Os Estudiosos da Logística Reversa

INTRODUÇÃO:

Em tempos em que conceitos, ideias e produtos (e as próprias novidades) se tornam ultrapassados rapidamente, a LOGÍSTICA tem conseguido acompanhar o ritmo das mudanças.

É inegável que desde as últimas décadas do Século XX ela ganhou importância crescente nas empresas. As razões para que isto tenha acontecido se deveu à necessidade de atender, com maior presteza, o volume de entregas no comércio tradicional e no comércio eletrônico. Para tanto, sua eficiência teve que abranger o planejamento de todo o fluxo de materiais, do ponto de origem até o ponto de consumo (formando uma CADEIA).

Com o tempo, surgiram novos desafios ampliando sua função inicial. Diante de novas demandas, a LOGÍSTICA REVERSA foi ganhando corpo com a GESTÃO do fluxo da volta dos produtos, do ponto de consumo até o ponto de origem.

A LOGÍSTICA REVERSA trabalha com a devolução de produtos por troca, defeito, obsolescência precoce, reciclagem, reutilização de materiais, desmonte, reparação, canibalização e descarte final. Outros fatores contribuíram para o aumento da complexidade:

● O volume de lixo gerado pelas embalagens e produtos descartáveis. 

● As pressões da sociedade e a legislação mais rigorosa a favor do MEIO AMBIENTE.

● Os preços das matérias-primas.

● A viabilidade de diversos materiais, como alternativa interessante para as empresas aproveitarem no processo produtivo como matéria-prima para os mesmos produtos ou para novos produtos.

CONCEITOS DE LOGÍSTICA REVERSA

De acordo com o MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, a LOGÍSTICA REVERSA é definida na Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei No. 12.305 e Decreto No. 7.404) como:

“Instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada.”

Por lei, empresas que produzem os seguintes produtos devem ter canais de LOGÍSTICA REVERSA: agrotóxicos, pilhas e baterias, pneus, óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens, lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista e produtos eletroeletrônicos e seus componentes.

ESTUDIOSOS DA LOGÍSTICA REVERSA

O PRM (PRODUCT RECOVERY MANAGEMENT) engloba vários problemas administrativos, entre eles, a LOGÍSTICA REVERSA. O PRM tem algumas de suas atividades parecidas com as que ocorrem em devoluções internas de itens defeituosos vindos da produção.  

Na Europa e nos Estados Unidos a LOGÍSTICA REVERSA desenvolveu o conceito ou método de gestão logística PRM para atingir o máximo possível de recuperação de produtos. Sua criação foi devida às leis ambientais recentes e o aumento do ambiente competitivo entre as empresas. A tendência, que despertou a atenção de estudiosos, mostra que nos próximos anos haverá o aumento do volume de produtos e materiais que retornarão para as empresas.

HAROLD KRIKKE

É professor de gerenciamento da Cadeia de Suprimentos na OPEN UNIVERSITEIT, Tilburg, Holanda.

Segundo KRIKKE, o gerenciamento das operações que compõem o fluxo reverso é parte da administração da recuperação de produtos – PRM (PRODUCT RECOVERY MANAGEMENT), definida como:

“o gerenciamento de todos os produtos, componentes e materiais usados e descartados pelos quais uma empresa fabricante é responsável legalmente, contratualmente ou por qualquer outra maneira”. (MARTIJN THIERRY et al., apud HAROLD KRIKKE: 1998, p.9).

A GESTÃO para recuperação de produtos acontece onde houver a necessidade de uma nova forma de gerenciar e recuperar componentes, produtos ou materiais que estejam integrados ao desenvolvimento de novos produtos, processos, serviços ou reprojetos de produtos. O cliente também pode ser considerado como um fornecedor. O autor mostra seis áreas principais do PRM (THIERRY, M et al. (1995) apud KRIKKE, H: 1998):

Tecnologia: inclui desenho do produto, tecnologia de recuperação e adaptação de processos primários.

Marketing: criação de boas condições de mercado para quem está descartando o produto e para os mercados secundários.

● Informação: previsão de oferta e demanda, assim como a adaptação dos sistemas de informação nas empresas.

Organização: distribui tarefas operacionais aos vários membros, de acordo com sua posição na CADEIA DE SUPRIMENTOS e estratégias de negócios.

● Finanças: inclui o financiamento das atividades da cadeia e a avaliação dos fluxos de retorno.

● Logística Reversa e Administração de Operações: são todas as operações relacionadas com a reutilização de produtos e materiais e a sua organização.

A PRM tem por objetivo recuperar, tanto quanto possível, o valor, econômico e ecológico de produtos, componentes e materiais. KRIKKE (1998, pp. 33-35) também estabelece quatro níveis em que os produtos retornados podem ser recuperados: nível de produto, módulo, partes e material.

Segundo MARTIN THIERRY et al. (1995), há cinco CATEGORIAS DE REMANUFATURA E RENOVAÇÃO (opções de PRM): reparo (requer menor esforço), renovação, remanufatura (requer maior esforço), canibalização e reciclagem. KRIKKE (1998) estabelece cinco NÍVEIS DE DESMONTAGEM em que os produtos retornados podem ser recuperados: nível de produto, módulo, partes, recuperação seletiva de partes e material.

