A Gestão da LOGÍSTICA REVERSA

INTRODUÇÃO:

A LOGÍSTICA REVERSA começou a tomar forma no fim da década de 70. Utilizando conceitos e atividades idênticos aos da LOGÍSTICA tradicional (ou LOGÍSTICA DIRETA), a LOGÍSTICA REVERSA opera no sentido contrário, ou seja, no sentido inverso. Apesar de ser um assunto recente, ainda pouco explorado e ampliando a literatura a respeito, ele tem chamado a atenção de pesquisadores, de profissionais da área e do meio acadêmico. 

A princípio, as atenções foram somente para o retorno de materiais de reciclagem. A partir do início deste Século, a LOGÍSTICA REVERSA (dividida em CANAIS REVERSOS DE DISTRIBUIÇÃO em PÓS-VENDA e PÓS-CONSUMO) foi agregando outros interesses que, contribuíram, para aumentar sua importância nas organizações. Estes interesses foram justificados pela RECUPERAÇÃO DE VALOR de diversos itens, pelas PREOCUPAÇÕES AMBIENTAIS e ASPECTOS SOCIAIS. Empresas, com comportamento ambiental positivo, passaram a se empenhar na GESTÃO completa e eficaz do CICLO DE VIDA e da LOGÍSTICA REVERSA de seus produtos.

Os resultados positivos da LOGÍSTICA REVERSA dependem do seu planejamento e, principalmente, da sua GESTÃO.  Para alguns especialistas, o maior objetivo  desta  modalidade de processo logístico é apenas agregar alguma forma de valor para as empresas pelo retorno de seus produtos (ou produtos de outras empresas e de outros segmentos) ao final do seu CICLO DE VIDA. Outras opiniões ampliam a ideia e incluem, além do objetivo puramente econômico, ações estratégicas, competitividade, preocupações ambientais e a geração de emprego e renda.  

De acordo com PAULO ROBERTO LEITE (2003), as atividades vitais na LOGÍSTICA REVERSA estão relacionadas:

• Ao retorno do produto para a origem.

• À revenda dos produtos retornados.  

• À venda dos produtos em mercados secundários.

• À venda dos produtos com descontos.

• Aos processos de remanufatura.

• Às atividades de reciclagem, reparação ou reabilitação.

• Doação.

A GESTÃO eficaz se preocupa em acompanhar desde o local e a maneira como a matéria prima é obtida até para onde e como o produto final vai ao final da sua vida útil. Mas, todo este trabalho necessita de um acompanhamento e avaliação.

ASPECTOS FAVORÁVEIS

● O ganho financeiro e a economia de recursos, pelo reaproveitamento de embalagens e de inúmeros materiais retornáveis, vêm proporcionando resultados interessantes. Além disso, as operações de recuperação de produtos, com a extensão de sua vida útil, aumentaram a INTERFACE entre LOGÍSTICA, PRODUÇÃO, GESTÃO AMBIENTAL, FINANÇAS e MARKETING.

● As preocupações ambientais, relacionadas às medidas para a disposição final, são feitas com cuidado para não prejudicar a NATUREZA.

● As ações da LOGÍSTICA REVERSA gerou emprego e renda ao fazer retornar produtos que não tenham mais utilidade para os clientes á utilizados para sua origem .  

O PÓS-CONSUMO favoreceu a criação de cooperativas de catadores, desmanches e empresas especializadas em reaproveitamento etc.

O TRABALHO DA GESTÃO

Para que todas as ações da LOGÍSTICA alcançassem a SUSTENTABILIDADE (ambiental, social e econômica), foi preciso que a CADEIA DE SUPRIMENTO se modificasse. Ela teve que se transformar em CADEIA DE SUPRIMENTO SUSTENTÁVEL ou CADEIA DE SUPRIMENTO REVERSA.

Portanto exigiu um plano de trabalho que contemplasse o controle rigoroso, em cada fase, das atividades para reaproveitamento dos produtos e materiais (reintegrados à produção substituindo matérias-primas novas) ou para descarte ambiental correto.

