1 – Empreendedorismo X Auto Emprego

INTRODUÇÃO:

Nos dias de hoje nós podemos encontrar os mais diversos enfoques a respeito de EMPREENDEDORISMO. Mas, o que chama a atenção são algumas afirmações que parecem estar mais próximas de ser um MITO do que realidade. Uma delas diz respeito ao MITO do brasileiro ser um povo de perfil empreendedor tendo por base os números divulgados em pesquisas e em diversas outras fontes.

“O Brasil é um dos países que mais abrem empresas no mundo” ou “O Brasil se destaca no mundo pelo seu Empreendedorismo”.

No Brasil há uma mistura entre a ideia do que é, de fato, EMPREENDEDORISMO e AUTO EMPREGO. O senso comum confunde “ABRIR UM NEGÓCIO” (o AUTO EMPREGO como uma saída para o desemprego) com o EMPREENDEDORISMO que tem por princípio a ousadia e, principalmente, a inovação. São coisas muito diferentes.

AUTO EMPREGO – Conceitos.

É a forma de trabalho ou de sobrevivência que um indivíduo encontra sem ter algum tipo de vínculo formal com uma organização. Ou seja, trabalha por conta própria. Grande parte dos estudiosos sobre o assunto enxerga esta atividade como sendo uma forma de EMPREENDEDORISMO na figura do AUTÔNOMO, do MICRO EMPRESÁRIO ou do MICRO EMPREENDEDOR INDIVIDUAL etc.

Bem, mas partindo deste princípio, o tema é bem visto por seus resultados positivos e pelas ações dos Governos com estímulos e iniciativas na redução de impostos e menor trâmite burocrático. Foram criados vários programas e fontes que disponibilizam o acesso a tecnologias, recursos e orientação para a criação de pequenos negócios dentro de parcelas específicas de mercado (Nichos).

Também há o incentivo para que as pessoas possam aproveitar suas experiências anteriores, competência, talento e conhecimento para sair da INFORMALIDADE (PULL THEORY – Teoria do Puxar, Atrair). Este é o ponto de vista positivo do AUTO EMPREGO. Porém, na prática há outros objetivos… A finalidade PULL THEORY tem por não é só tirar as pessoas da informalidade. É a formalização do AUTO EMPREGO para recolher impostos, taxas, encargos e a contribuição para o INSS.

DIVERGÊNCIAS SOBRE O AUTO EMPREGO.

É associado por muitos entendidos como sendo uma modalidade de EMPREENDEDORISMO. Mas, na verdade isso NÃO é verdade. Outros estudiosos afirmam que o AUTO EMPREGO é fruto de situações bem diferentes:

A – Terceirização e Parceria: o AUTO EMPREGO é uma realidade crescente na qual um indivíduo atua prestando serviços para outras pessoas ou organizações terceirizando tarefas ou se tornando parceiro (fixo ou eventual). Ele não trabalha para a empresa como funcionário. Atua como Terceirizado ou Parceiro contratado com liberdade e autonomia.

B – Mercado de Trabalho: o AUTO EMPREGO é uma atividade em crescimento pelo fato de que a geração de empregos formais é cada vez menor:

● A precarização do mercado de trabalho é incapaz de absorver o volume de mão de obra disponível no mercado.

● O crescimento econômico é cheio de altos e baixos, insatisfatório e os ajustes estruturais não têm continuidade.

● As ações do setor público são tímidas para promover o pleno emprego.

● Muitas empresas desperdiçam talentos fazendo com que o emprego formal venha perdendo os seus atrativos.

● As empresas não querem arcar com os encargos trabalhistas previstos em lei. A tendência é contratar “funcionários” que trabalham normalmente, porém, emitindo Notas Fiscais como MEI (pessoas jurídicas – micro empresas).

● As Relações de trabalho mais flexíveis: as empresas procuram fazer cada vez mais com cada vez menos. Uma das opções mais viáveis tem sido eliminar postos de trabalho e contratar serviços de autônomos.

C – Baixa Qualificação: o AUTO EMPREGO também tem crescido pelo fato de que a qualidade da mão de obra disponível apresenta uma qualificação muito abaixo das expectativas das empresas. Portanto, em uma análise crítica sobre o AUTO EMPREGO revela fatores heterogêneos e diversas limitações. Entretanto, seja qual for o porte, ou os valores envolvidos, é inegável que ele soma dentro do total da atividade econômica.

A REALIDADE NO AUTO EMPREGO.

Um indivíduo na condição de AUTO EMPREGO apresenta algumas situações:

● Não tem acesso aos mercados em condições de igualdade com as empresas constituídas regularmente.

● Sofre com a escassez de Capitais: HUMANO – FINANCEIRO – TÉCNICO.

● A condição de quem atua no AUTO EMPREGO é variada: há muitas diferenças na formação, perfil ocupacional, perfil pessoal, nível de renda, escolaridade e condições de trabalho.

