INTRODUÇÃO:
A singularidade da administração japonesa sempre causou uma série de debates. As razões destas polêmicas se deveram aos altos índices de produtividade obtidos pelos japoneses que, a partir de 1970, ultrapassaram grande parte das empresas americanas e européias.
O sucesso da administração e da aplicação de técnicas industriais japonesas também foram o alvo discussões mais amplas a respeito da cultura oriental e do comportamento trazidos para ambiente organizacional. Estas características foram importantes ao analisar o caráter obediente e a atuação disciplinada do trabalhador japonês.
Assim, 25 anos após a derrota na II GUERRA MUNDIAL em 1945, que deixou o Japão completamente arrasado, os seus produtos mais baratos, de qualidade e confiabilidade passaram a ganhar enormes fatias no mercado internacional quebrando o domínio norte americano nos setores automobilístico e de eletroeletrônicos.
Mas, é necessário levar em conta que os métodos e técnicas japonesas foram bem-sucedidos em um ambiente cultural diferenciado do ambiente cultural ocidental. Então, antes de qualquer adaptação desses métodos a outros ambientes, é fundamental analisar as peculiaridades da sua cultura. Para entender o sucesso das empresas japonesas é preciso retroceder no tempo e verificar os acontecimentos históricos que serviram de ponto de partida para o seu desenvolvimento.
1 – O Japão Feudal – século X ao XIX: nesta fase de sua história o país tinha um sistema político com várias características que se assemelhavam ao feudalismo europeu. O poder imperial era descentralizado, havia uma aristocracia que vivia nas cidades e os senhores feudais, os grandes proprietários de terras, chamados DAIMYOS.
Os SAMURAIS: o nome significa “aquele que serve”. A sua formação teve início por volta de 930 (no Século VIII). Em 1868 com a Restauração MEIJI o poder dos SAMURAIS,como classe social, deixou de existir em 1868 e desapareceu por completo em 1877.
A princípio os SAMURAIS serviam ao imperador e coletavam de impostos, um trabalho que por muitas ocasiões exigia o uso da força. Em troca recebiam privilégios, terras ou pagamentos em arroz.
No século X os SAMURAIS passaram a ter funções militares e a sua influência foi se ampliando até que, em 1185, se tornaram a classe dominante do Japão (soldados da aristocracia). Os SAMURAIS também se tornaram DAIMYOS, governantes de províncias, uma casta em 1603 e exerceram a dominação política e social sobre o povo por aproximadamente 700 anos.
Os SAMURAIS seguiam o BUSHIDO, um código de honra que tinha por característica formar um indivíduo de moral rígida, disciplinado, leal e hábil no manejo da KATANA. Caso um SAMURAI tivesse o nome desonrado ele faria o HARAKIRI (pelo código era preferível morrer do que a desonra).
2 – O isolamento: mesmo após os primeiros contatos com os navegadores portugueses em 1543 (FRANCISCO ZEIMOTO, ANTÔNIO DA MOTA e ANTÔNIO PEIXOTO), o Japão continuou fechado. Na segunda metade do Século XIX, pela falta de contatos mais intensos com o resto do mundo e por sua natureza pobre em recursos naturais, o país era atrasado e se encontrava numa situação difícil. Em meio a esta crise e com o governo desprestigiado, a elite japonesa descontente com a situação passou a se movimentar para restaurar o poder imperial. Ao mesmo tempo, os navios de outras nações começavam a chegar com frequencia cada vez maior para negociar a abertura dos portos (sobretudo os norte-americanos).
3 – A Abertura: em 1853 o comandante americano MATTHEW C. PERRY desembarcou no porto de URAGA (na baía de TÓQUIO) à frente de uma frota de guerra (*) como um enviado do governo americano.
(*) – A Política das Canhoneiras.
Sua missão era negociar um tratado de comércio e instituir relações diplomáticas entre o Japão e os Estados Unidos. Em 1855 seriam assinados tratados de cunho diplomático com outras nações da Europa, marcando o início da influência da cultura ocidental. Depois de séculos, o Japão abriu as suas portas para o mundo exterior.
4 – A Restauração Meiji – 1868-1912: o processo acelerado de industrialização e modernização teve início no governo do IMPERADOR MATSUHITO (que recebeu o nome de MEIJI – o Iluminado ou a Lei Iluminada) e que esteve no poder de 1867 e 1912
O período ficou conhecido como RESTAURAÇÃO MEIJI. O Japão aprendeu tudo o que era possível abstrair das nações mais desenvolvidas. E o governo promoveu a ocidentalização do país. Vários jovens foram enviados para a Europa e Estados Unidos para estudar e, com a influência estrangeira, as roupas, a alimentação, as moradias e outros aspectos do cotidiano foram se modificando.
