6 – Teoria Estruturalista – Tipologia de Blau e Scott

INTRODUÇÃO:

As ORGANIZAÇÕES são diferentes e apresentam determinadas características que possibilitam que elas sejam classificadas em certos grupos (ou tipos). Essas classificações, denominadas TIPOLOGIAS DAS ORGANIZAÇÕES, possibilitaram aos ESTRUTURALISTAS uma análise comparativa e o desenvolvimento de TIPOLOGIAS para uma divisão segundo certas características distintas. Dois estudiosos do ESTRUTURALISMO se notabilizaram por sua TIPOLOGIA: PETER MICHAEL BLAU e WILLIAM RICHARD SCOTT.

PETER MICHAEL BLAU

Foi sociólogo, teórico e professor nascido na ÁUSTRIA e de ascendência judia. Para escapar da perseguição nazista emigrou para os EUA, em 1939, onde se graduou em SOCIOLOGIA em 1942. Em 1952 obteve o doutorado estabelecendo uma teoria inicial para a DINÂMICA DA BUROCRACIA e em 1953 passou a lecionar na UNIVERSIDADE DE CHICAGO até 1970.

Em 1970 lecionou na UNIVERSIDADE DE COLUMBIA onde obteve o cargo vitalício de Professor Emérito e de 1988 a 2000 na UNIVERSIDADE DA CAROLINA DO NORTE.

No campo das ORGANIZAÇÕES, as primeiras e mais importantes contribuições foram apresentadas em seu livro THE DYNAMICS OF BUREAUCRACY (UNIVERSITY OF CHICAGO PRESS – Chicago 1955) e possibilitaram o aparecimento de diversos estudos nesta área.

O mérito de BLAU foi ressaltar as formas pelas quais a vida real de uma ORGANIZAÇÃO foi sendo estruturada ao longo de canais informais de interação e troca sócio emocional.  Sua abordagem foi diferente e voltada mais para trabalhadores de colarinho branco do que nos de colarinho azul. Também estudou a maneira como os sistemas de status incipientes formados eram importantes para o funcionamento contínuo dessas organizações como, por exemplo, a estrutura de status formal. Portanto, muito do trabalho de BLAU envolvendo organizações centrou-se na interação entre estrutura formal, práticas informais e pressões burocráticas e como esses processos afetam a mudança organizacional.

Outra contribuição na análise das ORGANIZAÇÕES foi o estudo dos determinantes dos COMPONENTES BUROCRÁTICOS

Seus estudos no EUA abrangeram mais de 50 agências governamentais, mais de 1200 filiais e 350 sedes. Encontrou uma relação consistente entre burocratização e tamanho organizacional ao medir o número de funcionários e o estudo dos ambientes organizacionais.

Como o número de funcionários aumentou a burocratização também aumentou: uma ORGANIZAÇÃO com 10.000 funcionários era muito mais burocratizada do que uma ORGANIZAÇÃO com 10 ou mesmo 100.  Seus livros A DINÂMICA DA BUROCRACIA, A BUROCRACIA NA SOCIEDADE MODERNA e ORGANIZAÇÕES FORMAIS (com WILLIAM RICHARD SCOTT) colocam seu nome entre os principais expoentes do ESTRUTURALISMO, em especial, na importância dos conflitos no desenvolvimento das ORGANIZAÇÕES.

WILLIAM RICHARD SCOTT

É professor emérito e sociólogo americano da UNVERSIDADE DE STANFORD e especialista   em ciência organizacional, teoria institucional e conhecido por suas pesquisas e trabalhos sobre a relação entre as ORGANIZAÇÕES e ambientes institucionais.

SCOTT tem PhD da UNIVERSIDADE DE CHICAGO (com a orientação de PETER BLAU)e recebeu doutorados honorários da COPENHAGEN SCHOOL OF BUSINESS (2000), da HELSINKI SCHOOL OF ECONOMICS (2001) e AARHUS UNIVERSITY na Dinamarca (2010).

