INTRODUÇÃO:
A despeito das imperfeições e inúmeras críticas, os resultados das pesquisas de HAWTHORNE foram relevantes e contribuíram para a evolução da ciência da Administração. As ideias obtidas, a partir dos estudos na WESTERN ELECTRIC, que também foram defendidas por inúmeros autores, criaram a TEORIA DAS RELAÇÕES HUMANAS. Ela não se preocupou em questionar o capitalismo e nem as formas de organização do trabalho. Em parte, atuou em paralelo com a ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA: obter eficiência, maior produtividade do trabalho e, portanto, maiores LUCROS.
Suas propostas abordaram questões relevantes sobre o indivíduo no trabalho (motivação, comportamento, cooperação e comunicação) e sobre os GRUPOS e EQUIPES (participação, lealdade, liderança, reconhecimento etc.).
Até o fim dos anos 20 a ciência da Administração tinha sido um campo dominado, quase que exclusivamente por engenheiros, preocupados apenas com aspectos formais. Eles entendiam e viam a empresa como uma estrutura e diversos processos criados de forma racional, com princípios e métodos formais estritamente configurados de acordo com técnicas aplicadas ao trabalho.
A TEORIA DAS RELAÇÕES HUMANAS entendeu a empresa de forma totalmente diferente: a empresa passou a ser visualizada como uma organização social, ou um SISTEMA SOCIAL, composta de diversos grupos sociais informais. A TEORIA DAS RELAÇÕES HUMANAS deixou uma visão diferente do trabalhador:
● Um ser humano com qualidades, falhas, defeitos.
● Um ser humano com um lado social com poder de influenciar seu rendimento.
● A ideia que a satisfação e o reconhecimento pelo trabalho são mais importantes e motivadores do que o lado financeiro.
ELTON MAYO enfatizou o poder dos GRUPOS NATURAIS (INFORMAIS), nos quais os aspectos sociais têm primazia sobre as estruturas organizacionais e funcionais.
Também abordou a necessidade de COMUNICAÇÃO recíproca (bidirecional – do trabalhador aos executivos e vice-versa) e uma LIDERANÇA eficiente para comunicar objetivos e contribuir para a TOMADA DE DECISÃO. A equipe de ELTON MAYO contou com dois autores que tiveram importância e que contribuíram com o trabalho: ROETHLISBERGER e DICKSON.
FRITZ JULES ROETHLISBERGER (1898-1974):
Foi bacharel em engenharia (COLUMBIA UNIVERSITY – 1921), bacharel em administração de engenharia (MIT – MASSACHUSETTS INSTITUTE OF TECHNOLOGY – 1922) e mestre em filosofia (UNIVERSIDADE DE HARVARD – 1925).
Em HARVARD foi Instrutor de Pesquisa Industrial (1927-1930), Professor Assistente de Pesquisa Industrial (1930-1938), Professor Associado de Pesquisa Industrial (1938-1946) e professor de Relações Humanas (1950-1974).
Seu doutorado em filosofia foi interrompido quando conheceu o professor ELTON MAYO. Ele se tornou seu assistente e membro do Departamento de Pesquisa Industrial da HARVARD BUSINESS SCHOOL (1927 a 1946).
O professor ROETHLISBERGER além de ter sido assistente de MAYO, foi membro importante de sua equipe, seu colaborador mais próximo com participação direta e fundamental na WESTERN ELECTRIC. Ali trabalhou ativamente de 1927 a 1936, mesmo após o encerramento da experiência em 1932.
ROETHLISBERGER era um pesquisador experiente, com uma concepção muito própria do desenvolvimento e evolução dos trabalhos, na interpretação dada e o resultado descrito. Tinha grande preocupação com os métodos adotados e com a análise das variáveis complexas que foram estudadas.
Sua contribuição, junto com WILLIAM DICKSON, foi importante.Ambos conduziram a maior parte da pesquisa prática (com MAYO raramente indo a HAWTHORNE) e resumiram os resultados dos estudos no livro MANAGEMENT AND THE WORKER (A ORGANIZAÇÃO E O TRABALHADOR – 1939, considerado um dos clássicos da Administração).
