Presenteísmo

INTRODUÇÃO:

O mundo corporativo apresenta cenários repletos de situações. Muitas delas, complexas e estressantes, são cheias de desafios sob a pressão em busca de resultados. Quando eles são alcançados, se tornam motivo de grande satisfação para todos os envolvidos. No entanto, existe também, o outro lado da moeda. Resultados desfavoráveis são desmotivadores, criam contratempos no ambiente e atritos nos relacionamentos. O desgaste é grande. Mas, é normal que esta gangorra aconteça com seus altos e baixos…

Contudo, suportar este ritmo, cheio de alternativas e incertezas, pode acarretar problemas emocionais e físicos aos funcionários, GESTORES e altos EXECUTIVOS. Com o tempo, atuando nesta batida extenuante, sempre sobrecarregada, eles passam a apresentar fortes sinais de cansaço e fadiga.

Aos poucos, esta exaustão começa a deteriorar a saúde dos colaboradores em qualquer setor da empresa e em qualquer nível hierárquico. Quase imperceptível e, silenciosamente, esta “ENFERMIDADE” causa a queda de produtividade, tarefas sem qualidade e, por fim, prejuízos.  

Reuniões inúteis e dispersas, desatenção, a falta de motivação, tarefas acumuladas ou relegadas a um segundo plano, clima organizacional desfavorável, discussões acirradas, troca de acusações são fortes sintomas do PRESENTEÍSMO.

DEFINIÇÃO:

O PRESENTEÍSMO é uma forma de ausência no trabalho. É um fenômeno que ocorre quando um indivíduo está de corpo presente, mas, sua mente está longe, sem foco. Por diversos motivos seus pensamentos estão distantes….

O PRESENTEÍSMO tem se tornado um grande problema afetando a produtividade em todos os tipos de organização de tamanhos e setores diferentes: comércio, indústria, serviços, órgãos públicos e, inclusive, em START-UP’S.

Não é, necessariamente, má vontade, recusa às tarefas, desvios de caráter, falta de engajamento etc. O PRESENTEÍSMO pode ser entendido como um comportamento e o resultado de uma condição gerada por uma carga de trabalho adversa. E acaba por se tornar um escudo, um mecanismo de defesa. 

A ORIGEM DO PRESENTEÍSMO:

Em Administração este tema é recente e heterogêneo, com opiniões divergentes e poucas pesquisas sem uma conclusão definitiva. Os estudos tiveram início na França por volta de 1950 e atualmente o consenso aponta que o fenômeno ganhou um impulso vertiginoso pelo cenário de incertezas dos anos 90.

Nesta época, as organizações apressaram seus processos de reestruturação e encolhimento, que já vinham em andamento desde as crises econômicas das décadas precedentes. Com a GLOBALIZAÇÃO, o PRESENTEÍSMO passa a ter um efeito mais amplo causado por novas formas de GESTÃO, LIDERANÇA, organização e relações no trabalho.

Por sua vez, o mercado eleva o nível de exigências e de qualificações encolhendo ainda mais as oportunidades. Para os empregados, a carga de trabalho cresceu acompanhada por uma enorme sensação de insegurança no emprego.

A REPERCUSSÃO:

Para acalorar ainda mais a discussão, muitos estudiosos têm a certeza de que o PRESENTEÍSMO é mais difícil de ser detectado, porque o funcionário não está ausente do seu posto. Entretanto, há outras opiniões que discordam que o PRESENTEÍSMO é só resultado da pressão no trabalho. Ele pode estar ligado à CULTURA ORGANIZACIONAL e ao AMBIENTE LABORAL.

“Há mais um agravante no PRESENTEÍSMO. As redes sociais são grandes DISTRATORES e com um potencial ainda maior de roubar a atenção dos funcionários.”

A soma de todos estes fatores faz o funcionário permanecer no local, sem estar na plenitude da sua saúde mental, psicológica e física diante de resultados difíceis de serem alcançados e pelo cumprimento de prazos estabelecidos.

