1 – A Evolução dos Recursos Humanos

INTRODUÇÃO:

Para compreender a exata dimensão da importância do material humano para uma empresa moderna, é preciso retroceder no tempo, voltar na História. Hoje, o que presenciamos nas relações entre CAPITAL e TRABALHO, é resultado de um longo, desgastante e conturbado processo de evolução.  Se esta relação não é totalmente amistosa, pelo menos há maior consenso e equilíbrio. Muitos economistas explicam que as causas destas transformações são decorrentes dos impactos da QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL:

“Estamos a bordo de uma revolução tecnológica que transformará fundamentalmente a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Em sua escala, alcance e complexidade, a transformação será diferente de qualquer coisa que o ser humano tenha experimentado antes.”

KLAUS SCHWAB – A Quarta Revolução Industrial – Editora EDIPRO – 2018

Esta transformação radical, a que o autor se refere, está sendo muito rápida e pode ser sentida em todas as áreas. A QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (4.0) trouxe mudanças, incertezas, globalização, evolução tecnológica,marcandoo início do Século XXI com desequilíbrios na economia e forte tendência para uma desigualdade de renda ainda mais profunda.

E o futuro do mercado de trabalho, ainda incerto, mostra reflexos claros que estas drásticas alterações exercerão na atuação dos RECURSOS HUMANOS. Apesar de muitas organizações manterem formas de relações de trabalho habituais, outras modalidades têm sido rapidamente criadas diante das novas situações. O mercado de trabalho se tornou bem mais seletivo, excludente, precarizado e com relações mais flexíveis:

Contratos por tempo determinado, por tarefa, à distância, por projetos, HOME OFFICE, por tarefas digitais, FREELANCER, AUTO EMPREGO,  terceirização, quarteirização, subcontratação etc.

A EVOLUÇÃO:

1 – REVOLUÇÃO INDUSTRIAL: foi a responsável por grandes transformações no processo produtivo e nas relações de trabalho. Ela pode ser analisada pelas consequências dos seus processos históricos transformadores, tomando por base os períodos de 1780 – 1860 (da produção manual à produção mecanizada nas fábricas) e de 1860 – 1914 (com inovações técnicas e científicas que permitiram o desenvolvimento de maquinário, transportes, o uso da eletricidade, petróleo, química, comunicações, aço e produção em massa).

Na Inglaterra do Século XVIII, os artesãos não conseguiram mais competir com a nova forma de produção, a MAQUINOFATURA. Com excedente de mão de obra nas áreas rurais, uma enorme onda de camponeses pobres, migrou para as cidades vendendo a sua força de trabalho nas fábricas em troca do salário determinado por seu patrão.

Classe dos Proprietários e Classe dos Proletários: os industriais tinham enormes vantagens, pois, detinham a posse dos meios de produção (capital, prédios, máquinas, ferramentas), controlavam a exploração dos recursos naturais (matérias primas) e obtinham grandes lucros na venda das mercadorias.

Para os operários, restava apenas a chance de tentar sobreviver sem nenhum direito trabalhista. Nas fábricas, as condições eram as piores possíveis, ambientes insalubres, sem ventilação e iluminação adequadas ou equipamentos de segurança. Os CAPATAZES garantiam a disciplina extenuante e rigorosa para elevar a produtividade em tarefas contínuas, repetitivas e mecânicas.

Os contratos eram simples, não havia nenhuma garantia em caso de acidentes de trabalho (com morte ou invalidez permanente) ou por doenças (movimentos repetitivos, intoxicação, doenças mentais e circulatórias por muitas horas de trabalho em pé ou sentado). 

A expectativa de vida dos trabalhadores era muito baixa. Como as fábricas não conseguiam absorver toda a mão de obra excedente, quanto maior a massa de desempregados, menor os salários oferecidos e maiores lucros para as empresas.

Para viver com salários irrisórios, todos da família eram obrigados a trabalhar. Da mesma maneira que os homens, mulheres e crianças também tinham uma jornada diária de trabalho, entre 16 e 18 horas com salários ainda menores.

Os operários não tinham folga, descanso, férias, amparo ou garantias.  Os que não suportassem o ritmo das tarefas eram sumariamente substituídos. Esta situação não ficou restrita a Inglaterra e logo se espalhou pela Europa e Estados Unidos.

2 – A REAÇÃO: pouco a pouco, os operários começaram a reagir, criando formas de defesa dos seus interesses por meio de movimentos e greves, diante das condições degradantes impostas pelos industriais.   

LUDISMO: de 1811 a 1816 houve um movimento de trabalhadores ingleses da área de fiação e tecelagem, contra os avanços técnicos que substituíam operários por máquinas, contra as longas jornadas de trabalho e as condições insalubres a que eram submetidos.

Conhecidos como “QUEBRADORES DE MÁQUINAS”, eram grupos radicais e violentos que invadiam as fábricas à noite com machados e martelos para destruir as máquinas. 

Posteriormente, concluíram que o problema não eram as máquinas e sim a forma como os industriais faziam uso delas. O movimento foi duramente reprimido, muitos manifestantes foram presos, deportados ou enforcados.

CARTISMO: com a redação da “CARTA DO POVO” a partir de 1838, os trabalhadores ingleses reivindicaram uma série de reformas junto ao Parlamento: redução das jornadas, melhoria das condições de trabalho, direitos políticos e direito ao voto secreto (sufrágio universal masculino). 

