INTRODUÇÃO:
Logo após a Revolução Islâmica de 1979 a produção de petróleo do Irã ficou totalmente desestruturada provocando um segundo choque na economia mundial.
O preço do barril bateu US$30 em abril de 1980 e chegou a US$39 no começo de 1981 por conta da GUERRA IRÃ X IRAQUE (1980 a 1988).
Para agravar a situação, os juros internacionais tiveram uma alta expressiva a partir de 1979 elevando a dívida externa brasileira. Como resultado, o país se tornou refém de empréstimos do exterior.
Ora, se a década de 70 terminou de forma sombria, o panorama para os anos 80 apresentava contornos ainda piores. O governo do General JOÃO FIGUEIREDO (1979-1985) e o governo do Presidente JOSÉ SARNEY (1985-1990) seriam marcados por um período muito difícil para a economia.
A DÉCADA PERDIDA:
Quando se aborda o tema desenvolvimento econômico, os anos 80 são chamados de DÉCADA PERDIDA por boa parte dos economistas. Para os países da América Latina, o período foi marcado por estagnação econômica, altos níveis de desemprego, aumento da desigualdade social, forte concentração de renda, desvalorização da moeda, inflação alta, aumento da dívida externa e redução no Produto Interno Bruto (PIB).
Em especial, no caso brasileiro, a maioria das conquistas obtidas pelo MILAGRE ECONÔMICO (1968-1973) se perdeu e o crescimento médio do PIB despencou dos 7% da década de 1970 para os modestos 2% na década de 80. E a dependência das importações de petróleo resultou no aumento brutal da dívida externa, na forte queda na produção industrial e nos altos índices de desemprego.
RESUMO da DÉCADA: fim do Governo Militar, redemocratização, descontrole da inflação, sucessivos planos de estabilização econômica (que não surtiram quase nenhum efeito), altos índices de desemprego, a derrota da emenda das DIRETAS JÁ, a morte de Tancredo Neves e o Governo José Sarney.
“Sob tais pontos de vista a década de 1980 foi negativa, não apenas por conta da queda do PIB, mas pelo acentuado desarranjo social verificado”. PLÍNIO DE ARRUDA SAMPAIO.
AS CONSEQUÊNCIAS
Num cenário mais amplo, diante de tantos problemas acumulados durante esses anos, é evidente que a forma de administrar as empresas teve que mudar e ser repensada. Na luta pela sobrevivência, a ordem vigente era ser EFICIENTE e CORTAR CUSTOS de qualquer maneira. Com a crise do petróleo, o custo do transporte e da distribuição encarecia a atividade da LOGÍSTICA e se refletiunos preços dos produtos. E as empresas que não se adaptaram dentro desta nova realidade…
AS MUDANÇAS
Assim, no fim da década de 70, a LOGÍSTICA teve que atuar com maior rigor minimizando custos e maximizando a eficiência na distribuição física refinando a administração de materiais, transporte, armazenagem, controle de inventário, processamento de pedidos e expedição etc. Portanto, mesmo continuando ainda como um trabalho operacional, a LOGÍSTICA já não atuava mais de forma totalmente isolada como nos anos anteriores, mas, a sua integração com outras áreas da empresa ainda é parcial. Com o tempo, a LOGÍSTICA passou a fazer parte de um sistema integrado, a princípio, com a PRODUÇÃO e, posteriormente, até o fim dos anos 80 foi se ajustando ao conceito QUALIDADE TOTAL e entendendo as NECESSIDADES dos clientes.
1 – A TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO:
No início dos anos 80 a tecnologia da informação começou a crescer e dar agilidade aos trabalhos de diversas áreas da Administração.
● Havia urgência para que as empresas racionalizassem atividades e melhorassem o desempenho. A introdução da tecnologia da informação foi muito positiva para a LOGÍSTICA e favorável ao seu desenvolvimento. Além do alto custo de distribuição, suas operações eram lentas e complexas.
● As empresas tiveram que investir em tecnologia compartilhando um volume cada vez maior de informações na produção, compras, armazenagem, vendas, marketing, finanças, contabilidade, RH etc.
● O controle dos estoques e a coleta de informações, feitos manualmente por muitos funcionários, fazia uso de formulários, fichas e documentos que passaram a ser processados por meios eletrônicos.