Foram instalados o correio, o telégrafo, as estradas de ferro, carruagens, a navegação a vapor etc. Antes da I GUERRA MUNDIAL (1914-1918) os japoneses buscaram tecnologias nos EUA e na Europa. Com as reformas um exército foi criado segundo o modelo dos países ocidentais. Porém, mesmo com a Restauração do poder imperial, os valores tradicionais que foram formados ao longo de séculos permaneceram inalterados: educação, responsabilidade social, priorização do coletivo, autoridade, hierarquia, busca de harmonia, cooperação, consenso grupal e demais aspectos do seu modo de vida.
No processo de modernização o país havia se tornado capitalista e passado por uma revolução política, social e industrial. E em 1912, quando o IMPERADOR MATSUHITO morreu, o Japão havia se tornado uma potência moderna que se rivalizava com os países ocidentais pelo domínio da Ásia.
5 – O Expansionismo: o Japão se transformou e deixou de ser pobre e atrasado tornando-se diferente dos demais países asiáticos. A industrialização exigiu fontes de matérias primas e recursos naturais levando a dependência do fornecimento externo. Assim, tem início a expansão territorial pela Ásia para se apoderar das fontes de matérias primas necessárias:
● PRIMEIRA GUERRA SINO-JAPONESA (1894-1895): que resultou na conquista da ilha de TAIWAN e o controle da CORÉIA.
● GUERRA RUSSO-JAPONESA (1904-1905): controle de mais territórios na CHINA, na MANCHÚRIA e a anexação da CORÉIA. Estas vitórias aumentaram a importância mundial do Japão.
● Durante a I GUERRA MUNDIAL o Japão se apossou de várias das colônias alemãs no Oceano Pacífico (ILHAS MARIANAS, ILHAS CAROLINAS e ILHAS MARSHALL) e das colônias alemãs na CHINA ampliando ainda mais sua influência sobre o país.
● SEGUNDA GUERRA SINO-JAPONES (1837-1945): em 1931 o Japão ataca e conquista a MANCHÚRIA e em 1937 invade a CHINA.
● Pacto TRIPARTITE: em setembro de 1940 o Japão assinou o PACTO TRIPARTITE com a ALEMANHA NAZISTA e a ITÁLIA FASCISTA formando o EIXO ROMA-BERLIM-TÓQUIO.
A partir de então crescem as tensões com os Estados Unidos, pois, ambos têm interesses na CHINA (um mercado promissor praticamente inexplorado) e nas ilhas do Oceano Pacífico (ricas em matérias-primas). Os americanos impuseram um embargo econômico contra o Japão em 1941, cortando o fornecimento de metais e combustíveis necessários para a indústria, comércio e esforços de guerra.
Para isolar as forças americanas na Ásia e enfraquecer o poderio da Marinha americana no Oceano Pacífico, os japoneses atacaram a base naval de PEARL HARBOR (HAVAÍ) em 7 de dezembro de 1941.
O avanço pela Ásia prossegue de forma irresistível para expandir seus domínios e tomar as fontes abundantes de matérias primas.
Entre 1940 e 1942 o exército japonês já dominava quase todo o litoral chinês, algumas das ilhas do Oceano Pacífico, a Indochina Francesa (atual Vietnã e Camboja), Tailândia, Birmânia, Malásia e Índias Orientais Holandesas (atual Indonésia) e já ameaçavam invadir a Austrália e a Índia. Os EUA reagiram com o seu poderio industrial e militar. Com sucessivos ataques, obrigaram os japoneses a abandonarem as ilhas ocupadas até ao o seu território e cercaram o país para um ataque final. No dia 6 de agosto de 1945, às 8 e quinze da manhã, os EUA lançam a primeira Bomba Atômica sobre HIROSHIMA e 3 dias depois uma segunda bomba sobre NAGASAKI. O Japão se rende pondo fim à II GUERRA MUNDIAL encerrando sua política de expansão.
6 – O JAPÃO em 1945: em dia 2 de setembro, na Baía de Tóquio a bordo do couraçado americano USS Missouri, o Japão assinava a sua rendição, oficializando o fim da guerra. Suas maiores cidades estavam em ruínas, os sistemas de transporte e a infraestrutura estavam extremamente danificados e a população sofria com a escassez de alimentos. Nos primeiros anos após a rendição, o país passa por um período crítico até o início dos anos 50.
