INTRODUÇÃO:
Muitas opiniões afirmam que o problema das drogas é reflexo das transformações sociais do Século XX. Mas, uma análise mais cuidadosa mostra que a MACONHA e o ÓPIO já eram utilizados na Ásia desde tempos antigos. Os chineses (7.000 a.C.) e os hindus (1.000 a.C.) a empregavam para fins medicinais. E ainda em relação a Índia, a erva era considerada sagrada e parte da religiosidade. Com o passar dos Séculos, a MACONHA se espalhou pelo Oriente Médio e Europa – no mundo greco-romano, IDADE MÉDIA e RENASCENÇA era usada na fabricação de papel, cordas e tecidos (CÂNHAMO). E com as GRANDES NAVEGAÇÕES disseminou-se pela AMÉRICA.
As folhas de COCA já eram mascadas pelos INCAS por volta de 3.000 a.C. A planta era considerada divina, empregada em cerimônias religiosas e um estimulante contra a fome, o cansaço e o frio. As folhas de COCA tinham um efeito positivo contra o mal da altitude favorecendo a respiração e absorção do oxigênio nas condições do ar rarefeito da CORDILHEIRA DOS ANDES.
A COCAÍNA
Em 1859 a COCAÍNA foi isolada em laboratório pelo químico alemão ALBERT NIEMANN. A partir de 1880 ela passou a ter aplicações na medicina por causar sensação de bem-estar, autoconfiança, euforia, ter efeitos anestésicos, estimular o sistema nervoso central e elevar a libido.
SIGMUND FREUD consumia COCAÍNA regularmente e difundiu abertamente o seu uso como analgésico e um poderoso estimulante contra a depressão e impotência sexual. Então, a partir da segunda metade do Século XIX até por volta da década de 20, a COCAÍNA foi consumida por pessoas de todas as classes sociais, principalmente nos EUA e na Europa (em forma original ou na composição de elixires e tônicos miraculosos). O seu uso foi influenciado por artistas, intelectuais, celebridades, políticos e personalidades do cinema. E o ÓPIO também passou a fazer parte da “RECEITA”.
Criada em 1886 pelo farmacêutico americano JOHN STITH PEMBERTON (1831-1888), a COCA-COLA foi um produto de grande sucesso por seus efeitos sobre os consumidores. A composição do refrigerante incluía extrato de coca (*), noz de cola e calda de açúcar queimado como adoçante.
(*) O extrato de coca foi retirado em 1903.
Porém, ainda na primeira década do Século XX, pouco a pouco os efeitos e os perigos se tornaram visíveis. Devido ao uso da coca, as autoridades americanas alertadas pelos médicos, registraram o grande aumento de mortes e internações em hospitais. E em 1922 ela foi proibida.
A COCAÍNA voltou a ser utilizada (inalada, injetada ou fumada) por volta do fim dos anos 60 e início da década seguinte para proporcionar “VIAGENS”. Rapidamente, se tornou modismo e excentricidade de intelectuais, artistas e homens de negócios como forma recreativa ou para aliviar as pressões do trabalho. A princípio, a COCAÍNA era muito cara e de difícil acesso. Mas, até o fim dos anos 70 os traficantes da América do Sul organizaram a produção em uma rede muito lucrativa de cartéis voltados para o contrabando. Como resultado, no início da década de 1990, a droga já era acessível nos EUA, Europa e Ásia.
E a COCAÍNA se tornou um flagelo por ser um estimulante entre os mais potentes e perigosos. E seus fortes impactos de ordem social, econômica, legal e de saúde pública foram assustadores por seus efeitos e alto potencial de dependência.
A droga causa crises de paranóia (perigo de acidentes e quadros graves de violência), depressão, ansiedade, alucinações, agressividade, problemas vasculares, prejudica a mucosa nasal e é a causa de extensos danos neuronais. Quando o efeito diminui, em geral, os usuários apresentam variações no humor, fadiga, aumento na irritabilidade e impulsividade.
Vale também ressaltar que no início dos anos 80 as agulhas compartilhadas entre os viciados em COCAÍNA também se tornaram um componente a mais (facilitador) na disseminação do Vírus HIV.
A MACONHA
Com as GRANDES NAVEGAÇÕES a MACONHA se disseminou pela AMÉRICA e, no caso brasileiro, as sementes de CÂNHAMO (CANNABIS SATIVA) foram trazidas da ÁFRICA pelos primeiros escravos negros (1549) para a continuação do seu vício (FUMO D’ANGOLA).