● Os problemas se tornaram mais intricados em decorrência da abertura de novas situações de mercado. Pelo efeito da SOCIEDADE DE CONSUMO, os produtos apresentavam maior diversidade, novas linhas com tamanhos, cores e nomenclaturas diversas que dificultaram a armazenagem, processamento de pedidos de vendas, separação e expedição.
● O ganho na rapidez das atividades e a considerável queda nos custos foram bem perceptíveis na LOGÍSTICA e também em outras áreas das empresas…
…e eliminaram muitos postos de trabalho elevando o números de desempregados ao longo da década de 1980.
A GESTÃO da LOGÍSTICA teve que se transformar. Era primordial evoluir em decorrência de inovações tecnológicas.
2 – A ABORDAGEM JAPONESA:
Por volta de 1982 as empresas brasileiras começaram a adotar métodos trazidos do Japão: JIT – JUST IN TIME, KANBAN e o sistema puxado de produção. Esta forma de trabalho foi criada pela TOYOTA no final da década de 40 e início dos anos 1950 para recuperar a empresa no pós-guerra.
O JUST IN TIME é um sistema logístico moderno e integrado por meio de uma abordagem disciplinada visando eliminar desperdícios e retrabalho. Atua no conceito de QUALIDADE TOTAL e estoque zero, ou seja, produz o necessário no momento preciso em que os produtos são requeridos e evita estoques parados ou clientes em espera.
3 – O INÍCIO DA LOGÍSTICA INTEGRADA:
Ao longo da década de 1980 a LOGÍSTICA começou a ser entendida como um sistema integrado e foi se adaptando aos novos conceitos. Então, em meio a uma situação de mercado bem adversa, as empresas passaram a atuar de forma diferente. A visão sistêmica mostrou a necessidade das diversas áreas atuarem em conjunto, trocando informações no âmbito interno com a finalidade de dar maior qualidade ao trabalho, com a necessidade do relacionamento estreito entre a LOGÍSTICA, Marketing/Vendas, Compras, Produção e outras funções. A visão sobre o TODO começa lentamente a substituir as visões fracionadas:
● Para fazer frente à concorrência o foco se volta para o CLIENTE.
● As empresas buscam a QUALIDADE TOTAL como diferencial.
● Cresce a necessidade das empresas se diferenciarem por serviços. Desta maneira, a preocupação se amplia para além da produção e passa a incluir ações mais viáveis aos consumidores (serviços sendo agregados aos produtos).
● A LOGÍSTICA se integra com as diversas atividades realizadas no âmbito interno das empresas.
● O uso da informática na administração LOGÍSTICA se amplia aumentando a competitividade. E esta evolução acontece à medida que os recursos vão se tornando mais avançados.
● Todas estas transformações agora vão requerer mão de obra mais qualificada e de melhor nível.
● Aos poucos o atendimento ganha outra dinâmica.
● Cresce a rapidez na reposição de estoques com a mesma importância das atividades de distribuição.
4 – O INÍCIO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS:
A evolução da LOGÍSTICA não aconteceu somente pelo avanço de recursos tecnológicos. A visão mais abrangente sobre a LOGÍSTICA integraou produtores, fornecedores, distribuidores, atacadistas, varejistas, consumidores ou outros parceiros. Este conceito aparece pela primeira vez em 1982. Foi proposto pelos consultores R. K. OLIVER e M. D. WEBBER no artigo Gestão da Cadeia de Suprimentos: a logística alcança a estratégia. Os autores descrevem as ligações entre a LOGÍSTICA, as funções do âmbito interno e os componentes do âmbito externo à empresa formando uma numa CADEIA.
A vantagem desta CADEIA, denominada SUPPLY CHAIN (cadeia de abastecimento ou cadeia de suprimentos) foi reduzir ou eliminar estoques, possibilitar um planejamento melhor, ter mais agilidade e desenvolvimento operacional, menor custo, uniformização do fluxo de produtos e informações de qualidade. A ideia foi sendo absorvida aos poucos e ficou definitivamente estabelecida a partir da década de 1990 com a GLOBALIZAÇÃO. A LOGÍSTICA deixou de ser apenas um problema relativo ao transporte e armazenamento e se tornou um assunto estratégico, de interesse da DIRETORIA/ALTA GERÊNCIA (de empresas de qualquer ramo de atividade).
