Fordismo – A Mão de Obra

INTRODUÇÃO:

O FORDISMO é visto como uma aplicação do TAYLORISMO, o modelo de organização da produção industrial que transformou o trabalho nas fábricas no começo do Século XX. As inovações de HENRY FORD foram revolucionárias (de ordem técnica e organizacional). Elas permitiram a produção em massa e o consumo em massa a partir de 1914.

A LINHA DE PRODUÇÃO, com altos investimentos em máquinas, instalações com esteiras rolantes e ferramentas especializadas, foi criada para levar as partes e as peças dos automóveis até aos operários. A FORD reduziu o preço dos seus automóveis, tornando-os acessíveis para uma parcela maior de consumidores. Em pouco tempo, este modelo de produção foi se popularizando, sem ficar restrito somente à indústria automobilística. A LINHA DE PRODUÇÃO se espalhou para outros tipos de fábricas e para além dos EUA.

A MÃO DE OBRA NA FORD

O TAYLORISMO e o FORDISMO formaram um novo tipo de trabalhador. Modelado de acordo com a disciplina criada para intensificar a produção, o trabalho se tornou uma ação contínua, em cadeia, com divisão de funções e pouca qualificação.

ESPECIALIZAÇÃO FUNCIONAL   Identicamente à ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA de FREDERICK TAYLOR, o sistema da FORD determinava a especialização.

No processo produtivo, cada trabalhador executava apenas uma tarefa, específica, sem precisar de um conhecimento profundo sobre outras etapas da montagem para realizar sua parte no trabalho. Ao executar apenas tarefas repetitivas, o operário perdeu suas qualificações, talento e perícia que foram incorporados às máquinas. Não havia mais necessidade de mão-de-obra altamente qualificada: o trabalho se resumia em saber montar o que estava estabelecido.

CRÍTICAS

O sistema foi considerado desumano – as tarefas repetitivas, numa dura jornada de trabalho, transformaram os operários em pessoas sem inteligência, criatividade e autonomia. Eles não comandavam os componentes da produção, não tinham capacidade de pensar, nem de preparar os equipamentos, não conseguiam avaliar a qualidade do fabricavam e não sabiam o que seus companheiros faziam. HENRY FORD teve como argumento o fato de que a empresa estava aberta a qualquer um e, portanto, havia emprego para todos.

JORNADA DE TRABALHO  

Tendo ou não qualificação, com oportunidade de emprego mais acessível, os operários não gostavam das tarefas e tinham muito pouca motivação por um salário de US$ 2.34/dia por nove horas diárias de trabalho.

O sistema de trabalho desgastante exigia dos operários maior esforço e atenção pela intensificação do regime de trabalho acima do normal.

O absenteísmo era grande e a rotatividade chegava quase aos 400% ao ano, um índice de TURN OVER muito alto. Em muitos departamentos, era preciso contratar 300 homens para preencher 100 vagas.

FIVE DOLLAR DAY: para resolver o problema, em janeiro de 1914 a FORD anunciou o novo salário: de US$ 2,34 para US$ 5,00 (mais do que o dobro) para trabalhadores do sexo masculino. Ficou estabelecida a jornada por oito horas diárias de trabalho, semana de cinco dias e mais uma porcentagem sobre os lucros. Na época, na maioria das empresas americanas a jornada era entre 10 e 12 horas/dia e os salários entre US$ 1.90/dia e US$ 2.30/dia.

WAGE MOTIVE: o SALÁRIO DE MOTIVAÇÃO obteve dos trabalhadores maior esforço e empenho para manter seu emprego numa empresa com níveis de ganho acima do mercado. Mas, também teve mais um objetivo: os altos salários ganharam a lealdade e diminuíram os efeitos do ativismo sindical.

PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS: grande parte dos trabalhadores teve participação nos lucros após uma seleção prévia e a aprovação “Departamento Social” da FORD, mediante as seguintes condições:

Estar trabalhado por seis meses ou mais na empresa.  

Análise sobre a forma como os trabalhadores conduziam a sua vida pessoal (jogos de azar consumo de álcool).

