INTRODUÇÃO:
Mesmo com os seus resultados, o TOYOTISMO também não ficou imune às críticas e avaliações. Os estudiosos da ADMINISTRAÇÃO afirmam que o modo de produção japonês não é um sistema perfeito.
Porém, por mais que o STP seja criticado, não é possível esquecer que o gigantismo da TOYOTA teve seu início com o talento de SAKICHI TOYODA, um jovem humilde de Nagoya, que através de seus conhecimentos em carpintaria, aperfeiçoou o tear de sua mãe em 1891. E desse evento em diante…
Apreciações sobre o TOYOTISMO
1 – Treinamentos constantes: o STP segue uma forma ligada à cooperação irrestrita das pessoas e qualquer erro humano leva a graves desdobramentos em todo o processo. Portanto, ao depender do material humano e da sua capacitação, os investimentos contínuos em qualificação, treinamento e reciclagem.
2 – Emprego Vitalício: muitas opiniões apontam que este é um fator que pode gerar comodismo (talvez não pelas características da cultura japonesa). Mas, pode proporcionar o aumento da burocracia e criar obstáculos para os processos decisórios. O EMPREGO VITALÍCIO e a estabilidade solicitam um planejamento muito detalhado e rigoroso a respeito das necessidades de mão de obra, encarreiramento e os critérios escolhidos para a avaliação.
Mas, também depende do faturamento da empresa, preferências e tendências de mercado. E, após a GLOBALIZAÇÃO, os avanços da tecnologia e as consequências da COVID 19 o emprego para sempre poderá se inviabilizar.
3 – O fim do MILAGRE JAPONÊS: a partir da década de 90 o MILAGRE JAPONÊS, que parecia ser eterno, chegou ao final. Isso se deveu aos problemas no sistema econômico do Japão que formou uma enorme bolha de especulação. A relação íntima entre as corporações japonesas e o sistema bancário significava que o crédito era fácil de se obter, mesmo quando não houvesse qualidade no investimento (ou seka, sem a preocupação com a qualidade do devedor).
Para os economistas, foi um período chamado de duas décadas perdidas (de 1990 a 2015). De 1995 a 2007, o PIB caiu, os salários reais caíram perto de 5%. Em 20 anos, a economia do Japão foi ultrapassada não apenas em PIB, mas em eficiência do trabalho (aspectos que haviam liderado).
4 – O Desemprego: em função da tecnologia na padronização e da grande produtividade, o modelo provocou a redução da mão de obra ocasionando a diminuição do número de postos de trabalho. Para os especialistas do mercado de trabalho, modelo criado pelos japoneses é um dos principais responsáveis pelo desemprego no setor secundário da economia e pelo aumento das terceirizações nos processos de produção (um trabalhador pode comandar mais de uma máquina). Mas, outras opiniões discordam e afirmam que estas mazelas são uma tendência mundial.
5 – A linha de PRODUTOS: uma das críticas mais contundente é relacionada a vários produtos com CICLO DE VIDA mais curto. Desta maneira, houve o aumento de um consumismo que, sob o ponto de vista de muitos estudiosos, tem um caráter ambientalmente irresponsável.Mas, é um ponto de vista que muitas vezes não se sustêm, pois, a TOYOTA é versátil lucrativa em todos os segmentos automobilísticos fabricando carros compactos, SUVs e o Prius, o primeiro automóvel híbrido com produção em massa.
6 – A concorrência PREDATÓRIA: o modelo da TOYOTA, principalmente para a indústria automobilística americana que se acostumou a ter a liderança de mercado por muito tempo, tem um aspecto predatório em função da tecnologia e da grande produtividade conquistada pelos japoneses. Porém, vale destacar que a produção TOYOTA é adequada de acordo com a demanda (PUXADA) e produtos de qualidade por sua mão de obra qualificada. Além do mais, a empresa fez grandes investimentos voltados para pesquisas de mercado com o objetivo de adequar produtos aos requisitos, necessidades, desejos e exigências dos consumidores.
7 – Dependência: o modelo corre muitos riscos por ser dependente da importação de matérias-primas e não por não manter grandes estoques importantes. A falta desses estoques poderá levar a falta de produtos nos momentos necessários (a ocorrência de aumento inesperado na demanda), maior tempo na produção e atraso nas entregas ao consumidor.
8 – As atividades administrativas: um dos problemas apontados se refere a eficiência das atividades administrativas de apoio aos processos de produção. Mesmo com o LEAN MANUFACTURING (a PRODUÇÃO ENXUTA) e a tecnologia empregada, os japoneses não têm tido a mesma eficiência nesses processos.
9 – BENCHMARKING – Adotar? Adaptar? – nas empresas japonesas, a noção do “COLETIVO” e o zelo nos processos, fatores mais importantes que a funcionalidade, passaram a chamar a atenção das empresas ocidentais nos anos 80 e com maior intensidade na década seguinte. Apesar de trabalharem com ESTRUTURAS DEPARTAMENTALIZADAS e LEAN MANUFACTURING, haveria mais algum componente que pudesse explicar o sucesso da TOYOTA e das outras empresas japonesas?