TRADE-UNIONS: em 1824 o Parlamento inglês aprovou a primeira lei que permitiu a organização sindical, dando aos operários o direito de associação (um direito até então exclusivo das classes dominantes). Mas, mesmo assim, ocorreram greves por toda a Inglaterra, principalmente na indústria têxtil e siderúrgica.

A partir da conquista do direito de livre associação para os trabalhadores de todos os ramos de atividade, surgiram os primeiros SINDICATOS (ou TRADE-UNIONS para os ingleses) que, ao longo do Século XIX se tornaram poderosos na resistência contra a exploração capitalista.

Para a burguesia, os TRADE-UNIONS eram um grande perigo pelo seu caráter cooperativista, com força política e representatividade.

Os (*) SINDICATOS e os trabalhadores eram ameaçados com violência, reprimidos e, apesar dos obstáculos, organizaram greves e protestos. Conquistaram melhores condições de trabalho, melhorias salariais, redução na jornada de trabalho e direito à greve.

(*) A palavra SINDICATO tem origem no latim e no grego. No grego, “SYN-DICOS” é aquele que defende a JUSTIÇA. No latim “SINDICUS” denominava o PROCURADOR, escolhido para defender os direitos de uma CORPORAÇÃO.

Dia Internacional do Trabalho: nos EUA a industrialização se expandia em ritmo acelerado no final do Século XIX e início do Século XX. As grandes corporações começavam a se formar como resultado de suas vendas e com a falência, fusão, aquisição ou incorporação de pequenas e médias empresas.

Mas, mesmo com este ritmo acelerado de crescimento, as condições de trabalho permaneciam severas, precárias e inseguras com jornadas de 10 a 16 horas diárias. Em muitas fábricas as mortes e lesões eram frequentes.

“EIGHT-HOUR DAY WITH NO CUT IN PAY”: por volta de 1850, surgiram nos EUA as LIGAS DAS OITO HORAS e, no início da década de 1860, os trabalhadores aumentavam a pressão para reduzir o horário de trabalho, sem corte nos salários.

Neste período, o SOCIALISMO, por sua ideologia inovadora, ganhava força e atraía muitos trabalhadores em países industrializados.  O controle do operariado sobre a produção, distribuição e lucro de todos os bens e serviços era tentador, em contraposição, a um trabalho que tinha como significado, apenas a prosperidade das empresas que trocavam vidas por lucros.

Assim, a segunda metade do Século XIX criava inovações técnicas e científicas ao mesmo tempo em que convivia com a efervescência de milhares de operários que abraçaram ideais do ANARQUISMO: os trabalhadores desejavam eliminar todas as estruturas hierárquicas, o governo e exercer o controle total sobre a indústria e a produção com ação direta sobre a política e a burocracia. 

Neste ambiente, a Federação dos Grêmios e Uniões Organizadas dos EUA e Canadá planejaram e convocaram uma greve exigindo a redução da jornada de trabalho. A data escolhida, 1º de Maio de 1886, coincidia com a maioria das renovações dos contratos coletivos de trabalho.

A greve geral nos EUA superou expectativas, principalmente em CHICAGO (área de grande crescimento industrial) onde a adesão foi quase total. A classe patronal reagiu de forma violenta com milícias armadas, a imprensa (aliada da burguesia) incendiou o conflito e o governo decretou estado de sítio, toque de recolher e acionou o Exército para a repressão. Na manifestação de 4 de Maio o conflito causou a morte de um policial e 38 operários.

Num julgamento, com o objetivo de condenar o movimento grevista e as lideranças anarquistas 5 líderes foram condenados à forca. Este tribunal foi considerado uma das maiores farsas da história judicial americana. Mas, os desdobramentos deste episódio levaram o Congresso dos EUA, em 1º de Maio de 1890, a regulamentar a jornada de oito horas diárias de trabalho.

Apesar da conquista da jornada de 8 horas, a virada do Século XX não mudou muito a situação dos trabalhadores americanos. Por volta de 1880, a partir dos estudos iniciados por FREDERICK TAYLOR (1856 – 1915), a forma de lidar com os trabalhadores começaria a se transformar a partir de seus métodos descritos em suas obras ADMINISTRAÇÃO DE OFICINAS (SHOP MANAGEMENT – 1903) e PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA (THE PRINCIPLES OF SCIENTIFIC MANAGEMENT – 1911).

Sugestão de Leitura:

IANNONE, ROBERTO ANTONIO. A Revolução Industrial. Editora Moderna. Edição 6ª. São Paulo, 1993.

CANEDO, LETÍCIA. A Revolução Industrial. Editora Atual Paradidático. Edição 23ª. São Paulo, 1994.

TEIXEIRA, FRANCISCO M. P. Revolução Industrial. Editora Ática. Edição 12 ª. São Paulo, 2019.

HOBSBAWM, ERIC J. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. Editora Forense Universitária.  Edição 6ª. São Paulo, 2011.

ASHTON, T. S. A Revolução Industrial. Editora Europa América. São Paulo, 1971.

MANTOUX, PAUL. A Revolução Industrial no Século XVIII. Estudo Sobre os Primórdios… Editora HUCITEC. São Paulo, 1985.

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