A Mortalidade no Empreendedorismo

INTRODUÇÃO:

Na realidade brasileira, o EMPREENDEDORISMO tem se mostrado como outra opção de trabalho, apesar do panorama de enormes dificuldades econômicas.

A situação presente oferece poucas chances para quem precisa se iniciar no mercado de trabalho ou está sem colocação.

No entanto, o EMPREENDEDORISMO também não é um mar de rosas. Vários fatores vêm contribuindo para elevar os índices de MORTALIDADE com encerramento de muitos empreendimentos. 

Entre os fatores de maior relevância, podemos citar a falta preparo, falta cultura para a atividade empreendedora, o baixo nível de educação e a má vontade (ou preguiça) para utilizar as ferramentas gerenciais disponíveis, capazes de profissionalizar as atividades.

Qualquer tipo de empresa atravessa fases durante sua existência e sofre de problemas financeiros e estruturais. É o ciclo da VIDA ORGANIZACIONAL que alterna momentos favoráveis ou não, sucessos ou fracassos.

A INFLUÊNCIA DOS AMBIENTES

As empresas estão subordinadas ao AMBIENTE EXTERNO tolerando o ininterrupto processo de ajustes peculiares ao seu ramo de negócios, forças políticas, oscilações da economia, tecnologia etc. (são condições que estão fora do seu controle). O AMBIENTE INTERNO reflete o modo pelo qual as empresas conduzem suas atividades ao longo do tempo (são condições que deveriam estar sob seu controle).

Os dois cenários podem causar desenvolvimento, retração ou o fim da empresa. Para cada situação são aconselhadas estratégias diferenciadas para que o CICLO DE VIDA seja longo, estável e lucrativo. Quando no EMPREENDEDORISMO se aborda os problemas referentes aos dois ambientes o cenário não é diferente. As situações e os desafios são os mesmos.

AS TAXAS DE MORTALIDADE

A cada ano a importância das Micro e Pequenas empresas têm crescido como fonte de emprego e renda para movimentar a economia. No EMPREENDEDORISMO, medir a taxa de mortalidade é uma tarefa bem complexa, pois a forma como os registros são apresentados e as bases de dados disponíveis frequentemente mudam e não “BATEM”.

Encontramos indicadores por região, por ramo, levantamentos variados e, normalmente, não há uma informação esclarecedora e precisa para se identificar uma situação mais próxima possível da realidade.

Mas, sem a preocupação da exatidão dos números ou da classificação por categorias (empresa “recém-criada”, “em atividade” ou “encerrada”), há um indicador rigorosamente preocupante: a taxa de mortalidade é alta.E para que o negócio inicial se torne uma empresa saudável e consolidada… a luta é muito grande.

A SÍNDROME DOS 2 ANOS

No Brasil, a quantidade de negócios que encerra suas atividades nos primeiros dois anos de existência é alta. É o período crítico para qualquer START UP – uma fase de vulnerabilidade do EMPREENDIMENTO ainda em formação e exposto às condições mais adversas possíveis. O RISCO é muito alto

AS CONDIÇÕES DESFAVORÁVEIS

Não há só uma única razão que explique por que tantas empresas encerram suas atividades. E nem tudo é culpa somente da economia e do governo. A gestão ineficiente, o AMBIENTE INTERNO, tem influência nos números.

Lamentavelmente, as áreas que ainda não mostram uma evolução mais consistente estão relacionadas à QUALIDADE DA GESTÃO e na EFICIÊNCIA ORGANIZACIONAL.

Por exemplo, softwares inadequados, falta de controle, fluxograma mal elaborado, acompanhamento ineficiente do fluxo de caixa, pouco desenvolvimento de produtos/serviços, baixa qualidade de atendimento…

A falta um Plano de Negócio: de acordo com a opinião de muitos estudiosos, esta talvez seja a condição mais desfavorável dentro do EMPREENDEDORISMO e a maior causa dos altos índices de MORTALIDADE. Um PLANO DE NEGÓCIO bem elaborado é a ferramenta para o crescimento, sucesso e perenidade de um empreendimento. Na maioria dos casos, a sua ausência explica a razão do encerramento precoce. 

Um PLANEJAMENTO prévio é imprescindível para que o entusiasmo da IDEIA inicial seja substituído por um PLANO DE NEGÓCIO para saber aonde se pretende chegar, quais as metas e objetivos. É preciso uma análise ANTECIPADA de todos os elementos que envolvam o ramo da atividade.

