7 – A Saúde Mental nas Empresas

O AMBIENTE CORPORATIVO, considerando as PESSOAS como sendo o seu fator principal, tem sofrido os impactos de todas as transformações que vêm ocorrendo na sociedade. É inegável que as mudanças nos hábitos, nos valores e no nível da qualidade da mão de obra cooperam para que as organizações avaliem estes temas com muita preocupação. 

E para a GESTÃO,um dos maiores problemas no ambiente de trabalho está relacionado a SAÚDE MENTAL. Lamentavelmente, ao longo dos anos, o mercado de trabalho aponta o crescimento do número de indivíduos que fazem uso de substâncias ilícitas. Os casos de transtornos mentais, problemas de relacionamento, suicídios e afastamentos vêm exigindo atenção contínua e um olhar mais apurado.

O panorama é crítico e perceptível independentemente  do nível hierárquico. Os  efeitos negativos se refletem na saúde e no desempenho dos colaboradores e nos resultados da empresa pela baixa produtividade, acidentes, absenteísmo, TURN OVER e profissionais com desempenho aquém das expectativas. Para a sociedade são perdas que representam vidas ceifadas, talentos perdidos, desagregação etc.

Os profissionais da GESTÃO DE PESSOAS passaram a analisar estudos disponíveis e entender melhor  a questão.

As SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS são utilizadas de forma intencional ou não para alterar as sensações no grau de consciência ou no estado emocionalafetam o sistema nervoso central quando ingeridas, bebidas, injetadas, fumadas ou inaladas.

No AMBIENTE CORPORATIVO os problemas são diversos: perda da qualidade nas atividades, erros constantes, absenteísmo, negligência, menor capacidade de julgamento, alto risco de lesões e acidentes, afastamentos, transtornos mentais ou de comportamento, conflitos, comportamento violento, furtos e doenças decorrentes (problemas cardíacos e cirrose hepática).

1 – Depressoras – substâncias que diminuem e inibem a atividade do sistema nervoso central, a atividade motora, a reação à dor e à ansiedade, sendo comum o efeito inicial de euforia, perda de inibição, aumento da sonolência: álcool, opiáceos e medicamentos sedativo-hipnóticos.

2 – Estimulantes: substâncias que aceleram processos psíquicos, elevam o nível de alerta, a atividade do sistema nervoso central e o metabolismo: anfetaminas, cocaína, nicotina e cafeína.

3 – Perturbadoras: substâncias que provocam vários fenômenos psíquicos anormais, sem inibição ou estímulo (alucinações e delírios). Alteram o pensamento e as percepções do mundo com o risco de ocasionar (*) hiperestesias e ilusões de movimento (LSD e os canabinóides).  

Consumo de risco: é o tipo ou padrão de consumo ocasional ou contínuo. Mas, amplia o quadro de doenças, acidentes, lesões, transtornos (mentais ou comportamentais). 

Consumo Nocivo: é o consumo que causa prejuízos à saúde física e à saúde mental, mas, não caracteriza a dependência.

Dependência: segundo a WORLD HEALTH ORGANIZATION (1992) “A dependência se reporta a um conjunto de fenômenos fisiológicos, cognitivos e comportamentais que podem se desenvolver após o uso repetido da substância. Inclui um desejo intenso do consumo, descontrole sobre seu uso, continuação dos consumos independentemente das consequências, uma alta prioridade dada aos consumos em detrimento de outras atividades e obrigações, aumento da tolerância e sintomas de privação quando o consumo é descontinuado.

Além do alto risco da integridade física dos colaboradores e dos equipamentos, a GESTÃO nas organizações entende o desafio, a gravidade e a extensão do consumo das drogas. É preciso considerar problemas na segurança, na saúde do trabalho, as conseqüências ao AMBIENTE, as interferências no exercício das funções, prejuízos e descrédito sobre a imagem da empresa. 

No Brasil ainda não há estatísticas que possam apontar com precisão os prejuízos pelo uso de drogas no ambiente de trabalho.

1 – Recrutamento e Seleção: os processos seletivos se tornaram mais rigorosos procurando excluir candidatos que já apresentem algum indicador do uso de  SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS. É um “FILTRO” sobre o AMBIENTE EXTERNO  evitando que usuários façam parte do quadro de colaboradores. E ainda dentro deste processo, uma alternativa viável são os exames médicos admissionais.

2 – O Cenário: outras abordagens argumentam que o problema do uso de  SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS é reflexo da situação do AMBIENTE EXTERNO. As raízes estão nos efeitos negativos associadas com as grandes transformações no mercado de trabalho: pressões, falta de oportunidades, desencanto com a carreira, grande concorrência, o desemprego, as condições e à organização do trabalho, a falta de ética no ambiente profissional, assédio etc. que exercem influência sobre a saúde física-psíquica de trabalhadores.

3 – O Ambiente Interno: até mesmo as organizações que contam com uma GESTÃO DE PESSOAS mais estruturada apresentam limitações face às necessidades de atenção à saúde dos trabalhadores. A abordagem do tema é complexa e precisa considerar inúmeras causas, razões e origens.

4 – Sofrimento Psíquico: muitas opiniões apontam a forte relação entre o sofrimento psíquico e o trabalho. Ou seja, que os funcionários usam drogas como escapatória no alívio das dificuldades do contexto profissional (em qualquer nível da hierarquia independente do gênero, grau de instrução etc.). Seguindo esta ideia, é preciso considerar que condições de vida e trabalho desfavoráveis vêm contribuindo para elevar o grau do sofrimento psíquico, o uso de álcool e drogas.

