5 – A Evolução dos Recursos Humanos

INTRODUÇÃO:

Entre 1907 e 1919, o crescimento da indústria em São Paulo ultrapassou o Rio de Janeiro. Esse crescimento foi mais que o dobro do resto do Brasil e, de 1919 a 1929, houve diversificação na produção de bens voltados para o mercado interno. Alguns fatores contribuíram para isso: a imigração europeia, mão de obra de maior qualificação, a formação de uma classe empresarial atuante e um mercado dinâmico.

Além do mais, São Paulo aproveitou a infraestrutura criada durante o ciclo do café: ferrovias, o porto de Santos, rodovias e energia elétrica

A partir de 1930, o modelo agrário/exportador perdeu a importância para a atividade industrial. Isto permitiu que o Brasil se livrasse da dependência do café, recuperasse a economia dos danos causados pela CRISE DE 1929, aumentasse o processo de substituição de importações e possibilitasse maior mobilidade social, pelo crescimento do mercado de trabalho e do mercado de consumo.

São Paulo, com 1.300.000 habitantes no início da década de 1940, já era o maior parque industrial da América Latina.

Pelas dificuldades no comércio exterior durante a II GUERRA MUNDIAL, a substituição de importações acelerou ainda mais o crescimento da indústria paulista

Ela se expandiu para outras áreas (química, material elétrico, borracha, mecânica e metalurgia) acelerando ainda mais a urbanização pela vinda de migrantes do Nordeste, de outros estados e das cidades do interior.

O EFEITO GETÚLIO VARGAS

Apesar das severas críticas, por ser “PATERNALISTA” e “PAI DOS POBRES”, VARGAS possibilitou avanços nos direitos trabalhistas e contribuiu para o progresso econômico, com a criação de diversas empresas, durante o Estado Novo (1937 a 1945) e no seu retorno à Presidência da República pelo voto popular (1951 a 1954):

1941 – CSN (Companhia Siderúrgica Nacional).

1942 – Companhia Vale do Rio Doce e FNM (Fábrica Nacional de Motores).

1943 – Companhia Nacional de Álcalis.

1945 – Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco).

1952 – BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico).

1953 – PETROBRÁS.

Ao mesmo tempo, houve preocupação com a capacitação da força de trabalho. Desde a década de 1920, já havia escolas de DATILOGRAFIA, cursos de CONTABILIDADE e, durante a ERA VARGAS, a educação foi orientada para o ensino técnico profissional e várias medidas voltadas para o Ensino superior foram tomadas:

1942 –SENAI: criado com especialistas vindos da Suíça e Alemanha. O foco foi o ensino técnico profissional voltado para indústria.

1946 – SENAC: ensino técnico profissional voltado para o comércio.

1934 – USP (Universidade de São Paulo): foi a primeira universidade brasileira, com base em Ensino-Pesquisa-Extensão (mas, foi preciso trazer boa parte dos seus docentes do exterior).

1941 – ESAN/SP Escola Superior de Administração de Negócios: curso de Administração no modelo Graduate School of Business Administration de Harvard.

1944 – FGV (Fundação Getúlio Vargas): formação de profissionais em Administração Pública.

1946 – FEA/USP (Faculdade de Economia e Administração): com Ciências Econômicas, Ciências Contábeis e matérias ligadas à Administração, formando funcionários para a administração pública e privada.

1951 – CNPq (Conselho Nacional de Pesquisas): para a coordenação do desenvolvimento científico e tecnológico.

1952 – EBAPE/FGV: Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas.

1954 – EAESP (Escola Brasileira de Administração de Empresas de São Paulo) vinculada à FGV formando especialistas em técnicas de Administração.

JUSCELINO KUBITSCHEK: Seu governo de 1955 a 1960, – chamado de “OS ANOS DOURADOS”, teve como objetivo principal o desenvolvimento econômico.

JUSCELINO elaborou o PLANO DE METAS (“Cinquenta anos em cinco“) aproveitando a infraestrutura criada por GETÚLIO VARGAS. Além da construção de BRASÍLIA, JUSCELINO fez grandes investimentos em transportes e energia (barragens de Furnas e Três Marias).

Mas, a prioridade foi dada à industrialização, com maior nacionalização da produção (Substituição de Importações).

Foi uma abertura econômica de caráter internacionalista, incentivos cambiais, fiscais e creditícios atraindo grupos internacionais e capital estrangeiro para o país.  Até os anos 50, algumas empresas já montavam veículos, importando KITS completos no sistema COMPLETELY KNOCK-DOWN (CKD).

A partir de 1956, JUSCELINO deu grande destaque para a indústria automobilística, um setor que por sua dinâmica, permite maiores encadeamentos, influencia várias outras indústrias de modo expressivo, gera negócios e empregos: autopeças, aço, produtos de metal, borrachas, plásticos, equipamentos, máquinas, processos de produção e rede de revendas.

A MÃO DE OBRA: Nesta época, a expansão industrial da cidade de São Paulo teve como resultado o aumento da população que chegou a 3.500.000 habitantes.

O crescimento demográfico ocorreu em razão das levas migratórias, em especial da região Nordeste, atraídas por uma vida melhor. Em sua maior parte, eram pessoas sem preparo para a realidade do mercado de trabalho, nas fábricas ou na construção civil.

Grandes áreas afastadas de São Paulo, antes ocupadas por chácaras e sítios, foram loteadas gerando um crescimento urbano desordenado. Na segunda metade da década de 50, as cidades vizinhas à capital receberam as fábricas de automóveis perdendo seu aspecto bucólico e se transformaram no ABC PAULISTA (Santo André, São Bernardo e São Caetano do Sul).

