INTRODUÇÃO:
Para entender a evolução da ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS na realidade brasileira, é preciso atentar para os períodos históricos que influenciaram seu desenvolvimento.
No Brasil a industrialização não ocorreu atrelada à REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, como em outros países. Além disso, as medidas a favor do desenvolvimento da indústria, por parte do regente D. João no início do Século XIX, foram irrelevantes. Alguns historiadores apontam o início da industrialização brasileira ligada à produção cafeeira, na região de Campinas entre 1868 e 1875, com algumas empresas da área de metalomecânica.
Este desenvolvimento ocorreu na Região Sudeste acompanhando o ciclo do café (a partir de 1850), por sua importância na economia do Império e pela expansão das ferrovias.
Mc HARDY, LIDGERWOOD e ARENS:
Eram empresas fabricantes de máquinas de processamento e beneficiamento de café e arroz, máquinas de descaroçar e enfardar algodão e moinhos de farinha e açúcar.
Para a Companhia Paulista de Estradas de Ferro elas forneciam peças e diversos utensílios de ferro e bronze.
Posteriormente, alguns BARÕES DO CAFÉ tentaram ampliar seus negócios para este ramo de atividade.
Mas, a indústria não foi atraente: a cafeicultura garantia altos lucros, risco baixo sem exigir tecnologia ou mão de obra especializada.
OS IMIGRANTES:
Os primeiros imigrantes se estabeleceram na região serrana do Rio de Janeiro: os suíços vieram em 1820 e os alemães em 1824. A partir de 1870 até 1930, chegaram grandes levas de imigrantes, principalmente da ITÁLIA (42% do total).
O Governo Imperial tinha interesse no povoamento (São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul), na substituição do trabalho escravo nas lavouras de café e no branqueamento da população. Para tanto, concedeu incentivos pagando as passagens com a promessa de salários e moradia (que não era cumprida).
Nas fazendas dos SENHORES DO CAFÉ, a exploração e as condições não eram diferentes dos escravos. O regime de servidão, com baixos salários e jornadas exaustivas, levaram muitos dos primeiros imigrantes a abandonarem os cafezais. Em busca de melhores oportunidades, boa parte seguiu para os centros urbanos habitando em cortiços, principalmente em São Paulo, onde se dedicaram ao comércio e à indústria.
De 1880 a 1900, houve uma diversificação industrial crescente na capital paulista com pequenas fábricas que, além de máquinas, produziam: cervejas, sabões, óleo, cigarros, cachaça, arame farpado, velas, pregos, sal, polvilho, pólvora, giz, adubos, zarcão, pinceis, camas, carretéis de linha, correias de couro etc.
A INFLUÊNCIA ITALIANA:
As transformações foram notáveis: nos costumes, na fala, alimentação, artes, música, religião, arquitetura e com os operários e empreendedores que se dedicaram ao comércio e à indústria (FRANCESCO MATARAZZO, RODOLFO CRESPI, ALBERTO BONFIGLIOLI, GIUSEPPE MARTINELLI, FRANCISCO SCARPA, NICOLA PUGLISI CARBONE, EGÍDIO GAMBA são alguns nomes de destaque no setor industrial brasileiro).
Em 1901, 90% do operariado das fábricas de São Paulo eram estrangeiros, sendo a maioria italiana. Em relação à sua qualificação, há opiniões divergentes:
1 – Parte dos estudiosos afirma que os imigrantes italianos não tinham nenhum recurso econômico, nível educacional ou cultural, qualificação e habilidades técnicas importantes. Eram rudes, oriundos de regiões agrárias e pobres da ITÁLIA.
2 – Outra parte afirma que os italianos eram a preferência dos empregadores por serem especializados, com hábitos europeus, esforçados e com interesse pelo trabalho.
Como resultado, aprendiam tarefas com rapidez, desenvolviam novas técnicas, tiveram uma rápida mudança e progresso social. Com o tempo, muitos deles deixaram as fábricas para trabalhar como autônomos, artesãos, sapateiros, vendedores de frutas etc.
