Logística Empresarial: A Evolução – 1900-1950

INTRODUÇÃO:

Podemos contemplar o Século XX e analisar fatos históricos que foram verdadeiras divisas. Sem dúvida, a I GUERRA MUNDIAL (1914-1918), a GRANDE DEPRESSÃO (1929), a II GUERRA MUNDIAL (1939-1945), a GUERRA DO YON KIPPUR (e as CRISES DO PETRÓLEO a partir de 1973), a Dissolução da URSS e a GLOBALIZAÇÃO (1991) causaram profundas transformações na política, economia e nas sociedades. Em especial, a II GUERRA MUNDIAL teve uma enorme importância para o estudo da LOGÍSTICA. Os seus conceitos não foram criados ou idealizados na época e já existiam desde o início da civilização.

A experiência acumulada pelos americanos, no abastecimento das suas forças armadas nas operações militares em que estiveram envolvidos, mostrou o mérito do APOIO logístico. Sua importância foi entendida como sendo vital, a ponto de contribuir decisivamente para converter a LOGÍSTICA numa ciência. Equivalente ao que aconteceu na guerra, estas ideias se transformaram numa das partes da GESTÃO e, simultaneamente, criaram ações em outras áreas (compras, produção, vendas, marketing, finanças, RH etc.). Surgiu a LOGÍSTICA EMPRESARIAL. Depois do conflito, novas técnicas e conceitos foram pesquisados e elaborados. O interesse se voltou para a maneira como as empresas poderiam fazer uso da LOGÍSTICA de forma mais inteligente e proveitosa.

A EVOLUÇÃO DA LOGÍSTICA EMPRESARIAL

RONALD H. BALLOU (1937-):

É bacharel em engenharia mecânica, em administração de empresas e especialista em LOGÍSTICA DE NEGÓCIOS pela UNIVERSIDADE DE OHIO.

O professor BALLOU é apontado como sendo o pai da LOGÍSTICA EMPRESARIAL, é consultor de empresas, autor de vários livros sobre o assunto e tem mais de 50 artigos publicados. A sua análise sobre a EVOLUÇÃO DA LOGÍSTICA parte das caraterísticas de períodos da história recente do Século XX:

A – Antes de 1950: os anos adormecidos. 

B – De 1950 a 1970: o período de desenvolvimento.

C – De 1970 em diante: os anos de crescimento.

Outros autores analisam o processo evolutivo com outra visão:

MASTERSPOHLEN (1994) consideram o GERENCIAMENTO FUNCIONAL de 1960 a 1970, a INTEGRAÇÃO INTERNA em 1980 e a INTEGRAÇÃO EXTERNA em 1990. MASTERS, J. M., POHLEN, T. L. “Evolution of the Logistics Profession”. Logistics Handbook. ed. Roberson, Capacino & Howe Free Press. New York, 1994.

BOWERSOX e CLOSS tomam por bases duas décadas relevantes para a LOGÍSTICA: 1950 e 1980.

UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA – ANTES DE 1950

INÍCIO DA LOGÍSTICA EMPRESARIAL: na primeira metade do Século XX havia atividade logística nas empresas, mas sem que houvesse uma gestão fundamentada e efetiva. Esta tarefa, pouco explorada, era fragmentada entre muitos setores, não se apresentava como uma ação coordenada e integrada às demais áreas.

Limitava-se a SUPRIR a fábrica e, com uma preocupação só ligada às vendas, DISTRIBUIR produtos.

Para o comércio, era obter as mercadorias e coloca-las nas prateleiras. A produção, transporte, estoques, fornecimento, distribuição, estavam a cargo de áreas diferentes sem a gestão de um profissional exclusivo e especializado. Desta forma, os desentendimentos eram inevitáveis e os resultados abaixo do desejado.

