INTRODUÇÃO:
As invasões de vários povos bárbaros fizeram o IMPÉRIO ROMANO desaparecer no ocidente em 476 d.C. Porém, o IMPÉRIO ROMANO DO ORIENTE, com capital em CONSTANTINOPLA (antes denominada BIZÂNCIO – e por esta razão os historiadores posteriormente denominariam como “IMPÉRIO BIZANTINO”) manteve sua unidade, as tradições romanas e o conhecimento contábil.
O COMÉRCIO – CONSTANTINOPLA E ALEXANDRIA
CONSTANTINOPLA: desde os tempos antigos, BIZÂNCIO já era uma cidade considerada estratégica e como passagem comercial entre o MAR MEDITERRÂNEO o MAR NEGRO. Com esta posição privilegiada e vital para o comércio dos produtos que vinham do oriente pelas ROTAS DA SEDA em caravanas e navios. E CONSTANTINOPLA ganhou importância como a junção entre EUROPA e ÁSIA.
ALEXANDRIA: por sua localização no litoral egípcio, a cidade de ALEXANDRIA passou a ter uma atividade comercial intensa a partir das primeiras CRUZADAS comercializando produtos que também vinham pelas ROTAS DA SEDA através do MAR VERMELHO.
O RENASCIMENTO COMERCIAL DA IDADE MÉDIA
No período que os historiadores denominaram como BAIXA IDADE MÉDIA (dos Séculos X a XV), a EUROPA passou por uma fase caracterizada pelo renascimento comercial em função do desenvolvimento das cidades e de alguns fatores importantes:
● Crescimento populacional.
● Aumento da produção agrícola.
● Renascimento urbano.
● Feiras anuais.
● Venda e troca de produtos.
● Utilização da moeda.
● O desenvolvimento do poder da BURGUESIA comercial que passou a se rivalizar com a nobreza.
Estas transformações geraram o crescimento do comércio que havia sido interrompido desde a expansão árabe pelo MAR MEDITERRÂNEO e norte da ÁFRICA.
O COMÉRCIO – AS REPÚBLICAS MARÍTIMAS
A atividade era dominada pelas cidades da Itália através de CONSTANTINOPLA e ALEXANDRIA de vários produtos, como as especiarias e mercadorias de luxo das ROTAS DA SEDA. As cidades litorâneas italianas ficaram conhecidas como as REPÚBLICAS MARÍTIMAS: REPÚBLICA DE AMALFI, DUCADO DE GAETA, REPÚBLICA DE ANCONA, REPÚBLICA DE NOLI, REPÚBLICA DE RAGUSA, REPÚBLICA DE PISA, REPÚBLICA DEGÊNOVA e REPÚBLICA DE VENEZA. Todas elas se enriqueceram, tiveram grandes lucros e se tornaram prósperas ao intermediar o comércio e a distribuição de produtos do Oriente pela EUROPA.
Apesar da rivalidade com os genoveses, VENEZA se tornou a potência no comércio MEDITERRÂNEO. Era um grande centro de distribuição de especiarias e manteve excelentes relações com CONSTANTINOPLA. Aproveitando o seu poderio, ampliou seus domínios aos territórios no litoral do MAR ADRIÁTICO (ÍSTRIA e DALMÁCIA).
A decadência do domínio das REPÚBLICAS MARÍTIMAS de deveu a dois fatores históricos:
1 – A tomada de CONSTANTINOPLA pelos turcos em 1453.
2 – Em 1498, após quase um século de explorações e de grandes sacrifícios, uma esquadra portuguesa sob o comando de VASCO DA GAMA chega a CALICUTE, na ÍNDIA. A viagem, com 6 meses de duração, permitiu o acesso aos produtos do oriente foi um marco no comércio mundial sem depender das ROTAS DA SEDA, do comércio no MAR MEDITERRÂNEO, das REPÚBLICAS MARÍTIMAS e dos entraves colocados por árabes e turcos.
Estas transformações ocorridas a partir do Século X deram condições para que as TÉCNICAS CONTÁBEIS retomassem sua importância. Além da retomada do comércio, a BAIXA IDADE MÉDIA apresentou o desenvolvimento da economia, o crescimento da atividade artesanal, a formação das primeiras grandes corporações de ofício, novas técnicas de mineração e metalurgia, o aumento e acúmulo de Capital, propriedade privada e o crescimento da BURGUESIA comercial.
A “RE-EVOLUÇÃO” DA CONTABILIDADE
Com as novas exigências da atividade econômica, com uma dinâmica muito maior do que na época da ROMA antiga, houve a necessidade da evolução e o uso de técnicas mais complexas no controle e apuração de bens.
Futuramente esta “RE-EVOLUÇÃO” da CONTABILIDADE a tornaria uma CIÊNCIA que, além de mostrar números e resultados, teria a capacidade conceitual de demonstrar relações CAUSA e EFEITO. Então, da mesma forma que as outras CIÊNCIAS se desenvolveram, a CONTABILIDADE sofreu a influência através de grande um número de eventos e fatos históricos, principalmente na ITÁLIA a partir da RENASCENÇA.
