INTRODUÇÃO:
A ADMINISTRAÇÃO evolui sempre e adota novos conceitos. Na década de 1990, o U.S. ARMY WAR COLLEGE, uma entidade educacional do exército americano, desenvolveu um estudo conhecido como VUCA (a abreviatura de VOLATILITY, UNCERTAINTY, COMPLEXITY e AMBIGUITY. Em português alguns denominam como VICA – VOLATILIDADE, INCERTEZA, COMPLEXIDADE e AMBIGUIDADE).
Na época, o final do Século XX, o mundo passou a ser globalizado e apresentou mudanças em um ritmo frenético, com um destino incerto e numerosas respostas em relação a uma mesma questão.
A finalidade do WAR COLLEGE foi encontrar explicações para o cenário após o fim da Guerra Fria.
Aos poucos, a ideia foi se propagando, principalmente depois dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 e a crise financeira de 2008.
A partir de 2010, o VUCA foi incorporado ao vocabulário do mundo CORPORATIVO sem diferenças em relação à visão dos militares. O conceito pode ser perfeitamente adaptado ao ambiente de negócios como novos “ESTÍMULOS”, tanto para os profissionais quanto para as empresas.
Hoje, para qualquer organização, a continuidade nos negócios se tornou ainda mais hostil, veloz, altamente competitiva e agressiva. E a partir de 2020, ganhou contornos mais desafiadores com a Pandemia de COVID–19 e o NOVO NORMAL. Desta forma, o VUCA ainda é uma ideia atual e utilizada para explicar o mundo de hoje.
Portanto, o VUCA (também conhecido como MODERNIDADE LÍQUIDA) não é um termo recente. Porém, em uma análise mais detalhada, exprime uma situação que as empresas já convivem há um bom tempo e, segundo as previsões dos estudiosos, as organizações continuarão atuando neste clima de maneira ainda mais acentuada. Para aumentar o grau desta complexidade, podemos somar a rapidez das possibilidades trazidas pelos constantes avanços tecnológicos e o nível de exigências do mercado e dos consumidores. Como resultado, as empresas ainda não sabem com muita certeza como reagir, como se comportar e quais as medidas para reduzir os impactos e os efeitos.
O MUNDO VUCA
V – VOLATILITY – VOLATILIDADE: a palavra caracteriza a particularidade do que é volúvel e inconstante. No presente, as situações ocorrem em um ambiente onde tudo é volátil, veloz e efêmero, um mundo que não apresenta mais padrões dentro de uma previsibilidade em que poderia encontrar no passado, as mesmas alternativas ou soluções aproveitáveis para o futuro.
O presente requer rápidas adaptações, com maior solicitude, para que os planos de trabalho ainda tenham algum significado prático, mesmo diante do volume das mudanças.
Diferentemente de tempos atrás, hoje há uma enorme dificuldade para prever cenários.
Assim, é mais importante e necessário que as empresas estejam alertas para enfrentar o inesperado, sem despender tempo e recursos em planejamentos estratégicos cheios de minúcias. Segundo os estudiosos, definir um caminho perfeitamente estruturado em um plano estratégico é coisa do passado. Para chegar aos objetivos, é preferível atuar dentro de ações baseadas em clareza de propósito, com perspectivas de resultados esperados e saber lidar com as mudanças.
O sociólogo polonês ZYGMUNT BAUMAN (1925-2017) definiu o tempo em que vivemos como “modernidade líquida” em que nada permanece no mesmo lugar por muito tempo, tudo é fluido e volátil: “crescente convicção de que a mudança é a única coisa permanente e a incerteza a única certeza”.
U – UNCERTAINTY – INCERTEZA: a palavra caracteriza a particularidade do que tem falta de certeza, dúvida, hesitação, indecisão e imprecisão.
Mesmo com a infinidade de informações que estão à disposição, boa parte delas pode não ter muita utilidade prática em ações futuras.
MUDANÇAS DISRUPTIVAS: em função das inúmeras e rápidas transformações, que quebram a sequencia normal de um processo e que levam a novos paradigmas, as alternativas atuais, em geral, não são viáveis diante dos problemas que se apresentam.
As situações podem mudar a qualquer momento e as consequências são imprevisíveis. Tudo se torna incerto, mesmo com o entendimento das relações de causa e efeito. Para as empresas é necessário se reinventar procurando escolher saídas para sobreviver neste imbróglio.
CUIDADO: o momento requer observações cuidadosas sobre o que se passa em um mundo cada vez mais acelerado, que solicita competências para respostas rápidas e eficazes. Ter capacidade para ser ágil ao responder às mais variadas demandas do ambiente é agir com prudência e sabedoria. É muito mais seguro do que as projeções sobre os cenários de longo prazo.
C – COMPLEXITY – COMPLEXIDADE: a palavra caracteriza o que é complexo, de difícil compreensão ou entendimento.
A COMPLEXIDADE é o resultado da forma como o mundo se tornou muito diferente pela conectividade e pela interdependência.
Então, os tradicionais modelos voltados para a gestão de risco e na tomada de decisões são insuficientes para suportar as variáveis criadas por esta inter-relação de circunstâncias.