Ampliando a ideia, podemos agregar outras possíveis situações: problemas de ordem pessoal, desajustes emocionais, ruptura nas relações familiares, problemas de caráter biológico, social, funcional, ambiental, BULLYING, endividamento crescente (ainda mais em fases de retração dos negócios, recessão e crises na economia).    O comportamento também pode ter relação com outros problemas: a insatisfação com as tarefas, com o trabalho em si (mecânico e monótono), na falta de perspectivas, na falta de motivação e pelas condições da empresa, que nem sempre oferece condições ideais às exigências e pressões.

Em qualquer ponto de vista sobre este tema, é unanimidade que o PRESENTEÍSMO traz prejuízos…

…para o colaborador – por produzir pouco ou nada em um dia inteiro de trabalho causando desgaste físico e mental.

…para a empresa – uma perda econômica ao remunerar um funcionário por um dia de trabalho sem produtividade e sem qualidade. Outro impacto perceptível pode ser notado na alta rotatividade do quadro de funcionários.

Esse comportamento pode ser individual, a princípio, e contaminar os demais funcionários. Mas, também pode ser coletivo, porque são problemas comuns a todos, com potencial de afetar a organização pela queda de produtividade e expansão das doenças laborais.

Em qualquer ponto de vista sobre este tema, é unanimidade que o PRESENTEÍSMO traz prejuízos…

MODALIDADES DO PRESENTEÍSMO:

PRESENTEÍSMO NO PILOTO AUTOMÁTICO: a cada dez minutos o trabalhador consulta o relógio contando os minutos para ir embora, para o dia terminar, encerrar o trabalho e ficar livre.

Pouco importa a qualidade do que foi feito (ou do que ficou para terminar – é grande a probabilidade de erros).  E, se sexta feira…. pior ainda!

● PRESENTEÍSMO COMPETITIVO: também é chamado de PRESENTEÍSMO ESTRATÉGICO. Muitos trabalhadores acreditam que estão sob a ameaça de perderem seus empregos. Desdobram e complicam as tarefas para ficar mais tempo na empresa, mais do que o horário estabelecido. É a forma de marcar território e se protegerem apresentando nível de compromisso maior.  

DOENTES: outros também creem que estão sob a ameaça de perderem o emprego. Estão com alguma doença e apresentam alguns sintomas visíveis. Porém, evitam procurar ajuda médica para não faltarem ao trabalho com o risco de serem substituídos.

● PRESENTEÍSMO CONTEMPLATIVO: funcionários presentes no trabalho, cuidando de assuntos de seu interesse pessoal.

● PRESENTEÍSMO APARENTE: profissionais que não têm muito trabalho ou estão sem motivação. Passam o tempo no seu posto, aparentemente dando um duro danado. Na verdade, estão fingindo ou fazendo qualquer outra coisa. Em geral, podem ser indivíduos que procuram mudar de emprego, estejam desmotivadas pelas tarefas ou com ressentimentos com os colegas e superiores. Trabalham o mínimo possível.

IDENTIFICANDO O PRESENTEÍSMO:

Em empresas comprometidas com a modernidade, o quadro da saúde física e mental de seus funcionários tem se tornado uma grande preocupação com o desempenho das pessoas, qualidade e, logicamente, com os possíveis prejuízos. É uma área complexa dentro da GESTÃO DE PESSOAS. Mas, há alguns sinais que podem identificar o PRESENTEÍSMO para os quais os GESTORES devem estar atentos (desde que eles também não estejam contaminados):

● O corpo fala: a postura, as feições, o olhar e os gestos são grandes indicadores.

Assuntos e comentários: o discurso usado pelos funcionários pode demonstrar o interesse e o grau de engajamento. Mesmo os comentários mais simples podem deixar transparecer o estado de espírito.

● Pressa: funcionários mais preocupados em ir embora. As atividades ficam incompletas e os resultados não alcançam o que foi planejado. 

● O medo da perda de emprego: este assunto gera pânico, principalmente se o trabalhador já tem uma idade “AVANÇADA” para o mercado de trabalho ou se assumiu dívidas pesadas e com longo prazo de pagamento como a compra da casa própria etc.

