INTRODUÇÃO:
A ERGONOMIA (ou ENGENHARIA DOS FATORES HUMANOS) tem origem na junção das palavras gregas ERGOS (trabalho) e NOMOS (normas) para apontar a ciência que estuda as condições de trabalho. Desde o início da Civilização a simplificação, preparação e a forma de trabalho dos homens, livres ou escravos, sempre foram alvo de preocupações.
DEFINIÇÕES:
“A ERGONOMIA (ou Fatores Humanos) é uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem-estar humano e o desempenho global do sistema”.
IEA (International Ergonomics Association).
ABERGO (Associação Brasileira de Ergonomia).
OBJETIVOS DA ERGONOMIA:
A – Adequar as exigências do trabalho à eficiência das pessoas e reduzir o stress.
B – Projetar máquinas, equipamentos e instalações para que possam ser manejadas com grande eficiência, precisão e segurança.
C – Calcular as proporções e condições do local de trabalho assegurando postura corporal adequada.
D – Adaptar a iluminação, ruído e temperatura para que se ajustem aos requisitos físicos das pessoas.
A EVOLUÇÃO DA ERGONOMIA:
PRÉ-HISTÓRIA E ANTIGUIDADE: os ajustes nos meios de trabalho, criados pelo homem pré-histórico diante de condições adversas e na luta pela sobrevivência, desenvolveram um elevado número de ações que contribuíram para a construção do conceito de ERGONOMIA
As lesões e incapacidades causadas por esforços repetitivos ou por condições desfavoráveis no trabalho já eram problemas conhecidos desde a Antiguidade. Mas, com o uso da mão de obra escrava e de prisioneiros de guerra, os problemas de incapacidade no trabalho eram facilmente resolvidos com simples substituição de um indivíduo por outro.
LEONARDO DA VINCI (1452-1519):
O interesse pela ERGONOMIA se iniciou na Europa, com o Renascimento, e o maior destaque foi LEONARDO DA VINCI.
Ele foi considerado um dos maiores gênios da história e um pintor genial, além de ter atuado em áreas muito diferentes como física, geometria, aerodinâmica, matemática, botânica, arquitetura, pintura, desenho bem como no campo da anatomia.
Toda a sua obra, de caráter universalista, mostra um espírito versátil e sem limites. Porém, sua grande preocupação foi com a observação do homem e da natureza, tal como ela é, e com os aspectos da anatomia.
Para DA VINCI o saber vinha de experiências, das observações e das invenções. Aplicou rigidamente uma metodologia em seus projetos, na sua arte e nos seus estudos. Os estudos anatômicos e fisiológicos foram suas principais contribuições à ERGONOMIA.
DA VINCI participou em autópsias e produziu 600 folhas com muitos desenhos detalhados com anatomia comparativa. Pela dissecação de corpos, para analisar e compreender as forças e estruturas internas da anatomia, que possibilitavam determinadas aparências externas da figura humana, o Papa Leão X o acusou de sacrilégio.
BERNARDINO RAMAZZINI (1633-1714):
Foi um médico italiano e o primeiro a escrever em detalhes as doenças e lesões relacionadas ao trabalho.
No seu livro publicado em 1700, “Doença Ocupacional” (“De Morbis Artificum”), RAMAZZINI visitava os locais de trabalho de seus pacientes e verificava as condições a que eles estavam submetidos para identificar as causas dos problemas de saúde que eles sofriam.
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL:
No Século XVIII e XIX, com a abundância de mão-de-obra e o desenvolvimento das fábricas, o capitalismo reduziu os trabalhadores a um papel ínfimo.
Eles apenas participavam como força de trabalho aplicada à produção com baixos salários, nas piores condições possíveis em jornadas de trabalho de 18 horas e sem nenhum direito.
Da mesma forma que os escravos na Antiguidade e no Período Colonial, a mão de obra era facilmente substituída em caso de incapacidade. A ERGONOMIA começa a se evidenciar, timidamente, durante a fase inicial da REVOLUÇÃO INDUSTRIAL por causa dos problemas enfrentados pelos trabalhadores ingleses (condições de trabalho, doenças e acidentes).
WOJCIECH JASTRZEBOWSKI (1799-1882):
A ERGONOMIA começa a tomar a forma atual com JASTRZEBOWSKI, um biólogo polonês, que usou a palavra pela primeira vez.