É necessário um trabalho preliminar de pesquisa verificando o mercado, público-alvo, concorrentes, expectativas etc. O que se observa é muitos EMPREENDEDORES falham no planejamento de itens básicos:

NÃO pesquisam o mercado e a sua realidade. 

NÃO pesquisam o número de clientes potenciais.

NÃO analisam hábitos de consumo dos clientes potenciais.

NÃO analisam os concorrentes.

NÃO levantam as alternativas de fornecedores.

NÃO têm conhecimento sobre o negócio.

Há outros itens que necessitam ser avaliados ANTECIPADAMENTE de forma criteriosa e que muitos EMPREENDEDORES negligenciam:

NÃO calculam o capital de giro para a abertura do negócio.

NÃO avaliam a capacidade financeira da empresa

NÃO avaliam corretamente os investimentos necessários.

NÃO calculam, em detalhes, os custos envolvidos.

NÃO fazem previsões para o maior número de variáveis possíveis.

Por mais que seja uma tarefa desgastante, um espaço de tempo maior para o PLANEJAMENTO possibilita um melhor preparo, conhecimento do mercado e maiores chances de sucesso. Outro mau hábito dos EMPREENDEDORES é que muitos deles NÃO buscam a orientação em instituições de apoio e NÃO procuram ajuda de profissionais experientes.

Cuidado: uma pequena falha poderá se tornar um problema de proporções enormes, ainda mais na fase inicial.

Falta de Experiência: infelizmente muitos EMPREENDEDORES se aventuram em um negócio levados pelo entusiasmo:

NÃO se preocupam em buscar a capacitação profissional adequada.

NÃO se preocupam com a experiência prévia no ramo.

NÃO têm mentalidade e nem “PIQUE” de empresário.

NÃO desenvolvem a capacidade de gestão.

Estes aspectos ainda podem ser mais negativos ao acrescentarmos a falta de maturidade pessoal e postura profissional. São fatores que podem se transformar num sério problema e influenciar na continuidade da empresa.

Fluxo de caixa: lidar com os recursos financeiros exige um plano rigoroso das receitas previstas, despesas e investimentos necessários. As contas requerem um acompanhamento diário e vigilante para evitar um descontrole no caixa.

Também, o uso de softwares, diversas tabelas e planilhas poderão atrapalhar ao invés de ajudar a tomar as decisões corretas. As informações precisam ser confiáveis, claras e objetivas, caso contrário a falta de organização nas finanças fatalmente…

Imitações: uma estratégia da diferenciação em relação aos concorrentes tem sido muito mais útil para a longevidade. Muitos EMPREENDEDORES novos têm o péssimo hábito de copiar a receita de outros, na esperança de ter o mesmo resultado. Tomar como exemplo é uma coisa – copiar é muito diferente. Muitos novos EMPREENDEDORES com frequência:

NÃO se preocupam em aperfeiçoar produtos e serviços. 

NÃO se preocupam em inovar em processos e procedimentos. 

NÃO se preocupam em se atualizar com respeito às tecnologias do setor. 

NÃO se preocupam em se antecipar os fatos.

NÃO buscam novas informações. 

NÃO se preocupam em investir em capacitação.

Mistura mortal – PF e PJ: este fator cria uma série de dificuldades no controle financeiro da empresa e com danos que poderão ser irreversíveis.

Há muitos EMPREENDEDORES sem a noção real da diferença entre o dinheiro da empresa e o seu próprio dinheiro e misturaram a conta PESSOA JURÍDICA com a conta PESSOA FÍSICA.

Falta de Visibilidade: além da pesquisa sobre o mercado, público-alvo e concorrentes etc. o MARKETING precisa atuar na visibilidade e a divulgação nas mídias e redes sociais visando atrair e fidelizar clientes. O produto/serviço é excelente só que ninguém sabe disso.

Centralização e Delegação: muitos novos EMPREENDEDORES têm o péssimo hábito de CENTRALIZAR todas as tarefas e responsabilidades e, como consequência, prejudicam o andamento e o progresso da empresa. É preciso aprender a delegar e descentralizar com a finalidade de dar rapidez ao trabalho. Em geral, é uma questão relacionada à personalidade e muitos novos EMPREENDEDORES com frequência:

NÃO se preocupam em contratar pessoas qualificadas (operacional ou gerencial) por falta de recursos ou por ciúmes.

NÃO se preocupam em delegar e descentralizar para manter o poder. 

Tomada de Decisão: em qualquer tipo de negócio, a TOMADA DE DECISÕES tem uma importância fundamental por se tratar de um processo constante para a solução de problemas (independente do nível de hierarquia). É uma sequencia de eventos que deveria seguir uma determinada lógica. Muitos novos EMPREENDEDORES têm o péssimo hábito de:

NÃO reconhecer a existência de um problema ou uma falha.

