Roaring Twenties – Os “Loucos Anos 20”

INTRODUÇÃO:

Parece um contrassenso, mas podemos afirmar que, apesar de todo o sofrimento e perdas, a I GUERRA MUNDIAL (28 de julho de 1914 a 11 de novembro de 1918) foi benéfica para os Estados Unidos. O confronto colocou em lados opostos países europeus que formaram dois grandes blocos:

TRÍPLICE ENTENTE – formada pela França, Reino Unido e o Império Russo (apoiada pelos EUA a partir de abril de 1917).

TRÍPILICE ALIANÇA – formada pelo Império Alemão, Império Austro-Húngaro, Império Turco-Otomano.

Ao entrarem na guerra em 1917, os EUA colocaram todo o poder do seu parque industrial, movido pelo TAYLORISMO e pelo FORDISMO, a favor de seus aliados. Os europeus ficaram impressionados com o volume da produção de materiais, armas e equipamentos da indústria americana, e com a rapidez dos americanos ao desembarcar 1.000.000 de soldados, equipados e abastecidos em território francês.

A MUDANÇA

Com o fim do confronto, a Europa havia se transformado:

● A dinastia ROMANOV e o IMPÉRIO RUSSO foram varridos para as páginas da História pela Revolução de Outubro de 1917.

● Com a abdicação do Kaiser Guilherme II, em novembro de 1918, o IMPÉRIO ALEMÃO teve um final melancólico.   

● O cambaleante IMPÉRIO AUSTRO-HÚGARO se dissolveu na assinatura de um cessar-fogo com a TRÍPLICE ENTENTE (3 de novembro de 1918).

● Na Turquia, o movimento dos Jovens Turcos encerrou o Império Otomano instaurando a república, em 1922, após um longo período de decadência.

A GRIPE ESPANHOLA

Apesar do nome, a gripe não começou na Espanha e sim nos EUA (em Março de 1918) com o vírus INFLUENZA A do subtipo H1N1.

O vírus se espalhou pelas tropas aliadas estacionadas nos portos franceses em abril. No mês seguinte estava por toda a Europa e rapidamente se alastrou pelo mundo. Até 1920, a gripe causou a morte de milhões de pessoas em todo o mundo (apesar da falta de estatísticas confiáveis, a estimativa gira em torno de 50 a 100 milhões de vítimas).

A EUROPA NO PÓS-GUERRA  

O glamour das monarquias IMPERIAIS foi substituído por novos cenários políticos e novas nações frágeis. Os jovens cheios de entusiasmo, patriotismo e voluntariado romântico cederam lugar a uma massa em busca do retorno à normalidade (o status, a situação anterior a 1914).

Além da PANDEMIA de GRIPE ESPANHOLA, os anos do pós-guerra também mostraram uma Europa fragilizada, desestruturada, totalmente dependente e economicamente arruinada. Sua recuperação só teria início por volta de 1928, mas, não voltaria a ter o mesmo brilho do passado.

Esta situação permitiu o surgimento de movimentos radicais, responsáveis pela ascensão do NAZISMO na Alemanha, do FASCISMO na Itália, do SALAZARISMO em Portugal, das raízes da Guerra Civil Espanhola e preparariam o cenário para a eclosão da II Guerra Mundial.

A EFERVESCÊNCIA CULTURAL

Apesar do caos, a Europa teve um período de grande efervescência cultural em Londres, Berlim e, principalmente, em Paris. Na década de 20, mesmo com as dificuldades, a capital francesa ditava e definia as tendências da moda e vivia uma agitada atmosfera cultural.

Nas ruas da capital parisiense, aristocratas, intelectuais, milionários, pobres, boêmios e pessoas comuns convivam com artistas inovadores (poetas, escritores, artistas plásticos, músicos etc.). Suas novas ideias e técnicas de vanguarda eram muito diferentes dos conceitos tradicionais e ali a vida se apresentava com grande intensidade. Nos CAFÉS, bares e cabarés, tudo era normal e tudo era permitido em nome da ousadia: literatura, poesia, ART DÉCO, moda, música, cortes de cabelo, feminilidade moderna etc.  

ENQUANTO ISSO…

Os Estados Unidos viviam uma fase de prosperidade sem precedentes, um período de riqueza e excessos, resultado de um crescimento vertiginoso iniciado nos últimos anos do Século XIX:

● 1870 – 1910: o período é marcado pelo processo de reconstrução, após a Guerra Civil Americana, com crescimento da industrialização nos moldes da II Revolução Industrial:  

A produção das fábricas americanas utilizou técnicas mais modernas, rápidas e eficientes que aumentaram sua capacidade de forma notável.