5 – Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho (LDRT): as várias discussões a respeito da relação do trabalho com o sofrimento e adoecimento psíquico. Esta visão sobre o assunto deve fazer parte dos trabalhos de PREVENÇÃO, INTERVENÇÃO e PÓS-TRATAMENTO. Em 2023 (*) LDRT passou por uma atualização contendo importantes avanços nas ações a serem adotadas. Desta forma, ocorreram mudanças dentro das políticas públicas da rede assistencial que se voltaram para os processos de atenção ao uso e abuso de álcool e drogas.

Em qualquer tipo de ORGANIZAÇÃO é preciso a predisposição para introduzir mudanças necessárias na CULTURA ORGANIZACIONAL, no AMBIENTE LABORAL e nas formas de trabalho. São aspectos com grande potencial para afetar a SAÚDE MENTAL dos trabalhadores e elevar o nível de desgaste.

1 – Programas de PREVENÇÃO: a maioria das empresas não conta com profissionais habilitados na correta abordagem do assunto. A implantação de um PROGRAMA DE SAÚDE MENTAL  ou (Programas de educação no trabalho para álcool e outras drogas) demanda o apoio de profissionais especializados (TERAPEUTAS e PSICÓLOGOS) por ser a opção mais  interessante.

Soluções caseiras e de debaixo custo poderão ser atraentes, mas nem sempre trarão o resultado desejado. Ter o acompanhamento especializado também é fundamental para os casos de depressão, ansiedade etc.

● O foco sobre a prevenção se tornou muito frequente por intervir e antecipar o problema ao orientar os colaboradores.

● O PROGRAMA DE SAÚDE MENTAL poderá constar no plano de T&D (TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO) e nos trabalhos de ENDOMARKETING.

2 – Grupos de apoio: além do apoio de PSICÓLOGOS, a GESTÃO poderá incentivar a formação de  GRUPOS DE APOIO  e TERAPIA DE GRUPO auxiliando os indivíduos em problemas com o uso de drogas. Os GRUPOS DE APOIO também são úteis a respeito de aspectos motivacionais, engajamento, comprometimento e no combate às frustrações, conflitos, transtornos alimentares etc.

3 – Pesquisa sobre drogas no ambiente de trabalho: o objetivo é rastrear colaboradores que já apresentam problemas e dar destinação correta a um tratamento adequado. Contudo, será preciso muito tato para que estas ações não tenham caráter punitivo e uma forma de ASSÉDIO MORAL.

4 –  Exames de rotina:  ainda dentro da ideia do rastreamento, a observação na mudança de atitudes e na mudança de comportamentos são os indicadores mais usuais. Mas, há outra ação fundamental: exames clínicos rotineiros que auxiliam na identificação e no direcionamento quando há trabalhadores com problemas relacionados às SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS.

5 – Tratamento para dependentes: infelizmente, existem ocorrências em que o funcionário necessita ser afastado para o encaminhamento e tratamento de dependência química.

O entendimento da SAÚDE MENTAL E TRABALHO há pouco ganhou a devida importância e pesquisas mais extensas vem sendo feitas o tema. Muitas opiniões consideram que, mesmo que as mudanças tecnológicas e gerenciais  tenham tido a finalidade de melhorar o bem-estar dos indivíduos, dificilmente um ambiente de trabalho consegue ser um AMBIENTE HUMANIZADO ou motivador.

Outros pontos de vista afirmam que o adoecimento, o sofrimento mental e outros problemas sociais têm ligação com o ambiente de trabalho. Assim, as SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS seriam a fórmula de aliviar as tensões. Realmente, o tema é complexo e muito amplo…

Todas as possibilidades propostas não possuem um efeito imediato. Contudo, apesar do tempo exigido, em geral os resultados são animadores. Sempre é preciso utilizar programas e intervenções para educar, informar e conscientizar sobre os malefícios das SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS.

(*) LDRT

Ministério da Saúde/PORTARIA GM/MS Nº 1.999, DE 27 DE NOVEMBRO DE 2023: altera a Portaria de Consolidação GM/MS nº 5, de28 de setembro de 2017 para atualizar a Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho (LDRT). A adequação do protocolo às necessidades dos trabalhadores marca uma agenda prioritária para a atual gestão com a retomada do protagonismo na coordenação nacional da política de saúde do trabalhador e coloca os profissionais no centro do debate sobre saúde pública, considerando que a pauta não foi central nos últimos anos. O aprimoramento resulta na incorporação de 165 novas patologias que causam danos à integridade física ou mental do trabalhador: Pandemia de Covid-19, doenças de saúde mental, distúrbios músculo esqueléticos e outros tipos de cânceres foram inseridos na lista. 

DEJOURS, C.; ABDOUCHELI, E.; JAYET C. Psicodinâmica do Trabalho: contribuições da escola dejouriana à análise da relação prazer, sofrimento e trabalho. Editora Atlas. São Paulo, 2012.

ANDRADE, CRISTIANO DE JESUS. Saúde mental e trabalho: temas emergentes na contemporaneidade. Editora ‏ ‎ CRV. Edição 1ª. Curitiba, 2020.

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