INTRODUÇÃO:
Com o tempo tudo se transforma. Nada permanece da mesma forma e isto inclui áreas que pareciam imutáveis e sem importância. Um dos exemplos mais interessantes destas mudanças é o MOVIMENTO MAKER (ou CULTURA MAKER) que foi se tornou expressivo a partir dos anos 1990.
Para quem tem a intenção de se tornar EMPREENDEDOR, a CULTURA MAKER tem sido um caminho interessante para a criação de ideias ou para analisar a viabilidade de algum projeto em mente. O ambiente no MAKERSPACE, por ser criativo por excelência, oferece oportunidades para compartilhar o conhecimento, criar relacionamentos e construir uma NETWORKING positiva com contatos que futuramente poderão ser estratégicos.
A ORIGEM
Podemos fazer uma análise da evolução do MOVIMENTO MAKER a partir de atividades relacionadas ao artesanato e trabalhos manuais – que o ser humano pratica desde a Antiguidade. Porém, no fim do Século XX muitas pessoas perceberam o desperdício causado pelos excessos do consumismo, desperdício, os danos ao meio ambiente causados pelas indústrias e preços de produtos/serviços.
● Então, porque jogar fora produtos que ainda podem ser consertados ou aproveitados?
● Então, porque não fazer produtos de acordo com o gosto pessoal e de acordo com a minha conveniência?
● Porque pagar para alguém fazer pequenos serviços ou reparos que eu mesmo posso fazer?
O MOVIMENTO MAKER
Portanto, o que era uma recreação, artesanato ou HOBBIE se tornou a cultura DIY que, com o tempo, ganhou novos contornos para se transformar em um grande movimento aproveitando:
1 – A expansão da INTERNET: foi possível compartilhar e ter acesso a diversos conteúdos criados sobre os mais variados assuntos e alternativas (TUTORIAIS).
2 – Novas tecnologias: a disponibilidade para a fabricação digital por meio de impressoras 3D, serras, máquinas CNC (Programação de Controle Numérico por Computador), furadeiras, kits de robótica, placas de ARDUINO (plataforma de prototipagem eletrônica), lixadeiras, máquinas para marcenaria, máquinas de costura, máquinas de corte a laser etc.
Esta evolução tecnológica criou um modelo novo de cadeia produtiva e contatos comerciais em que os consumidores assumem o papel de produtores.
Assim, o MOVIMENTO MAKER vem se tornando mais profissionalizado, tecnológico, gerando emprego e renda e uma nova alternativa para o EMPREENDEDORISMO.
3 – Novas formas de produção: sendo capaz de transformar pequenas formas de produção, o MOVIMENTO MAKER pode descentralizar algumas tarefas das fábricas.
4 – Aprendizado: o MOVIMENTO também foi capaz de grandes transformações no ensino por favorecer o aprendizado da matemática, ciências da computação, engenharia etc.
De acordo com a CULTURA MAKER, qualquer pessoa é capaz de usar o seu conhecimento e as ferramentas certas para fabricar, construir, consertar ou modificar, com as próprias mãos, vários objetos (o tipo ou a funcionalidade).
Ou desenvolver soluções próprias para problemas do dia-a-dia.
A NOVA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
De acordo com as opiniões dos estudiosos, o MOVIMENTO MAKER é um conceito relacionado com a TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (a INDÚSTRIA 3.0) por ser um resultado da evolução da tecnologia, dos meios de comunicação e da robotização da produção.
Contudo, as mesmas opiniões também afirmam que o MOVIMENTO é uma das conexões para a QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL (a INDÚSTRIA 4.0), que será marcada pelo intenso uso da INTERNET DAS COISAS, da inteligência artificial (IA), energias renováveis, nanotecnologia e impressoras 3D (com ampla capacidade para imprimir objetos – dos mais simples aos mais complexos).
OS AMBIENTES MAKER
A atividade no UNIVERSO MAKER é realizada em espaços físicos comunitários (MAKERSPACES e FAB LABS) onde há ferramentas, laboratórios, acessórios para eletrônica e equipamentos disponibilizados e o acesso pela INTERNET facilitando o compartilhamento de informações e várias ideias: tutoriais e instruções em vídeo aulas gratuitas. É o que possibilita a sustentação destes ambientes.
