Cultura Empreendedora

INTRODUÇÃO:

Ao contrário do que o senso comum imagina o EMPREENDEDORISMO não é uma questão genética. Ele acontece e é formado por situações e por um conjunto de determinadas características, que qualquer pessoa pode desenvolver por meio treinamento e orientações.

Ou ainda, como boa parte dos estudiosos concorda, há uma significativa interferência na formação do EMPREENDEDOR vinda do meio familiar, social, cultural e regional. Do mesmo modo, outra questão se refere ao fato de que o EMPREENDEDORISMO é constituído por dois aspectos muito importantes que caminham juntos: o ESPÍRITO EMPREENDEDOR e a CULTURA EMPREENDEDORA.

A CULTURA EMPREENDEDORA

A atividade empreendedora em países desenvolvidos e em fase de desenvolvimento vem ganhando peso crescente na economia. Para que ocorram INOVAÇÕES e TRANSFORMAÇÕES, bases da atividade empreendedora é preciso existir uma CULTURA atuando num ambiente favorável para ser a formadora de futuros empresários. Caso contrário, o EMPREENDEDORISMO se torna praticamente inviável.

Apesar de a CULTURA EMPREENDEDORA ser parte considerável da essência do EMPREENDEDORISMO, as pesquisas e publicações disponíveis a respeito ainda são limitadas e heterogêneas. Na Administração cresce o espaço dedicado ao EMPREENDEDORISMO com estudos, literatura e eventos. Mas, um elemento importante, a CULTURA EMPREENDEDORA,ainda fica quase que totalmente fora do foco.

Muitos conteúdos abordam a CULTURA ORGANIZACIONAL, mas, são poucas as análises sobre suas ligações com o EMPREENDEDORISMO. A CULTURA EMPREENDEDORA e a personalidade e os comportamentos dos EMPREENDEDORES terão enorme influência na formação da CULTURA ORGANIZACIONAL das START UPS eno seu desempenho. 

Pela quantidade de definições e opiniões que estão disponíveis sobre o que vem a ser um EMPREENDEDOR e EMPREENDEDORISMO,podemos selecionar algumas ideias bem interessantes: Segundo MARIANO, MAYER, 2001, p.76, os EMPREENDEDORES “São pessoas ousadas que estimulam o progresso econômico mediante novas e melhores formas de agir”.  Segundo o PROF. FERNANDO DOLABELA, o EMPREENDEDORISMO “é um fenômeno cultural, expressão de hábitos, práticas e valores das pessoas”.

Outras opiniões elaboradas com outra visão, afirmam que o EMPREENDEDOR é um indivíduo ousado e de iniciativa que desenvolve um EMPREENDIMENTO partindo de um comportamento inovador, criativo, que transforma contextos, estimula a colaboração, constrói relacionamentos pessoais, gera resultados através do seu entusiasmo, dedicação, autoconfiança, otimismo e necessidade de realização. É uma pessoa que assume RISCOS, sem medo de errar, em busca de oportunidades e de realização pessoal (mesmo em condições desfavoráveis). 

A prática de qualquer uma das ideias anteriormente mencionadas não será suficiente para a ocorrência de INOVAÇÕES e TRANSFORMAÇÕES se não for a partir de um fundamento e de condições que sirvam de estímulo.  Ou seja, antes de tudo, a melhor condição da existência de EMPREENDEDORISMO é a construção de uma CULTURA EMPREENDEDORA. É assim que se prepara no indivíduo uma mentalidade distinta que torne suas atitudes diferentes dos demais:

Portanto, a preocupação da CULTURA EMPREENDEDORA não está voltada aos produtos, serviços, mercado, público alvo etc. Antes, o objeto está centrado no indivíduo EMPREENDEDOR que vai criar o negócio, a forma de trabalho, o modelo de gerenciamento e a maneira de concorrer no mercado. A preocupação da CULTURA EMPREENDEDORA está no aprendizado de outros níveis de visão, de pensamento e no modo de entender as coisas.

A CULTURA EMPREENDEDORA tem por sua maior virtude agir no EMPREENDEDORISMO demonstrando que cada indivíduo pode modificar a maneira de pensar, de enxergar e de fazer. Então, é possível que a pessoa possa se tornar cada vez mais EMPREENDEDOR e que cada vez menos pessoa cotidiana, moldada num ambiente seguro e evidente.