Em STANFORD sua carreira é extensa: Departamento de Sociologia (1972–1975), Programa de Treinamento em Organizações e Saúde Mental (1972–1989), Centro de Pesquisa Organizacional (1988-1996) e em 1997 se tornou professor emérito no Departamento de Sociologia. No seu trabalho como sociólogo organizacional, ele se dedicou ao estudo de ORGANIZAÇÕES profissionais (envolveu organizações educacionais, de engenharia, médicas, de pesquisa, bem-estar social e de defesa sem fins lucrativos) e pesquisa na relação entre as ORGANIZAÇÕES e seus ambientes institucionais. 

TIPOLOGIA DE BLAU E SCOTT

Os dois autores são referência no ESTRUTURALISMO com a obra FORMAL ORGANIZATIONS (Organizações formais) de 1962 com uma tipologia das organizações baseada no BENEFICIÁRIO (princípio do CUI BONO – do Latim significa “a quem beneficia”).

BLAU, P. M.; SCOTT RICHARD W. FORMAL ORGANIZATIONS. Chandler Publishing Company. San Francisco, USA – 1962

Na época, as classificações tradicionais estudavam as ORGANIZAÇÕES levando em conta o porte (tamanho: pequenas, médias e grandes), sua natureza(empresas primárias, secundárias e terciárias), o seu mercado de atuação(indústrias de bens de capital ou indústrias de bens de consumo) ou ainda sua característica(empresas públicas ou privadas). Segundo BALU e SCOTT, as ORGANIZAÇÕES se inserem em comunidades com relacionamentos com outras ORGANIZAÇÕES se classificam de acordo com quatro tipos:

OS PRINCIPAIS BENEFICIÁRIOS EM DIFERENTES TIPOS DE ORGANIZAÇÕES

ORGANIZAÇÕES de BENEFICIÁRIOS MÚTUOS em que os principais beneficiários são os próprios membros da organização: cooperativas, associações profissionais, sindicatos, consórcios, fundos mútuos etc.

ORGANIZAÇÕES de INTERESSES COMERCIAIS: são as que os proprietários ou acionistas são os principais beneficiários da organização: a maioria das empresas privadas.

ORGANIZAÇÕES de SERVIÇOS: grupo de clientes e a sociedade são os principais beneficiários como hospitais, universidades, escolas, organizações religiosas e agências sociais.

ORGANIZAÇÕES de ESTADO: o beneficiário é o público em geral: a organização militar, os correios, instituições jurídicas, instituições penais, segurança pública etc.

De acordo com BALU e SCOTT há quatro categorias de participantes (internos e externos) de uma ORGANIZAÇÃO FORMAL São aqueles que obtém benefícios com a existência da ORGANIZAÇÃO:

▪ os próprios membros participantes da ORGANIZAÇÃO.

▪ os proprietários, dirigentes e acionistas.

▪ os clientes.

▪ o público em geral.

CONFLITO E DILEMA NAS ORGANIZAÇÕES

CONFLITO: de acordo com os teóricos do ESTRUTURALISMO os CONFLITOS são elementos geradores de mudanças e do desenvolvimento da ORGANIZAÇÃO. E não existe harmonia de interesses entre os proprietários, dirigentes e acionistas e os trabalhadores como expôs a TEORIA CLÁSSICA e não há uma forma de preservá-la com atitudes compreensivas ou nivelamento de condutas individuais como preconizou a TEORIA DAS RELAÇÕES HUMANAS.

Um CONFLITO mostra a existência do antagonismo, ideias, sentimentos, atitudes ou interesses divergentes.

A origem dos CONFLITOS pode ser caracterizada dentro de um processo contínuo, desde um choque frontal de interesses rigorosamente inconciliáveis e incompatíveis ou interesses diferentes, mas, não necessariamente contraditórios ao extremo.

CONFLITOS e COOPERAÇÃO são uma parte das atividades de uma ORGANIZAÇÃO e as teorias precedentes ignoraram o problema. Atualmente CONFLITO e a COOPERAÇÃO são aspectos da atividade social e, na prática, estão ligados.