Os estudiosos passaram a analisar características culturais. Passaram a se atentar para visão da consciência da unidade e da correspondência entre todas as coisas e eventos: todas as coisas são entendidas como partes interdependentes e inseparáveis de um TODO em equilíbrio dinâmico.E as análises também se voltaram para algumas outras particularidades culturais.
Além da prioridade para o COLETIVO, há o respeito aos mais velhos e obediência rígida à hierarquia. E soma-se a isso, a maior versatilidade de pensamentos e ações de uma mão-de-obra de cultura diferenciada (itens bem diferentes na cultura ocidental).
Rusgas à parte, várias empresas que optaram por absorver o modelo japonês foram bem-sucedidas. Ou seja, mesmo sem as características culturais, há vários casos de empresas do ocidente que têm apresentado apresentando boa ADAPTAÇÃO do método japonês. Portanto, as características gerais da maneira japonesa de administrar podem ser adaptadas em modelos alternativosa qualquer tipo de empresa, de qualquer porte ou setor (no CHÃO DE FÁBRICA e na área administrativa valorizando a PESSOA através do trabalho em equipe).
Mas, várias avaliações afirmam que a ADOÇÃO (cópia total) não tem viabilidade no contexto cultural do ocidente. A crítica mais freqüente não se refere a maneira da administração japonesa em si. A inviabilidade aponta, por exemplo, para aprimazia do pensamento individual sobre o COLETIVO no ocidente.
Esta mudança é de difícil cumprimento dentro de um cenário um cenário que é calcado em valores e ambiente voltados para vantagens, concorrência e mentalidade individualista.
10 – Escravidão Contemporânea: outras correntes de pensamento procuram vincular os métodos da GESTÃO TOYOTISTA, criados por TAIICHI OHNO, como fórmulas que são constituintes de um trabalho alienante, massificador, de escravatura contemporânea com a sujeição do trabalhador e um retrocesso aos moldes de produção capitalista original. Mesmo com o incentivo e MOTIVAÇÃO ao trabalho em equipe, há opiniões que avaliam o STP com um viés de desumanização do trabalho, com origens no SHOGUNATO do Japão medieval.
11 – O Sucesso: a reconstrução e a recuperação da economia japonesa no pós-guerra requereram, sem dúvida, um grande esforço. Não foi um processo fácil, apesar da ajuda americana. A evolução vertiginosa do Japão no cenário e no comércio mundial nos anos 50 foi um ponto favorável.
No caso da TOYOTA, desde que os mentores das ferramentas do STP colocaram em prática as suas ideias, a empresa apresentou historicamente lucros crescentes e sem comparação com qualquer outra. A sua evolução e lucratividade foram por conta pelo cuidado extremo nos quesitos qualidade e satisfação dos clientes. Em comparação com outras marcas, os produtos mantinham valor por muito mais tempo e, paulatinamente, angariaram a lealdade do público, principalmente a partir do início dos anos 70.
Além da qualidade, a TOYOTA se notabilizou pelo seu método de produção, engenharia de processo e o desenvolvimento de padrões revolucionários para a excelência operacional.
Estes fatores transformaram a visão como atualmente se pensa sobre qualidade ou como aprimorar de maneira contante qualquer processo. Muito embora poucas empresas tenham absorvido por completo os conceitos do TOYOTISMO, é muito frequente encontrar das organizações de qualquer país ou área de atividade o vocabulário organizacional abordando a produção com qualidade, combate ao desperdício, LEAN, , 5S, KAMBAN, JUST IN TIME etc. Por falar em conceitos derivados do TOYOTISMO, convém lembrar que a sua rigorosa preocupação com a qualidade gerou os certificados ISO.
Muito da evolução e liberdade econômica do Japão se deveu ao primeiro-ministro Shigeru Yoshida, que comandou a política na maior parte do tempo de 1946 a 1954. Graças a Yoshida houve a liberalização econômica e se contrapôs aos EUA para que o país contasse novamente com suas forças armadas. Em 1951, durante a Conferência de Paz de São Francisco ele conquistou um tratado que formalmente encerrou a guerra. O teor do documento foi um instrumento de reconciliação com os americanos. Em 1952, o Japão foi desocupado pelas forças dos EUA e mais uma vez se tornou uma nação independente. A partir de então os japoneses encontraram o seu caminho.
Sugestão de Leitura
CARVALHO, M. M. Gestão da Qualidade: teoria e casos. Editora Elsevier. Edição2ª. Rio de Janeiro, 2005.
BERNARDO, M.H. Trabalho duro, discurso flexível: uma análise das contradições do TOYOTISMO a partir da vivência de trabalhadores. Editora Expressão Popular. Edição 1ª. São Paulo, 2009.
OHNO, TAIICHI. O Sistema Toyota de Produção: além da produção em larga escala. Editora Bookman. Edição 5ª. Porto Alegre, 1997. 5. ed. Porto Alegre, 1997.