4 – A Origem da LOGÍSTICA – Âmbito Militar – 1900 – 1950

INTRODUÇÃO:

No início do Século XX os militares americanos compreenderam que um sistema logístico bem executado representava um elemento estratégico considerável. As atividades de APOIO começaram a receber uma atenção maior devido à importância do abastecimento eficiente, disponibilidade de víveres, deslocamentos rápidos, munição, serviço médico etc. E também é preciso avaliar toda a experiência de combate acumulada em anos precedentes: GUERRA MEXICANO–AMERICANA (1846-1848),GUERRA CIVIL (1861-1865), GUERRA HISPANO-AMERICANA (1898), GUERRA FILIPINO-AMERICANA (1899-1902) e as intervenções realizadas pelo BIG STICK na América Central e Caribe.

GEORGE THORPE (1875-1936):

O uso da palavra LOGÍSTICA começou, com efeito, em 1917 pela da publicação do livro “LOGÍSTICA PURA: a ciência da preparação para a guerra” do Tenente Coronel GEORGE CYRUS THORPE.

THORPE foi oficial da Marinha norte-americana, combateu na GUERRA HISPANO-AMERICANA e na GUERRA FILIPINO-AMERICANA e após se aposentar, trabalhou como autor e advogado. Foi um dos primeiros a abordar a LOGÍSTICA militar afirmando que a estratégia e a tática favorecem a condução das operações, mas a LOGÍSTICA proporcionava os meios. Deste modo, pela primeira vez, ela foi colocada no mesmo nível da estratégia e da tática.

“… a estratégia e a tática proporcionam o esquema da condução das operações militares, enquanto a LOGÍSTICA proporciona os meios”.

 “… a estratégia está para a guerra como o enredo está para a peça; a tática é representada pelo desempenho dos artistas; e a logística fornece o cenário, a roupagem, os acessórios e os próprios artistas”. GEORGE CYRUS THORPE.

Mesmo com o alvoroço causado pela entrada dos EUA na I GUERRA MUNDIAL em abril de 1917, GEORGE THORPE notou certa indiferença e o silêncio dos especialistas militares sobre o termo LOGÍSTICA. Apesar de ter criado as bases que no futuro seriam usadas por especialistas da área para formular os fundamentos conceituais da LOGÍSTICA, sua obra não atraiu a atenção.

Mas, a LOGÍSTICA provou sua importância. Ela foi fundamental para que os americanos em pouco tempo enviassem mais de 1.000.000 de soldados bem armados e equipados para lutar na Europa causando muita admiração entre os britânicos e os franceses.

Vale destacar dois aspectos importantes:

● A indústria americana trabalhou com plena capacidade nos moldes de produção do Taylorismo e do Fordismo.

● A rapidez no envio de toda a sorte de suprimentos permitindo a manutenção da capacidade combativa do exército americano. Boa parte dos entendidos afirma que THORPE tem a mesma importância na LOGÍSTICA de forma idêntica que TAYLOR e FAYOL têm para a Administração.

No início do Século XX os militares americanos compreenderam que um sistema logístico bem executado representava um elemento estratégico considerável. As atividades de APOIO começaram a receber uma atenção maior devido à importância do abastecimento eficiente, disponibilidade de víveres, deslocamentos rápidos, munição, serviço médico etc.

HENRY E. ECCLES (1898-1986):

Foi almirante da Marinha dos EUA e figura respeitável no NWC (NAVAL WAR COLLEGE) do fim da década de 1940 até 1970 como escritor de LOGÍSTICA naval e de teoria militar.

Em 1942, no início da II Guerra Mundial, foi ferido em combate perto de Sumatra. Após sua recuperação HENRY EFFINGHAM ECCLES é designado como Chefe da Divisão de Logística na Campanha do Pacífico. Em 1945 encontra cópias empoeiradas do livro de GEORGE THORPE nas estantes da biblioteca do Colégio Naval e passa a se aprofundar e a se especializar sobre o assunto para se tornar um dos primeiros estudiosos no assunto.

Após a II GUERRA MUNDIAL, a marinha americana concluiu que, no período entre as duas guerras mundiais, havia deixado uma atividade tão primordial como a LOGÍSTICA em segundo plano.

Em 1947 o NWC destaca HENRY ECCLES para ser o primeiro presidente da DIRETORIA DE LOGÍSTICA até 1951. Atualmente o ECCLES  é visto como um dos maiores estudiosos e um grande escritor sobre LOGÍSTICA naval, instrutor de teoria militar, princípios de LOGÍSTICA e relações internacionais. É considerado como o “pai” da LOGÍSTICA moderna.