Fonte: Adaptado de KRIKKE, H (1998) – p.35

O planejamento do trabalho da LOGÍSTICA REVERSA considera, praticamente, os mesmos elementos da LOGÍSTICA convencional: nível de serviço, armazenagem, transporte, nível de estoques, fluxo de materiais e sistema de informações. KRIKKE (1998):

O trabalho da LOGÍSTICA REVERSA não precisa, necessariamente, ser realizado pela empresa que produz e sim, recolhido através das empresas que reprocessam o material descartável. Em muitos casos, todos se associam e formam PARCERIAS para prepararem sua rede de coleta e reprocessamento: fabricantes, armazéns e varejistas que descartam grande quantidade de materiais.

CSI – CADEIA DE SUPRIMENTOS INTEGRAL: ainda segundo KRIKKE (1998), ao se somar a LOGÍSTICA REVERSA à LOGÍSTICA convencional, tem-se uma CADEIA DE SUPRIMENTOS INTEGRAL (a CSI). Elaé baseada no conceito do CICLO DE VIDA DO PRODUTO onde ele percorre toda a cadeia de suprimentos normal. O CSI acrescenta as etapas de descarte, recuperação e reaplicação.

KRIKKE, H. RECOVERY STRATEGIES AND REVERSE LOGISTICS NETWORK DESIGN. Holanda: BETA Institute for Business Engineering and Technology Application, 1998.

THIERRY, M. et al. Strategic issues in Product Recovery Management. California Management Review, v. 37, n. 2, p. 114-35, 1995.

ROGERS e TIBBEN-LEMBKE

DALE S. ROGERS é professor de LOGÍSTICA e gerenciamento da CADEIA DE SUPRIMENTOS.

RONALD TIBBEN-LEMBKE é professor do Departamento de Ciências Gerenciais da Universidade de Nevada.

Ambos consideram a LOGÍSTICA REVERSA como sendoo processo de planejar, implementar e controlar, de forma eficiente e rentável, o fluxo de matérias-primas, estoque em processo, produtos acabados e informações com relação ao ponto de consumo até o ponto de origem, com o propósito de recaptura, geração de valor ou descarte adequado.

Segundo os autores, a grande dificuldade dentro do trabalho da LOGÍSTICA REVERSA é que, apesar de sua importância, não é considerada prioridade para grande parte das empresas. Ainda é entendida, apenas, como uma atividade que coleta “sucata” e que não é lucrativa.  

Outro aspecto relevante se refere à falta informações da LOGÍSTICA REVERSA que, ao contrário da convencional, não costumam coletar e analisar com rigor os dados referentes ao retorno dos produtos. Ainda de acordo com os autores, o reaproveitamento de materiais para reutilização e sua revenda são lucrativas, quando a LOGÍSTICA REVERSA é eficiente. Para ROGERS e TIBBEN-LEMBKE o processamento de materiais na LOGÍSTICA REVERSA pode ser efetuado de dois locais:

CENTRO DE DISTRIBUIÇÃO: o processamento da LOGÍSTICA REVERSA pode ser feito no mesmo local em que a LOGÍSTICA CONVENCIONAL (tradicional) executa a separação e organização dos pedidos para serem entregues aos clientes.

CENTRO DE RETORNOS: o processamento da LOGÍSTICA REVERSA pode ser feito em local especialmente destinado para a tarefa. Mas, é preciso ter os recursos necessários e mão de obra preparada para que produtos e materiais retornados sejam reutilizados o mais rápido possível.

CDR – CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO REVERSOS

São onde se dão os fluxos para retornar ao fornecedor quando há acordos nesse sentido para:

Revenda: se ainda estiverem em condições adequadas de comercialização.

Recondicionamento: desde que haja justificativa econômica.

Reciclagem: se não houver possibilidade de recuperação.

Descarte: quando não existe possibilidade de reaproveitamento.

ROGERS DALE S.; TIBBEN-LEMBKE, RONALD S. Going Backwards: Reverse Logistics. Trends and Practices. Editora: Reverse Logistics Executive Council (1999).

Sugestão de Leitura

EDELVINO, RAZZOLINI FILHO, BERTÉ, RODRIGO. O Reverso da Logística e as Questões Ambientais no Brasil. Editora INTERSABERES. Curitiba, 2013.

LAMBERT, D. M.; STOCK, J. R.; VANTINE, J. G. Administração estratégica da Logística. Editora VANTINE Consulting. São Paulo, 1999.

BARBOSA, A.; BENEDUZZI, B.; ZORZIN, G.; MENQUIQUE, J. e LOUREIRO, M. C. – LOGÍSTICA REVERSA: O REVERSO DA LOGÍSTICA. Editora INTERSABERES. Curitiba, 2018.

MENEZES, C. L. Desenvolvimento urbano e meio ambiente: a experiência de Curitiba. Editora Papirus. Campinas, 1996.

NOVAES, A. G. Logística e gerenciamento da Cadeia de Suprimentos. Editora Campus. Rio de Janeiro, 2001.

LEI Nº 12.305, DE 2 DE AGOSTO DE 2010 – Política Nacional de Resíduos Sólidos.

Deixe um comentário