JOHN F. CROWELL (1857-1931):

Em 1901, no início do Século XX, CROWELL e a Comissão Industrial Estados Unidos da América, publicaram o primeiro estudo acadêmico sobre custos e os fatores relacionados à distribuição de produtos agrícolas. A preocupação com o assunto foi pelo fato de que as áreas de produção agrícola americanas estavam cada vez mais longe dos mercados de consumo.

Comissão Industrial Estados Unidos da América; CROWELL, JOHN FRANKLIN. Relatório da Comissão Industrial sobre a Distribuição de Produtos Agrícolas. Editora SAGWAN PRESS. WASHINGTON, DC.

FREDERICK TAYLOR (1856-1915):

Ao começar a trabalhar como operário, TAYLOR observou o que achava ser uma má Administração.

As empresas cresceram de maneira rápida, acelerada e sem nenhuma organização. No seu livro ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA (1911) afirmou que não havia integração entre os departamentos das empresas e a Administração praticamente não existia. A mesma conclusão foi feita em relação à maneira como as fábricas obtinham matérias primas, a distribuição interna no processo produtivo e como os bens produzidos chegavam às mãos dos clientes (a LOGÍSTICA).

HENRY FORD (1863-1947):

No início, a FORD MOTOR COMPANY operava de forma artesanal e com uma considerável perda de tempo.  

FORD adotou a Padronização, Simplificação, Verticalização e a Linha de Montagem, um método que exigiu uma rede de suprimentos organizada para ter agilidade na produção para otimizar tempo e recursos. A FORD seguia três princípios: Produtividade, Intensificação e Economicidade. A Linha de Montagem (1914) dependia de um fluxo constante de abastecimento e, trabalhando com uma “LOGÍSTICA” perfeita, o resultado foi o grande aumento da produtividade e com o menor custo.

O DESEQUILÍBRIO:

Era evidente que ocorria um desequilíbrio entre a busca por custos menores de produção e o encarecimento ocasionado pelos métodos ineficientes de distribuição dos produtos no mercado.

Mas, com os resultados obtidos pelas fábricas, trabalhando nos padrões do TAYLORISMO e do FORDISMO, o assunto ficou em segundo plano. Ou seja, produção e fornecimento físico eram atividades com uma forte relação de interdependência e precisariam estar em equilíbrio.

Caminhando um pouco mais no tempo, como a Crise de 1929 acertou toda a economia mundial em cheio, a preocupação com a LOGÍSTICA ficou ainda mais em segundo plano. O pouco que era produzido exigia pouco da distribuição.

Contudo, da mesma maneira que outras áreas do conhecimento evoluíram, o estudo sobre LOGÍSTICA foi se desenvolvendo gradualmente. A compreensão exata dos princípios do gerenciamento logístico só viria acontecer no começo dos anos 50.

O “ARSENAL DA DEMOCRACIA” – 1941 A 1945:

Como resultado da Crise de 1929, a forte queda da produção industrial e dos preços do comércio gerou, além de uma enorme massa de desempregados, um alto índice de ociosidade. Este quadro mudou radicalmente com a entrada dos EUA na II GUERRA MUNDIAL pelo esforço de guerra para suprir as forças armadas americanas, a Grã-Bretanha, a União Soviética e os demais países aliados. As fábricas existentes, e as novas que foram construídas, produziram enormes quantidades munições, caminhões, tanques, navios, aviões, artilharia e suprimentos de todos os tipos até o fim da guerra.

AS DUAS PONTAS:

A indústria americana, denominada de ARSENAL DA DEMOCRACIA, realizou um trabalho de LOGÍSTICA gigantesco: numa ponta supriu as fábricas com matérias primas e na outra ponta distribuiu a produção de sua capacidade industrial nas frentes de combate na Europa, África e Pacífico. Toda esta movimentação, bem sucedida, chamou a atenção das empresas pela possibilidade de atuar da mesma forma, em duas pontas. E LOGÍSTICA passaria a fazer parte das empresas no PÓS-GUERRA.