A CULTURA EMPREENDEDORA PODE SER DESENVOLVIDA

EMPREENDEDORISMO exige das pessoas que optaram por seguir este caminho uma série de COMPETÊNCIAS, HABILIDADES e ATITUDES. Elas precisam ter CULTURA EMPREENDEDORA onde estão as raízes do EMPREENDEDORISMO.

Ela “CONSTRÓI”, prepara e ensina pessoas a se transformarem em proativas, seres pensantes dotados de senso crítico e capacitados para atuar por conta própria. E o senso comum acredita que a tarefa está restrita apenas às instituições de ensino, faculdades e órgãos de apoio ao EMPREENDEDORISMO

Não é bem assim! O caminho é mais longo. De fato, os especialistas afirmam que, a despeito de que a CULTURA EMPREENDEDORA possa ser adquirida ou produzida e que é possível aprender EMPREENDEDORISMO, existem elementos muito importantes que vão modelar (em maior ou menor grau) o perfil de um EMPREENDEDOR: MEIO FAMILIAR, MEIO SOCIAL, FORMAÇÃO e REGIÃO GEOGRÁFICA.

1 – MEIO FAMILIAR: um indivíduo começa a criar sua CULTURA EMPREENDEDORA em casa, através da convivência num ambiente familiar empreendedor.

“o EMPREENDEDOR é um ser social, produto do meio em que vive (época e lugar). Se uma pessoa vive em um ambiente em que ser EMPREENDEDOR é visto como algo positivo, então terá motivação para criar seu próprio negócio.” O segredo de Luísa. DOLABELA, 1999, p.28.

Existe uma GRANDE TENDÊNCIA na formação de novos EMPREENDEDORES quando as pessoas bem próximas são empresários, profissionais que exercem atividades autônomas ou que tem negócio próprio. O “CLIMA”, o ambiente, a mentalidade e os assuntos são bem diferentes em comparação com famílias onde os membros trabalham no emprego formal, fixo ou como empregados assalariados. Em geral, estas pessoas não foram influenciadas positivamente pelo seu contexto familiar com hábitos, práticas e valores do EMPREENDEDORISMO.

O resultado dos estudos do professor SHAKER A. ZAHRA, da Faculdade de Administração de Empresas da GEORGIA STATE UNIVERSITY (2004) afirma que a influência da CULTURA EMPREENDEDORA é maior em empresas familiares do que em empresas comuns.    

Porém, esta GRANDE TENDÊNCIA no ambiente familiar empreendedor não é 100% total. De fato, é comum encontrar pais que procuram moldar, doutrinar e preparar a geração seguinte para HERDAR e dar continuidade aos negócios da família. E em outros casos o processo sucessório não é bem sucedido. Os filhos, contrariando as expectativas criadas, não possuem nenhum talento, vontade (ou responsabilidade) para os negócios. E escolhem caminhos diferentes.

Da mesma forma, mesmo sem intenção, um ambiente familiar sem mentalidade empreendedora pode estimular os filhos em atividades lúdicas e condições propícias. Assim há possibilidades no desenvolvimento do poder de observação (visão), criatividade, inovação, senso crítico, mentalidade questionadora e demais características que formam o modelo mental e atitudes empreendedoras.

2 – MEIO SOCIAL: tem forte influência sobre um indivíduo.Saindo fora do contexto familiar ele participa de outros grupos sociais que podem causar impactos positivos ou não: escola, igreja, clubes, associações etc. Estes ambientes têm potencial de impulsionar ou arrefecer a formação da CULTURA EMPREENDEDORA.

3 – FORMAÇÃO: no Brasil o ensino básico e a formação acadêmica sempre tiveram como propósito produzir profissionais preparados para o mercado de trabalho com a mentalidade das grandes empresas estruturadas e com maneiras de trabalho bem definidas. Apenas no fim dos anos 90 o EMPREENDEDORISMO foi entendido como um novo componente a ser considerado. E as razões desta mudança estão relacionadas com:

● As grandes ondas de desemprego causadas pelas crises econômicas das décadas anteriores, com a fragilidade do mercado de trabalho e com o vertiginoso crescimento do uso da informática.    

● A maioria das empresas se modificou deixando de crescer em tamanho.

● As oportunidades de encarreiramento se tornaram muito mais restritas. O objetivo de um emprego fixo, para sempre, com um longo tempo de casa foram ficando no passado.  

