INTRODUÇÃO:
A virada do Século XXI trouxe muitas mudanças e perspectivas, bem diferentes em relação ao mundo que foi deixado para trás, no século anterior. A nova situação apontou caminhos desiguais, com a GLOBALIZAÇÃO numa economia de cenário complexo, e com o largo emprego de tecnologias. As barreiras caíram criando a aparência de um mundo menor, o jogo político mudou e as relações humanas também sofreram com os impactos.
E uma área em especial teve um destaque maior: as organizações enxugaram as suas estruturas fazendo com que as perspectivas de emprego e trabalho encolhessem drasticamente. Ao mesmo tempo, estas estruturas mais reduzidas diminuíram as oportunidades de crescimento profissional e o crescente desencanto com o emprego formal.
Como resultado, lentamente o EMPREENDEDORISMO, que já vinha despontando como a “OPÇÃO” diante da retração do mercado de trabalho durante as crises dos anos 70, 80 e 90 passa a ser um tema relevante.
É… Só que esta nova realidade vai solicitar um perfil singular aos postulantes à categoria de EMPREENDEDOR. Não é um caminho muito fácil e que vai exigir ousadia, coragem, conduta arrojada e agilidade diante dos riscos. E, acima de tudo, ideias inovadoras e criativas encontrando soluções para as mais variadas situações.
A MUDANÇA:
O perfil singular necessita de pessoas de “ESPÍRITO EMPREENDEDOR”, num conceito oposto ao que por muito tempo foi entendido pelo senso comum: negociante, aventureiro, temerário, especulador sem ética e um personagem muitas vezes fora de qualquer padrão socialmente aceito.
No presente, a situação evoluiu requerendo novas atitudes e comportamentos que antigamente poderiam ser, até certo ponto, reprováveis. Um EMPREENDEDOR precisa ser o personagem DESIGUAL, que faça diferença por suas características, ideias, poder de criação, inovação e habilidades diferenciadas. O EMPREENDEDOR quebra paradigmas, rompe ou renova o que era estabelecido como verdade absoluta, cria conceitos e novas relações, gera empregos e renda na sociedade etc.
Todas estas circunstâncias criaram, principalmente nos últimos anos, vários estudiosos sobre o EMPREENDEDORISMO. Apesar de a literatura apresentar muitas propostas diferenciadas, a questão que parece ser uma unanimidade é em relação ao que se entende por ESPÍRITO EMPREENDEDOR.
JEAN-BAPTISTE SAY (1767–1832): foi um economista francês nascido numa família de mercadores de tecidos, fortemente influenciada pelas ideias iluministas.
Atuou como jornalista em periódicos liberais após a Revolução Francesa e nesta atividade se aproximou das ideias de ADAM SMITH e do estudo da ciência econômica.
Por ser criativo, o EMPREENDEDOR se torna um agente de mudanças ao imaginar, desenvolver e realizar os seus próprios desejos, sendo o responsável pelo desenvolvimento e crescimento econômico. Ainda durante o Século XVIII SAY define o EMPREENDEDOR como alguém que INOVA e que desempenha um papel de mudanças com a criação e gerenciamento de novas empresas.
Durante o Século XIX e início do Século XX, em plena Revolução Industrial, os papeis de Administrador e de EMPREENDEDOR acabam se misturando: indivíduos que organizam, planejam, dirigem e controlam a empresa, mas, sempre a serviço do Capital.
MAX WEBER (1864–1920): foi um considerado um dos fundadores da Sociologia. Também foi jurista, economista e um personagem influente na política alemã.
Também teve grande influência sobre direito, ciência política, filosofia, economia e Administração. MAXIMILIAN KARL EMIL WEBER trabalhou nas universidades HUMBOLDT, HEIDELBERG, VIENA e MUNIQUE. A sua obra de maior significado foi “A ÉTICA PROTESTANTE E O ESPÍRITO DO CAPITALISMO” com reflexões a respeito da sociologia da religião.
Em relação ao EMPREENDEDORISMO, WEBER procurou respostas nos traços pessoais e nas atitudes dos indivíduos (COMPORTAMENTOS). Recorreu aos sistemas de valores e ações econômicas para explicar o devotamento ao trabalho e à prática do EMPREENDEDORISMO, entendido por ele como o “espírito do capitalismo”. Percebeu o sistema de valores como um ponto fundamental para a compreensão do comportamento EMPREENDEDOR enxergando os EMPREENDEDORES como pessoas inovadoras em suas ideias.
Relacionou a filiação religiosa com a estratificação social. Em pesquisa feita no Século XIX, no vale do RUHR (Alemanha) verificou que os católicos escolhiam as profissões em áreas das ciências humanas e que os protestantes escolhiam suas carreiras em funções técnicas. Como resultado, os protestantes se destacavam como industriais dirigentes empresariais e técnicos de nível superior.
Tendo por base os resultados de suas pesquisas, concluiu que alguns ramos do protestantismo, em função de sua fé e da ética, contribuíram decisivamente na formação do espírito que movimenta a economia ocidental. A explicação se relaciona às peculiaridades mentais e espirituais, formadas no meio ambiente, pelo tipo de educação vindo de uma atmosfera religiosa familiar que determinaram a escolha da ocupação e da carreira.