Dotados de ousadia, espírito empreendedor e empresarial, logo prosperaram e se tornaram grandes comerciantes, atacadistas e industriais.
Caixas de SOCORRO MÚTUO:
Numa época onde não havia nenhum tipo de direito trabalhista, auxílio ou sindicatos, os italianos criaram as “CAIXAS DE SOCORRO MÚTUO” no bairro da MOÓCA, contando também com muitos espanhóis e, posteriormente com russos, alemães, poloneses, húngaros e lituanos – 1910 a 1920. Estas entidades refletiam a marca da identidade italiana na tradição associativa, mantiveram a mentalidade dos movimentos operários: trazida de suas regiões de origem.
De 1880 a 1930 chegaram ao Brasil: portugueses (tradicionalmente), espanhóis, japoneses, judeus e, em número bem menor, os holandeses, poloneses e húngaros. Aos poucos os imigrantes, e seus descendentes, passaram a participar ativamente da vida econômica e política do Brasil.
Os sírios libaneses tiveram grande destaque, a princípio como mascates e, posteriormente, como comerciantes e industriais.
MOVIMENTOS SOCIALISTAS:
No começo do Século XX, a maior parte dos líderes dos trabalhadores era italiana. Eles trouxeram da Europa as ideias ligadas aos movimentos socialistas, anarquistas e sindicalistas. Estas ideias se difundiram nas fábricas e angariaram o apoio de outros operários, estrangeiros e brasileiros, na luta por melhores condições de trabalho e contra os baixos salários.
A elite da REPÚBLICA DO CAFÉ COM LEITE, de mente agrária e escravocrata, via esta situação como uma verdadeira afronta. O país, acostumado com pouquíssimas oportunidades de ascensão social, estava mudando para uma sociedade moderna, baseada no trabalho assalariado, no empreendedorismo e na coragem dos “CARCAMANOS” (termo pejorativo dado aos italianos e seus descendentes que começavam a ganhar maior espaço na sociedade).
A GREVE GERAL – 1917:
Foi a primeira greve geral da história do Brasil. Em julho de 1917 o Brasil passava por uma fase de instabilidade econômica provocada pela escassez de alimentos causada pela I GUERRA MUNDIAL, que interrompeu as exportações e encareceu as importações, elevando as taxas de inflação.
Os trabalhadores começaram o movimento reivindicando aumento de salário, melhores condições de trabalho, direitos básicos (férias, jornada de 8 horas e proibição do trabalho infantil generalizado). Como não havia legislação e mediação do Estado nas relações trabalhistas,as questões eram resolvidas pela força policial.
Em 9 de julho a greve começou no COTONIFÍCIO CRESPI, no bairro da MOÓCA, se espalhou por outras fábricas.
No dia 12 o movimento já tinha obtido a adesão de 70.000 operários, os empregadores deram um aumento imediato de 20% nos salários e se comprometeram a estudar as demais exigências.
A vitória dos trabalhadores estremeceu as elites, provou a legitimidade do movimento operário, obrigou as empresas a negociarem e a considerá-lo em suas decisões. Outro aspecto, muito importante, aponta que a REPÚBLICA DO CAFÉ COM LEITE estava com os seus limites institucionais ultrapassados e fora da nova realidade social.
O RELACIONAMENTO:
O início da industrialização no Brasil foi caracterizado por empresas com estruturas pequenas, o que possibilitava uma grande proximidade entre o “PATRÃO” e os trabalhadores. O contrato de emprego, a negociação e o pagamento eram feitos diretamente, sem formalidades e com diálogo era constante. As relações tinham participação ativa do trabalhador, mas, o PODER, o “MANDO” e a VANTAGEM sempre ficaram nas mãos dos empresários.
A ERA VARGAS:
Em outubro de 1930 GETÚLIO VARGAS (1882 – 1954) liderou a revolução que encerrou um ciclo, conhecido como REPÚBLICA VELHA (ou REPÚBLICA DO CAFÉ COM LEITE).