O AMBIENTE MAKER é um local SINERGÉTICO, colaborativo onde é normal a troca de informações e a construção de vínculos entre grupos e pessoas. Para os que têm a intenção de se tornar EMPREENDEDOR, é um ambiente excelente para ter ideias que poderão de tornar uma START UP.
OS MAKERS
São os protagonistas. Eles são os criadores das ideias que desenvolvem soluções e novos produtos/serviços em mente, utilizando ferramentas manuais ou digitais (mesmo no papel) para produzir à mão ou com máquinas. Não há uma formação específica para ser um MAKER. O que tem importância é a imaginação, a informação e a junção com outros participantes do ambiente.
1 – MAKERSPACE: é um local (um espaço físico pago) compartilhado entre os MAKERS.
Em geral, eles contam com as mais diversas ferramentas para a criação de protótipos e fabricação digital.
É um local para aprendizado, troca de conhecimento, trabalhos em projetos individuais ou em equipe. Contudo, não há um padrão pré-estabelecido e, portanto, não são todos os MAKERSPACES que possuem os mesmo equipamentos.
2 – FabLab: é a forma para FABRICATION LABORATORY (laboratório de fabricação digital), um espaço com o objetivo de estimular criatividade, conhecimento e aprendizado. Para muitos, é um conceito idêntico ao MAKERSPACE. Entretanto, há algumas diferenças. Um FabLab precisa…
…ter no mínimo 5 tipos de máquinas: impressora 3D, cortadora à laser, cortadora de vinil, CNC de precisão de pequeno porte e CNC de grande porte.
…ter um DIA ABERTO ao público para poder usar as máquinas.
…ter um responsável no DIA ABERTO para instruir quanto ao uso das máquinas, atuar na prevenção de acidentes e permitir ao público a livre criação.
THE FAB FOUNDATION
É uma organização norte americana sem fins lucrativos. Foi criada em 2009 com a missão de fornecer acesso às ferramentas, ao conhecimento e aos meios financeiros para educar, inovar e inventar usando tecnologia e fabricação digital. O objetivo é permitir que qualquer pessoa faça (quase) qualquer coisa criando oportunidades para melhorar vidas e meios de subsistência em todo o mundo. Os seus principais beneficiários são as organizações comunitárias, instituições educacionais e organizações sem fins lucrativos.
A FAB FOUNDATION facilita e apoia o crescimento da rede internacional de laboratórios de fabricação, bem como o desenvolvimento de organizações regionais de capacitação.
3 – HACKERSPACE: são locais físicos de uma comunidade onde os participantes compartilham os seus interesses em tecnologia, se encontram, se socializam e trabalham em seus projetos.
Entretanto, os HACKERSPACERS não se consideram como sendo parte do MOVIMENTO MAKER. Necessariamente eles não têm ferramentas, porém, é comum contarem com oficinas de eletrônica etc. Se os MAKERS têm a preocupação em desenvolver coisas novas, os HACKERSPACERS modificam coisas para que elas tenham um funcionamento inesperado.
O CRESCIMENTO DO MOVIMENTO MAKER
Sem dúvida, o futuro para o MOVIMENTO MAKER é promissor. Algumas instituições de ensino, organizações e indústrias já adotam o sistema para desenvolver a CRIATIVIDADE e a INOVAÇÃO. Outra tendência para os próximos anos é a participação dos governos municipais para o estabelecimento de FabLabs públicos – espaço comunitário com condições necessárias para que todos os interessados tenham a chance de colocar suas ideias em prática.
A expectativa é que os resultados do MOVIMENTO MAKER tragam a oportunidade de acesso para um número cada vez maior de pessoas, com condições de criar condições para futuros EMPREENDEDORES e para o desenvolvimento de novas tecnologias.
A EDUCAÇÃO MAKER
As instituições de ensino que estão preocupadas com um ensino mais atualizado estão adotando o aprendizado orientado pela prática. Isto não significa que as teorias foram abandonadas, mas, esta dinâmica de ensino permite maior circulação e compartilhamento de conhecimento.
A EDUCAÇÃO MAKER aplica conceitos do DIY em salas de aula de todos os níveis por meio de atividades práticas. Os estudantes desenvolvem a criatividade, a PROATIVIDADE e outras habilidades e fazem com que o aprendizado resulte em conhecimento.
O MOVIMENTO MAKER, estimula os alunos a aprenderem por meio de experimentações em laboratórios. Além de se tornarem responsáveis pelo seu próprio aprendizado, os estudantes são incentivados a usarem a criatividade, o pensamento lógico e o trabalho em grupo para resolverem os mais diversos tipos de problemas.
