INTRODUÇÃO:
Para que qualquer organização tenha sustentabilidade esobreviva no mercado, ela depende de sua competência para acompanhar as constantes mudanças no seu ambiente de negócios. A prescrição, sempre a mesma, está disponível na literatura sobre a ADMINISTRAÇÃO: vigiar ameaças, verificar novas oportunidades de mercado, ter qualidade, ter excelência organizacional, criar e manter diferenciais competitivos etc etc e etc…
Mas, há outro fator muito importante para o prosseguimento de uma empresa. Podemos levar em conta que a qualidade do seu CAPITAL HUMANO terá sempre um grande peso nos resultados. E, da mesma forma, além da EXPERTISE das PESSOAS, existem outros detalhes dentro desta perspectiva. Eles se tornaram objeto de estudos por parte de analistas e fonte de problemas nas organizações: pro atividade, reatividade, liderança, comportamentos, ambiência, relacionamentos, BULLYING, motivação, conflitos etc.
E para apimentar e engrossar o caldo, podemos ampliar ainda mais este CARDÁPIO. Podemos fazer uma abordagem a respeito de um tema, que se multiplica camuflado nas relações, mas que pode causar grandes estragos… a INVEJA.
INVEJA – DEFINIÇÃO E CONCEITOS
Invejar é entendido como o ato de querer aquilo que outros possuem. A palavra tem origem no latim, INVIDIA (ou INVIDARE ou INVIDERE), que no sentido original significa “Olhar maliciosamente” ou “não ver”.
A INVEJA é um desejo nocivo, sentimento de má vontade que produz rivalidades. Tem por base a vantagem, a posse, as situações e benefícios obtidos por outras pessoas. É nocivo por ser um sentimento que envolve uma noção de inferioridade e de desapontamento, causados pelo sucesso ou pela felicidade de outros indivíduos. Apesar de muitos consideram a INVEJA apenas um mecanismo de defesa de quem se sente inferiorizado, ela é um processo danoso.
Não existe INVEJA boa e nem INVEJA sadia, no bom sentido. A INVEJA é INVEJA e ponto final.
É
o que as pessoas sentem ao ter o desejo de cobiçar, a qualquer custo as conquistas, as realizações e o êxito de outro. É se entristecer pelo bem ou pela felicidade de outra pessoa. Analisando desta forma, concluímos que a INVEJA é um dos sentimentos mais negativos do ser humano. Elapermite muitas situações de rancor em função de vantagens que outras pessoas possuem e o desejo de ter uma condição idêntica.
A VISÃO SOBRE A INVEJA
De acordo com a Igreja Católica, a INVEJA é um dos pecados capitais. A BÍBLIA aborda o assunto em Genesis 4.3 ao 10. Na visão popular, ela é considerada como OLHO GORDO, OLHO GRANDE ou MAU OLHADO.
Há uma grande variedade de amuletos indicados como preventivos infalíveis contra energias negativas: figa, ferradura, espada de São Jorge, crucifixos, galhos de arruda, sal grosso, pé de coelho, olho grego etc.
CIÚME – DEFINIÇÃO E CONCEITOS
A palavra vem do latim, ZELUMEN. É um sentimento inerente à condição humana, que faz com que o indivíduo, a princípio, tenha fobia pela EXCLUSÃO de algum tipo de relação ou situação. É o forte sentimento de posse e exclusividade em relação a algo ou a alguém. O CIÚME cria angústia, desconfiança, insegurança e uma forte sensação de fragilidade que conduz a um estado contínuo de tensão.
A INVEJA e o CIÚME não são a mesma coisa, mas andam lado a lado na essência do homem. Os dois sentimentos estão presentes desde os primeiros ajuntamentos humanos, por questões referentes à posse de territórios e abrigos, à caça, alimentos, fabricação de utensílios etc. gerando disputas, lutas e mortes. Portanto, são males milenares.
O CIÚME também pode ser considerado umaemoção pela qual um indivíduo exige que outra pessoa faça, pense ou aja de maneira que ele quer, iniciando um processo de POSSE e controle doentio. Em casos extremos, pode levar chegar à loucura ou até mesmo à morte.
Outras definições apontam que a diferença está no fato de que o CIÚME é baseado medo de se perder algo que se possui e a INVEJA é motivada por alguma coisa que não se tem, mas que se deseja (ou ainda, que se deseja possuir e que ninguém mais tenha).
A INVEJA NO AMBIENTE DE TRABALHO
Sem nenhuma dúvida, a INVEJA tem sua presença garantida em todos os níveis no mundo corporativo. Disfarçada ou explícita, e com variados estágios de intensidade, é um componente das relações profissionais e do ambiente de trabalho. Ela ocorre com maior incidência em empresas onde há condições favoráveis para que ela se instale. Na maioria das vezes, tem início, com uma pergunta básica: POR QUE ELE E NÃO EU? ou O QUE ELE TEM QUE EU NÃO?
