos se tornam internos ao indivíduo pela aprendizagem possibilitando a participação e o pertencimento a uma determinada cultura. A INTERNALIZAÇÃO é a aquisição dos regulamentos do meio sociocultural (INTEGRAÇÃO ORGANÍSMICA).

OS TRÊS ELEMENTOS ESSENCIAIS DA SDT

A TEORIA DA AUTODETERMINAÇÃO foi proposta com objetivo de compreender os componentes da MOTIVAÇÃO INTRÍNSECA, da MOTIVAÇÃO EXTRÍNSECA e os fatores relacionados afirmando que as pessoas, para serem INTRINSECAMENTE MOTIVADAS, necessitariam se sentir COMPETENTES e AUTODETERMINADAS. DECI e RYAN afirmaram que há três elementos essenciais na SDT:

● O ser humano é eficiente naquilo que diz respeito ao próprio ser, com seu potencial e domínio de suas forças internas (tais como os impulsos e as emoções)

● Os humanos têm uma tendência característica para o desenvolvimento do crescimento e funcionamento integrado.

● O desenvolvimento e as ações ideais são características aos humanos, mas não acontecem de maneira automática.

A SDT traz um enfoque diferente em relação à MOTIVAÇÃO. A teoria leva em conta o que pode motivar um indivíduo em um dado momento e não considera a MOTIVAÇÃO como um conceito uno. Então, a SDT separa diferentes tipos de motivação e suas consequências: as NECESSIDADES PSICOLÓGICAS BÁSICAS.

MOTIVAÇÃO INTRÍNSECA

Ela também conhecida como MOTIVAÇÃO INTERNA. A ideia tem relação com a força interior que tem a capacidade de manter uma pessoa em ação – mesmo diante de situação negativas e adversas. É o impulso natural e inerente para ir à busca de desafios e de novas possibilidades. A SDT associa ao desenvolvimento cognitivo (aprendizado) e social ao analisar como os fatores sociais e ambientais ajudam ou prejudicam a MOTIVAÇÃO INTRÍNSECA.

A MOTIVAÇÃO INTRÍNSECA é ligada aos interesses individuais, que podem ser alterados apenas por decisão do próprio indivíduo. A MOTIVAÇÃO INTRÍNSECA está associada a objetivos, metas, projetos pessoais e atividade profissional e está presente na maioria das pessoas.

ASDT foca nas necessidades de COMPETÊNCIA e AUTONOMIA e mostra como os acontecimentos no ambiente social (FEEDBACK positivo sobre as tarefas ou recompensas) podem conduzir a sentimentos de competência para elevar a MOTIVAÇÃO INTRÍNSECA.

Contudo, a AUTONOMIA necessita estar em paralelo com a COMPETÊNCIA para que os indivíduos percebam os seus comportamentos como estando autodeterminados pela MOTIVAÇÃO INTRÍNSECA

MOTIVAÇÃO EXTRÍNSECA

Ela também conhecida como MOTIVAÇÃO EXTERNA. A ideia tem relação com o ambiente, às situações diversificadas e aos fatores externos. As premiações e bonificações para a equipe são os exemplos mais comuns. No ambiente corporativo, o CLIMA LABORAL, as variadas atividades, os programas de treinamentos e demais benefícios são vistos como formas de estímulo externo.

DECI e RYAN desenvolveram a TEORIA DA INTEGRAÇÃO ORGANÍSMICA como uma subteoria da SDT. A finalidade foi explicar as diferentes formas pelas quais o comportamento motivado extrinsecamente é regulado. A INTEGRAÇÃO ORGANÍSMICA detalha as diferentes formas de MOTIVAÇÃO EXTRÍNSECA e os vários contextos nos quais ela se desenvolve. A INTEGRAÇÃO ORGANÍSMICA mostra quatro tipos diferentes de MOTIVAÇÕES EXTRÍNSECAS:

1 – Comportamento regulado externamente: são ações que podem ser vistas como tendo um LOCUS DE CONTROLE percebido externamente (Locus de controle é o grau em que as pessoas acreditam que forças externas têm influência e controle sobre o resultado dos eventos em suas vidas).

2 – Regulação introjetada de comportamento: descreve a aceitação de normas e regras de comportamento. Porém, o indivíduo não aceita totalmente tais regras como sendo suas. Este é o tipo de comportamento em que as pessoas se sentem motivadas a demonstrar a sua capacidade e manter a autoestima.

3 – Regulação por identificação: é uma forma de motivação extrínseca mais autônoma que dá valor conscientemente a um objetivo, meta ou regulamento para que tal ação seja aceita como pessoalmente importante.

4 –Regulação integrada: este é o tipo mais autônomo de MOTIVAÇÃO EXTRÍNSECA. Ocorre quando os regulamentos são totalmente assimilados por um indivíduo.

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