1 – RECICLAGEM: de acordo com o Ministério do Meio Ambiente, a Reciclagem é…

…“um conjunto de técnicas de reaproveitamento de materiais descartados reintroduzindo-os no ciclo produtivo. É uma das alternativas mais vantajosas no tratamento de resíduos sólidos (lixo), tanto do ponto de vista ambiental quanto do ponto de vista social: ela reduz o consumo de recursos naturais, poupa energia e água, diminui o volume de lixo e dá emprego a milhares de pessoas”.

“É um processo industrial que começa em casa. A correta separação desses materiais em nossas casas e o encaminhamento para catadores ou empresas recicladoras permite que eles retornem para o processo produtivo e diminui o volume de lixo acumulado em aterros e lixões. É uma questão de hábito e de percepção… Cerca de 30% de todo o lixo é composto de materiais recicláveis como papel, vidro, plástico e latas, e todos esses materiais têm valor de mercado, pois são reaproveitados como matéria prima no processo de fabricação de novos produtos”.

Fonte: https://www.mma.gov.br/informma/item/7656-reciclagem

2 – RECICLAGEM UPCYCLING: termo vem do Inglês e pode ser entendido como “RECICLAGEM PARA CIMA”. O processo de UPCYCLING de um dado material é para a fabricação de um produto novo, porém, de maior valor que o produto inicial. Os materiais acabam se transformando em itens de maior valor. Exemplo: a madeira, a ser descartada como resíduo, poderá ser reaproveitada através de processamento (ou não) para a fabricação de outros produtos mais valiosos.

3 – RECICLAGEM DOWNCYCLING: termo vem do Inglês e pode ser entendido como “RECICLAGEM PARA BAIXO”. O processo de DOWNCYCLING de um dado material é para a fabricação de um produto novo, porém, de menor valor que o produto inicial. Exemplo: embalagens de produtos alimentícios não podem ser 100% recicladas por que há o comprometimento de sua integridade. Estes materiais são transformados em resinas e transformados em outros tipos de produtos.

4 – REUSO: um produto pode ser reutilizado sem necessidade de ser desmontado ou desmantelado, sendo transformado e usado novamente auxiliando na SUSTENTABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL. Pode ser entendido, do ponto de vista da viabilidade econômica, como itens para a REVENDA ou para uso dentro da própria empresa (industrial ou varejista).

As vantagens ambientais estão na redução das matérias-primas ou materiais, diminuindo o volume de lixo: Embalagens de plástico e papelão (alimentos, bebidas, produtos de limpeza, higiene pessoal, medicamentos), vidros, latas, agrotóxicos, óleo lubrificante e comestível, baterias automotivas e de celulares, pilhas, eletrônicos, lâmpadas, pneus etc.

5 – DESMANCHE: o processo desmonta e separa as partes de máquinas, equipamentos, móveis bancadas etc. É feita a análise para verificar o que pode ser aproveitado na RECICLAGEM, no REUSO, CANIBALIZAÇÃO (ou enviado para ser descartado de modo ambientalmente correta).

6 – CANIBALIZAÇÃO: aproveitamento ou peças para manutenção ou aproveitamento em outros produtos.

7 – REMANUFATURA: volta de produtos revisados ao mercado por um preço inferior.

8 – RESÍDUO INDUSTRIAL: são produtos subdivididos em Duráveis e Descartáveis.

– Duráveis: entram no processo de desmontagem e reciclagem industrial.

– Descartáveis: quando há viabilidade econômica e técnica, são aproveitados na reciclagem industrial e se transformam em matérias-primas.

ATIVIDADES

Cada empresa escolhe as práticas administrativas mais adequadas, de acordo com suas necessidades, CULTURA ORGANIZACIONAL e dentro de sua realidade. Mas, há algumas providências que podem ser úteis:

Mapeamento: as atividades deverão seguir um planejamento prévio, fluxogramas com tarefas a serem executados, Controles e documentação prevista (MÉTRICAS e PKI’S adequados).