Era a política caracterizada pelo revezamento no poder entre as oligarquias cafeeira e pecuária/leiteira (de São Paulo e Minas Gerais), seriamente abalada pela Crise de 1929 que atingiu diretamente os cafeicultores. Ao mesmo tempo, a economia do Brasil começava a sair da sua tradicional base agroexportadora para ter um perfil urbano-industrial.
O período getulista teve grande influência no trabalhismo brasileiro. No período anterior a 1930, o trabalhador não era um cidadão com direitos, e sim um mero fator produtivo, manipulado de acordo com a conveniência das empresas.
Por seu talento político, VARGAS atuou habilmente para arrefecer ânimos e amenizar o clima de alvoroço presente na classe trabalhadora.
A criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (26/11/1930) foi uma de suas primeiras medidas: o Estado passa a marcar presença nas relações entre empregadores e empregados.
O Ministério promoveu modificações profundas no tratamento dispensado às questões sociais e ao sindicalismo (como VARGAS temia a organização e a mobilização dos trabalhadores, o sindicalismo ficou sob o controle do Estado).
A partir da década de 30, o governo criou a Carteira de Trabalho (1932), os direitos trabalhistas (Constituição de 1934), as juntas de conciliação entre patrões e empregados, a jornada diária de 8 horas de trabalho, regulamentou o trabalho feminino e infantil, repouso semanal, férias remuneradas, assistência médica sanitária, o salário mínimo (1940) e a CLT (1943).
A ADMINISTRAÇÃO:
Com a ausência da intervenção do governo, não existiam rotinas administrativas trabalhistas de pessoal e nem um tratamento jurídico. Em empresas menores, estes assuntos eram tratados diretamente com o “PATRÃO” e em empresas maiores, a tarefa era feita por um guarda-livros, ou por um contador, por meio de uma ficha de controle com datas de entrada e saída e pagamentos efetuados.
Nos anos 30, as medidas do governo e a legislação fizeram com que as empresas viessem a substituir o improviso e criar a SEÇÃO DE PESSOAL em sua estrutura (que no fim dos anos 50 seria denominado DEPARTAMENTO PESSOAL).
Esta adequação necessitou tarefas burocráticas e mecânicas, voltadas para a ADMINISTRAÇÃO dos problemas relativos à mão de obra: rotinas trabalhistas, manutenção e atualização de cadastros, anotações, recrutamento e seleção, registros, pagamentos, obrigações, direitos, salário mínimo (Lei Nº 185 – de 1936), documentos e deveres dos empregados de acordo com as exigências legais.
A SEÇÃO DE PESSOAL pode ser entendida como o início das atividades da ARH – ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS. Dependendo do porte da empresa, esta nova área estava a cargo de um funcionário administrativo com prática em rotinas trabalhistas ou de um CHEFE DE PESSOAL (ou ENCARREGADO DE PESSOAL – um contador, advogado ou outro funcionário disponível).
Sugestão de Leitura:
DA SILVA, MARILENE LUZIA. Administração de Departamento Pessoal. Editora Érica. Edição 15ª. São Paulo, 2018
BRONDI, BENJAMIN; BERMUDEZ, RAUL ZAMBRANA. Departamento Pessoal Modelo. Editora Thomson. São Paulo, 2004.
FRANÇA, ANA CRISTINA LIMONGI. Práticas De Recursos Humanos: Conceitos, Ferramentas e Procedimentos. Editora Atlas. São Paulo, 2007.
PONTES, JOSÉ ALFREDO VIDIGAL. A Politica do Café Com Leite Mito Ou História? Editora: Imprensa Oficial.
NETO, JOÃO DE LIRA CAVALCANTE. GETÚLIO 2 (1930-1945). Editora Companhia das Letras. Edição 1ª. São Paulo, 2013.
BOUDREAU, JOHN W; MILKOVICH E GEORGE T. Administração de Recursos Humanos. Editora Atlas. Edição 1ª. São Paulo, 2010.
CHIAVENATO, IDALBERTO. Administração de Recursos Humanos. Editorial Manole. Edição 7ª. São Paulo, 2009.