De acordo com o professor PAULO BLIKSTEIN, da Universidade de Stanford, os FAB LABS (FABULOUS LABORATORY ou LABORATÓRIO FABULOSO) são voltados para a aprendizagem de crianças e jovens com sete vantagens ao integrar a CULTURA MAKER ao currículo escolar.
1 – ARTICULA TEORIA E PRÁTICA: as atividades em laboratórios são elaboradas em primeiro lugar para a experimentação e posteriormente para a teoria. “Por exemplo, você pode explicar em 15 minutos como se dá a diluição de uma substância na água. No laboratório, os alunos observam, lidam com o erro e vivenciam o fenômeno, para depois partirem para a teoria. Isso faz toda a diferença”.
2 – O TEMPO É OTIMIZADO: enquanto uma aula teórica pode ser rápida, a experimentação exige tempo para que os alunos possam colocar a mão na massa e traçar inferências. Por esse motivo, um currículo aliado à CULTURA MAKER exige menos conteúdo e mais tempo para uma prática de qualidade.
3 – HABILIDADES SÃO COMPARTILHADAS: cada aluno tem um jeito diferente de abordar um problema.
Nas atividades MAKER, as potencialidades de todos são valorizadas por meio do trabalho em grupo. “Há estudantes que gostam de planejar antes de fazer. Outros preferem experimentar primeiro e irem lidando com os erros. Um aprende com o outro”.
4 – O ERRO LEVA À REFLEXÃO: muita gente acredita que quanto mais os alunos mexem no experimento, mais eles aprendem. O professor PAULO BLIKSTEIN explica que não é bem assim. “É comum, quando o experimento não funciona, o aluno querer desfazer tudo e começar do zero. O professor deve orientá-lo a identificar o que não está funcionando e atacar esse problema em específico. Isso exige reflexão”.
5 – O PROTAGONISMO INTELECTUAL ESTÁ PRESENTE: quando as atividades MAKER estão aliadas ao currículo, não há o risco de acontecer o que PAULO BLIKSTEIN chama de “síndrome do chaveiro”. “O aluno baixa um arquivo da internet, que pode ser um chaveiro ou um personagem de desenho animado, imprimir na impressora 3D e leva para casa. Ou seja, houve uma atividade, mas sem reflexão”. “Uma aula MAKER planejada incentiva o protagonismo intelectual dos estudantes”.
6 – O ACESSO É DEMOCRÁTICO: quando uma atividade MAKER acontece no contra turno da escola, selecionam-se – direta ou indiretamente – os alunos que irão participar. Já quando a prática está aliada ao currículo, toda a sala tem acesso ao laboratório. “Geralmente, é o aluno que não teve contato com atividades MAKER e que não se julga interessado no assunto o que será mais beneficiado”.
7 – O ALUNO SE APROXIMA DA CIÊNCIA: uma atividade MAKER leva o estudante a seguir alguns princípios científicos, como: fazer perguntas e definir problemas; planejar e usar modelos; realizar investigações; analisar e interpretar dados; usar matemática e pensamento computacional; desenhar soluções; argumentar a partir de evidências e comunicar a informação.
OS BENEFÍCIOS DA EDUCAÇÃO MAKER
Em um ESPAÇO MAKER ou em um FABLAB os estudantes transformam ideias em realidade, lidam com resolução de problemas e criação de projetos diversos. Há o desenvolvimento de projetos no local onde a ideia é criada, desde o conceito até o protótipo.
● O aprendizado ocorre de forma interdisciplinar, por meio de atividades integradas, unindo conceitos de várias disciplinas para encontrar respostas para os problemas.
● Os estudantes têm contato com novas tecnologias.
● Há a oportunidade de exercer o trabalho em grupos, desenvolver empatia, colaboração e cooperativismo.
● A EDUCAÇÃO MAKER é um estímulo para o potencial criativo e faz o raciocínio agir fora do convencional com autonomia e PROATIVIDADE.
A CULTURA MAKER NO AMBIENTE CORPORATIVO
Muitos obstáculos que as organizações têm enfrentado não estão no ambiente externo. A realidade é que há, em muitos casos, a falta de um ambiente favorável para a CRIATIVIDADE e INOVAÇÃO, aspectos que podem estar exigindo novas habilidades e conhecimentos.