A INVEJA CONTAMINA O AMBIENTE ORGANIZACIONAL
Infelizmente, muitas empresas incluem a competição entre os funcionários como uma atitude muito saudável para o CLIMA ORGANIZACIONAL.A intenção é obter resultados mais rápidos e positivos. Porém, a competição deveria ser focada para o AMBIENTE EXTERNO (melhoria na negociação e vantagens diante dos fornecedores, bancos, clientes etc.). O resultado desta “IDEIA BRILHANTE” normalmente não é o esperado. Apenas faz com que o discurso de sobre o AMBIENTE da empresa, que zela pela integração e pelo espírito de EQUIPE, desapareça. O desgaste é inevitável: o reconhecimento dos resultados de cada departamento ou de cada profissional é visto, sem levar em conta, que o sucesso é obtido pelo esforço de TODOS.
Portanto, empresas que consideram alguns de seus profissionais ou departamentos como sendo seus ASTROS, não agregam nada de positivo ao CLIMA ORGANIZACIONAL. E para os demais profissionais, fica apenas o papel de atores coadjuvantes ou mera figuração. Então, ao lermos o texto contido na Missão/Visão/Valores (a IDENTIDADE ORGANIZACIONAL da empresa) ele apresenta, NA TEORIA, a importância da participação de TODOS dentro do processo, enaltecendo o valor do espírito de EQUIPE, o conjunto de esforços, a cooperação apresentando a empresa como se fosse uma grande família feliz.
A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR: POR QUE ELE E NÃO EU ?
A experiência mostra que INVEJA se espalha sorrateiramente, na linha de produção e no escritório, sem a necessidade de nenhum estímulo. Infelizmente, trata-se de um processo natural e universal. Normalmente, quem trabalha na linha de produção não gosta dos funcionários do escritório e vice-versa. Todo o funcionário, que tem um mínimo de ambição ou anseio de evoluir na organização, começa a observar e analisar os demais profissionais. Ao mesmo tempo, começa a ferver em sua mente a frustração e outros questionamentos:
1.● VIDA PESSOAL: minha qualidade de vida e da minha família, minhas aspirações profissionais, meus gastos básicos, objetivos e sonhos de consumo.
2. ● VIDA PROFISSIONAL: por que eu não consigo evoluir dentro da empresa? Por que não tive o devido reconhecimento profissional? Por que os outros, que não são éticos, competentes e dedicados como eu foram promovidos?
E o indivíduo conclui que nem todos aqueles que trabalham arduamente, por tantos anos, terão a chance de chegar a uma posição de destaque. Ainda mais em tempos de crise, recessão, Downsizing, redução de pessoal e de custos a revolta, o medo e o sentimento de perda aumentam a sensação de REJEIÇÃO e DESMOTIVAÇÃO.
3. ● COMPARAÇÕES: com base em comparações, o indivíduo percebe (ou imagina) que o outro é visto como excelente profissional, mais inteligente, mais eficiente e com características, perfil e habilidades que ele gostaria de ter e não tem. Então, tem início um processo de destruição contra aquele que está em vantagem.
O PERFIL DO INVEJOSO
Muitas vezes o invejoso muda o seu perfil. Num primeiro momento apresenta baixa autoestima, perde a motivação, perde o ritmo de trabalho, a ética e a percepção.
Em uma fase seguinte, torna-se inseguro, sem competitividade e gasta a maior parte do seu tempo com intrigas. Atuar em um CLIMA ORGANIZACIONAL nesta situação gera mais estresse que o próprio trabalho (que se torna um fardo penoso).
INVEJA? QUEM? EU? “MAGINA!”
A maioria das pessoas não admite que sente INVEJA (mesmo sendo um sentimento muito comum e que faz parte do ser humano). Porém, a forma como cada pessoa administra esta situação é individual. A pessoa invejosa tem por hábito culpar as outras pelo seu fracasso e se irrita facilmente quando há algum comentário sobre o sucesso de outro profissional. Neste exato momento, o INVEJOSO deixa escapar a oportunidade para evoluir.
O INVEJOSO: há alguns indícios que demonstram se um profissional éinvejoso:
● O sucesso dos outros o deixa incomodado.
● Faz inúmeras comparações e acaba se sentindo inferiorizado.
● Desqualifica as outras pessoas.
● Na maior parte dos casos, apresenta características fáceis de serem notadas:
O INVEJOSO apresenta outra característica básica. É VIGILANTE e monitora de maneira doentia e detalhada. Ele sabe o que as PESSOAS usam, onde elas compraram e o quanto gastaram, qual o salário, como se vestem, a GRIFFE,como são vistas pelos superiores, a marca e o ano do carro que possuem, para onde viajam, se são bem-sucedidas etc.
Com base na vigilância, o INVEJOSO passa a viver de comparações:
● Invariavelmente faz críticas ácidas e destrutivas.
● Não enxerga nenhuma qualidade nos outros.
● Sente uma alegria imensa quando alguém se prejudica.
● Perde a visão de suas próprias qualidades, talentos e aspirações. ●Desperdiça o tempo reparando e espreitando.
Você sente INVEJA? esta pergunta costuma ser constrangedora. É evidente que a maioria diz que não, pois é um sentimento contrário às qualidades que constroem a imagem de uma pessoa de bem (de acordo com os nossos costumes, a INVEJA é malvista segundo o que é dito como norma de bom caráter – cultura, educação familiar, religião, valores etc.).