Entradas: os processos de RECICLAGEM e REUSO já poderão ser executados nos retornos dos bens. Eles poderão ser devolvidos aos fornecedores ou poderão ser avaliados e acumulados para descarte ambientalmente correto, uso ou venda.

Coleta PÓS-VENDA: planeja a roteirização e retirada dos produtos nos clientes ou nos consumidores que são destinados para troca, reparos ou devolução.  

Coleta PÓS-CONSUMO: planeja a roteirização e retirada das embalagens nos clientes, materiais, sucatas, peças, produtos inservíveis etc. Todo o trabalho de Coleta na CADEIA REVERSA é baseado numa relação de colaboração e confiança mútua (parceria) com clientes, fornecedores e demais participantes do processo.

As informações atualizadas são importantes e deverão ser consideradas na coordenação entre as empresas.

Controle PÓS-VENDA: nos casos de troca ou reparos planeja as entregas para o cliente ou consumidor. Nos casos de devolução é necessário avaliar o estado do item devolvido e dar destinação correta: reparos, desmanche, canibalização (extração de partes perfeitas de um produto para a fabricação de um novo ou recondicionamento de um usado), venda leilão, descarte correto ou retorno para o estoque.

Controle PÓS-CONSUMO: planeja formas de exercer Controle sobre roteiros de Coleta, locais para manuseio, separação e guarda temporária das embalagens, materiais, sucatas, peças, produtos inservíveis etc.

ControleDestinação: verifica todos os materiais e compara com o Controle para a tomada de decisão sobre o que poderá ser Reciclado, Reusado ou Descartado. Nesta fase são escolhidas formas corretas de descarte, para venda, leilão e controle financeiro. Após a avaliação, os materiais são classificados e enviados para reparos, desmanche, canibalização, venda, leilão, descarte correto ou aproveitamento na produção.  

– Controle – TIC: todo o trabalho necessita de um sistema de informação centralizada e confiável. 

A GESTÃO da LOGÍSTICA REVERSA (ou LOGÍSTICA INVERSA) precisa avaliar, antecipadamente, algumas questões importantes para direcionar o seu trabalho:  

A – Estratégia: medidas previstas pela empresa no seu plano de GESTÃO AMBIENTAL e SUSTENTABILIDADE, a médio e longo prazo, e formas de gerar receitas através de rejeitos.

B – Cultura Organizacional: valores que estão estabelecidos na mentalidade da empresa, ações de QUALIDADE TOTAL, visão voltada para cuidados com o meio ambiente e engajamento da mão de obra.

C – Transparência: relacionamento aberto com STAKEHOLDERS, controles rigorosos, imagem corporativa etc.

PLANEJAMENTO LOGÍSTICO

Estabelece os meios e os recursos (financeiros, humanos, equipamentos e instalações) necessários e compatíveis para suportar o volume de entradas de materiais usados e devolvidos. Ao mesmo tempo prevê os fluxos de entrada e de saída.

Sugestão de Leitura

CAIXETA-FILHO, JOSÉ VICENTE, BACCHI BARTHOLOMEU, DANIELA. Logística Ambiental de Resíduos Sólidos. Editora Atlas. Edição 1ª. São Paulo, 2011.

CHEHEBE, JOSÉ RIBAMAR B. Análise Do Ciclo De Vida De Produtos. Editora QUALITYMARK. Edição 1ª.  São Paulo, 1998.

MIGUEZ, EDUARDO CORREIA. Logística Reversa Como Solução Para o Problema do Lixo Eletrônico Benefícios Ambientais e Financeiros. Editora QUALITYMARK. Edição 1ª. São Paulo, 2010.

VALLE, ROGERIO; SOUZA, RICARDO GABBAY de. Logística Reversa – Processo a Processo. Editora Atlas. Edição 1ª. São Paulo, 2013.

DECRETO-LEI Nº 1.413, de 31 DE JULHO DE 1975. Política Nacional de Resíduos Sólidos – Lei 12.305/10 – Resolução SMA Nº 45.

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