A HISTÓRIA CAMINHA
Na metade da década de 80 os preços do petróleo começaram a se estabilizar. Em 1984 o preço do barril havia baixado (entre US$15 e US$25) e nos dois anos seguintes ocorreu uma queda acentuada. Em 1985 a média foi de US$27 e os preços flutuaram em 1986: em US$16 de Fevereiro, US$10 em Julho e US$ 18 em Dezembro.
Os importadores buscaram alternativas de fornecimento em outros países fora da OPEP, pesquisaram alternativas em substituição aos combustíveis fósseis, aumentaram a eficiência no uso da energia, racionalizaram o uso do petróleo ou aumentaram a exploração em plataformas marítimas.
Porém, em especial no caso brasileiro, o estrago já estava instalado. As condições mais positivas na economia mundial não conseguiram amenizar a grave situação brasileira. Até 1994, quando foi implantado o Plano Real e a abertura de mercado, o período foi de grande instabilidade.
O Brasil assistiu ao atentado ao Rio Centro, ao movimento pelas eleições diretas, aos movimentos operários e a Constituição de 1988. Mas, estes fatos e os planos econômicos do Governo não foram o bastante para reverter a grave situação. No plano internacional, entre 1989 e 1991 a queda do Muro de Berlim, o fim da URSS o fim do Comunismo provocaram a GLOBALIZAÇÃO da economia e um novo ritmo de comércio internacional. E um adicional que deu a tônica em todo este processo ficou por conta das possibilidades trazidas pela INTERNET.
As últimas décadas do Século XX se tornaram marcadas pelos acontecimentos históricos de grande importância. Hoje os estudiosos da política e analistas sociais consideram esta época tendo como uma de suas características fundamentais o fim da idade industrial e início da ERA DA INFORMAÇÃO.
No Brasil o Proálcool, financiado pelo governo de 1975 a 1990, foi uma tentativa para substituir o petróleo e diminuir a dependência do país. Em 1986 o Proálcool foi se tornando inviável conforme o preço internacional do petróleo apresentou sinais de estabilização.
O Proálcool se tornou muito pouco vantajoso para os consumidores e para os usineiros. Neste mesmo período o preço do açúcar aumentou no mercado internacional se tornando muito mais atrativo, sendo desvantajoso produzir álcool no lugar do açúcar.
Sugestão de Leitura
CHOPRA, SUNIL; MEINDL PETER. Gestão da Cadeia de Suprimentos – Estratégia, Planejamento e Operações. Editora Pearson. Edição 6ª. São Paulo, 2015.
VASCONCELLOS, MARCOS ANTÔNIO SANDOVAL; GREMAUD, AMAURY PATRICK; TONETO, RUDNEI JUNIOR. Economia Brasileira Contemporânea. Editora Atlas. Edição 7ª. São Paulo, 2008.
BALLOU, RONALD H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos: planejamento, organização e logística empresarial. Editora Bookman Edição 4ª. Porto Alegre, 2001.
PELÁEZ, CARLOS MANOEL. História Econômica do Brasil, um Elo Entre a Teoria e a Realidade. Editora Atlas. São Paulo, 1979.
BRESSER PEREIRA, LUIZ CARLOS. Economia brasileira. Uma introdução crítica Editora Brasiliense. São Paulo, 1988.
CARVALHO, JOSÉ MEIXA CRESPO DE. Logística. Edições Silabo. Edição 3ª. Lisboa, 2002.
BOWERSOX, DONALD J.; CLOSS, DAVID J. Logística empresarial: o processo de integração da cadeia de suprimentos. Editora Atla. São Paulo, 2001.
MALLMANN, MARIA IZABEL. Os ganhos da década perdida. Edipuc/RS, 2008.
PELÁEZ, CARLOS MANOEL; SUZIGAN, WILSON. História monetária do Brasil: análise da política, comportamento e instituições monetárias. Editora da Universidade de Brasilia, 1976.
BRESSER PEREIRA, LUIZ CARLOS. Desenvolvimento e crise no Brasil. Zahar Editores. Edição 1ª. Rio de Janeiro, 1968.