OS ÁRABES
As invasões árabes a partir de 634, além da dominação de vastas áreas do norte da ÁFRICA e PENÍNSULA IBÉRICA, trouxeram marcas profundas na aritmética, química, astronomia, álgebra e na cultura. Estas influências foram difundidas em contatos com comerciantes, matemáticos e aventureiros europeus.
ABU JAFAR MUHAMMAD IBN MUSA AL-KHWARIZMI (780 – 850)
Foi um matemático, astrônomo e criador do Sistema de Numeração Decimal (os dez símbolos – os algarismos indo-arábicos) utilizados até hoje.
Ao traduzir para o árabe os livros de matemática trazidos da ÍNDIA, AL-KHWARIZMI, pode desenvolver o sistema numérico arábico ao descrever em 825 a utilidade dos dez símbolos (de 0 a 9) explicando o funcionamento desse sistema e a arte de calcular utilizada pelos hindus. Sua obra apresentou os símbolos e o sistema numérico hindu, que ficaram conhecidos como algarismos arábicos, em uma tradução latina do seu livro ALGORITMI DE NUMERO INDORUM, introduzido na Europa em 975.
Outro conceito interessante criado pelos HINDUS foi a criação do ZERO que facilitou as operações aritméticas feitas em algarismos romanos. Para escrever o algarismo que indicasse um vazio, que indicasse a inexistência de quantidade ou a dezena, os hindus utilizaram o SUNYA para indicar o vazio. AL-KHWARIZMI também escreveu sobre astronomia, geografia e matemática e sua obra teve tanta relevância que deu origem a palavra álgebra (AL-JABR que significa REUNIR).
FIBONACCI (1170 – 1250)
Muito estudiosos afirmam que FIBONACCI é o matemático europeu de maior influência e o mais importante da IDADE MÉDIA. Na CONTABILIDADE se tornou conhecido pelo seu papel na introdução e disseminação dos algarismos arábicos (ou algarismos indo-arábicos) na EUROPA.
LEONARDO FIBONACCI (também conhecido como LEONARDO PISANO ou LEONARDO DE PISA, ou LEONARDO BIGOLLO) era filho de um rico comerciante da REPÚBLICA DE PISA que atuava em BUGIA (na região de CABÍLIA, na ARGÉLIA e parte do CALIFADO ALMÓADA). Por alguns anos FIBONACCI esteve na ARGÉLIA e teve contato com a atividade comercial e com as técnicas matemáticas árabes (vindas da ÍNDIA) praticadas no comércio oriental e que eram quase desconhecidas na EUROPA.
Ao admitir a simplicidade e a eficiência do uso dos algarismos arábicos, FIBONACCI percorreu todo o MAR MEDITERRÂNEO. Sem abandonar as suas atividades no comércio, estudou com os mais importantes matemáticos árabes e a obra de ABU JAFAR MUHAMMAD IBN MUSA AL-KHWARIZMI.
LIBER ABACI: em 1202FIBONACCI publicou o livro sobre aritmética LIBER ABACI (ou Livro do ÁBACO ou Livro de Cálculo) introduzindo suas experiências e conhecimento popularizou os numerais arábicos e o número ZERO na EUROPA.
A obra teve grande impacto e mostrou a praticidade e a importância do sistema, mais eficiente que os algarismos romanos para cálculos na conversão de pesos e medidas, nos CONTROLES CONTÁBEIS, no cálculo de juros, taxas de câmbio, finanças e inúmeras outras aplicações sem o uso do ÁBACO. Sem nenhuma dúvida, LIBER ABACI teve muita importância nos séculos seguintes para o desenvolvimento da matemática na Europa antecipando a escrituração que seria desenvolvida posteriormente na obra de LUCA PACIOLI.
Sugestão de Leitura
MARION, JOSÉ CARLOS. Contabilidade Básica. Editora Atlas. Edição 12ª. São Paulo, 2020.
RIBEIRO, OSNI MOURA. Contabilidade Geral. Editora Saraiva. Edição 10ª. São Paulo, 2009.
PADOVEZE, CLÓVIS LUÍS. Manual de Contabilidade Básica – Contabilidade Introdutória e Intermediária. Editora Atlas. Edição 10ª. São Paulo, 2017.
EQUIPE DE PROFESSORES DA FEA-USP. Contabilidade Introdutória. Editora Atlas. Edição 12ª. São Paulo, 2019.
MALACIDA, MARA JANE CONTRERA; YAMAMOTO MARINA MITIYO; PACCEZ, JOÃO DOMIRACI. Fundamentos da Contabilidade – a Contabilidade no contexto Global. Editora Atlas. Edição 2ª. São Paulo, 2019.
BERTI, ANÉLIO; BERTI, ADRIANA COSTA PEREIRA. Contabilidade Básica – Primeiros Passos para o Conhecimento Contábil. Editora Juruá. Curitiba, 2011.