● Baixa Auto Estima: frustrações acumuladas e a insatisfação conseguem mesmo são facilmente detectadas.

COMBATENDO O PRESENTEÍSMO:

Diante do que foi exposto, as organizações podem se valer de ferramentas para resgatar a motivação e criar um diagnóstico mais preciso com pesquisas e FEEDBACKS periódicos do desempenho e da saúde dos funcionários:

● Ações em serviços de assistência médica de qualidade e outros benefícios. Mas, o que pode ser motivador no início, com o tempo pode se tornar desinteressante.

Criar um canal de comunicação com o RH para pesquisas de opinião em encontros periódicos e treinamentos para capacitação e motivação profissional.

A falta de perspectivas é um problema seríssimo e desmotivador. Um Plano de Carreira deve mostrar um organograma definido, com clareza, cargos, tarefas, metas e amplitude determinando com a máxima exatidão todas as funções bem como, a capacitação necessária para desenvolvê-las. 

Incentivar a inteligência e aprendizado coletivo, colaboração e diminuição de conflitos.

Programas de desenvolvimento pessoal e QVT – Qualidade de vida no trabalho.

Demonstrar os esforços que estão sendo feitos através do ENDOMARKETING.

Sir CARY LYNN COOPER (1940-):

Professor e pesquisador britânico de origem americana atuando na área de psicologia organizacional e saúde na Universidade de LANCASTER. Em 2014 foi eleito presidente da Academia Britânica de Administração.

De acordo com sua pesquisa realizada na Grã-Bretanha em 2011, CARY COOPER afirma que o PRESENTEÍSMO pode se apresentar de várias maneiras e enfatizou quatro grupos principais:

1 – O primeiro grupo – Funcionamento Total: é constituído por trabalhadores que atuam na plenitude das suas capacidades. Dificilmente adoecem, são motivadas e contribuem com a organização.

2 – O segundo grupo – Doentes Presentes: pessoas com alguma doença que, assim mesmo, comparecem ao trabalho. São inseguros e amedrontados com a hipótese de perder o emprego, Então, comparecem mesmo sem as melhores condições de saúde e atuam com baixa produtividade.

3 – O terceiro grupo – Trabalho Insatisfeito: é o dos funcionários insatisfeitos, sem nenhuma doença, mas têm mais ausências médias de trabalho, pouco engajamento e comprometimento por problemas pessoais ou organizacionais.

Há uma incompatibilidade entre sua personalidade e competências em relação aos seus requisitos da tarefa, da função ou estão sendo mal gerenciados.

4 – O quarto grupo – Os estressados: eles têm um grave problema de saúde crônico ou alguma doença por atividades insalubres ou por trabalhos forçados.

OUTRA VISÃO:

Podemos entender a ideia de que o PRESENTEÍSMO não pode ser visto só como o medo do desemprego. Suas raízes sobre a motivação e suas relações com o comportamento podem ser muito mais profundas (dentro e fora da empresa). Uma análise mais atualizada mostra o trabalho de forma diferente da visão tradicional:

Um AMBIENTE ORGANIZACIONAL precisa ser favorável e gerenciado em boas condições físicas e psicológicas propiciando uma relação de RECIPROCIDADE.

O trabalho deve ser uma atividade PRAZEROSA, sem a sensação da obrigatoriedade, o meio de sobrevivência e um fardo a ser carregado por um longo tempo em troca de remuneração.

Um AMBIENTE ORGANIZACIONAL deve criar vínculo e motiva um indivíduo pela tarefa e sua importância e não em relação a estar empregado ou desempregado. É ter prazer no que faz para se sentir bem visto, num clima de bom relacionamento, respeito e reconhecimento.  

É um assunto emaranhado e desafiador encontrar um ponto desequilíbrio para criar um ambiente positivo:

● Para a empresa porque a atmosfera do AMBIENTE ORGANIZACIONAL pode ter raízes em ações mal conduzidas pela CULTURA ORGANIZACIONAL (difícil de ser mudada).

● Para o trabalhador que necessita se submeter para CONSEGUIR seu sustento.

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