JOSEPH SCHUMPETER (1883–950): Foi cientista político e um dos maiores economistas do século passado. SCHUMPETER nasceu na Áustria e, mesmo não sendo judeu, foi para os EUA em 1932 por causa do nazismo. Lá lecionou em HARVARD e em CAMBRIDGE até sua morte em 1950.
No início do Século XX, o termo EMPREENDEDORISMO havia caído em desuso ou era relacionado com oportunismo e a outros conceitos desfavoráveis. Mas, no seu livro “CAPITALISMO, SOCIALISMO E DEMOCRACIA” de 1949, JOSEPH ALOIS SCHUMPETER usa o EMPREENDEDORISMO como sendo base de sua teoria da DESTRUIÇÃO CRIATIVA (ou DESTRUIÇÃO CRIADORA).
Pelas suas ideias, o processo de EMPREENDEDORISMO só acontece por meio de indivíduos versáteis, com habilidades técnicas para produzir, com capacidade para organizar recursos financeiros, operações internas e efetuar vendas visando o lucro.
Empresários inovadores (os EMPREENDEDORES – pessoas com habilidade para converter uma nova ideia ou uma invenção em uma INOVAÇÃO de sucesso) impulsionam e dinamizam a economia. Eles podem destruir empresas bem estabelecidas e reduzir o monopólio do poder.
E a INOVAÇÃO só acontece numa ECONOMIA DE MERCADO (ou SISTEMA DE LIVRE INICIATIVA – de perfil Capitalista). Novos produtos destroem empresas velhas e antigos modelos de negócios. Os agentes econômicos (uma família, uma empresa, uma organização ou a administração pública) podem atuar de forma livre e com pouca interferência do Estado.
SCHUMPETER é o principal teórico do EMPREENDEDORISMO. Retoma o termo EMPREENDEDOR relacionando-o às INOVAÇÕES pela introdução de NOVOS RECURSOS ou pela combinação diferenciada de recursos JÁ EXISTENTES (novas combinações).
A razão para que a economia saia de um estado de equilíbrio (apatia) e entre em um processo de expansão é em função do surgimento de alguma INOVAÇÃO que altere, consideravelmente, todas as condições prévias de equilíbrio.
Ainda de acordo com SCHUMPETER, o processo de INOVAÇÃO do mercado, que altera o equilíbrio prévio (a apatia), deverá seguir determinadas condições básicas:
1 – Em determinado período histórico, deverão existir possibilidades mais distintas ou atraentes, no campo econômico privado, seja na indústria de modo geral, ou apenas em um de seus ramos ou áreas.
2 – As tais possibilidades podem ser relacionadas às qualificações pessoais necessárias ou por circunstâncias externas.
3 – A situação econômica deve permitir cálculo de custos e planejamento confiável, isto é, a situação presente deverá mostrar uma situação de equilíbrio econômico.
Há alguns exemplos de inovações que alteram o equilíbrio prévio (a apatia):
- A introdução de um novo bem no mercado, tal como a descoberta de um novo método de produção ou de comercialização de mercadorias.
- A descoberta de novas fontes de matérias-primas.
- A alteração da estrutura de mercado vigente (como a quebra de monopólios).
SCHUMPETER não se limitou a associar EMPREENDEDORES à INOVAÇÃO – mostrou também sua importância para o desenvolvimento econômico. Para ele, o papel do EMPREENDEDOR é reformar ou revolucionar o padrão de produção, explorando uma invenção ou, de modo geral, uma tecnologia não experimentada. O objetivo é produzir um novo bem (ou um bem antigo de uma nova maneira), abrindo nova fonte de suprimento de materiais ou uma nova forma de comercialização de produtos para organizar um novo setor.
Outro conceito, de acordo com SCHUMPETER, é o do EMPREENDEDOR que cria novos negócios e inova dentro de negócios já existentes. Ou seja, é um EMPREENDEDOR dentro de uma empresa já constituída. Neste caso o termo que se aplica é o EMPREENDEDORISMO CORPORATIVO ou, o que seria definido futuramente como INTRAEMPREENDEDORISMO.
“O empreendedor é aquele que destrói a ordem econômica existente pela introdução de novos produtos e serviços, pela criação de novas formas de organização ou pela exploração de novos recursos e materiais”.
JOSEPH SCHUMPETER
Sugestão de Leitura.
SCHUMPETER, A. JOSEPH. Capitalismo, socialismo e democracia. Editora UNESP. Edição 1ª. São Paulo, 2017.
SAY, JEAN-BAPTISTE. Tratado de Economia Politica. Editora Nova Cultural. Edição 2ª. São Paulo, 1986.
MAX WBER. Trad. José Marcos M. de Macedo. A ética protestante e o ”espírito” do capitalismo. Editora Companhia das Letras. Edição 1ª. São Paulo, 2004.
CHIAVENATO, IDALBERTO. Empreendedorismo – Dando Asas ao Espírito Empreendedor. Editora Manole. Edição 4ª. Barueri, 2010.
EMPREENDEDORISMO: “decidir, realizar tarefa difícil e laboriosa” (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa – 2001).