INTRODUÇÃO:
De acordo com a opinião dos AMBIENTALISTAS, as mudanças climáticas vêm se intensificando nos últimos anos e são apontadas como a verdadeira causa da ocorrência dos recentes DESASTRES NATURAIS.
Os violentos furacões, enchentes, deslizamentos, vendavais, desabamentos, intensas ondas de frio e estações muito secas e prolongadas são decorrentes das ações predatórias do homem contra a NATUREZA, principalmente a partir da I REVOLUÇÃO INDUSTRIAL no Século XVIII.
“Desastres ao longo das últimas décadas têm sido maiores e mais frequentes, e é sabido que poderão ocorrer em maior intensidade e proporção nos próximos 50 anos, tantos os causados naturalmente, quanto os provocados pelos homens”. Life-saving supply chains and the path forward. In: Lee, H.L. and Lee, C.-Y. (Eds), Building Supply Chain Excellence in Emerging Economies, Springer Science and Business Media LLC, London, UK, pp. 93-111.
Além disso, outros eventos também têm castigado diversas regiões e elevado o risco de perdas humanas e materiais sem a interferência do homem: doenças contagiosas, erupções vulcânicas, terremotos, abalos sísmicos de diversas intensidades, maremotos e tsunamis.
Nesta lista de problemas podemos acrescentar guerras, vazamentos de petróleo, desastres industriais, locais de conflitos, crises de refugiados e atentados terroristas. Na maior parte dos casos, estas situações as autoridades locais quase nunca estão aptas para socorrer e atender de imediato as populações atingidas e as áreas de risco. São acontecimentos que exigem um trabalho logístico diferente do habitual, que vem sendo denominado como LOGÍSTICA HUMANITÁRIA.
No presente o seu campo de estudo é restrito, mas vem chamando vários autores à atenção para o problema.
Ainda não há um estudo amplamente desenvolvido, nem a disponibilidade de ideias e um sistema de colaboração consistente e falta pesquisa mais extensas.
No Brasil o tema ainda é recente e há pouca literatura disponível. Porém, os estudos a respeito do assunto passaram a se desenvolver com maior intensidade, a partir de 2011 na Europa e EUA, ganharam impulso com a Pandemia de COVID-19 (para a remoção e atendimento aos infectados e para a distribuição das vacinas desenvolvidas).
DEFINIÇÃO DE LOGÍSTICA HUMANITÁRIA
A Federação Internacional da CRUZ VERMELHA e do CRESCENTE VERMELHO definem a Logística Humanitária como:
“processos e sistemas envolvidos na mobilização de pessoas, recursos e conhecimento para ajudar comunidades vulneráveis, afetadas por desastres naturais ou emergências complexas. Ela busca à pronta resposta, visando atender o maior número de pessoas, evitar falta e desperdício, organizar as diversas doações que são recebidas nestes casos e, principalmente, atuar dentro de um orçamento limitado”.
CARACTERÍSTICAS DA LOGÍSTICA HUMANITÁRIA
Em comparação com a LOGÍSTICA CORPORATIVA a LOGÍSTICA HUMANITÁRIA tem problemas mais complexos e maior grau de dificuldade.
As operações contemplam circunstâncias que solicitam medidas distintas.
A LOGÍSTICA HUMANITÁRIA é diferente, aleatória, sem previsibilidade de trabalho e atua em uma velocidade de resposta muito maior com medidas para mobilizar pessoal, recursos, equipamentos e experiências para socorrer vítimas nas comunidades atingidas por desastres em situação de sofrimento e privação.
O seu principal objetivo é a minimizar o sofrimento das populações que se encontram em vulnerabilidade. Há vidas em jogo. Assim, os conceitos logísticos e a organização de uma CADEIA DE SUPRIMENTOS podem ser extremamente úteis para as organizações de assistência humanitária diante de situações críticas, que demandam ações de emergência.
● Qualquer que seja o tipo de situação, os eventos requerem uma resposta rápida, SINERGIA e solicitam que a CADEIA DE ABASTECIMENTO seja criada em uma ação imediata, urgente, mesmo com a precariedade e a falta de informações sobre a real situação.
● Não há tempo hábil para a escolha de fornecedores e a lista não é muito extensa. O tempo é o fator crucial e a premência é para o fornecimento de água potável, suprimentos, abrigo e serviços médicos.
● As regiões atingidas e as áreas de risco normalmente estão com a infraestrutura prejudicada, o que vai solicitar maior habilidade para o deslocamento e o acesso do pessoal, recursos e os equipamentos solicitados.
● A urgência das ações impede um controle mais rigoroso dos materiais.
● As equipes mobilizadas correm o risco de serem formadas por um número excessivo de voluntários sem a capacitação adequada e sem o conhecimento do idioma do local e das peculiaridades da região.