Para a verificação e aprovação, o DEPARTAMENTO contava com 50 funcionários e pessoal de apoio para manter o padrão. Posteriormente, este procedimento foi alvo de muita controvérsia e teve que ser amenizado por ser invasivo sobre a vida dos empregados. Os investidores consideraram uma loucura e insensatez e muitos empresários fizeram diversas previsões sobre a falência de HENRY FORD. Contrariando as piores expectativas, a empresa teve resultados notáveis:

1 – A rotatividade e o absenteísmo diminuíram.O aumento dos salários era a recompensa aos trabalhadores mais produtivos.

2 – Os melhores e mais experientes trabalhadores de DETROIT foram para a FORD elevando a produtividade e diminuindo custos de treinamento. 

3 – Os concorrentes também tiveram que aumentar os salários para não perder os seus melhores trabalhadores.

4 – O padrão de vida da classe operária teve uma melhora significativa na condição social e econômica. 

5 – FORD achava que seus operários poderiam ser consumidores comprando os carros que eles mesmos produziam, passando de empregados a clientes (provou que o aumento no salário foi uma das maiores economias que ele já havia feito: boa parte dos US$ 5.00 retornou à empresa).  Foi uma visão bem avançada, mesmo para os dias de hoje.

6 – O resultado da empresa passou de US$ 30 milhões para US$ 60 milhões entre 1914 e 1916.

7 – O aumento do poder de compra criou maior movimento e beneficiou a economia local.

A DIVISÃO DO TRABALHO

Corresponde à especialização de tarefas específicas com eficiência e rapidez na produção industrial. Este método, mecânico e repetitivo, dá maior agilidade aos movimentos, diminui o tempo gasto, mas, cria trabalhadores limitados que só conhecem uma etapa da produção.

Engenheiro Industrial: conhecia a produção, planejava o controle da montagem, verificava os componentes, preparava e reparava equipamentos e verificava a qualidade. Ao mesmo tempo desenvolvia tarefas administrativas da área de produção.

Engenheiro de Produção: planejava todo o processo de fabricação.

Faxineiros: limpavam as áreas de trabalho periodicamente.

Técnicos: circulavam no interior da linha de montagem e realizavam a tarefa de reparar e calibrar as ferramentas a serem utilizadas.

Especialistas: controlavam a qualidade das matérias-primas e do produto final.

Supervisores: procuravam problemas na LINHA DE MONTAGEM para que a administração superior pudesse corrigi-los.

Reparadores: possuíam as habilidades dos antigos artesãos. Estavam no final da montagem verificando os eventuais erros de fabricação.

O CICLO DA PROSPERIDADE

Além da indústria automobilística, o FORDISMO teve influência, direta ou indiretamente, em muitos outros setores, mudou a economia americana e o modo de vida da época. Criou-se um CICLO DA PROSPERIDADE: nos EUA a rede de rodovias teve um expressivo crescimento que possibilitou maior facilidade de locomoção da população e o surgimento de novos polos comerciais. Em pouco tempo, empresas de vários ramos de atividade como os setores têxtil, siderúrgico, energético etc. também adotaram o sistema da LINHA DE MONTAGEM.

CAPITALISMO DO BEM-ESTAR SOCIAL

HENRY FORD foi um dos pioneiros do “CAPITALISMO DO BEM-ESTAR SOCIAL”, concebido para melhorar a situação dos seus trabalhadores e foi também um dos primeiros empresários americanos a empregar negros, mulheres e homens deficientes.

OS SINDICATOS  

Apesar de revolucionário e progressista em diversos aspectos, HENRY FORD era antissindicalista, simpatizante do nazismo, muito conservador no sentido administrativo e nunca confiou em CONTADORES: sua palavra era lei. Como gestor, ele próprio conduzia as operações enquanto, naquele tempo, a maioria das fábricas trabalhava descentralizada, com um grande número de operários e sem organização.

Mesmo com o esforço diferenciado para melhorar as condições de vida de seus trabalhadores, HENRY FORD tinha grandes desavenças com os sindicatos. Na sua visão…

…os sindicatos sofriam a ingerência de determinados líderes que, mais prejudicavam do que ajudavam os trabalhadores.

…os líderes sindicais incentivavam crises permanentes como a melhor maneira de influenciar e manter seu poder sobre os trabalhadores. .

…os líderes sindicais diminuíam os índices de produtividade para criar mais vagas de emprego. Na opinião de HENRY FORD a produtividade era a alternativa para que a prosperidade econômica existisse. Ou seja, via no consumismo a chave para a paz.

