Fordismo – FORD T

INTRODUÇÃO:

Em 1903 HENRY FORD nomeou seu primeiro produto como MODELO A e seguiu a sequência do alfabeto até a letra T. Foram 20 modelos, mas, nem todos entraram em produção. Os primeiros (A, B e C) eram montados em DETROIT na MACK AVENUE, em uma oficina de fabricação de vagões alugada.

A fabricação foi transferida para PIQUETTE AVENUE em 1904 onde foram montados os modelos E e F (1905), K e N (1906) e S e R (1907). Os automóveis eram produzidos em pequena quantidade (25 por dia em 1905) por funcionários divididos em grupos com trabalho sendo realizado em um veículo por vez. Nesta época a maioria dos principais componentes era adquirida de outras empresas.

O FORD T

No início de 1907, HENRY FORD procurou desenvolver um novo modelo e solicitou o projeto a JOSEPH GALAMB e CHILDE HAROLD WILLS.

A equipe reunida começou a trabalhar e iniciou o design do novo automóvel a ser lançado em 1908. O MODELO T deveria ser simples, confiável, robusto e barato. Na visão de HENRY FORD, para conseguir fabricar o “Carro para multidões” quanto maior e mais simples a produção, menor o custo, menor o preço e, portanto, o automóvel estaria à disposição de uma parcela de público cada vez maior.

Ao contrário dos seus concorrentes, o modelo deveria ser descomplicado a ponto de qualquer pessoa ser capaz de dirigir ou consertar sem precisar do motorista ou de um mecânico. O proprietário ainda teria à disposição um manual com perguntas e respostas explicando como usar ferramentas muito simples para solucionar “eventuais” problemas que pudessem ocorrer.

Os primeiros automóveis T foram construídos na PIQUETTE AVENUE ainda nos moldes artesanais de produção utilizados na época (manual) com componentes para motores e chassis da subcontratada DODGE BROTHERS. Mas, a grande diferença estava na sua produção padronizada. Em Outubro de 1908 o primeiro exemplar foi vendido por apenas US$ 825 e no ano seguinte a produção chegou a pouco mais de 10.000 unidades. 

Como a procura pelo FORD T cresceu e foi um sucesso de vendas tão grande, teve início ainda no ano de 1908 o projeto da nova fábrica, bem maior, em HIGHLAND PARK, inaugurada em 1910.

O FORD T demorava aproximadamente 12 horas para ser montado. Isto obrigou HENRY FORD a repensar o modo de se fabricar carros. Agora seria preciso criar uma forma para montar um carro após outro, sem parar…   

A COR PRETA

Diz a história que HENRY FORD teria afirmado: “O carro é disponível em qualquer cor, contanto que seja preto“.

No início do Século XX quase todos os automóveis usavam a pintura em LACA JAPÃO (ou PRETO BRUNSWICK) por sua durabilidade, qualidade de acabamento e secagem em 48 horas. Como diferencial, de 1908 a 1913 o MODELO T não estava disponível em preto, mas nas cores cinza, verde, azul e vermelho.

O procedimento durou até a introdução da LINHA DE MONTAGEM que tornou a pintura um problema sério. Havia perda de tempo e atraso na produção para a secagem da tinta (a cura em até 14 dias). Então, de 1914 a 1925 a cor preta foi padronizada por ter secagem mais rápida, durabilidade, baixo custo, sem necessidade de múltiplas demãos e sem prejudicar o andamento da produção. Em 1926 a DU PONT COMPANY desenvolveu uma linha de produtos de verniz para a indústria automotiva permitindo o reaparecimento das outras cores.

INOVAÇÕES

Desde o início a FORD expandiu seus negócios rapidamente ao se instalar em outros países (fábricas ou oficinas onde os veículos eram montados). Com a produção seriada, padronizada e em grande escala na LINHA DE MONTAGEM o preço final dos automóveis caía ano após ano e sem concorrentes que significassem alguma ameaça.

HENRY FORD revolucionou e popularizou o conceito do automóvel, que se tornou acessível a todos conquistando o público americano e o público de outros países.

O T era popular e chamado carinhosamente pelo público por TIN LIZZIE (ou LEAPING LENAJITNEY ou FLIVVER). Foi considerado como o primeiro automóvel disponível ao americano comum, representou uma inovação, um símbolo poderoso da classe média em ascensão e da modernização americana. Em 1921, 57% dos veículos que circulavam no mundo eram modelos FORD T.

A CHAVE DO SUCESSO

Ao invés de apenas um operário ser o responsável por toda fabricação, ele passava a ser especializado. Executava só uma pequena tarefa sem sair do local: o trabalho era entregue no seu posto eliminando o movimento inútil.

O FORD T pode ser visto como um carro global, pois era encontrado em qualquer lugar do mundo:

● Era um veículo FLEX-FUEL projetado para operar com mais de um tipo de combustível, em geral gasolina misturada com etanol ou metanol, ambos no mesmo tanque.

● O volante era do lado esquerdo (depois copiado pelos concorrentes).

● O T sempre foi prestigiado por ser confiável, de fácil manutenção e também um grande sucesso por sua adaptabilidade a qualquer tipo de terreno e situação: estrada de terra, lama, terreno rochoso, deserto, neve, travessia de pequenos riachos e ladeiras íngremes.

● Também transformou a tecnologia. Tinha diversas aplicações sobre a mesma plataforma podendo ser usado em várias versões (intencionalmente): caminhões pequenos, veículos agrícolas, viaturas de combate a incêndio, ambulância, PICK UP etc. Podia usar esquis substituindo rodas, podiam ser equipados com rodas de flange ​​como veículos ferroviários e havia empresas que vendiam kits  para conversão em tratores etc.