“Na guerra moderna, a LOGÍSTICA é o ponto fraco do poder de combate…”

Livros: Logística  Operacional Naval (1950), Logística em Defesa Nacional (1959), Conceitos militares e Filosofia (1965) e Poder Militar em uma sociedade livre (1979).

ERROS DE LOGÍSTICA:

Da maneira idêntica ao erro que NAPOLEÃO cometeu em 1812, a LOGÍSTICA ineficiente foi um castigo que se abateu sobre o Exército nazista em 1941, às portas de Moscou. A falta de uniformes adequados, suprimentos, munições e o rigor do frio de 30 graus abaixo de zero causaram milhares de baixas (morte por congelamento ou pelas amputações causadas por gangrena). A derrota nazista no Norte da África (1943) foi devida ao bloqueio que os britânicos armaram contra as vias de abastecimento que atravessavam o Mar Mediterrâneo.

“…antes da luta em si, uma batalha é ganha ou perdida pelos serviços de logística”.

ERWIN ROMMEL

O DIA D:

Durante a II Guerra Mundial (1939-1945) o transporte, armazenagem e distribuição de equipamentos e suprimentos demonstraram ter importância decisiva para as forças em conflito. As tropas necessitavam de ter capacidade LOGÍSTICA (PODER) para movimentar, avançar e manter grandes quantidades de soldados e mantimentos nos teatros de operações da Europa e da Ásia.

A experiência americana em LOGÍSTICA acumulada anteriormente foi fundamental para a vitória dos Aliados. O desembarque na Normandia em 6 de junho de 1944 (o Dia D) é visto como a mais sofisticada e mais bem planejada movimentação LOGÍSTICA da história. A operação teve tanta importância e tanto sucesso que nesta data se comemora o dia do profissional da LOGÍSTICA.

A operação OVERLORD (o desembarque na Normandia) já vinha sendo preparada antecipadamente.

De janeiro de 1942 a junho de 1944, os comboios vindos da América desafiaram o perigo dos ataques dos submarinos alemães e levaram para os portos da Grã Bretanha 17 milhões de toneladas. Foram transportados todos os tipos de materiais e suprimentos para serem utilizados no desembarque. As unidades de LOGÍSTICA, que chegaram às praias junto com as forças de ataque, trouxeram desde suprimentos mais essenciais até as inscrições para as sepulturas.

A PONTE AÉREA DE BERLIM:

O trabalho da LOGÍSTICA militar americana não terminou depois do fim do conflito. Um acontecimento na Alemanha colocou novamente a sua capacidade à prova. Após a rendição da Alemanha, em 8 de maio de 1945, os cidadãos de Berlim sofreram um tratamento brutal por parte do exército da União Soviética.  Para agravar a situação, em 1946 as eleições municipais deram a vitória aos candidatos democráticos na composição do conselho municipal. Os soviéticos, em represália, cortaram a eletricidade, o acesso ferroviário e rodoviário à Berlim Ocidental em junho de 1948 e deflagraram uma das maiores crises da Guerra Fria. 

O CORREDOR AÉREO de Berlim é considerada até hoje uma das operações logística mais bem-sucedidas de todos os tempos

Os EUA, Grã Bretanha e França organizaram em conjunto um programa de socorro por via aérea para Berlim. Em um ano foram feitos mais de 200.000 voos até maio de 1949 levando suprimentos, remédios, combustível, alimentos e carvão comprovando o sucesso da PONTE AÉREA.

Mais uma vez forças armadas dos EUA mostraram a sua competência a respeito de LOGÍSTICA e continuaram a ser exemplares neste assunto em outras operações militares, próprias ou em conjunto com a ONU, OEA ou OTAN:

GUERRA DA CORÉIA (1950-1953), GUERRA DO VIETNÃ (1955-1975), INVASÃO DA REPÚBLICA DOMINICANA  (1965-1966), GUERRA DO GOLFO (1990-1991), DISSOLUÇÃO DA IUGOSLÁVIA (1991-1995), INVASÃO DO IRAQUE (2003), GUERRA DO AFEGANISTÃO (2001–presente), apoio,operações de ajuda, resgate e salvamento no TERREMOTO DE HAITI (2010) e REVOLUÇÃO LÍBIA (2011).

E eventos de qualquer natureza realizados pelos americanos também demonstram o seu alto preparo no que se refere às operações de LOGÍSTICA: a colonização do Oeste americano, shows, eventos musicais, culturais, esportivos etc.

E a precisão e a competência alcançada pelas forças armadas americanas nos combates e para suprir os locais arrasados nos pós-guerra chamou a atenção de outros ramos de atividade.

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