A expansão para o Oeste permitiu a criação de uma extensa malha ferroviária.

Uma massa de imigrantes veio para a América em busca de oportunidades e fugindo da miséria da Europa do Século XIX.

O comércio cresceu vertiginosamente.

Muitos inventores criativos desenvolveram diversos novos produtos e aplicações (Thomas Edison, Graham Bell, George Eastman, Charles Goodyear etc.).

Em 1901, a descoberta do petróleo no Texas possibilitou grandes mudanças na economia.

– Os americanos se estabeleceram como potênciaregionaldominando a área do Mar do Caribe e América Central e ampliaram sua influência nas ilhas do Pacífico e no Oriente com a tomada das Filipinas.

● 1910 – 1914: os métodos da ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA (TAYLORISMO) e a produção em massa (FORDISMO) impulsionaram ainda mais o poderio da indústria.

● 1914 – 1918: aproveitando o dinamismo de sua indústria, os EUA se tornaram o maior fornecedor para os aliados na I GUERRA MUNDIAL e, após a sua entrada no conflito em 1917, aumentaram ainda mais o seu ritmo de produção.  Além do mais, o seu território não sofreu nenhum tipo de dano, pois os combates se concentraram na Europa.

● 1919 – 1929: na década de 1920, a economia de guerra aproveitou o seu ritmo na época da paz. Os americanos obtiveram lucros enormes com o aumento da sua produção industrial.

O seu crescimento econômico se expandiu ao dominar outros mercados e com a concessão de volumosos empréstimos para a recuperação dos países europeus.    O país passou a ter um forte perfil industrial e, pelo otimismo do pós-guerra, muitos americanos migraram para as cidades na esperança de uma vida melhor em função da crescente expansão do setor industrial.

ROARING TWENTIES (Os Loucos Anos 20)

A prosperidade chegou ao um nível sem precedentes pela oportunidade de emprego, pela grande produção agrícola e pelo crédito fácil incentivando o rápido crescimento do consumo. 

A cada dia, as empresas lançavam novos produtos, a construção se expandia, o cinema havia se transformado em uma atividade lucrativa, a aviação comercial começava a se desenvolver e, mesmo com a LEI SECA, boates e clubes tinham um grande movimento.

Os automóveis eram acessíveis, impulsionando muitos outros segmentos industriais numa cadeia sem fim: siderúrgicas, metalúrgicas, produção de aço, indústrias químicas, postos de combustíveis, pavimentação de ruas, eletro domésticos, telefonia, discos, construção de rodovias, eletricidade, telefones, rádios, gramofones, navegação, portos, arranha céus etc.

THE AMERICAN WAY OF LIFE

Com este cenário favorável e com as indústrias trabalhando nos moldes do TAYLORISMO, a produção americana cresceu de forma acelerada entre 1918 e 1929.

O pleno desenvolvimento e o nível de prosperidade econômica alcançada criaram o “AMERICAN WAY OF LIFE” (o modo de vida americano) no qual tudo era sinônimo de prosperidade, bem estar e qualidade de vida.

O “AMERICAN WAY OF LIFE” e a prosperidade causaram uma grande mudança na sociedade americana, no estilo de vida e na cultura da época. A sociedade americana perdeu os seus ares de provincianismo… Os valores se modificaram, a vida farta e fácil permitia a realização de festas suntuosas, regadas à bebida e narcóticos e as relações homo afetivas eram vistas com muita naturalidade.

As mulheres ganharam maior espaço: o direito ao voto, a moda agora permitia o corte de cabelos curtos, maquiagem, roupas ousadas para a época, maiôs e, coisas até então inimagináveis.

Elas passaram a fumar em público, dirigir seu próprio automóvel, frequentar faculdades e algumas mulheres, bem mais atrevidas, pilotavam aviões.

MÚSICA: muitos músicos negros vieram de Nova Orleans para Nova York (que eles chamavam de BIG APPLE) trazendo o Jazz, um ritmo de influências africanas que ganhou popularidade. A partir do Jazz surgiu o CHARLESTON, uma dança vibrante e muito ousada para a época que se caracterizava por seus movimentos rápidos de pernas e braços.

CINEMA: no início dos anos 1910 o cinema se popularizou como uma grande novidade e entretenimento que foi aos poucos esvaziando o teatro. Era acessível e mais barato, o que atraiu um grande público. Os cinemas deixaram as tradicionais instalações acanhadas e ganharam salas enormes e requintadas. A indústria cinematográfica se tornou muito lucrativa e poderosa a partir de 1915, arrebanhou inúmeros artistas da atividade teatral e criou grandes ídolos para as multidões.

