6 – A Evolução dos Recursos Humanos

INTRODUÇÃO:

No Brasil, os primeiros anos da década de 60 foram marcados pela turbulência na área econômica e no campo político. O governo KUBITSCHEK deixou uma forte elevação nas taxas de inflação e queda no crescimento econômico. Na política, a instabilidade se instalou após a renúncia de JÂNIO QUADROS (1961) até a deposição de JOÃO GOULART (1961-1964).

A partir de 1964, o Governo Militar estabeleceu o PAEG (PROGRAMA DE AÇÃO ECONÔMICA DO GOVERNO) com CASTELO BRANCO (1964-1967) e COSTA E SILVA (1967-1969) procurando a estabilização, no curto prazo, e as reformas estruturais necessárias para o crescimento econômico, no médio e longo prazo. Os principais fatos foram:

 ● Extinção do pluripartidarismo (1965), formação da ARENA e MDB (1966), Constituição de 1967 e AI 5 em 1968.

O MILAGRE ECONÔMICO – 1968 a 1973: as medidas adotadas impulsionaram a economia, resultando no crescimento do PIB de 10% ao ano ( Ministro da Fazenda – ANTÔNIO DELFIM NETTO – “Fazer o bolo crescer, para depois dividi-lo”).

● Industrialização, queda da inflação, grandes investimentos em infraestrutura e obras de grande porte. O país se desenvolveu rapidamente com a criação da Telebrás, Embratel, Zona Franca de Manaus, Embraer, Infraero, BNH, Usina de Itaipu, Usina Nuclear de Angra, modernização dos Correios etc.

Nos últimos anos da década de 60, o Brasil foi marcado por mudanças significativas, com agitações estudantis, a PASSEATA DOS CEM MIL (junho de 1968), movimentos sociais e sindicalistas. Além destas agitações, o período também foi conturbado por ações e ataques terroristas, promovidos pela luta armada de grupos subversivos de esquerda para implantar uma ditadura comunista.

Mesmo assim, o MILAGRE proporcionou excelentes resultados até o começo dos anos 70.
O FIM DO MILAGRE:

A GUERRA DO YOM KIPPUR, entre árabes e israelenses (6 a 26 de outubro de 1973) ocasionou o PRIMEIRO CHOQUE DO PETRÓLEO.

Os países árabes produtores, declararam o embargo do petróleo em retaliação ao apoio dado aos israelenses pela Europa Ocidental e EUA.

De outubro de 1973 a março de 1974, o preço do barril aumentou 400% (de US$3 para US$12). A produção industrial encareceu, fazendo os preços dos produtos subirem, desestabilizando a economia em todo o mundo causando uma crise econômica profunda, recessão e inflação. 

O CHOQUE aconteceu durante uma fase em que o consumo de petróleo estava em alta provocada pela grande atividade industrial nos países desenvolvidos. No Brasil, o final do Governo de GARRASTAZU MÉDICI (1969–1974) e os anos do Governo de ERNESTO GEISEL (1974–1979) foram caracterizados por graves problemas:

● Para atenuar os efeitos da crise durante o resto da década de 70, os EUA elevaram as taxas de juros no mercado internacional e reduziram os recursos destinados aos países em desenvolvimento.

● O Brasil deixou de receber empréstimos e passou a pagar os altos juros da dívida externa (US$ 3,7 bilhões em 1968 para US$ 12,5 bilhões em 1973 e se elevou ainda mais com o passar dos anos).

● O MILAGRE se mostrou vulnerável pela grande dependência das importações de petróleo, cada vez mais caro, e inviável para sustentar o ritmo do crescimento econômico.

Portanto, além dos juros da dívida, o Brasil ainda teve que arcar com o custo da “CONTA PETRÓLEO”.

● A crise de 1973 encerrou um ciclo de crescimento. A situação desfavorável, com a alta dos preços dos combustíveis e do custo de vida, contribuiu para que a população, percebendo os abusos cometidos, começasse a contestar os militares, reivindicando liberdades democráticas. Lentamente, tem início um novo período de mudanças políticas e a retomada do movimento sindical.