● A Geração X (os nascidos de 1960 até o fim dos anos 70) que foi chegando ao mercado de trabalho nos anos 90 começa a se desencantar pela falta de oportunidades do EMPREGO FORMAL e passa a apresentar uma forte tendência empreendedora.

● O processo de GLOBALIZAÇÃO e o avanço da Internet.

Na educação, sem dúvida, algumas instituições têm mostrado a preocupação em colocar alguns conteúdos e disciplinas ou desenvolver teses, pesquisas e trabalhos de conclusão de curso (TCC) focando o EMPREENDEDORISMO. Mas, é muito raro uma universidade trabalhar a formação empreendedora.

Por hábito, o ensino reproduz conhecimento e poucos docentes estimulam as trocas de saber e abordagem da GESTÃO EMPREENDEDORA. E isto não prepara pessoas para vivenciar as novas condições do mercado de trabalho e nem é o bastante para construir CULTURA EMPREENDEDORA.

Outro problema crônico é a distância do ensino com a realidade das empresas e do mercado de trabalho. Mas, para os próximos anos a direção da educação é para a pedagogia empreendedora no ensino da criação e do desenvolvimento de negócios de acordo com cada um dos níveis de aprendizagem escolar. Esta mudança está acontecendo pelo trabalho de ONG’s, entidades de classe, envolvimento do poder público, instituições de ensino e demais interessados.

4 – REGIÃO GEOGRÁFICA: este fator exerce grande influência na formação da CULTURA EMPREENDEDORA. O EMPREENDEDORISMO entendido como uma ocorrência regional segue o panorama da localidade e, portanto, o perfil dos negócios acompanha a realidade econômica e social presente. Há áreas, cidades, países e até mesmo períodos históricos que têm atividade empreendedora com maior ou menor intensidade e EMPREENDEDORES refletindo as características do lugar.

Em regiões pobres sem definição de sua inclinação de desenvolvimento econômico, as pessoas podem adquirir determinados comportamentos criando pequenos negócios num setor próprio e sustentável. Muitas vezes é por falta de EMPREGO FORMAL, por falta de melhores recursos e tecnologia. Mas, o conhecimento é coletivo e compartilhado em vínculos mais fortes.

Pode até ocorrer uma forma de CULTURA EMPREENDEDORA local, porém, em geral, ela não tem muito poder. E mesmo dentro de todo este empenho de EMPREENDEDORISMO COLETIVO, os costumes e as necessidades da região modelam o comportamento e um perfil muito limitado de seus participantes. A preocupação maior não é com ações inovadoras e sim com bem estar coletivo e com a sobrevivência do negócio.

Em regiões mais desenvolvidas a mentalidade é bem diferente. As pessoas trabalham num ambiente empreendedor, têm um nível cultural maior, perfil e comportamento voltados para habilidades técnicas e capacitação. As ações INOVADORAS são a regra. Elas são o resultado de uma CULTURA EMPREENDEDORA estabelecida objetivando gerar novas tendências, evolução intelectual, financeira, social, emprego e renda.

Sugestão de Leitura

MARIANO, S. R. H. MAYER, VERONICA F. EMPREENDEDORISMO fundamentos e técnicas para criatividade. Editora LTC. Rio de Janeiro, 2012.

DOLABELA, FERNANDO. Oficina do Empreendedor. Editora Sextante. Edição 1ª. Rio de Janeiro, 2008.

SITA, A., SABÓIA, E. Manual do Empreendedorismo. Editora Ser Mais, Edição 1ª. São Paulo, 2018.

DYER, JEFF; GREGERSEN, HAL; CHRISTENSEN, CLAYTON. DNA do Inovador. Dominando as 5 Habilidades dos Inovadores de Ruptura. Editora Alta Books. Edição 1ª. São Paulo, 2018.

CASTRO, MARIANA. Empreendedorismo criativo: Como a nova geração de empreendedores brasileiros está revolucionando a forma de pensar conhecimento, criatividade e inovação.  Portfolio/Penguin, 2014.

CHRISTENSEN, CLAYTON; HALL, TADDY DILLON, KAREN;  DUNCAN, DAVID. Muito Além da Sorte: Processos Inovadores para Entender o que os Clientes Querem. Editora Bookman. Edição 1ª. Porto Alegre, 2017.

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