INTRODUÇÃO:
A ausência de uma definição e do entendimento correto do que vem a ser o EMPREENDEDORISMO dá margem a inúmeras divergências. Ainda mais quando o tema é abordado com base no senso comum, pelos gráficos, pesquisas e levantamentos feitos por estudiosos de diferentes áreas do conhecimento. E, para piorar a situação, entram em cena personagens com a intenção de promover o EMPREENDEDORISMO com o ideário político-partidário. Eles apresentam posições acima de qualquer suspeita na luta pelos mais pobres propondo uma maior ingerência e participação do Estado.
PARA DIMINUIR O CAOS:
Podemos encontrar alguns casos considerados como atividade empresarial e AUTO EMPREGO que o senso comum confunde com EMPREENDEDORISMO. Há vários conceitos, mas, em uma análise mais apurada, é possível notar a diferença entre o que vem a ser EMPREENDEDORISMO de verdade, TRABALHO INFORMAL e AUTO EMPREGO.
TRABALHO INFORMAL:
Não é de hoje que no Brasil o crescimento da informalidade no mercado de trabalho seja um fenômeno.
Esta tendência perversa tem se acentuado lentamente desde a década de 70 e 80 com as seguidas crises na economia, com a modernização tecnológica e com a Globalização nos anos 90. Nem o Plano Real em 1994 e as políticas adotadas nas primeiras décadas do Século XXI conseguiram amenizar o quadro.
Neste espaço de tempo, principalmente a partir do final dos anos 80, as seguidas ondas de desemprego trouxeram novas situações aos trabalhadores: o encolhimento do mercado formal, a oferta de vagas de pior qualidade com carteira assinada e salários mais baixos e vagas sem carteira assinada com salários mais baixos e sem garantias ou direitos.
O resultado não poderia ser outro: atrasos na retomada da economia, perda do poder de compra, desestabilização de famílias, redução na arrecadação do Governo e queda nas contribuições à Previdência Social.
O AUTO EMPREGO:
No Século XIX durante a Revolução Industrial o trabalho assalariado se tornou a base da atividade industrial e, posteriormente, esta mesma forma foi para o comércio e áreas administrativas. Poucos tinham conhecimento, capital suficiente e a oportunidade de se tornarem comerciantes, negociantes ou industriais.
Durante boa parte do Século XX, o padrão socialmente correto era as pessoas terem o mesmo emprego fixo, durante toda a vida, fazendo carreira até a aposentadoria. O emprego era seguro, quase eterno, não havia mobilidade, as empresas cresciam e os funcionários cresciam junto com a empresa por esforço e MERITOCRACIA.
E os indivíduos que destoavam deste padrão tentando alguma oportunidade diferente não eram bem vistos. O conceito era de uma pessoa irresponsável, instável e sem seriedade diante da vida.
A situação permaneceu inalterada até perto do final do Século XX, quando as crises econômicas do período aceleraram a modernização das formas de produção da indústria para aumentar produtividade, ter lucro e reduzir o peso do custo da mão de obra assalariada. Ao mesmo tempo, tem início o crescimento acelerado do setor de serviços.
TRABALHO INFORMAL E AUTO EMPREGO
Como opção de sobrevivência e por não conseguir colocação no mercado, as pessoas vão para INFORMALIDADE (bicos eventuais) ou começam por conta própria a procurar estabilidade, numa atividade mais consistente, num negócio próprio como um AUTO EMPREGO.
A diferença entre as duas modalidades é que no AUTO EMPREGO o indivíduo é o próprio CAPITALISTA (detentor de meios de produção) e é a própria força de trabalho para sua sobrevivência. Pode estar formalizado e regularizado como uma empresa ou estar ainda no estado INFORMAL. É o dono do KNOW HOW, da sua própria capacidade e qualificação, criador do método de trabalho, estabelece horários, locais, assume os RISCOS do empreendimento etc. Mas, sua remuneração não é fixa e vai de acordo com o seu próprio esforço e sucesso do seu trabalho.
Esta situação apresentou um processo de crescimento muito acentuado a partir dos anos 90 face às poucas oportunidades de EMPREGO FORMAL. A sua importância ganha espaço bem maior na atividade econômica despertando a atenção de estudiosos nos meios acadêmicos, no Brasil e em outros países. Para o Governo, o interesse aumenta em função da PULL THEORY para regularizar a situação destas atividades (impostos, taxas, licenças etc.). Entretanto, a taxa de mortalidade dos negócios ainda é uma preocupação.