NÃO reconhecer a urgência.

NÃO definir soluções com a devida rapidez.

NÃO avaliar o mérito das soluções.

NÃO avaliar as informações.

AS CONDIÇÕES FAVORÁVEIS

As análises mais recentes sobre a mortalidade apresentam uma melhora sensível. Alguns fatores tiveram influência para que a situação fosse diferente a partir dos anos 2000.

O Ambiente de Negócios: após o PLANO REAL em 1994, fatores econômicos e institucionais permitiram uma sensível melhora na condição brasileira:

A redução das taxas de juros.

A maior oferta de crédito.

O controle da inflação.

Mudanças nas leis: menos burocracia, tratamento diferenciado e favorável aos pequenos negócios.

Ampliação do apoio aos EMPREENDEDORES.

Porém, a crise política instalada e a recessão a partir de 2014 voltaram a desestabilizar o ambiente de negócios.

O perfil dos EMPREENDEDORES: o nível de escolaridade e a melhor capacitação dos novos EMPREENDEDORES permitiram uma condição mais favorável de sobrevivência e continuidade das novas empresas:

Aumentou a procura por cursos de especialização.

Aumentou a proporção de “EMPREENDEDORES POR OPORTUNIDADE”.

As entidades de apoio ao EMPREENDEDOR ampliaram suas ações.

Aumentaram as parcerias e ações em conjunto com outras empresas.

O perfil dos novos EMPREENDEDIMENTOS: com o passar do tempo o perfil dos EMPREENDEDIMENTOS também passou por mudanças. Nos últimos anos o comércio e setor de serviços não diminuíram a proporção dentro do número de abertura de novas empresas. São áreas que, mesmo tendo uma forte concorrência, não necessitam altos investimentos. Por outro lado, houve um crescimento do número de START UPS relacionadas com tecnologia.

Diminuiu a proporção de empresas individuais: as empresas individuais perderam uma parte do seu espaço para os EMPREENDEDIMENTOS do tipo “SOCIEDADE”. Nesta modalidade as tarefas, decisões e responsabilidades são compartilhadas sem a centralização nas mãos de um único indivíduo.

Planejamento prévio: aumentou a qualidade do trabalho de planejamento e levantamento das informações sobre os principais itens de um PLANO DE NEGÓCIOS. Atualmente, uma boa parte dos novos EMPREENDEDORES estuda o mercado antes de se aventurar e busca por orientação junto às INCUBADORAS e ACELERADORAS.

Sugestão de Leitura

NOGUEIRA, JOSICLEIDO. O Manual do Empresário Empreendedor. Editora IBCE. Edição 2ª. São Paulo, 2016.

ADIZES, ICHAK. Os ciclos de vida das organizações: como e por que as empresas crescem e morrem e o que fazer a respeito. Editora Pioneira. Edição 2ª. São Paulo, 1990.

CHIAVENATO, IDALBERTO. EMPREENDEDORISMO: dando asas ao espírito empreendedor. Editora Saraiva. Edição 2ª. São Paulo, 2007.

PATRÍCIO, PATRÍCIA; CÂNDIDO, CLÁUDIO R. Empreendedorismo: uma Perspectiva Multidisciplinar. Editora LTC. Edição 1ª. Rio de Janeiro, 2016.

BRITO, FRANCISCO; WEVER, LUIS. Empreendedores brasileiros: a experiência e as lições de quem faz acontecer. Editora Campus Elsevier. Edição 1ª. Rio de Janeiro, 2004.

DEGEN, RONALD J. O empreendedor: fundamentos da iniciativa empresarial. McGraw-Hill, Edição 8ª. São Paulo, 1989.

O levantamento realizado de 2000 a 2005 mostra que 27% das empresas encerram suas atividades no primeiro ano, 38% fecham as portas até o segundo ano e 64% não sobrevivem após o sexto ano. Mesmo que estes números possam estar defasados, a situação parece ter se mantido nos últimos anos.

Fonte: Observatório das MPE’s do SEBRAE-SP: 2008 – 10 anos de Monitoramento da Sobrevivência e Mortalidade de Empresas.

Segundo a pesquisa DEMOGRAFIA DAS EMPRESAS (2015) do IBGE, 60% das empresas encerraram suas atividades com pouco mais de 5 anos. De acordo com o instituto, das 733,6 mil empresas abertas em 2010, apenas 277,2 mil (37,8%) estavam ativas em 2015.

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