● Ao contrário da LOGÍSTICA CORPORATIVA, que já é estruturada, que já conhece o comportamento do mercado, a demanda dos materiais e suprimentos e para a satisfação dos clientes, a LOGÍSTICA HUMANITÁRIA é composta por diversos agentes participantes que não estão interligados.
O TRABALHO DA LOGÍSTICA HUMANITÁRIA
A eficiência logística é essencial, pois, na maioria dos casos, os desastres acontecem em regiões remotas e de difícil acesso. O trabalho das operações humanitárias acontece prontamente, após a ocorrência do evento, para dar assistência às vítimas com recursos e equipamentos.
A tarefa é centrada na desobstrução e limpeza do local, atendimento, resgate e remoção dos feridos e sobreviventes, remoção e sepultamento dos mortos, distribuição de suprimentos, roupas, alimentação, abrigo e socorro médico. As ações também podem tentar recuperar uma parte da infraestrutura física afetada (incluindo a capacidade de transporte aéreo, rodoviário, ferroviário, fluvial e marítimo).
As condições de trabalho ocorrem em um ambiente desestruturado e caracterizado pela anarquia. As autoridades locais, pegas de surpresa, também não têm condições para prestar uma ajuda mais consistente. Portanto, o papel da CADEIA DE SUPRIMENTOS humanitária ganha em importância para agir rapidamente diante da imprevisibilidade e fornecer material e prestar serviços diante de picos de demanda, suprimentos incertos e urgências.
A LOGÍSTICA HUMANITÁRIA também enfrenta outras situações:
– Rivalidades étnicas e políticas locais pioram a condição das operações e prejudicam o envio de suprimentos.
– Movimentos guerrilheiros ou facções em guerra civil impedem ou interrompem o envio de ajuda. Roubos e saques também são comuns e muitos veículos são capturados sequestrados, desviados do destino final e seus motoristas são assassinados. Desta forma, muitas ações de caráter humanitário necessitam de apoio militar da ONU.
A DISTRIBUIÇÃO
Na LOGÍSTICA HUMANITÁRIA há centrais de distribuição disseminadas por várias partes do mundo aptas para prestar auxílio às regiões devastadas. É a melhor maneira para facilitar processos logísticos, compras, coleta de doações e obter eficiência na armazenagem.
A CADEIA DE ABASTECIMENTO na assistência humanitária cria um fluxo que envia os suprimentos obtidos de vários locais do mundo para estoques previamente posicionados em pontos estratégicos. A etapa seguinte envia os suprimentos até um segundo CENTRO (de DISTRIBUIÇÃO SECUNDÁRIO) onde os suprimentos são separados, classificados e enviados para centros de distribuição no local do desastre e entregues às vítimas. Os suprimentos de fontes locais também são transportados para centros locais ou entregues diretamente. Este método poderá ser feito de outras maneiras em função do volume obtido e do local ou extensão da tragédia.
A CADEIA DE ABASTECIMENTO também deverá ter alguns cuidados em relação aos materiais:
– Quais materiais são realmente necessários.
– Qual a localidade a ser enviada.
– Qual a data de validade.
– Qual a melhor prática de armazenagem para evitar desperdícios e avarias. – Qual a melhor prática de seleção dos itens para impedir o envio de materiais desnecessários para a situação presente.
MEDIDAS DE DESEMPENHO
É comum que no âmbito corporativo os CUSTOS e a satisfação dos clientes estejam no topo da lista como os aspectos de maior relevância para as MEDIDAS DE DESEMPENHO. Para a Logística Humanitária a avaliação é semelhante, mas, envolve outras avaliações e pode ser classificada em:
1 – Medidas de Desempenho Internas: avaliam a tecnologia utilizada, os processos coordenados de pessoas, materiais e informações, sistemas de simulação e treinamento de emergência.
2 – Medidas de Flexibilidade: por atuar em um cenário que apresenta um alto grau de incerteza e imprecisão, a LOGÍSTICA HUMANITÁRIA solicita maior flexibilidade, que está dividida em:
● Flexibilidade de Volume: relacionada às diferentes extensões dos desastres.
● Flexibilidade de Expedição: relacionada ao tempo de resposta ao desastre e poderá apontar o sucesso ou fracasso de toda a operação.
● Flexibilidade de Mix: está ligada aos diferentes tipos de desastres e às peculiaridades de cada caso.
3 – Medidas de desempenho externas: estão ligadas à efetividade das operações, à redução ou fim do sofrimento das vítimas e ao número de vidas salvas.
Sugestão de Leitura
LEIRAS, ADRIANA. Logística Humanitária. Editora GEN Atlas. Edição 1ª. São Paulo, 2020.