Para BLAU e SCOTT existe uma relação estreita entre CONFLITO e MUDANÇAMUDANÇAS criam CONFLITOS e os CONFLITOS geram as INOVAÇÕES e há dois tipos de CONFLITOS em um processo dinâmico e (*) DIALÉTICO, importante no desenvolvimento das ORGANIZAÇÕES:

1 – O CONFLITO entre a ORGANIZAÇÃO INFORMAL e a ORGANIZAÇÃO FORMAL.

2 – O CONFLITO na relação entre cliente e ORGANIZAÇÃO.

(*) PROCESSO DIALÉTICO: é um método de busca pelo conhecimento com base na arte do diálogo. É desenvolvido a partir de ideias e conceitos distintos e que tendem a convergir para um conhecimento seguro. A partir do diálogo, modos de pensamento diferentes são evocados e surgem as contradições.

1 – DILEMA entre coordenação e comunicação livre: as ORGANIZAÇÕES exigem uma coordenação eficiente, mas, ela é dificultada pela livre comunicação, a qual introduz novas soluções não-previstas. As exigências de coordenação e de comunicação são livres, portanto, neste e em outros casos, conflitantes entre si.

2 – DILEMA entre disciplina burocrática e especialização profissional: os princípios burocráticos estão ligados aos interesses da ORGANIZAÇÃO. Por sua vez, os princípios profissionais se referem às normas técnicas e códigos de ética da profissão. Assim, o especialista profissional (cuja autoridade se baseia no conhecimento da especialização) deve representar os interesses de sua profissão e o burocrata (cuja autoridade se baseia no contrato legal), deve representar os interesses da ORGANIZAÇÃO. Um dos motivos do DILEMA é que as ORGANIZAÇÕES modernas têm de contratar tanto profissionais especializados quanto burocratas.

3 – DILEMA entre a necessidade de um planejamento centralizado e a necessidade de iniciativa individual: quanto mais houver um o planejamento centralizado, menor será a iniciativa individual e vice-versa.

CRÍTICAS AO TRABALHO DE BLAU E SCOTT

A TIPOLOGIA DE BLAU E SCOTT recebeu apreciações favoráveis e desfavoráveis. Teve como mérito a ênfase sobre a força do poder e da influência dos BENEFICIÁRIOS sobre as ORGANIZAÇÕES a ponto de causar problemas na sua estrutura e no estabelecimento de OBJETIVOS. A classificação, tomando por base o princípio do CUI BONO permitiu um melhor agrupamento natural das organizações com objetivos similares. Outras opiniões afirmam que se trata de uma tipologia simples, unidimensional e bastante limitada. Da mesma forma que aconteceu com a TIPOLOGIA DE ETZIONI, a TIPOLOGIA DE BLAU e SCOTT não trouxe informações em relação às diferentes tecnologias, estruturas, sistemas psicossociais e administrativos existentes nas ORGANIZAÇÕES.

“No entanto, o fato de uma organização ter sido formalmente estabelecida não significa que todos as atividades e interações de seus membros estejam estritamente conforme os esquemas oficiais. Apesar do tempo- e do esforço devotados pela diretoria ao planejamento de um piano racional de organização e a elaboração de manuais de regras, esse piano oficial nunca pode determinar completamente a conduta e as relações sociais dos membros da organização”. BLAU, PETER M.; SCOTT, RICHARD W. ORGANIZAÇÕES FORMAIS (1979 – Pág. 18).

Sugestão de Leitura

BLAU, PETER M.; SCOTT, RICHARD W. ORGANIZAÇÕES FORMAIS (uma abordagem comparativa). Editora Atlas. Edição 1ª. São Paulo, 1979.

LACOMBE; FRANCISCO J. MASSET. Teoria Geral da Administração. Editora Saraiva. Edição 1ª. São Paulo, 2017.

HEILBORN, LUIZ JOSE; LACOMBE; FRANCISCO JOSE MASSET. Administração Princípios e Tendências. Editora Saraiva. Edição 1ª. São Paulo, 2006.

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