Para impedir a atividade sindical, foi criado um sistema de intimidação sobre os sindicalistas que tentavam agremiar os funcionários da FORD. Como resultado, ocorreram lutas entre os seguranças e sindicalistas.

“O dinheiro é a coisa mais inútil do mundo; não estou interessado nele, mas sim no que posso fazer pelo mundo com ele.” HENRY FORD.

Para HENRY FORD o desemprego não tinha qualquer significação econômica, mesmo que fosse de caráter passageiro e resultado de um período  em que mudanças organizacionais e técnicas são consolidadas, uma mera mudança, ao final da qual, o excesso de trabalhadores e de capital serão inteiramente absorvidos em outros ramos da atividade econômica.

HENRY FORD, HITLER E O ANTI SEMITISMO

Apesar de toda a sua genialidade e sucesso, HENRY FORD teve um lado muito pouco conhecido. Em 1920 chegou às suas mãos um texto falso chamado “OS PROTOCOLOS DOS SÁBIOS DO SIÃO” revelando um movimento judaico, de caráter internacional, com o objetivo de dominação sobre governos, imprensa e economia. HENRY FORD deu crédito a esta informação e criou um forte sentimento contra os judeus.

Aproveitando o seu poder e grande influência, FORD comprou o jornal “DEARBORN INDEPENDENT” e publicou “OS PROTOCOLOS” e a série “O JUDEU INTERNACIONAL”.

Foi a forma de divulgar sua ideologia de ódio aos judeus e organizar o antissemitismo político nos Estados Unidos (vendeu 500.000 exemplares e foi traduzido para 16 idiomas).

Em 1921 o “O JUDEU INTERNACIONAL” teve a sua tradução publicada na Alemanha onde teve seis edições até 1923 e milhares de exemplares distribuídos pelo país e com grande penetração entre os primeiros adeptos do Partido Nazista. 

A FORD MOTOR COMPANY AKTIENGESELLSCHAFT foi criada em Berlim em 1925 montando o MODELO T com os kits com componentes e peças importadas. A fábrica foi transferida para Colônia, com HENRY FORD lançando a pedra fundamental das instalações em outubro de 1930 e com a produção tendo início em maio do ano seguinte.

ADOLF HITLER e HENRY FORD tinham uma grande admiração mútua. FORD foi o maior divulgador do nazismo fora da Alemanha e condecorado com a MEDALHA DA ÁGUIA ALEMÃ em 1938, uma distinção reservada apenas aos estrangeiros que prestaram serviços relevantes ao III REICH. 

Antes do início da II GUERRA MUNDIAL a FORD já vinha fornecendo veículos para o exército alemão e durante todo o conflito a empresa participou do esforço nazista fabricando inúmeras unidades do caminhão MAULTIER (junto com a GM-OPEL e Daimler-Benz).

Nos EUA, a fábrica da FORD em WILLOW RUN fabricou a partir de 1942 o bombardeiro B-24 sob licença da CONSOLIDATED. Aproveitando a sua larga experiência em linha de montagem, a FORD fabricou 70% das 19200 unidades do avião.

A FORD também fabricou milhares de unidades do JEEP GPW para o exército americano.

Portanto, saiu lucrando com os dois lados da guerra. Além do mais, a FORD recebeu US$ 1 milhão do governo americano como reparação pelos danos causados pelos ataques aéreos à sua fábrica em Colônia e um valor considerável do governo francês pela destruição da fábrica em POISSY.

A FORD é acusada de ter usado mão de obra escrava oferecida pelos nazistas durante a II GUERRA entre 1933 a 1945. Eram judeus, prisioneiros de guerra capturados de exércitos inimigos ou indivíduos trazidos à força dos países ocupados pelo exército alemão.

Sugestão de Leitura

BOTELHO, ADRIANO. Do Fordismo à Produção Flexível. O Espaço da Indústria. Editora Annablume. Edição 1ª. São Paulo, 2009.

FORD, HENRY. Os Princípios da Prosperidade. Editora Freitas Bastos. Edição 4ª. Rio de Janeiro, 2012.

BANHAM, RUSS. Um Século de Ford – A Ford Motor Company e as Inovações que Mudaram o Mundo. Editora Tehabi Books,  2002.

WOMACK, JAMES P; JONES, DANIEL T.; ROOS, DANIEL. A Máquina que mudou o Mundo. Editora Campus Elsevier. Edição 17ª. Rio de Janeiro, 1992.

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