Agora, o antigo conceito das pessoas que destoavam do padrão vigente durante boa parte do Século XX (irresponsável, instável e sem seriedade diante da vida) passou a ser aceito como normal diante da situação.
O EMPREENDEDOR
Atualmente, o AUTO EMPREGO não tem nada de desmerecedor. Mas, o EMPREENDEDOR tem algumas características diferentes por ser a demonstração de comportamentos, que vão bem além da condição de um empresário ou de um executivo que atua no ambiente corporativo.
O EMPREENDEDOR tem iniciativa e persistência na busca oportunidades e é comprometido com o seu negócio. Em geral planeja muito bem e sabe correr riscos calculados nos seus investimentos tendo informações para estabelecer metas. O EMPREENDEDOR de verdade busca continuamente a inovação e novos negócios, nas necessidades comerciais, na ruptura do que é estabelecido como PARADIGAMA e padrão. Após um negócio bem sucedido, já está na busca de outras oportunidades.
EXEMPLOS: diferenças entre EMPREENDEDORISMO e AUTO EMPREGO:
O EMPRESÁRIO ESPECULADOR
Muitos confundematividades do ESPECULADORcom EMPREENDEDORISMO. São coisas bem diferentes. Por exemplo: um indivíduo compra uma fazenda por R$ 2.000.000,00 e no mês seguinte vende esta propriedade por R$ 2.500.000,00.
1 – NÃO usou criatividade, não teve nenhuma IDEIA inédita, não trouxe benefícios para a sociedade, não gerou empregos e nem distribuiu renda. O bom resultado do negócio foi apenas em proveito próprio. Não teve paixão ou identificação com o ramo de atividade.
2 – Mesmo tendo a coragem de investir e assumir os RISCOS, com visão voltada para o futuro, ele apenas aproveitou uma OPORTUNIDADE. É um AVENTUREIRO contando com a sorte e ganhando dinheiro rápido. ESPECULADORES investem no mercado de ações, mercadorias, imóveis, automóveis etc. para obter lucro no menor prazo possível.
Um EMPRESÁRIO ESPECULADOR (ou ATRAVESSADOR) pode ser bem-sucedido em seus negócios. Entretanto, para ele tudo é válido e na sua grande maioria, pouco se incomoda em ser CRIATIVO ou INOVADOR e muito menos tem interesse em criar postos de trabalho e gerar renda. O interesse é ter vantagem e lucro. Na prática ele tem um AUTO EMPREGO.
O EMPRESÁRIO QUE NÃO É EMPREENDEDOR
Uma das muitas questões que se apresentam sobre o EMPREENDEDORISMO é a diferença entre EMPRESÁRIO e EMPREENDEDOR.
Se pensarmos no conceito de EMPREENDEDORISMO, a análise considera ações de uma pessoa desenvolvendo negócios de maneira INOVADORA, CRIATIVA e correndo RISCOS. Muitos empresários até podem apresentar estas características e, mesmo tendo sucesso, atuam apenas como TAREFEIRO. É um EMPRESÁRIO ADMINISTRADOR que trabalha como um mero executor (do tipo GESTOR ou TAREFEIRO). Por exemplo:
1 – Oindivíduo tem habilidade e competência para criar e gerir um negócio. Abre uma empresa e inicia atividades com um AUTO EMPREGO.
2 – Tem responsabilidade, paixão e identificação com o ramo de atividade, persistência e se sujeita aos RISCOS e às incertezas. E por não ter condições, de contratar funcionários, a princípio faz todas as tarefas moldando a forma como a empresa atua.
3 – Com o tempo, a mentalidade não evolui e ele estaciona na ZONA DE CONFORTO. Admite funcionários gerando emprego e renda, mas, se torna centralizador e gerencia o negócio executando tarefas diárias como um auxiliar de escritório.
4 – Deixa de ser OUSADO e CRIATIVO, não ESTUDA não PESQUISA, não tem novas ideias, não busca OPORTUNIDADES, não se QUESTIONA e cai na rotina. Inibe a CRIATIVIDADE e DESMOTIVA sua EQUIPE. Na verdade, o seu “negócio.” se transforma num AUTO EMPREGO e a empresa estaciona, não cresce e em inúmeros casos acaba desaparecendo.