● Muitos ingressaram no AUTO EMPREGO por falta de oportunidades no mercado de trabalho formal. Em muitos casos apenas complementa a renda familiar.

● O AUTO EMPREGO é para ter liberdade e independência ou um HOME OFFICE.

● Muitos indivíduos escolheram o AUTO EMPREGO para satisfação pessoal, auto estima ou como uma forma de ascensão social e econômica.

O CRESCIMENTO DO AUTO EMPREGO.

A partir da década de 70 até o presente o crescimento acentuado do AUTO EMPREGO foi devido a determinadas circunstâncias:

● – As crises do Petróleo da década de 1970 e 1980, os seguidos períodos de recessão econômica e as novas tecnologias fizeram as empresas enxugarem suas estruturas.

● – Ao mesmo tempo o desenvolvimento tecnológico, os novos equipamentos e a informatização suprimiram cargos e funções. Os programas de REENGENHARIA, DOWNSIZING e EMPOWERMENT funcionaram a pleno vapor e tiraram o emprego de milhares de pessoas de todos os níveis.

As fusões e aquisições eliminaram inúmeros postos de trabalho.

Pelo desinteresse em manter o quadro de pessoal, várias empresas adotaram o PDV (Plano de Demissão Voluntária) como medida para diminuir o número de funcionários e reduzir custos. Em troca do pedido de desligamento voluntário, este tipo de acordo permitiria uma compensação monetária, segundo o período de trabalho prestado e mais algumas vantagens adicionais.

● – A terceirização (OUTSOURCING) foi uma alternativa para as empresas diminuírem o número de trabalhadores e reduzir custos. Determinadas tarefas passaram a ser realizadas fora da empresa por ex-funcionários ou por empresas especializadas.

● – As empresas pararam de crescer nos moldes das décadas passadas e, em consequência, as oportunidades de encarreiramento quase entraram em extinção.

A gestão da carreira, as chances de ascensão profissional e melhor remuneração ficaram bem distantes. E muitos se desencantaram e perderam a motivação com o “EMPREGO SEGURO”.

As carreiras ficaram cada vez mais curtas. Funcionários entre 8 e 10 anos de casa, anteriormente considerados o patrimônio da companhia, passaram a ser vistos como ACOMODADOS, sem novas ideias, sem desafios e, portanto, DESCARTÁVEIS. Era preciso buscar no mercado de mão de obra pessoas mais jovens, com novas ideias e de maior dinamismo (e por salários mais baixos).

As avaliações de desempenho passaram a seguir critérios não muito bem definidos ou explícitos e até mesmo tendenciosos fazendo com que a meritocracia caísse em desuso.

Seja qual tenha sido a circunstância da perda do emprego (demissão, acordo, desmotivação, DOWNSIZING ou PDV), profissionais de todos os níveis foram à luta no mercado em busca de um recomeço. A escolha foi utilizar potencial e talento em benefício próprio e não depender mais do emprego e das pressões, das cobranças por resultados, da rotina, da politicagem, da má gestão corporativa, do clima interno, estresse, depressão, autonomia restrita etc.

CARACTERÍSTICAS DO AUTO EMPREGO.

A realidade brasileira apresenta os mais diversos casos de AUTO EMPREGO. As pessoas que se dedicam a esta atividade hoje podem recorrer ao apoio de programas governamentais que buscam: dar orientações para a profissionalização, incentivos para sair da informalidade, diminuição da carga tributária e redução nas exigências burocráticas.

Porém, na maior parte dos casos o AUTO EMPREGO é apenas para sustento próprio, a renda em geral é pequena, serve para a sobrevivência. E além do mais, dificilmente cria postos de trabalho, o acesso às linhas de crédito é muito restrito, etc. Há RISCOS como em qualquer outro tipo de negócio, não há muito espaço para a CRIATIVIDADE e DESENVOLVIMENTO.

EXEMPLOS DE AUTO EMPREGO.

Em geral são pessoas desempregadas que não conseguem mais colocação no mercado de trabalho formal ou aposentadas que procuram melhorar a sua renda.  Outras, com pouca formação profissional, pouca especialização ou que não se adaptam a uma atividade fixa (que querem ser livres ….etc.).

Há casos de profissionais com formação técnica, que perderam os seus empregos e abriram pequenas oficinas. Prestam diversos tipos de serviços ou terceirizam trabalhos de outras empresas. Neste tipo de AUTO EMPREGO o indivíduo tem a oportunidade de exercer livremente o seu talento e os resultados em geral são apenas para o seu próprio benefício.

Outros profissionais, que ocuparam quadros gerenciais ou de diretoria, oferecem sua experiência e talento em serviços especializados em consultoria empresarial, assessoria, STAFF ou COACHING. Nestes casos, o primordial é o NETWORKING que foi desenvolvido ao longo do tempo.