A – AMBIGUITY – AMBIGUIDADE: a palavracaracteriza tudo aquilo que possui ou pode possuir sentidos diferentes, aquilo que é incerto ou indefinido. No momento, o mundo corporativo se ressente de formas de interpretar e analisar os cenários complexos que trazem falta de clareza e perspectivas concretas.
Os efeitos intensos ocasionados pela TRANSFORMAÇÃO DISRUPTIVA não podem ser entendidos ou interpretados levando em conta somente os fatos pertencentes aos resultados passados, ou seja, o histórico de experiências acumuladas anteriormente. Desta forma, existem inúmeras interpretações que poderão ser pertinentes ao mesmo tempo.
A AMBIGUIDADE também tem o poder de influenciar o AMBIENTE INTERNO da organização e as relações entre os seus profissionais. Muitas vezes é possível verificar uma situação em que seja necessário defender pontos de vista diferentes, o que pode gerar conflitos entre diferentes equipes.
Para especialistas da ADMINISTRAÇÃO, é fundamental atuar com INOVAÇÃO e INTRAEMPREENDEDORISMO em uma estrutura horizontalizada, que propicie a geração de ideias em todas as áreas para valorizar os colaboradores. Mas, há controvérsias em relação a esta proposta…
COMO VIVER (SOBREVIVER) NO MUNDO VUCA?
Para outros especialistas, o MUNDO VUCA não precisa ser entendido como um quadro ameaçador, que se contrapõe à ideia regular do que deveria continuar existindo. O VUCA pode significar novas oportunidades. A tecnologia e os desafios trouxeram novos processos, muito dinâmicos, com potencial de mercado que poderá ser favorável para as empresas.
Muitas delas se encontram fora de sintonia, em um vácuo transformacional e em situação de atraso relativo. Este desequilíbrio é extensivo às pessoas, países, governos e ONG’s que se encontram situados em um espaço indefinido entre o passado, presente e futuro.
Para as empresas, em função das mudanças constantes, a maior dificuldade causada pelo MUNDO VUCA está vinculada ao planejamento.
A situação é confusa: muitos não encontram a chave para desfazer antigas fórmulas e, ao mesmo tempo, procuram se adequar à transformação requerida para se sustentar sob as novas circunstâncias.
O discurso em uso sobre o futuro geralmente pode ser elegante, mas, há uma grande dificuldade para poder colocar as novas ideias em prática. Outras opiniões também mostram algumas soluções que poderão servir como o caminho para a sobrevivência:
1 – MENTALIDADE INOVADORA: mesmo que isto implique em mudanças profundas na CULTURA ORGANIZACIONAL vigente e conflitos internos. Em geral, a quebra de velhos PARADIGMAS possibilita maior agilidade e adaptação para que as decisões sejam tomadas com a mesma velocidade das transformações.
2 – OUSADIA: pode parecer um clichê, mas, não há outra saída. É preciso ter coragem para mudar e rapidez ao reagir diante de condições ambíguas. É preciso tomar decisões fortes e aceitar os riscos do resultado (positivo ou negativo).
3 – GESTÃO EFICIENTE: é preciso que os gestores e dirigentes tenham as habilidades necessárias e não se transformem em obstáculos. A sua capacidade de adaptação aos ambientes complexos permitirá que a empresa trabalhe de forma eficiente em uma nova estrutura enxuta e horizontalizada.
4 – RESILIÊNCIA: o Mundo VUCA exige que a empresa mantenha sua integridade e o equilíbrio para buscar saídas frente aos obstáculos.
5 – FLEXIBILIDADE: pode parecer mais um clichê. Contudo, diante das incertezas do MUNDO VUCA a flexibilidade garante uma melhor adaptação diante do CAOS. Aceitar e entender as diferentes saídas na resolução de problemas vem se tornando uma característica muito importante.
6 – MULTIDISCIPLINARIDADE: talvez seja a característica de maior importância para vencer em ambientes de alta complexidade. Quanto maior for a unidade do conhecimento (TÁCITO e EXPLÍCITO) e a visão da organização, menor será a dificuldade para encontrar respostas para os problemas.
CUIDADO: o MUNDO VUCA tem influência sobre as necessidades básicas (segurança, estabilidade etc.) e eleva o nível de ansiedade e STRESS. A volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade também afetam os relacionamentos existentes no ambiente de trabalho, têm efeitos no bem-estar do indivíduo e no meio social.
Sugestão de Leitura
RODRIGUES, VERÔNICA. Líder Ágil, Liderança VUCA: Como liderar e ter sucesso em um mundo de alta volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade. Publicado de forma independente, 2018.
NEVES, JODÉ ROBERTO DE CASTRO. O mundo pós-pandemia. Editora Nova Fronteira. Edição 1ª. São Paulo, 2020.
BRASILIANO, ANTONIO CELSO RIBEIRO. Mundo VICA. Volátil. Incerto. Complexo. Ambíguo. Estamos preparados? Editora QualityMark. Edição 1ª. Rio de Janeiro, 2017.