É POSSÍVEL ADMINISTRAR A INVEJA?
Alguns estudiosos modernos estão procurando dar uma visão positiva para a INVEJA. Mas, com sua conotação negativa é difícil eliminar o sentido que a palavra carrega. Mas, a convivência com a INVEJA pode ser suportável, já que nos conformamos pelo fato de que o homem não é livre dela. Depende da forma como estabelecemos esta convivência. Ela é destrutiva,nos leva a sentimentos negativos, não traz nenhum benefício, é improdutiva e pode resultar em complexo de inferioridade. Nós nos acomodamos ao nos compararmos com outras pessoas, simplesmente para maldizer seu sucesso, realizações, bens etc. Dirigimos nossas energias para destruir quem tem aquilo o que nós desejamos.
A TRANSFORMAÇÃO
Podemos transformar a INVEJA num fator positivo ao analisarmos as pessoas de outra forma. Devemos fazer uma autoavaliação com humildade, sem melindres e preconceitos para identificar nossos pontos fortes e pontos fracos. É necessário ter a ousadia para admitir e corrigir as falhas:
● Fazer uma avaliação da pessoa “INVEJADA” para avaliar seus pontos fortes e seus pontos fracos. Desta maneira identificamos as qualidades que poderão nos servir de inspiração para as mudanças a serem efetuadas.
● Compreender e admirar o sucesso e as realizações das outras PESSOAS. O segredo é se esforçar para transformar INVEJA em admiração.
● Criar o projeto básico (modelo) de auto desenvolvimento acionando mudanças necessárias, levando em conta:
A – Se o objeto de inveja é viável de ser conseguido.
B – A formação, conhecimento, habilidades e informações a serem obtidas.
C – Aspectos pessoais – postura, gestual, dicção, maneira de se expressar, vocabulário, modo de relacionamento, contatos etc.
D – Investimentos necessários (esforços, tempo e recursos).
PROJETO DE AUTO DESENVOLVIMENTO
O fato de um indivíduo assumir e ter uma proposta de mudança já é um passo gigantesco. É sinal de que ele está disposto a se conhecer e a lutar para melhorar a autoestima, o nível de compreensão do seu ambiente e a tolerância em relação às pessoas. É muito melhor do que se morder por causa dos outros. Além do mais, o AUTO DESENVOLVIMENTO estimula o crescimento pessoal através da descoberta de habilidades a serem exploradas e valorizadas em próprio benefício.
A INVEJA É DESTRUTIVA
A INVEJA ganha espaço onde o CLIMA ORGANIZACIONAL não proporciona relações baseadas em confiança, transparência e credibilidade (entre os líderes e os liderados em todos os níveis). Uma política de rivalidade, competição, reconhecimento individual cria um clima de competição, rivalidade e uma relação bem desgastante entre os funcionários.
O discurso, postulado como sendo a filosofia da empresa, não é condizente com o que ela pratica. Neste cenário a Missão/Visão/Valores e os OBJETIVOS da empresa não são praticados com clareza, o material humano não é aproveitado em todo o seu potencial, não há oportunidades e os privilégios são para poucos. Um bom LÍDER, que comanda sua equipe de modo correto, sem inflamar a competição, causa impacto positivo no ambiente, nos resultados da EQUPE e da organização. Um LÍDER que procura desenvolver um modo para que seus comandados se expressarem com liberdade cria um ambiente favorável para que eles sejam reconhecidos, para que possam evoluir e que sejam reconhecidos e recompensados pelo talento.
CONVIVENDO COM A INVEJA
Não há uma fórmula mágica para uma convivência, verdadeiramente harmoniosa, com os invejosos no ambiente de trabalho. Existe uma série de conselhos que a prática e a experiência ensinaram como a alternativa mais inteligente, sem depender de lideranças, ou do modo como a empresa atua:
A – Preservar a intimidade e a vida particular.
B – Não comentar seus feitos para ter a aceitação do grupo no qual você trabalha.
C – Evitar ser o centro das atenções e nunca se envaideça. Os resultados falam por si.
D – Priorizar planos de trabalho. O profissionalismo está acima de tudo.
CUIDADO: no ambiente de trabalho JAMAIS revele teus planos, nem a tua vida amorosa, o quanto você está ganhando, os teus projetos de vida e os teus problemas familiares.
Sugestão de Leitura
CARVALHO, ELMAR. Inveja. Formato eBook Kindle. Edição 1ª. 2015.
CARVALHO ALEXANDRE. Os sete pecados – Inveja: Como ela mudou a história do mundo. Editora LEYA BRASIL, São Paulo, 2015.
EPSTEIN, JOSEPH. Sete Pecados Capitais – Inveja. Editora Arx. São Paulo, 2004.
SORGE, BOB. Inveja o Inimigo Interior. Editora BV Books. Edição 1ª . Niterói, 2010.
BEZ, ALEXANDRE. Inveja – O Inimigo Oculto. Editora Juruá. Edição 1ª. Curitiba, 2011.