Não há nenhum tipo de desprestígio em relação ao AUTO EMPREGO. Ele contribui para amenizar a situação dos indivíduos e, bem ou mal, contribui com a atividade econômica. O que precisa ser muito bem definido e esclarecido é a sua enorme distância em relação ao EMPREENDEDORISMO. O Brasil não é empreendedor e sim um país propenso ao AUTO EMPREGO pela falta de um mercado de trabalho mais consistente.

Quem trabalha no AUTO EMPREGO pode se tornar EMPREENDEDOR? Sim, mas depende não só de programas governamentais. Há várias circunstâncias que não são presas ao entendimento sobre pesquisas, estudos sociológicos, opiniões de economistas, consultores e coachers.

Os gráficos, palestras, apoio político, números, bibliografias, mídia, vídeos na Internet etc. na maior parte dos casos não resultam em grandes benefícios. Os maiores problemas do AUTO EMPREGO estão em alguns aspectos muito mais importantes. Falta profissionalismo, preparo técnico, geralmente não há ESPÍRITO EMPREENDEDOR e, principalmente, a CULTURA EMPREENDEDORA. O AUTO EMPREGO é sinônimo de sobrevivência e tem uma relação de amizade muito forte com a ZONA DE CONFORTO.

EMPREGO FORMAL – O DESENCANTO.

Fazendo uma reflexão sobre o mercado de trabalho, é possível encontrar algumas razões por que o AUTO EMPREGO ou o EMPREENDEDORISMO se transformaram no desejo de muitas pessoas.

Podemos identificar problemas comuns quando conversamos com profissionais que estão atuando no mercado de trabalho e mesmo no contato com estudantes de qualquer área. Além da queda da oferta de emprego as exigências e os requisitos estão cada vez mais rigorosos. A habitual relação de trabalho, que prende e condiciona um indivíduo em atividades de acordo com as normas da empresa, se apresenta como um cenário muito desmotivador:

1 – Há pouco espaço para a criatividade e inovação.

2 – Tarefas repetitivas, burocracia, normas e procedimentos a serem seguidos.

3 – Falta de reconhecimento, falta de reciprocidade da empresa e poucas oportunidades de encarreiramento.

4 – É muito comum que relacionamentos bem construídos tenham muito mais valor do que a meritocracia.

5 – Pressões, chefes que não são líderes, ambiente laboral hostil, competição interna, desgastes, alto risco de demissão, período de recolocação cada vez mais longo. 6 – Decisões ineficientes baseadas em CONVENIÊNCIAS muitas vezes sem critérios técnicos.

A cada dia que passa a ideia de EMPREGO, carreira, sucesso e estabilidade parecem conceitos ultrapassados e distantes da realidade. Todos estes fatores quebram a MOTIVAÇÃO e dão início a um processo no qual as pessoas começam a sonhar e a construir uma visão empreendedora ao desenvolver uma percepção de oportunidades que o ambiente corporativo, em geral, procura bloquear. A iniciativa, o talento e a capacidade de gerar ideias inovadoras (mesmo correndo RISCOS) numa outra modalidade de trabalho poderão ser utilizados em proveito próprio.

Sugestão de Leitura

NAVARRO, LEILA. O AUTO-EMPREGO e sua carta na manga. Editora Saraiva. Edição 1ª.  São Paulo, 2006.

FLORY, HENRIQUE V., ANDREASSI T. Transformando necessidades em oportunidades. Editora Arte e Ciência. Edição 1ª. São Paulo, 2009.

MURRAY, DAVID KORD. A Arte de Imitar. Editora Elsevir. Edição 1ª. Rio de Janeiro, 2011.

MANSON, MARK. A sutil arte de ligar o foda-se – Uma estratégia inusitada para uma vida melhor. Editora Intrínseca. Edição 1ª. Rio de Janeiro, 2017.

DORNELAS JOSÉ; SPINELLI STEPHEN; ADAMS, ROBERT J. Criação de Novos Negócios – Empreendedorismo para o Século XXI. Editora Campus Elsevier. Edição 2ª.  São Paulo, 2013.

NAVARRO, LEILA. O que a Universidade Não Ensina e o Mercado de Trabalho Exige. Editora Saraiva. Edição 1ª.  São Paulo, 2006.

LEI GERAL DA MICRO E DA PEQUENA EMPRESA. É a lei complementar nº 123 (de 14 de dezembro de 2006), conhecida como o novo “Estatuto Nacional das Microempresas (ME) e das Empresas de Pequeno Porte (EPP)”. Veio estabelecer normas gerais relativas ao tratamento diferenciado e favorecido a ser dispensado às MEs e EPPs no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nos termos dos artigos 146, III, “d”, 170, IX e 179 da CONSTITUIÇÃO FEDERAL e exige ampla regulamentação via decretos, portarias, resoluções e instruções normativas de todos os órgãos e institutos que ela envolve, mudando se constantemente sua regulamentação, tendo já sofrido ajustes pela Lei Complementar nº 127, de 14 de agosto de 2007 e também pela Lei Complementar nº 128, de 19 de dezembro de 2008, tendo concedido como principais benefícios às Micro e Pequenas Empresas (MPEs).

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