Sob a direção do professor ELTON MAYO, ROETHLISBERGER treinou e preparou pesquisadores para implantar o extenso programa de entrevistas na fábrica. Durante o trabalho (mais de 21.000 entrevistas) foi necessário modificar a metodologia da pesquisa: ao invés de responder PERGUNTAS DIRIGIDAS, os funcionários se manifestavam mais abertamente, se fossem encorajados a falar e a se expressar em uma entrevista NÃO DIRIGIDA.
Os pesquisadores descobriram que a atitude mental, a supervisão adequada e as relações sociais informais eram essenciais para aumentar a produtividade e a satisfação no trabalho. Ficou claro que, se fosse providenciado um canal para a livre expressão, as entrevistas se tornariam uma escuta em vez de um simples processo frio através de um questionário. A partir desta constatação, as entrevistas foram definidas como uma conversa em que os funcionários foram incentivados a se expressar livremente sobre qualquer tema de sua própria escolha.
WILLIAM JOHN DICKSON (1904-1973):
Era chefe do Departamento de Relações com os Empregados na WESTERN ELECTRIC e um dos três funcionários escolhidos pela empresa para participar e acompanhar a pesquisa.
Junto com ROETHLISBERGER ele se tornou uma das figuras de maior destaque dentro da TEORIA DAS RELAÇÕES HUMANAS. DICKSON esteve presenta na maior parte do trabalho prático e na 4ª FASE na Sala de Montagem de Terminais, de 1931 a 1932. O objetivo foi estudar e observar o grupo e seu comportamento. Os resultados do estudo confirmam a complexidade das relações de grupo.
Os experimentos de HAWTHORNE, principalmente a 4ª FASE, mostraram claramente que o homem no trabalho é motivado por fatores que vão além da satisfação das necessidades econômicas. Foi observado que:
● o GRUPO de operários da Sala de Montagem de Terminais desenvolveu, de forma espontânea, uma equipe com LÍDERES naturais que alcançaram esta posição com a permissão de todos.
● O grupo tinha suas normas próprias (“não oficiais”) de desempenho.
● Cada indivíduo foi restringindo a produção.
● O GRUPO era indiferente com relação aos incentivos financeiros.
● o GRUPO dava maior importância aos seus valores e costumes do que os incentivos financeiros.
Portanto, os operários desenvolveram um padrão de comportamento próprio que impunha aos seus membros regras, um código de conduta, o controle do resultado da produção e sem se importar com os incentivos financeiros.
Os trabalhadores eram fortemente influenciados por um código criado por um GRUPO INFORMAL. Depois de muitos anos de aconselhamento pessoal e pesquisa na WESTERN, WILLIAM DICKSON colaborou novamente com o professor ROETHLISBERGER no livro COUNSELLING IN AN ORGANIZATION (ACONSELHAMENTO EM UMA ORGANIZAÇÃO) publicado em 1966.
FUNÇÕES BÁSICAS DA ORGANIZAÇÃO
A pesquisa em HAWTHORNE trouxe novos conceitos sobre a Administração.
ROETHLISBERGER e DICKSON desenvolveram ideias bem representativas da TEORIA DAS RELAÇÕES HUMANAS: a fábrica como um sistema social. A proposição é de um modelo de organização, como SISTEMA SOCIAL, evidenciando funções básicas da organização industrial em busca do EQUILÍBRIO EXTERNO e do EQUILÍBRIO INTERNO.
A ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL
● Formada por uma ORGANIZAÇÃO TÉCNICA com prédios, máquinas, equipamentos, produtos/serviços produzidos, matérias-primas etc. É a ORGANIZAÇÃO FORMAL.
● Formada por uma ORGANIZAÇÃO HUMANA baseada em indivíduos. Ela é muito mais do que a soma dos indivíduos, pois sua constante interação dentro do ambiente de trabalho dá origem à organização social da fábrica. É a ORGANIZAÇÃO INFORMAL.
A ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL necessita encontrar uma forma de equilibrar as duas organizações.
Elas são interligadas e interdependentes e qualquer modificação em alguma delas irá provocar modificações na outra. A ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA, ao contrário, apenas se preocupava com o equilíbrio econômico e externo.
Funções da ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL:
● FUNÇÃO ECONÔMICA: produz bens/serviços e busca EQUILÍBRIO EXTERNO (a empresa em relação ao mercado, à demanda, fornecedores e competidores e, portanto, sua continuidade).
● FUNÇÃO SOCIAL: satisfações entre os seus participantes (função social que busca o EQUILÍBRIO INTERNO da organização).
“… a administração está constantemente… procurando novos métodos para aumentar a eficiência… os sentimentos sociais e os costumes de trabalho dos operários não se acomodavam às rápidas inovações técnicas introduzidas. O resultado foi o aparecimento de uma cega resistência a quaisquer inovações e a formação de uma organização social que se opunha à organização técnica”.
“… uma organização industrial é mais do que uma multiplicidade de indivíduos agindo apenas em relação a seus interesses econômicos. Esses indivíduos têm também afetos e sentimentos, uns em relação aos outros, e, em suas relações diárias, tendem a estabelecer padrões de interação. “A maioria dos indivíduos que vivem sob esses padrões tendem a aceitá-los como verdades imprescindíveis e óbvias, reagindo de acordo com o que eles determinam.”
FRITZ J. ROETHLISBERGER; WILLIAM J. DICKSON. A Organização e o Trabalhador – 1939.
A ORGANIZAÇÃO HUMANA tem por base os indivíduos. Cada um deles avalia o ambiente onde vive as circunstâncias que o cercam, de acordo com sua experiência anterior, fruto das interações humanas. Como um ser social, eles são membros de um grupo e a GESTÃO deve compreender as atitudes do grupo.
ROETHLISBERGER e DICKSON verificaram que uma organização industrial é mais do que uma multiplicidade de indivíduos, voltados somente para seus interesses econômicos. Esses trabalhadores são indivíduos que também têm, em suas relações diárias, sentimentos, uns em relação aos outros e tendência de estabelecer padrões de interação. Os aspectos técnicos e humanos devem ser vistos como inter-relacionados, ou seja, além das necessidades físicas os trabalhadores também possuem necessidades sociais.
Livros:
ROETHLISBERGER, F. J.; W. DICKSON. Management and the Worker – 1939.
ROETHLISBERGER, F. J. Management and Morole – 1941.
ROETHLISBERGER, F. J.; W. DICKSON. Couseling in an Organization – 1966.
Sugestão de Leitura
GRIFFIN, RICKY W; MOORHEAD, GREGORY; Comportamento Organizacional: Gestão de Pessoas e Organizações. Editora Cengage Learning. Edição 1ª. São Paulo, 2015.
WREN, DANIEL A. Ideias de administração: o pensamento clássico. Editora Ática. Edição 1ª. São Paulo, 2007.
CHIAVENATO, IDALBERTO. Introdução a Teoria Geral da Administração. Editora Makron Books. Edição 5ª. São Paulo, 1997.
STEPHEN P. ROBBINS; TIMOTHY A. JUDGE; FILIPE SOBRAL. Comportamento Organizacional: Teoria e Prática no Contexto Brasileiro. Editora Pearson. Edição 14ª. São Paulo, 2010.
MOTTA, FERNANDO CLÁUDIO PRESTES – VASCONCELOS, ISABELLA F. GOUVEIA DE. Teoria Geral da Administração. Editora Pioneira Thomson Learning. Edição 3ª. São Paulo, 2006.
CARAVANTES, GERALDO R.; KLOECKNER MONICA C. Administração: Teorias e Processo. Editora Pearson Universidades. Edição 1ª. São Paulo, 2004.
ROETHLISBERGER, FRITZ J.; DICKSON, WILLIAM J. A Organização e o Trabalhador. Editora Atlas. São Paulo, 1971.