O seu artigo, de 1857, abordou a ciência do trabalho, leis e princípios afirmando que, se as forças e as faculdades concedidas ao homem fossem usadas corretamente, poderiam tornar o trabalho mais útil.
ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA:
No começo do Século XX, em 1910, FREDERICK TAYLOR fez uma abordagem sobre ERGONOMIA buscando a melhor maneira de se executar TAREFAS. O foco não era o bem-estar do trabalhador e sim aumentar os resultados da produção.
Seus seguidores, FRANK BUNKER GILBRETH e LILIAN MOLLER GILBRETH, ampliaram o trabalho de TAYLOR com “Estudos de Tempos e Movimentos” utilizando registros cinematográficos em LIGHT GRAFITTI para melhorar a eficiência eliminar passos e ações desnecessárias.
I GUERRA MUNDIAL:
Em 1917 o MRC (MEDICAL RESEARCH COUNCIL) procurou investigar as fábricas de munições e as condições do trabalho industrial.
A pesquisa permitiu mais um avanço no campo da ERGONOMIA, mas, o interesse era apenas para elevar a eficiência e a produtividade dos trabalhadores. Outros estudos procuraram analisar e resolver problemas de postura e danos físicos relacionados ao manuseio dos armamentos nas fábricas e durantes os combates.
ALPHONSE CHAPANIS (1917-2002):
Foi professor da Universidade John Hopkins, no Departamento de Psicologia e Ciências do Cérebro, sendo considerado por muitos, o pai e fundador da ERGONOMIA.
Foram inúmeras suas contribuições em 50 anos de carreira no campo da ERGONOMIA, principalmente, em relação à segurança dos COCKPITS de aeronaves, etiquetas de segurança, daltonismo, visão noturna, fala digitalizada e interação homem-computador.
Em 1943, durante a II GUERRA MUNDIAL, verificou que aviões em excelentes condições de operação e nas mãos dos melhores pilotos, sofriam acidentes. CHAPANIS comprovou que os acidentes eram causados pelos projetos das cabines, por controles muito similares, confusos e próximos uns aos outros.
HYWEL MURRELL (1908-1984):
Foi um psicólogo britânico e que também tinha formação em química. Durante a II GUERRA MUNDIAL, atuando pelo Exército Britânico, começou a estudar ERGONOMIA ao analisar as condições das atividades humanas.
Após a guerra, mudou para a Marinha Real dedicando-se a estudar movimentos relacionados ao manuseio de armamentos e munições e layout de equipamentos.
Em 1949, MURRELL definiu ERGONOMIA como “o estudo da relação entre o homem e o seu ambiente de trabalho” e reuniu um grupo de pessoas em Londres com opiniões e análises semelhantes sobre o tema. Posteriormente, a partir deste grupo criou a HUMAN RESEARCH SOCIETY que se transformou na ERGONOMIC RESEARCH SOCIETY (Sociedade de Pesquisa em Ergonomia) em 1950.
Foi a primeira sociedade no mundo a se ocupar com o assunto ao reunir fisiologistas, psicólogos e engenheiros com o interesse voltado para a adaptação do trabalho ao homem. Também no início dos anos 50, MURRELL formou um DEPARTAMENTO DE ERGONOMIA numa indústria da Inglaterra e no fim da década o assunto começou a se difundir nos EUA e por outros países industrializados. Além da Inglaterra, no mesmo período, a ERGONOMIA se desenvolveu na França, no ensino público e em setores dedicados à pesquisa pelo CNAM (Conservatório Nacional de Artes e Ofícios).
Sugestão de Leitura
SILVA, JOSÉ CARLOS PLÁCIDO DA; PASCHOARELLI, LUÍS CARLOS. A evolução histórica da ERGONOMIA no mundo e seus pioneiros. Editora UNESP. São Paulo, 2010.
MORAES, A.; SOARES, M.M. ERGONOMIA no Brasil e no mundo: um quadro, uma fotografia. Universita/ABERGO. Rio de Janeiro, 1989.
CHAPANIS, A. A engenharia e o relacionamento ser humano-máquina. Editora Atlas. São Paulo, 1972.
KROEMER, KARL H. E.; GRANDJEAN, ETIENNE. Manual de ERGONOMIA: Adaptando o Trabalho ao Homem. Editora Bookman. Edição 5ª. Porto Alegre, 2004.
D’ALVA, MAURO. ERGONOMIA INDUSTRIAL: Trabalho e Transferência de Tecnologia. Editora APPRIS. Edição 1ª. Curitiba, 2015.