No início, os filmes eram “MUDOS” e traziam legendas para o público seguir a história. As salas de projeção possuíam um pequeno espaço, destinado para um pianista ou para uma pequena orquestra, que executavam o tema musical de acordo com as cenas exibidas na tela.

Com a evolução técnica, a partir de 1927 os filmes ganharam som (o “CINEMA FALADO”). Em 1927, o filme sonoro THE JAZZ SINGER foi inovador pelo uso do som se tornando um grande sucesso de bilheteria. Em 1928 WALT DISNEY apresentou com sucesso o primeiro desenho curta-metragem sonoro, STEAMBOAT WILLIE, apresentando o personagem MICKEY MOUSE.

Na década de 1920 os aparelhos de rádio eram caros. Mas, para a época foi um meio de comunicação e entretenimento que fez grandes mudanças. Sua a programação variada formou uma cultura de massa com música, notícias, publicidade e uma grande diversão. E assim, em volta do rádio, as famílias se reuniam para ouvir as novidades.

Apesar dos EUA não apresentarem a mesma efervescência cultural parisiense, outros setores refletiam a prosperidade. Em Nova York a força da economia americana se verificou com a construção de arranha-céus.

O ROARING TWENTIES criou uma casta de ídolos milionários, que, com seu estilo de vida, se tornavam referência e modelo de verdadeiros heróis para a nova juventude. Eram frutos do cinema, das artes e dos esportes.

CHARLES LINDENBERG ganhou grande notoriedade e fama internacionais ao voar sozinho por 33.5 horas, sem escalas, de Nova York a Paris em maio de 1927 no seu avião batizado “THE SPIRIT OF SAINT LOUIS”.

LEI SECA: vigorou nos EUA, de 1920 a 1933 para proibir a fabricação, transporte e venda de bebidas alcoólicas. A princípio, o apoio a esta restrição foi muito grande. Porém, a venda e consumo ilegal se tornaram incontroláveis e as autoridades passaram a fazer vistas grossas. Contrabandistas, comerciantes ilegais e GANGSTERS criaram redes clandestinas que obtiveram altos lucros com o consumo ilegal.

O maior destes foi Alphonse Gabriel “Al” Capone (1899-1947), chefe de uma poderosa quadrilha de Chicago que, além do comércio e contrabando de bebidas ilegais, explorava apostas, agiotagem e prostituição.

AS AÇÕES – LUCRO FÁCIL: grandes e pequenos investidores formaram verdadeiras fortunas rapidamente com as ações da bolsa de Nova York. WALL STREET era o local onde o lucro era fácil, onde as empresas vendiam suas ações e, com as vendas aceleradas, os investidores apostavam na especulação com retorno garantido.

Muitos contraíam empréstimos bancários e colocavam todas as suas economias nas mãos dos corretores arriscando tudo. Até que um dia…

O ambiente de ostentação também se mostrou favorável a todo o tipo de bizarrices e loucuras.

AS TENDÊNCIAS NA ADMINISTRAÇÃO:

O crescimento industrial americano também tinha um lado negativo. O TAYLORISMO e o FORDISMO eram severamente criticados e questionados em relação à forma desumana da visão do HOMO ECONOMICUS. A TEORIA TRANSITIVA colocou em dúvida a perfeição do tratamento em relação aos trabalhadores e começou a abrir caminho para a ESCOLA DAS RELAÇÕES HUMANAS de ELTON MAYO.

ENQUANTO ISSO…

O Brasil continuava um país bucólico e com uma indústria incipiente. O café sustentou a economia brasileira de 1850 a 1930, como o principal produto de exportação no período da MONARQUIA e, posteriormente, na REPÚBLICA DO CAFÉ COM LEITE.

A produção cresceu rapidamente em São Paulo entre 1880 e 1890, favoreceu a construção de ferrovias para o porto de Santos, o maior centro exportador de café do mundo. Grande parte da oferta mundial e dos preços do café estava sob controle do Brasil, obtendo assim lucros elevados.

O país com muitas terras disponíveis para a cafeicultura e mão de obra barata investia cada vez mais no setor, em detrimento de outras atividades. A agitação na década de 1920 ficou por conta da SEMANA DE ARTE MODERNA, uma manifestação artístico-cultural que ocorreu no Teatro Municipal de São Paulo em fevereiro de 1922, em uma época de agitações de caráter político, social, econômico e cultural.

As novas concepções estéticas e linguagens desprovidas de regras, influenciadas pela vanguarda europeia, foram alvo de críticas, ignoradas e não compreendidas na época pela elite paulista, acostumada com padrões tradicionais de arte.

Sugestão de Leitura

WISER, WILLIAM. Os Anos Loucos – Paris na Década de 1920. Editora José Olympio. Edição 1ª. São Paulo, 2010.

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