Combinando precisão e continuidade, a produção bateu níveis recordes até o final da sua produção (de 1 de outubro de 1908 a 26 de maio de 1927). As vendas somaram mais de 15.000.000 de unidades em 19 anos (metade de todos os automóveis existentes no mundo).

● O motor FORD no Modelo T era de 20 HP com quatro cilindros, duas marchas para frente e uma à ré,  tração traseira e velocidade máxima entre 64 e 72 km/h. Depois da sua produção se encerrar em 1927 o motor continuou a ser produzido até 1941 para aplicações marítimas e outras finalidades.

● Durante a I Guerra Mundial o FORD T foi muito utilizado na frente de combate pelos britânicos, franceses e americanos como ambulância e transporte com um excelente desempenho.

● O carro sempre apresentava muitas inovações técnicas, uma característica típica de HENRY FORD dentro da sua ideia sistemática de reduzir custos.

● Quando o T foi criado estradas e ruas eram de terra, exceto em algumas grandes cidades. O desenvolvimento da indústria automobilística através da FORD permitiu a mudança deste cenário na década de 20 com a criação de uma grande malha rodoviária asfaltada nos EUA.

● O Modelo T foi o responsável pela a inserção do automóvel na sociedade americana no início do século XX, mudou hábitos e, em razão de sua incrível popularidade, houve a expansão da rede de distribuição de combustíveis por todo o país.

● Em 1920 foi transformado em carro de combate pelo exército polonês na Guerra Polaco-Soviética como FT-B (ou Ford Tf-c Modelo 1920).

Os automóveis práticos e acessíveis fabricados pela FORD mudaram a vida das pessoas. A linha de montagem e as técnicas de fabricação em série estabeleceram padrões do processo industrial, a nível mundial, na primeira metade do Século XX. O sistema de LINHA DE PRODUÇÃO passou a ser usado em outros tipos de produtos além da indústria automobilística.

O COMEÇO DO FIM

Em 14 de junho de 1917 é produzido o 2.000.000º FORD T e em 4 de junho 1924 é produzido o 10.000.000º exemplar.

Em 1925 já havia sinais de que ele estava defasado em relação a um mercado em rápida expansão para automóveis.

Os concorrentes estavam com design mais atraente se comparados ao produto FORD, ainda com a aparência dos primeiro anos do século XX. Neste mesmo ano a GENERAL MOTORS COMPANY já possuía 2/3 do mercado, que continuava a crescer com consumidores exigindo não só economia, mas também velocidade e estilo.

O FIM  

Para HENRY FORD o próprio MODELO T, seu design e mecânica foram criados para ser o que ele acreditava ser o carro que qualquer pessoa poderia precisar. Mas, tudo evolui e o modelo foi perdendo participação de mercado lentamente. Meses após a cerimônia de apresentação do carro nº 15 milhões, HENRY FORD concluiu que era hora de dar lugar a uma nova geração de produtos. Em 26 de maio de 1927 HENRY FORD e seu filho EDSEL FORD encerraram produção do MODELO T foi depois de 19 anos de sucesso.

HENRY FORD ainda tinha a ideia do T ser imutável e tentou manter sua produção enquanto reequipava as fábricas para lançar o MODELO A, o seu substituto, que embora tenha tido um razoável sucesso inicial, nem de longe se igualou ao seu antecessor.

Na década de 20 a Ford fabricava um Modelo T em 98 minutos. Com a redução do tempo e do custo da produção o preço baixou de US$ 825 dólares para US$ 265 em outubro de 1924.  À medida que o volume aumentava os preços caíam devido aos custos fixos serem distribuídos por um número maior de veículos. Em 1927 no fim de sua produção um Modelo T era produzido a cada 24 segundos. Em 1928 a Ford mudou a montagem de automóveis para a USINA RIVER ROUGE, a maior fábrica integrada do mundo cuja construção começou em 1917.

No início do Século XX havia nos EUA diversas pequenas fábricas de automóveis que foram desaparecendo ou se fundindo quanto mais a FORD crescia. Elas não se modernizaram na sua forma de produção. Outras foram varridas pela CRISE DE 1929. Após a II Guerra Mundial os maiores perigos para a FORD eram a GM e a CHRYSLER. Outras marcas menores como AMERICAN MOTORS, STUDEBAKER e NASH também desapareceram com o tempo.

A FORD DO BRASIL

Foi fundada em 1919. A princípio importava o T e a partir de 1921 passou a montar os veículos em suas instalações na Rua Sólon, no bairro Bom Retiro (São Paulo).

O trabalho organizado e fracionado em partes já existia há algum tempo, mas o processo de linha de montagem foi amplamente aplicado por HENRY FORD. Quando o último MODELO T saiu da LINHA DE MONTAGEM em 1927 ele deixou marcas profundas no perfil de uma era. Aconteceram mudanças na forma de produzir, de trabalhar, de viver e de consumir que aceleraram o progresso. Os trabalhadores executando tarefas repetitivas e pouco qualificadas que foram alvo da sátira do filme “TEMPOS MODERNOS” de CHARLES CHAPLIN.

Após a I Guerra Mundial os EUA haviam se tornado uma das maiores potências do mundo. O progresso científico e o desenvolvimento industrial causaram uma grande transformação na sociedade norte-americana pela ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA de FREDERICK TAYLOR e a LINHA DE MONTAGEM de HENRY FORD.

Estas formas de trabalho criaram uma onda consumista e a grande prosperidade americana da década de 20 (o AMERICAN WAY OF LIFE que aos poucos se espalharia por todo o mundo).

Sugestão de Leitura

HENRY FORD. Os Princípios da Prosperidade. Editora  Freitas Bastos. Edição 4ª. Rio de Janeiro, 2012.

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