A RETOMADA:

Mas, os anos de 1946, 1947 e 1948 ainda foram um período difícil. Algumas fábricas retomaram a produção normal em outubro de 1945, mas, com muitas dificuldades. A indústria americana, que havia se adaptado para atender ao esforço de guerra, com o final do conflito manteve sua capacidade produtiva apta para cobrir qualquer tipo de demanda. Porém, atender o consumo reprimido pela guerra e auxiliar a reconstrução trouxe uma nova realidade: a retomada dos negócios e uma forte pressão nas empresas por custos acirrou a disputa para ampliar mercado.

A partir de agora, as empresas passaram a ter a preocupação de satisfazer consumidores com novos padrões, atitudes e cheios de demandas por produtos. Apesar da situação tão favorável, o aumento das vendas também trouxe outras condições críticas. Ainda havia escassez de materiais importantes (principalmente o aço), a produção de vários bens ainda não havia voltado ao normal, o entendimento sobre tecnologia estava voltado somente para as linhas de produção.

Outros fatores também contribuíram para complicar a situação. Não havia cuidados com o atendimento ao consumidor final (ainda um assunto secundário), os pedidos para a reposição de estoques demoravam muito tempo para serem atendidos, não havia competência para a distribuição física de produtos(transportar e distribuir), o controle dos estoques era feito manualmente e os automóveis e eletrodomésticos, com poucas variedades de modelos e cores, pareciam versões ressuscitadas do PRÉ-GUERRA.

Depois de quase quatro anos de guerra, em que nenhum carro de passageiros civil foi produzido, Detroit poderia ter vendido qualquer coisa com rodas que girassem. FONTE: THE AUTO EDITORS OF CONSUMER GUIDE.

No fim dos anos 40, a demanda aumenta e as empresas crescem. Todavia, surgem obstáculos como produzir mais em menos tempo e entregar mais rápido.  E quanto maior o volume, maior o nível de atividade e de complexidade e maior a necessidade de coordenar processos venda, produção que exigiram um  trabalho de LOGÍSTICA efetivo. As dificuldades eram semelhantes e as empresas começaram a estudar, e a ter como referência, as ideias que eram utilizadas pelos militares:

– Localização estratégica de instalações (fábricas, depósitos e armazéns) e de Centros de Distribuição.

– Prever demanda e planejamento de Produção.

– Planejar fontes de matérias primas.

– Gerenciar estoques (matérias primas e produtos acabados).

– Planejar movimentação entre locais diferentes.

– Administrar INFORMAÇÕES.

– Administrar Canais de Distribuição (atacado, varejo e distribuidores).

– Mão de obra disponível.

É interessante notar que no decurso da HISTÓRIA, as guerras foram vencidas (ou perdidas) pela competência e capacidade de um sistema de LOGÍSTICA (ou pela falta dele). Na ANTIGUIDADE,os conquistadores já haviam considerado a importância das ações de APOIO e SUPORTE e, apenas na segunda metade do Século XX, as empresas entenderam que o gerenciamento da atividade da LOGÍSTICA poderia ser a chave da VANTAGEM COMPETITIVA.  

Sugestão de Leitura:

DIAS, MARCO AURÉLIO. Introdução à Logística – Fundamentos, Práticas e Integração. Editora Atlas. Edição 1ª. São Paulo, 2016. 

BALLOU, Ronald H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos: planejamento, organização e logística empresarial. Editora Bookman. Edição  4ª. Porto Alegre, 2001.

DIAS, MARCO AURÉLIO. Logística, Transporte e Infraestrutura: Armazenagem, Operador Logístico, Gestão Via TI E Multimodal. Editora Atlas. Edição 1ª. São Paulo, 2016.

BOWERSOX, DONALD J.; CLOSS, DAVID J. Gestão Logística da Cadeia de Suprimentos. Editora AMGH – McGraw-Hill. Edição 4ª. São Paulo, 2013.   

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