ENQUANTO ISSO…

…a partir de 1956 a industrialização seguia em ritmo acelerado. Apesar de todos esses eventos, a SEÇÃO DE PESSOAL continuou o seu trabalho administrativo burocrático, cuidando de documentação, fichas de registro, carteira de trabalho, salário mínimo, cooperativas, caixas de aposentadorias e pensões organizadas por empresas e empregados, seguindo a CLT, mudanças legais (mas sem critérios muito bem definidos para o recrutamento e seleção de funcionários).

No pós-guerra, as teorias da Administração haviam evoluído: Teoria das Relações Humanas, Teoria Comportamental, Teoria Neoclássica e Administração por Objetivos.

Assim, as empresas estrangeiras instaladas no Brasil, trouxeram outras formas organizacionais, tecnologia e ideias inovadoras, contrastando com a mentalidade brasileira, que continuava a tratar o trabalhador como na época dos BARÕES DO CAFÉ. E, as relações funcionais se tornaram complexas e difíceis.

O perfil dos trabalhadores e a sua realidade haviam mudado. Não eram mais operários italianos, e sim paulistanos, com nível escolar e aspirações diferentes dos migrantes, vindos de todas as partes do Brasil.

Diante deste novo cenário complexo, a SEÇÃO DE PESSOAL teria que evoluir. Mas, continuou como na década de 1930, administrando documentos (e não as pessoas) com um funcionário experiente em rotinas trabalhistas ou um ENCARREGADO DE PESSOAL (contador, advogado ou outro funcionário disponível).

Não havia profissionais capacitados na área para inovar ou resolver questões relacionadas à integração, motivação, treinamento, segurança do trabalho, produtividade e bem-estar dos trabalhadores etc. Apesar do desenvolvimento, o maior desafio para a indústria foi a inexistência de mão de obra qualificada:

● ÁREA FABRIL: mesmo com o ensino técnico profissional, havia desnível em relação às práticas das empresas estrangeiras instaladas no país: produção, manutenção, ajuste, supervisão de processos etc.

ÁREA ADMINISTRATIVA: o indivíduo com ensino básico (4º. ano do Grupo Escolar completo) e com Datilografia ou Contabilidade, tinha grandes chances no mercado de trabalho. E se desejasse, poderia ingressar no Curso Ginasial.

● ÁREA DE GESTÃO: grande carência de profissionais para a área de gerência (administradores de empresas).

A qualificação da MÃO DE OBRA: se deu, em grande parte, na prática e no trabalho do dia a dia. E, como as empresas foram se expandindo, com o tempo estes funcionários fizeram carreira. Boa parte deles alcançou a promoção aos cargos mais altos da hierarquia pela experiência acumulada e MERITOCRACIA (de CONTÍNUO até chegar a SUPERINTENDENTE ou DIRETOR).

A “EVOLUÇÃO”

Para mudar o quadro, algumas empresas nacionais buscaram copiar o modelo americano da INDUSTRIAL RELATIONS com a denominação de RELAÇÕES INDUSTRIAIS. Contudo, apesar da algumas mudanças na disposição e na estrutura da SEÇÃO DE PESSOAL, o efeito não foi o esperado, em função da diferença da mentalidade brasileira e das condições da economia e na falta de profissionais especializados nesta área.

A saída mais fácil foi dar destaque e promover os antigos ENCARREGADOS ou CHEFES DE PESSOAL para GERENTE DE DEPARTAMENTO PESSOAL. Pela metade dos anos 60, várias empresas passaram a usar a denominação GERENTE DE RELAÇÕES INDUSTRIAIS, mas, continuaram com as mesmas práticas burocráticas e a mentalidade da década de 1930.

Sugestão de Leitura:

FONSECA, MARIA HEMÍLIA. Departamento Pessoal – Relações Trabalhistas e Sindicais. Editora CIÊNCIA MODERNA. Edição 1ª. Rio de Janeiro, 2009.

COSTA, ROSANIA DE. Rotinas Trabalhistas Departamento Pessoal – Modelo de A a Z. Editora CENOFISCO. Edição 1ª. Curitiba, 2013.

GONÇALVES, GILSON. CLT Prática – Interpretação para Departamento Pessoal. Editora Juruá.  Edição 1ª. Curitiba, 2010.

CAEIRO, RUBENS. Manual do Departamento Pessoal. Editora Sts. Edição 4ª. São Paulo, 1995.

CANO, WILSON. Raízes da Concentração Industrial em São Paulo. Editora Unicamp. Edição 3ª. Campinas, 1977.

DEAN, WARREN. A Industrialização de São Paulo (1880-1945). Editora Difusão Europeia do Livro. São Paulo, 1971.  

FURTADO, CELSO. Formação econômica do Brasil. Editora Nacional. Edição 25ª. São Paulo, 1995.

A crise de 1929 e sua recuperação provocariam o deslocamento do eixo dinâmico da acumulação, do setor agroexportador para o industrial. Desarticulando o comércio exterior, isto causaria forte reversão no abastecimento interno: as restrições às importações forçariam a periferia nacional a importar, agora, produtos manufaturados de São Paulo; este, por sua vez, deveria, crescentemente, importar mais matérias-primas e alimentos de outros estados. “Passava-se, portanto, a integrar o mercado nacional sob o predomínio de São Paulo”.

WILSON CANO, 1998, p. 63

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