● Apesar dos grandes avanços, o MILAGRE deixou aspectos negativos: achatamento dos salários, redução do poder aquisitivo, desvalorização cambial, juros altos, inflação, concentração de renda, aumento do nível de pobreza e pesados encargos sobre produtos importados. As indústrias nacionais tiveram grandes restrições para importar máquinas, matérias primas e insumos. A  inflação crescente e o menor poder aquisitivo da população prejudicaram as vendas no comércio, que se refletiram na indústria.

● E, uma palavra até então desconhecida no vocabulário, passa a ser muito comum no dia a dia: DESEMPREGO.

ENQUANTO ISSO…

Os antigos ENCARREGADOS (ou CHEFES DE PESSOAL), que fizeram carreira e que foram promovidos a GERENTE DE DEPARTAMENTO PESSOAL (por tempo de casa, experiência e MERITOCRACIA), continuavam na mesma rotina.

Em meados dos anos 60, uma parte das empresas mudou a denominação DEPARTAMENTO PESSOAL para RELAÇÕES INDUSTRIAIS, mas, o trabalho continuou burocrático, seguindo as novas leis: 13º Salário (Lei 4.090 de 1962), Salário Família (Lei nº 4.266 de 1963), FGTS – Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (Lei nº 5.107 de 1966) e PIS – Programa de Integração Social (Lei Complementar n° 07/70 de 1970).

MERCADO DE TRABALHO:

● O CHOQUE provocou demissões, retração e grandes mudanças no mercado de trabalho a partir de 1974. (a era do “EMPREGO SEGURO, PARA SEMPRE” acabou). Muitos trabalhadores há 10 ou 15 anos na mesma empresa, fazendo carreira para chegar aos cargos mais altos ou aguardando a aposentadoria, perderam os seus empregos.

● Muito deles não conseguiram mais recolocação no mercado. Como alternativa, foram trabalhar por conta própria, fazendo bicos ou abriram pequenos negócios (no AUTO EMPREGO). Como nunca tiveram perfil de empresário, boa parte…

A SITUAÇÃO SE MODIFICOU:

Diferente dos anos anteriores, se um indivíduo perdesse o emprego, a sua recolocação no mercado era questão de dias. A partir desta época, a recolocação demorava em média 6 meses ou mais.

Ingressar no mercado de trabalho se tornou uma saga para os jovens. A CARTEIRA DE TRABALHO vazia, ainda sem nenhum registro, era um  impedimento para acessar o mercado de trabalho. A experiência anterior passou a ser um requisito obrigatório. Antes, em geral, as tarefas eram ensinadas ao novo funcionário no dia a dia.

Com a grande oferta de mão de obra, o CURSO PRIMÁRIO e DATILOGRAFIA, ou GINÁSIO incompleto, já não eram mais suficientes para conquistar as poucas vagas no mercado de trabalho.

As empresas passaram a ter um nível de exigências e requisitos maiores nos processos seletivos, identificando com rigor o perfil e as habilidades dos candidatos. Muitas passaram a contar com um PSICÓLOGO DO TRABALHO no seu RI RELAÇÕES INDUSTRIAIS para aplicar testes, dinâmicas e entrevistas para conduzir a nova sistemática de RECRUTAMENTO E SELEÇÃO DE PESSOAL. Entrevistas curtas e testes com a resolução de pequenos problemas, cálculos de aritmética e uma pequena redação caíram em desuso.

Assim, os antigos ENCARREGADOS ou GERENTES DE DEPARTAMENTO PESSOAL (contador, advogado etc.) perderam a relevância diante deste novo cenário, ficando restritos à burocracia. E no fim da década de 70, muitas empresas criaram o DEPARTAMENTO DE RECURSOS HUMANOS, com profissionais de maior capacitação, formação e perfil apropriado.