Desta forma, já é possível verificar que existem empresas que tiveram interesse e destinaram parte de seus recursos para a CULTURA MAKER. O objetivo é trazer o aprendizado prático para os colaboradores, desenvolver relacionamentos e a colaboração pelo trabalho em GRUPO.
O modelo pode ser aplicado em treinamentos destinados a aumentar PROATIVIDADE, participação e valorização dos profissionais com a busca de novas soluções em desenvolvimento ou correções de produtos/serviços.
Na visão dos estudiosos da ADMINISTRAÇÃO, a CULTURA MAKER oferece maior dinamismo ao AMBIENTE CORPORATIVO, traz o aumento na produtividade, tem influência na MOTIVAÇÃO e reduz custos.
A CULTURA MAKER NA GESTÃO AMBIENTAL
A LOGÍSTICA REVERSA e a GESTÃO AMBIENTAL podem atuar dentro das ideias da CULTURA MAKER com o reuso e reaproveitamento de muitos materiais que, aparentemente, não teriam mais utilidade (recicláveis e descartáveis).
Sugestão de Leitura
ANDERSON, CHRIS. A Nova Revolução Industrial. Editora Campus Elsevier. Edição 1ª. São Paulo, 2012.
CLAY, ALEXA; PHILLIPS, KYRA MAYA. A Economia dos Desajustados. Editora Figurati. Edição 1ª. Barueri, 2015.
EYCHENNE, FABIEN; NEVES, HELOÍSA. Fablab: A vanguarda da nova revolução industrial. Editorial Fab Lab Brasil, São Paulo, 2013.
RIFKIN, JEREMY. A Terceira Revolução Industrial. Editora Bertrand Livreiros. Lisboa, 2014.
MEIRA, SILVIO. Novos Negócios no Brasil – Inovadores de Crescimento Empreendedor. Editora Casa da Palavra. Edição 1ª. Rio de Janeiro, 2013.
MARK HATCH, CEO da TECHSHOP, traz em seu livro The Maker Movement Manifesto (2013) os 9 nove princípios da CULTURA MAKER:
1 – Fazer: é fundamental ao que significa ser humano. Nós devemos fazer, criar e nos expressar para nos sentirmos completos. Existe algo especial sobre fazer coisas físicas. Essas coisas são como pequenos pedaços de nós e parecem incorporar parcelas das nossas almas.
2 – Compartilhar: com outros o que você fez e o que você sabe como fazer é o método pelo qual o sentimento de completude do MAKER é atingido. Você não deve fazer e depois não compartilhar.
3 – Dar: existem poucas coisas mais altruístas e satisfatórias que dar algo que você fez. O ato de fazer coloca uma pequena parte de você no objeto. Dar isso para outra pessoa é como entregar a alguém um pequeno pedaço de si. Essas coisas são frequentemente os itens mais apreciados que nós possuímos.
4 – Aprender: você deve aprender a fazer. Você deve sempre buscar aprender mais sobre o seu fazer. Você pode ser tornar um artífice mediano ou avançado, mas você ainda vai aprender, querer aprender e se incentivar a aprender novas técnicas, materiais e processos. Construir um caminho de aprendizagem vitalício assegura uma rica e compensadora vida de feitor e, importantemente, permite que você compartilhe.
5 – Equipar: você deve ter acesso às ferramentas corretas para o projeto em questão. Invista e desenvolva um acesso local às ferramentas que você precisa para fazer o que você quiser fazer. Os instrumentos para fazer nunca foram tão baratos, fáceis de utilizar e poderosos como hoje.
6 – Brincar: brinque com o que você está fazendo e você ficará surpreso, empolgado e orgulhoso do que você vai descobrir.
7 – Participar: ingresse no MOVIMENTO MAKER e alcance aqueles em sua volta que estão descobrindo a alegria do fazer. Organize seminários, festas, eventos, dias MAKER, feiras, exposições, aulas e jantares com e para os outros MAKERS da sua comunidade.
8 – Auxiliar: este é um movimento que necessita de apoio emocional, intelectual, financeiro, político e institucional. Nós somos a melhor esperança para transformar o mundo, e somos responsáveis por fazer um futuro melhor.
9 – Mudar: abrace a mudança que vai ocorrer naturalmente ao longo da sua jornada MAKER. Já que fazer é fundamental para o que significa ser humano, você se tornará uma versão mais completa de si enquanto fizer.