Cuidado: hoje muitas pessoas montam o seu próprio negócio. Porém, a concorrência é muito forte, o mercado é competitivo e apenas os melhores e mais criativos permanecem.
O EMPRESÁRIO TOCANDO O BARCO
Sem dúvida, os EMPRESÁRIOS têm condição jurídica e são importantes por serem agentes econômicos. Contudo, se analisarmos com mais critério, são indivíduos que, em geral, conduzem negócios baseados na segurança, retorno rápido, lucros e são avessos a INOVAÇÃO.
1 – Dão preferência na continuidade de atividades de RISCO baixo de resultados fáceis e previsíveis.
2 – Gostam de copiar e repetir ideias que no passado deram certo, não crescem por insegurança ou comodismo.
3 – Sonham em ter um GERENTE capacitado (que ganhe pouco) para ser braço direito “tomando conta do negócio e sentindo a DOR DO DONO”. Enquanto isso, voltam suas atenções para atividades fora da empresa (lazer, hobbies etc. etc. etc.). Na verdade, o seu “negócio” se transforma num AUTO EMPREGO.
EMPREENDEDOR QUE NÃO É EMPRESÁRIO
Muita gente vê o EMPREENDEDOR como sendo obrigatoriamente um EMPRESÁRIO. Ao refletirmos, podemos concluir que um médico, um atleta, um artista, um religioso, um professor ou uma celebridade podem ser EMPREENDEDORES. E nem por isso são EMPRESÁRIOS.
EMPREENDEDOR QUE VAI PARA O AUTO EMPREGO
Há muitos casos em que EMPREENDEDORES voltam para a condição inicial de EMPRESÁRIO ADMINISTRADOR (tipo GESTOR ou TAREFEIRO). São várias as circunstâncias:
1 – No Brasil é muito desgastante ter uma atividade empresarial, ter um AUTO EMPREGO ou ser EMPREENDEDOR.
2 – O RISCO é muito alto numa economia instável e com um cenário político pouco favorável. É cansativo e o nível de tensão leva rapidamente ao esgotamento.
3 – A mortalidade das empresas é grande por que falta ao empresário a formação de qualidade voltada para negócios, o preparo adequado e informação. Também faltam o ESPÍRITO e CULTURA para o EMPREENDEDORISMO. E há o agravante da grande quantidade de impostos, taxas, regulamentações e contribuições etc.
4 – A qualificação da mão de obra é baixa e bons profissionais muitas vezes estão além das possibilidades financeiras da empresa.
5 – Nas empresas familiares muitos HERDEIROS não têm interesse nos negócios.
6 – A concorrência é acirrada e exige uma constante renovação e modificações para manter ao máximo a eficiência organizacional.
Estas situações criam um ciclo interminável que acaba minando a MOTIVAÇÃO e prejudicando o ímpeto para o trabalho. As ideias e as inovações vão se perdendo e o EMPREENDEDOR já procura estabilidade por fatores como a saúde e a maturidade. É normal que nesta etapa tenha início a aproximação para a ZONA DE CONFORTO, apenas para a simples sustentação dos negócios. Portanto, aquele indivíduo ousado, criativo, inovador e disposto a se arriscar entra no AUTO EMPREGO ou encerra suas atividades.
Sugestão de Leitura
PAMPLONA, JOÃO B. Erguendo-se Pelos Próprios Cabelos. Editora Germinal. São Paulo, 2009.
KURATKO, DONALD F. Empreendedorismo – Teoria, Processo e Prática. Editora CENGAGE LEARNING. São Paulo, 2017.
SANTANA, JOÃO. Como Entender o Mundo dos Negócios. SEBRAE. Brasília, 1994.
MARIANO, S. R. H. MAYER, VERONICA F. Criatividade e Atitude Empreendedora. Editora CECIERJ. Rio de Janeiro, 2008.
SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Fatores condicionantes e taxa de mortalidade de empresas no Brasil. SEBRAE. Brasília: 2004.
GEM – Global Entrepreneurship Monitor. Empreendedorismo no Brasil. 2006 – Curitiba 2007.
BIRLEY, S., MUZYKA, D. F. Dominando os desafios do EMPREENDEDOR. Editora Makron Books, São Paulo 2001.