PERFIL DA TRANSIÇÃO:

1 – A partir da segunda metade dos anos 60, a sociedade continuou a se transformar. A juventude brasileira da época mudou seu comportamento, conceitos e a visão com relação à família, à formação profissional, ao trabalho, às artes etc. A mulher ampliou sua participação na vida política e econômica, jovens contestam velhos modelos e adotam uma posição mais crítica. As influências também vieram de outros países: a luta pelos direitos civis, protestos contra a Guerra do Vietnã e movimento HIPPIE nos EUA, revolta dos estudantes na França e Primavera de Praga na Tchecoslováquia.

2 – O processo de desenvolvimento adotado pelo regime militar, por volta de 1966 e 1967, tomou como referência para a área da ADMINISTRAÇÃO o ensino superior de modelo americano, diante da carência de mão de obra com esta formação para atuar nas grandes empresas. Havia necessidade de um novo perfil de profissional, mais intelectualizado, com conhecimento, especialização e condizente com as transformações em curso.

ACORDOS MEC-USAID: A partir dos anos 50 foram estabelecidos diversos acordos entre o Brasil e os EUA com o intuito de promover a cooperação cultural. Os acordos MEC-USAID, assinados em 1965 e 1967, foram voltados para a assessoria no planejamento do sistema de ensino, em especial para o aperfeiçoamento do ensino de nível superior, e se tornaram o alvo de duras críticas.

Posteriormente, quando estes profissionais chegaram ao mercado de trabalho houve um choque inevitável. Os GERENTES da velha-guarda, instalados nas empresas há muito tempo, acostumados com formas de trabalho moldadas na experiência prática, foram confrontados por uma geração moderna e de formação mais refinada. A diferença e o desnível, em muitas oportunidades, criaram sérias divergências. A tradicional figura do CHEFE, muitas vezes passou a ser questionada, não era mais vista como o poderoso dono da verdade e da perfeição infalível.

3 – A partir do CHOQUE DO PETRÓLEO e do fim do MILAGRE, o Brasil assiste, pela primeira vez, uma situação sem precedentes.   

A crise atingiu duramente a economia em todos os setores: indústria, comércio, setor de serviços, mercado de trabalho e também teve desdobramentos políticos.  

4 – A segunda metade dos anos 70 é marcada pelo descontentamento geral da população, no descrédito em relação ao modelo militar autoritário e suas formas de manipulação. Mesmo com a censura e a repressão, houve o crescimento dos movimentos pela redemocratização e mudança da situação social negativa após os anos de crescimento do MILAGRE ECONÔMICO.

5 – Diante de uma conjuntura complexa, ERNESTO GEISEL toma a iniciativa de iniciar o processo de ABERTURA POLÍTICA em 1975 com ações para uma transição e retorno à democracia (LENTA, SEGURA e GRADUAL em razão da falta de consenso dentro das Forças Armadas – a LINHA-DURA). Por sua vez, no Governo de JIMMY CARTER (1977-1981) os EUA passaram a influenciar fortemente a abertura política nas ditaduras da América Latina.

A ABERTURA teve sequência com JOÃO BATISTA FIGUEIREDO (1979-1985) até o retorno da democracia com TANCREDO NEVES.

6 – Em 1978 e 1979, em função da ABERTURA, as greves começaram a se espalhar pelo do Brasil, enfrentando a repressão policial, em especial no ABC PAULISTA e em São Paulo. As reivindicações e lutas dos metalúrgicos por reposição salarial mostraram o forte processo do renascimento do movimento sindical.

As demandas também envolviam relações de trabalho diferentes, um desenvolvimento econômico mais justo (com justiça social), melhores condições de trabalho e representação política própria. O movimento do operariado obteve apoio dos bancários, professores, da UNE (UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES) e outras categorias profissionais.

7 – Até então, a economia brasileira que havia mostrado pequenos sinais de recuperação, sofreu o SEGUNDO CHOQUE DO PETRÓLEO, iniciado pela Revolução Iraniana (de 1979 a 1986). O preço do barril disparou no mercado, elevou a espiral inflacionária e colocou o país mais uma vez numa situação difícil.