Em 1783 a Coroa portuguesa incentivava o plantio da planta para fins comerciais a favor da Metrópole, pois, na Europa a fibra do CÂNHAMO era valorizada na fabricação de papel, cordas, tecidos, resinas etc. Os indígenas brasileiros, em contato com escravos negros, passaram a cultivar para o próprio uso. Por ser um hábito praticamente restrito aos escravos e aos índios, o interesse sobre o uso ou os efeitos da planta despertou pouco interesse.
Na segunda metade do Século XIX, com as pesquisas realizadas na França, os efeitos prazerosos da MACONHA passaram a ser conhecidos. Por volta de 1880, por influência de artistas, poetas e escritores franceses, a MACONHA se espalhou rapidamente. Nesta mesma época a medicina já indicava a MACONHA de maneira extensiva por suas propriedades terapêuticas contra a asma, bronquite crônica, tuberculose, flatulências, insônia, enxaqueca, problemas nervosos, cólicas menstruais etc.
No início do Século XX era utilizada por diversos laboratórios farmacêuticos na Europa e nos EUA. As CIGARRILHAS GRIMAULT foram um dos produtos mais famosos e populares.
AS MEDIDAS CONTRA AS DROGAS
Nos EUA, os graves problemas relacionados às drogas ganharam intensidade e, em 1909, aconteceu uma conferência para tratar sobre o ópio e, ao mesmo tempo, iniciar ações para o controle de todos os tipos de fabricação, importação, venda, distribuição e exportação de COCAÍNA e outros (*) PSICOTRÓPICOS.
(*) PSICOTRÓPICO: substância que atua sobre o sistema nervoso central e afeta alguns processos mentais que alteram a percepção, emoções (estado de prostração e inépcia) e ocasionam comportamentos que podem ser altamente prejudiciais.
Durante anos foram criadas várias leis em diversos países para refrear o uso das drogas. Mesmo tendo diminuído e sendo socialmente condenável, o consumo não cessou: a cocaína era para pessoas de maior poder aquisitivo e a maconha era o ópio dos pobres.
Em 1961 a Convenção Única Sobre Entorpecentes de Nova York, ratificada por 100 países, unificou todos os tratados anteriores sobre o tema com medidas de controle e fiscalização. A Convenção também considerou as novas substâncias psicoativas a serem controladas. No presente, há muitos debates e pouca informação a respeito das ideias sobre a legalização da maconha para “FINS RECREATIVOS”.
Com o tempo a tolerância do organismo do usuário ao princípio ativo (THC – tetrahidrocanabinol ) vai exigindo doses maiores e seguidas para chegar ao efeito desejado.
A MACONHA E A CONTRACULTURA
No fim dos anos 1950 a MACONHA volta à cena com intensidade nos EUA por influência do (*) MOVIMENTO BEAT e do (*) MOVIMENTO UNDERGROUND. A partir de 1965, a influência dos (*) HIPPIES fez o consumo aumentar ainda mais. E agora a MACONHA veio acompanhada por um novo componente perigoso: as DROGAS SINTÉTICAS.
No final dos anos 50 e no começo da década de 60, dois movimentos culturais similares surgiram nos EUA e que rapidamente ganharam o mundo.
O (*) MOVIMENTO BEAT criado por poetas, artistas plásticos, escritores, músicos etc. difundindo ideias para um estilo de vida contra o materialismo.
O (*) MOVIMENTO UNDERGROUND, na mesma tendência, foi uma revolução contracultural e de forte contestação aos tradicionais costumes em vigor das sociedades da época.
O (*) MOVIMENTO HIPPIE teve deu sequência aos ideais dos dois movimentos culturais anteriores. Com base na CONTRACULTURA, declaravam oposição ao modo de vida americano.
Os HIPPIES eram nômades, defendiam total liberdade em relação ao sexo, drogas e família. Ao mesmo tempo em que transformavam a música, literatura e a moda, combatiam a hierarquia, a obediência, o autoritarismo, o capitalismo, o comunismo e criticavam valores estéticos, modelos de educação, modelos de relacionamentos e de família. Este movimento fazia forte oposição ao envolvimento americano na Guerra do Vietnã, apoiava as lutas pelos direitos civis da população negra, valorizava a natureza e criticava o ambiente de medo causado pela Guerra Fria.
Sugestão de Leitura
SHEFF , DAVID. Querido Menino: A jornada de um pai contra a dependência química de seu filho. Editora Globo Livros. Edição 2ª. Rio de Janeiro (2019).
LARANJEIRA, RONALDO; JUNGERMAN, FLÁVIA; DUNN, JOHN. Drogas: Maconha, cocaína e crack. Editora Contexto. Edição 5ª. São Paulo (1998).
DUCHAUSSOIS, CHARLES. Viagem ao Mundo da Droga. Editora Livros do Brasil. São Paulo (1999).