8 – A luta pela anistia aos presos e perseguidos políticos teve início na primeira metade dos anos 70. Houve uma grande mobilização de estudantes, jornalistas e políticos de oposição ao regime militar até que em agosto de 1979 o presidente JOÃO BATISTA FIGUEIREDO sancionou a Lei n° 6.683 (a LEI DA ANISTIA) em agosto de 1979.

ENQUANTO ISSO…

A ADMINISTRAÇÃO DE PESSOAL continuou estática, seguindo normas burocráticas, rotinas e as leis por entender a empresa como um SISTEMA FECHADO, imune a qualquer influência vinda do ambiente externo. Apesar da dinâmica da industrialização dos anos JK, do MILAGRE ECONÔMICO, da fase de transição e das crises pelas quais o Brasil passou, sua participação foi nula.

A prática da Administração deve refletir um determinado momento histórico. Infelizmente, durante todos esses anos, a ADMINISTRAÇÃO DE PESSOAL não procurou desenvolver soluções ou formas para resolver problemas trabalhistas.   

RECURSOS HUMANOS:

Desde os últimos anos da década de 70 o tradicional modelo da SEÇÃO DE PESSOAL (disfarçado com a denominação de RI – RELAÇÕES INDUSTRIAIS), não era mais viável na condução do relacionamento com a mão de obra.  

No início da década de 80, as organizações começaram a criar estruturas de RH – RECURSOS HUMANOS, (nível de Gerência e de Diretoria) e captar profissionais da área. As instituições, de nível superior, introduziram o tema na grade curricular da faculdade de Administração de Empresas ou criaram cursos especializados.

O DEPARTAMENTO DE RECURSOS HUMANOS recebeu a incumbência de administrar PESSOAS visando equacionar problemas trabalhistas internos e externos à empresa:

Equilibrar a relação CAPITAL X TRABALHO diante das novas caraterísticas e do novo perfil dos trabalhadores.

Criar benefícios e desenvolver melhores condições para os trabalhadores.

DEPARTAMENTO PESSOAL:

Continuou administrando documentos e obedecer às normas, rotinas, procedimentos, regulamentos, burocracia e as exigências legais. 

“Se é a vontade do povo brasileiro eu promoverei a Abertura Política no Brasil. Mas chegará um tempo que o povo sentirá saudade do Regime Militar. Pois, muitos desses que lideram o fim do Regime, não estão visando o bem do povo, mas sim seus próprios interesses.” General ERNESTO GEISEL.

Sugestão de Leitura:

ULRICH, DAVE; ALLEN, JUSTIN e outros. A Transformação do RH. Construindo os Recursos Humanos de fora para dentro. Editora Bookman. São Paulo, 2011.

CARVALHO, ABEL; RUA ORLANDO LIMA. Gestão de Recursos Humanos – Abordagem das Boas Práticas. Editora Vida Econômica. Porto, Portugal, 2017.

ZANELLI, J; BORGES-ANDRADE, J. E; BASTOS, A. V. B. Psicologia, Organizações e Trabalho no Brasil. Editora Artmed. Edição 2ª. São Paulo, 2014.

BOHLANDER, GEORGE; SNELL, SCOTT. Administração de recursos humanos.  Editora Cengage Learning. Edição 3ª. São Paulo, 2014.

VENTURA, ZUENIR. 1968 – O ANO QUE NÃO TERMINOU. Editora Objetiva. Edição 1ª. Rio de Janeiro, 2013.

RODRIGUES, MARLY; PAES, MARIA H. L. O Brasil da Abertura. De 1974 à Constituinte. Editora Atual. Edição 10ª. Belo Horizonte, 1990.

HABERT, NADINE. A década de 70. Apogeu e crise da Ditadura Militar brasileira. Editora Ática. Edição 4ª. São Paulo, 1996.

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